O Ministério escrita por Vendetta23


Capítulo 4
Jogados na Floresta




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A primeira luz da aurora sinalizou para Adam que era hora de sair da cama apesar de sua exaustão, sua cabeça estava pesada de dúvidas e seus olhos não fecharam uma só vez durante a noite, pensando em toda a responsabilidade que fora jogada em suas costas. O garoto se levantou com dificuldade e se arrumou, guardando em seu bolso o bracelete e levando a pesada mochila com ele assim que saiu pela porta do quarto.

Aparentemente o dia iria ser cinzento, um vento frio cortava sua pele mesmo por baixo do forte casaco que vestia, Adam caminhou pelo pátio do castelo até um dos portões laterais, só parando para tirar do bolso um pequeno pacote com sementes de Endara que fora presente de seu colega de quarto da academia, ele observou as sementes avermelhadas e a terra do pátio, se perguntando se devia deixa-las ali para florescer junto com o resto do jardim.

“Venha, Adam, você tem que partir agora” chamou sir Thomas ao lado do portão de ferro. O garoto então enfiou as sementes no bolso e marchou sem pensar. Sir Thomas lhe entregou a espada e a pistola, que enfiou em seu cinto, e ambos viraram o rosto para ver os guardas chegarem trazendo a Seya. Ela estava envolvida por uma corrente ao redor da cintura à qual estava preso um par de algemas de ferro que seguravam seus braços à frente de seu corpo, inúmeras escrituras de feitiços estavam cunhadas ao metal. A postura da Seya era com certeza ameaçadora apesar dos ombros encolhidos e cabeça baixa, ela raramente levantava os olhos do chão, mas quando o fazia gelava a alma de qualquer um que estivesse em seu caminho, suas mãos pressionavam-se uma contra a outra, estralando seus dedos, como um tique nervoso. Ela se encontrava um pouco mais vestida do que na noite anterior, mas nem perto do que seria adequado em um frio gélido como aquele.

“Ela sabe que não pode ir muito longe da magia que está presa no bracelete, ela ficará mais fraca à medida que se afastar dela, então você não deve ter problemas com tentativas de fuga” Melmond chegou detrás dos guardas e colocou as mãos nos ombros de Adam “Contamos com você”.

O portão do castelo se abriu a comando de uma guarda, e ambos Adam e a Seya adentraram o mundo de perigos que jazia no exterior das muralhas. Ele sabia por onde ir, de tantas vezes que havia revisado o mapa naquela noite mal dormida, e foi naturalmente se embrenhando na relva, sendo seguido pela criatura. Quando sumiram de vista dos que estavam parados ao portão, este se fechou e sir Thomas virou-se para Melmond, e disse em confidência:

“O garoto parecia nervoso, eu ainda não entendo porque você o escolheu” Melmond riu e olhou para o outro homem.

“Ele tem uma força de vontade maior do que o comum, é isso que você ganha quando ambos os seus pais são assassinados por Seyas” ele respondeu enquanto o olhar de surpresa de Thomas pousava em seu rosto. Eles se viraram para adentrar o castelo e Melmond estava satisfeito com a concretização de uma etapa de seu plano, no qual a determinação e habilidade do garoto não iriam servir em nada, pois esse soldado exemplar nunca iria chegar vivo à Capital. O homem apertou em seu bolso o bracelete que havia roubado do casaco de Adam.

O garoto podia quase sentir a respiração quente da Seya atrás dele, a floresta foi se fechando cada vez mais e Adam mantinha a mão tensionada no cabo da espada à sua cintura. Aquela situação parecia um pesadelo, ele não podia aceitar o que estava acontecendo como realidade, seu estômago se embrulhava cada vez que ele se lembrava de estar escoltando uma assassina, sua mente não conseguia se concentrar em nada mais do que a lembrança das altas labaredas de fogo que ficarem impressas em suas memórias de infância. As copas das árvores barravam qualquer luz que quisesse tocar o solo, e ambos se misturaram cada vez mais com a escuridão melancólica. Horas de viajem se passaram sem que ambos trocassem uma palavra e tudo o que pairasse no ar fosse sua respiração pesada e os sons da floresta. O barulho relaxante das folhas e galhos se partindo a cada passo parecia não surtir nenhum efeito nos dois, muito menos a pureza do ar.

O som de água corrente alcançou os ouvidos de Adam antes da visão do riacho que corria por pedras manchadas de musgo, ele retirou o mapa de seu bolso e verificou sua posição. Depois ele se debruçou sobre a água gélida para encher o cantil pendurado em sua mochila, foi então que a Seya apareceu em seu campo de visão, parada em cima de uma rocha, observando atentamente a floresta como se seus olhos pudessem alcançar muito mais longe do que se pode compreender. Adam então percebeu que ela estava descalça e as crostas que constituíam a sola resistente de seus pés negros eram banhadas pelas águas que desciam a colina. As partes de seus braços que não eram cobertas pelos panos que usava estavam marcadas por feridas em processo de cicatrização, uma pequena mosca pousou em uma delas. Então ela se voltou para ele, como se esperasse impacientemente que a viajem continuasse e que tudo aquilo acabasse logo, ela varreu com o olhar a figura do garoto.

Aos olhos de Kara, a pele do garoto parecia assustadoramente fina e pálida, a forma como ele a olhava a incomodava e produzia uma raiva crescente dentro de si, ele não parecia reconhecer o mínimo de humanidade no olhar dela, ao contrário, a olhava como a um animal. A desesperança tingia sua alma mais e mais a cada segundo que percebia que era observada.

“Você quer um pouco?”, Adam perguntou, suas palavras lutaram para sair e sua raiva lutou para se dobrar àquela cena, mas os lábios ressecados e rachados da Seya despertaram certa piedade malquista. Ela continuou penetrando sua alma com o olhar, não demonstrando qualquer indicação de que tenha ouvido a pergunta. Adam simplesmente se moveu para frente e esticou o cantil em direção à boca dela, de qualquer forma, ele não podia deixa-la morrer antes que fosse entregue. Ele colocou o cantil em seus lábios, temerosamente. Ela não se moveu. Ele então virou-o e a água correu pela garganta da Seya, que bebeu vagarosamente metade do cantil. Ele se virou para enchê-lo mais uma vez, surpreso por não ter sido atacado.

A viajem prosseguiu até o cair da noite, quando, pensando ter achado um bom lugar para se estabelecer e descansar, Adam montou uma barraca com os suportes e panos que lavava em sua bolsa e acendeu uma fogueira com alguns galhos secos. Ele se aproximou da Seya com nervosismo, e mandou-a sentar ao lado do tronco de uma das árvores, como ela não demonstrou nenhuma intenção de seguir sua ordem, ele levou a mão ao cabo da espada, ela olhou-o com ódio e fez o que foi mandado. Ele passou uma corrente extra pela árvore e prendeu-a na cintura dela, depois, ele pegou um dos pacotes envoltos com folhas em sua mochila e o esticou a ela, a Seya pegou o pacote rapidamente, e quando um pedaço de sua mão raspou na de Adam ao pegar o alimento, produziu uma corrente eletrizante que fez o garoto rapidamente retrair sua mão e virar-se para o outro lado do acampamento.

De dentro da barraca, à beira de um sono irrequieto, Adam passou a misturar a realidade com um sonho suave, e não sabia mais de qual dos dois mundos vinha a melodia quase mágica que parecia sair pelos lábios daquela criatura.


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