Ao decair do último floco de neve... escrita por Cameron Fracktallya Scare


Capítulo 8
❄ Capítulo 8 - Um refúgio ❄


Notas iniciais do capítulo

❄ Trilha Sonora:
Paradise - Coldplay (Versão Instrumental)



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— Monsieur Cameron, com esta postura jamais chegará ao próximo passo.

— Desculpe, estou fazendo o melhor que posso...

— Pois trate de se esforçar mais.

Madame Marriet era extremamente severa, mesmo eu tendo apenas 6 anos, sentia como se tivesse que me comportar como um adulto de 30 em suas aulas de etiqueta e ela não exigia nada menos que a perfeição. Alinhei minha postura no encosto da caideira e levantei a xícara de porcelana, a levando até os lábios para bebericar um pouco de seu conteúdo. Eu trajava roupas sociais, uma camisa branca e calças e casaco negros com botões prateados, obviamente aquilo vinha acompanhado de um par de sapatos sociais negros e lustrosos.

— Sim, claro. Perdoe-me.

Suspirei e então pousei a xícara sobre o pires braco repleto de detalhes dourados, minha tutora em etiqueta prosseguiu um de seus discursos sobre como aquilo era importante e necessário à sociedade. Os usuais chás da tarde me serviam para isso, reforçar os valores da boa educação e do respeito, coisas que eu começava a tomar para mim realmente como importantes. A cada dia tudo se tornava mais interessante e o mundo se expandia mais e mais. Com o encerramento pedi para me retirar dali educadamente e então caminhei em direção à meu quarto cruzando os corredores do palácio de meu avô, lorde Bóreas. Não o via fora de ocasiões como o baile de inverno de Quebec mas tão qual me permitiria pensar em visitas a uma divindade tão atarefada.

Mesmo com a pouca idade, já tinha plena consciência de quem eu era e o que estava fazendo naquele lugar, alguns julgariam o treinamento pesado e árduo mas sabia que minha mãe, lady Quione, estava me preparando para a vida lá fora e que se importava a ponto de garantir minha rotina. Eu já possuía um comportamento bem menos rebelde e inquieto naquela idade e meus cabelos, anteriormente negros, agora estavam em um tom claro de loiro. Uma prova viva e visível de que eu estava me saindo bem e progredindo e que minha mãe se importava comigo, já que aquilo tudo era obra de suas delicadas mãos.

Abri as portas que davam para um quarto simples e decorado com o mais puro gelo, algo muito interessante eram os pequenos detalhes daquele lugar. Pensei imediatamente em ir até a biblioteca. Como já tinha passado pelos treinos matinais e haveria uma caçada noturna com Sr. Tats eu poderia aprofundar-me um pouco mais. Andei até a janela e toquei o vidro frio, lá fora um belo tapete branco cobria tudo a volta de minha morada e foi então que meus planos vieram por água a baixo.

— O jardim...

Sussurrei e deixei um sorriso se espalhar pelo rosto de traços singelos, a alguns anos atrás eu havia entrado em um quarto do palácio, provavelmente o quarto de lady Quione mas eu realmente não sabia e era uma criança um tanto quanto sapeca e levada... De modo que bati em uma mesa ao sair correndo dali e derrubei algo que se espatifou no chão estilhaçando-se em milhares de cacos que não fiquei para ver. Naquela noite a deusa da neve me chamou para junto de si, ela estava sem uma única expressão no rosto e seu cabelos de ébano estavam soltos em cascata, o olhar penetrante de íris marrom-café me assombrou por certo tempo. Lembro de suas palavras rígidas até hoje, ou pelo menos me lembrava de algo parecido...

"Cameron, por imprudência e desobediência além da falta de modos você esta sentenciado a cuidar de meu jardim de inverno todos os dias de sua vida. E se acaso eu ver uma única flor murchar terei de tortura-lo e mata-lo, fui bem clara?"

Cristalina eu diria. No dia seguinte peguei minha tarefa e era complicado cuidar daquele lugar, afinal de contas eu tinha apenas três anos e meio mas com o tempo me descobri um excelente botânico e o jardim passou a ser meu pedacinho do céu. Me livrei das vestes sociais e então coloquei as roupas simples que eu tanto adorava, uma camiseta branca e um macacão jeans além de botas confortáveis. Poder me vestir daquele jeito me fazia sentir um pouco mais livre de certa forma e aquilo era revigorante.

No caminho para o lado de fora passei pela porta do quarto de minha irmã, Tiffany, eu adoraria ter companhia mas raramente a via, nós passávamos muito tempo reclusos ou treinando e simplesmente não queria incomoda-la. Não sabia se ela estava de fato ali ou não. Fiquei alguns segundos olhando a porta entalhada e então voltei a atenção ao corredor, nada de importunar as pessoas. Continuei seguindo a passos levemente rápido pela extensão do palácio, eu queria estar do lado de fora logo, queira poder enfiar as mãos na terra coberta de neve e sentir que o frio me abraçava outra vez. Mesmo que fizesse aquilo dia após dia jamais me cansaria.

— Senhor Cameron.

Uma das serventes me reverenciou, ela esperava na porta dos fundos depois das escadarias, como de costume. Assenti com uma leve mesura em resposta e passei por ela, no mesmo instante a brisa gélida se chocou com meu corpo percorrendo os braços e me enchendo de energia, eu adorava estar do lado de fora das paredes da fortaleza dos boréades. Segui para o jardim de lady Quione pelo caminho de pedras recobertas pelas neve e suspirei ao ver as belas flores que se encontravam à frente, o ambiente era repleto de cores frias. Todas as flores possuíam tons diferentes de branco, azul e roxo, como se em um degradê fosse criado nas rosas, azaleias, hortênsias, copos de leite entre outras. Ao centro daquele esplendor se encontrava uma bela árvore seca com galhos leitosos de onde perdiam fios brilhantes com gostas de cristal, centenas delas enfeitando a palidez da paisagem.

— Aqui estamos... bem, acho que é hora da diversão.

Sussurrei com o sorriso que brincava em meus lábios. Não me atreveria a dizer aquilo em voz alta jamais. Me dirigi ao pequeno armário de madeira que se localizava mais aos fundos do jardim, retirei uma chave de prata do bolso e a girei no trinco. Uma série de estalos pode ser ouvida e o espaço para que eu pegasse as ferramentas de jardinagem se abriu para que eu o trancasse novamente logo em seguida. Ajoelhei diante das hortênsias que predominavam em lilás e azul as admirando com fascínio e então iniciei meu trabalho, naquele momento eu estava em paz.


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Notas finais do capítulo

É necessário fazer do mundo um lugar melhor para si mesmo e jamais desistir de suas metas... Cameron aceitou o fardo que lhe foi dado e agora deve prosseguir sua vida, esta feliz mas será que essa felicidade durará muito tempo?...