Condenados escrita por Durga


Capítulo 1
Acordo Nupcial




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559237/chapter/1

Eles dizem que nenhum lobo pode amar. Eles dizem que somos amaldiçoados. Dizem que nunca poderia existir misericórdia em um lobo.

Mas eu digo que estão errados. Porque cada maldito dia de minha vida foi vivido graças à esta estranha força. O Amor de nossa mãe. O amor de minha irmã. O amor de um povo.

E agora que vivo sem ele, não posso deixar de notar. Existo porque o senti um dia, e espero que minha irmã ainda o sinta. Tenho certeza do quanto sentirá a minha falta, mas tenho fé de que não irá sucumbir. Bem, talvez fé seja uma palavra forte demais. Eu tenho esperança. Isso deve ser suficiente, na ausência do amor.

Tudo começou com uma mestiça. Ela era filha da Rainha das Lobas Lumi, do norte, as terras congeladas, e do Rei Elfo Terridas, da terra média. Ela nasceu com o instinto de loba em si. Não fazia combinação com as mulheres com quem o mundo estava acostumado.

Ela nasceu com a bênção de dois povos. Ela era esperada. Era feliz. Mas é tão difícil para mim imaginar isso quanto um animal que viveu a vida em cativeiro imaginar a selva. Eu não sabia como ela era feliz.

Cresceu sob a proteção dos ramos da floresta. Dizia-nos que os via acima de si, como mãos tapando o sol quando ela passava, e os pássaros a cumprimentá-la e a segui-la. Gostava de esportes, da caça, das corridas, das lutas! Aprendeu a usar um arco, quando atingiu 8 anos. Aos 13, viajou para oeste e conheceu os dinamarqueses, assim aprendeu a usar uma espada. Na verdade, a versão menor de uma espada, já que a arma utilizada por aqueles homens gigantescos era, sem dúvida, pesada demais para ela.

Nossa mãe aprendeu a nadar logo que começou a andar. Aprendeu Astrologia logo que leu a primeira palavra no idioma Lumi e em élfico. Aprendeu a pintar um quadro quando machucou seu joelho e resolveu desenhar uma rosa no chão com o sangue. E a cantar quando resolveu arranjar uma amiga elfa, para se divertirem juntas.

Porém o tempo passa. Depois do verão vem o outono e então o inverno e a primavera, para vir o verão novamente. Ela teve que parar de caçar, de pintar e cantar para começar a lição de sua vida: A liderança de um povo.

Foi se esgueirando e se envolvendo com essa questão. Os pais a ensinaram a gerir o reino, a resolver brigas entre pessoas, a controlar a fronteira, a liderar um exército, a ser justa, fiel, honrada. Tudo que ela precisava para ser uma futura rainha.

Era o que ela queria. Era a arte da vida dela. Seria seu futuro. Apesar de penoso, trabalhoso e realmente difícil, ela sabia que deveria cumprir seu dever. Sua nova amiga elfa, Lian, seguiu-a por todos os caminhos que ela tomara, e tornou-se Lady Lian. Lembre-se do nome, é importante.

Cada vez mais nossa mãe ouvia o chamado da loba e da elfa dentro de si, sem poder atendê-los. A diversão não podia mais continuar.

Quando atingiu 20 anos, aconteceu algo, no entanto, que mudou todo o rumo que a vida de nossa mãe tomaria. Aquilo foi sussurrado por entre as paredes, foi jogado de boca em boca, permaneceu entre as sobrancelhas franzidas de Rei e Rainha. No fim, foi colocado diante dela, como uma sentença de morte.

Casamento.

Ninguém disse que ela não casaria. Tampouco disseram que ela casaria. Era um assunto um tanto... Desprezado entre a corte e o povo da floresta. Por isso, posso dizer que a palavra Casamento chegou à minha mãe por uma razão diferente.

Estavam ocorrendo conflitos na fronteira da floresta. O reino dos Lobos, ao sul, os atacava para expandir as terras. O exército era liderado de frente por um rei tão cruel e sádico quando o Rei Elfo era bondoso.

Um acordo de casamento. A paz em troca de matrimônio. O Lobo e a Mestiça.

O Rei Elfo não queria que a Princesa casasse com o Lobo. Foi nossa mãe quem decidiu. Tantas pessoas morrendo. Viúvas. Órfãos. Feridos. Não. Ela não podia permitir que acontecesse. Se ela tivesse uma chance de salvar o pacífico reino da floresta, ela salvaria. Era seu dever, não fazia mais que a obrigação.

Desculpe-me, tenho que parar um instante. Estou me sentindo tão triste que as palavras escapam. Ás vezes, arrependo-me por ter nascido e ter tirado o que sobravam das chances dela. Nota-se que uso "eu" e não "nós". Não consigo pôr minha irmã nisso. Não consigo pensar sequer uma infâmia sobre ela.

Bem, continuando.

Então, a princesa elfa-loba, viu-se dizendo adeus à tudo que amava: Seu reino, seu povo, seus esportes, seus pais e sua amiga Lady Lian. Ela teria que dizer adeus a tudo. E por tudo isso ela despediu-se daquilo que mais presava, e aquilo que nunca mais teria: Liberdade.

Casou-se com o Rei Lobo, que provou-se tão ou mais cruel quanto diziam os bardos. Foi nesse meio que nascemos. Que crescemos. Que treinamos. Provando cada sofrimento e cada dor. Cada gota de sangue enquanto as lágrimas escorriam de nossos rostos.

Nisso que surgiu meu destino. Vejo agora, eu não tinha escapatória desde o começo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Condenados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.