Os dois seguiram para a casa de Neji. Já eram quase oito horas e a lua estava no céu, radiante e cheia. Perfeita para dois namorados.

   Aquela frase não saia da cabeça de Tenten: “Eu amo ela”. Soava como uma música com um tom calmante, mas ainda acelerava só de pensar no Neji dizendo aquilo. Será que estava apaixonada por ele? Quanto mais pensava nisso, mais achava impossível.

   Seus pais morreram um dia antes de seu aniversário, e como presente, a fizeram conhecer Neji, um homem do tipo galã de novela.

   - Não acredito que ele disse aquilo... – Disse Neji, assim que abriu a porta

   - Ele não parece tão ruim quanto você falou.

   - Tá brincando? Ele disse aquilo só para parecer bonzinho! Nem graça teve! – Disse Neji jogando o casaco no sofá

   - E você? Disse aquilo só para convencer seu tio? – Disse Tenten curiosa com a resposta que ele daria

   - O quê? – Perguntou Neji inocente sem saber do que ela estava falando

   - Aquilo... “Eu amo ela”. Era verdade? – Disse ela sem cerimônia

   - Você acreditaria se eu dissesse que foi só para encerrar a conversa? – Disse Neji passando os dedos no cabelo demonstrando nervosismo

   - Não. – Disse Tenten dando um breve sorriso

   Mais uma vez aquele sorriso que fazia Neji se derreter por dentro. Ele sentia algo especial por ela, desde a primeira vez que a viu. Era como se algo o prendesse a ela, como se ele precisasse dela e daquele sorriso.

   - Bom, na verdade... – Disse Neji nervoso. Tenten estava esperando uma resposta, e ela ficaria ali a noite toda só para ouvir a versão dele da história – Como eu posso dizer...

   - Era verdade ou mentira? – Insistiu Tenten. Ela tinha todo o tempo do mundo para buscar a resposta

   - Ahn... – Disse Neji pensativo – Você acredita em amor a primeira vista?

   Aquilo veio de imediato na cabeça de Neji e ele disse sem medir palavras. Tenten fez uma cara de quem não acreditava.

   - Amor a primeira vista? – Repetiu Tenten. Ela queria ter certeza de que estava escutando direito

   - É que... – Disse Neji tentando buscar palavras. Assim que conseguiu formular a frase na cabeça, o telefone tocou. Neji se irritou por um momento, mas logo se acalmou. Bastou um olhar para um entender o outro. Era como se dissesse: “Vou atender ao telefone” sem precisar falar.

   - E aê, cabelão? Beleza? – Disse do outro lado da linha.

   - Eu já te falei para não ligar para cá! – Neji olhou para trás, e viu Tenten sentada, calma esperando. E utilizou a mão para fazer um túnel entre a boca dele e o telefone. Desse jeito poderia falar um pouco mais baixo e somente a pessoa do outro lado da linha ouvir – Lembra do que aconteceu da última vez?

   - Qualé, desencana. Não vai acontecer nada demais... – Ele ficou quieto antes de falar de novo – E aí? Conseguiu a grana que devia? Os cara tão cobrando.

   - Lee, eu já disse que não vou pagar nada. É muito!

   - Qualé, mermão! Os cara tão pegando no meu pé aqui! Tá difícil! Toda vez que eu encontro com eles, me perguntam de você. E já utilizei todas as desculpas possíveis. Ajuda aí... O prazo é até amanhã de manhã. Se você não conseguir o dinheiro, nós estamos fritos. E, bem... Foi bom te conhecer, cara!

   - Não diz isso, Lee. Eu dou um jeito.

   - Tá bem, mas espero que não seja do mesmo jeito que nem da outra vez.

   E desligaram. Aquela conversa curta foi o suficiente para mexer com a cabeça de Neji. Aquele assunto... Ele devia ter acabado há tempos. Nesse caso, só havia uma maneira de dar o assunto por acabado: fazer o que eles pediam, e nunca mais voltar.

   - Que houve? – Perguntou Tenten curiosa

   - Eu lembrei que tenho que ir para um lugar.

   - Posso ir junto? – Perguntou Tenten animada levantando do sofá num pulo

   Ir junto com ele? Seria muito arriscado.

   - Não vai dar... Tá escuro e... – Neji tentou argumentar, mas contra ela era inútil. Tenten conseguia o que queria, quando queria e como queria. Uma garota muito determinada

   - Não vai me dizer que tem medo do escuro? Ah... Deixa. Não vai acontecer nada.

   “Assim espero” – Pensou Neji. Pode ser que nada aconteça, mas do mesmo jeito era perigoso. Mas quem iria dizer “não” a um rostinho meigo como aquele? Parecia com o de uma criança mimada. Só faltava o biquinho.

   Tenten já havia conquistado Neji, e essa era uma das razões para querer que ela fosse. Ele não queria machucá-la.

   - Tá bem... – Disse Neji num suspiro. Aquele pequeno murmurinho de vitória vindo da Tenten já era o suficiente para não se arrepender da escolha. Mas uma hora iria. Mais cedo, ou mais tarde.

   Neji pegou o que precisava e foi. Sem a permissão do Hiashi, por que se soubesse as intenções de Neji, nunca mais falaria com o sobrinho, e ficaria super decepcionado. Quem não iria? Neji estava fazendo algo errado, e era por isso que estava indo para lá. Para dar um fim nisso de uma vez por todas.

   A um certo ponto do caminho, as ruas começaram a ficar mais sombrias, e quanto mais sombrio ficava, mais Tenten apertava o braço de Neji. Por que ela estava com medo de algo tão pequeno? Para alguém que passava a noite no cemitério, aquilo não era nada. Mas eram outras circunstâncias. Os pais dela tinham morrido e qualquer lugar perto deles ficava mais agradável, mesmo que seja um cemitério.

   Neji se sentiu incomodado com o tanto que ela tremia. O que ele podia fazer para acalmá-la? Nem pensou antes de falar:

   - Não tenha medo. Não vou deixar nada acontecer com você.

   Tenten se surpreendeu com a inesperada declaração. Bastou ler as entrelinhas e olhar diretamente nos olhos dele para entender a mensagem. Aquele olhar cheio de ternura e amor era o mesmo de seus pais, que estavam sempre lá para protegê-la, por que eles amavam uns aos outros. Logo entendeu a resposta da pergunta.

   Segurou o braço dele sem tremer e encostou a cabeça no ombro dele. Fechou os olhos e esboçou um sorriso diferente de todos os outros e falou:

   - Então era verdade, né?

   Neji sabia do que ela estava falando, e por isso ruborizou.

   As ruas não estavam mais sombrias, tinham se tornado num lugar agradável. E pela primeira vez Neji apreciou aquele caminho, e desfrutou a companhia de Tenten.

   Mas o clima foi quebrado quando um sujeito vestido com puro verde apareceu.

   - Aê, cabelão! Sabia que não ia me deixar na mão! – Disse Lee num tom cantado, colocando o braço em volta do pescoço de Neji.

   - Lee, eu já pedi para você parar com isso! – Disse Neji visivelmente irritado

   - Quem é ele? – Perguntou Tenten soltando o braço de Neji

   - Me deixa apresentar. Tenten este é Rock Lee, um colega meu. Lee esta é...

   - Colega, cara? – Lee interrompeu Neji. Adorava irritá-lo. Sempre o via sério e era interessante quando ele perdia a paciência. Largou o pescoço de Neji e foi para Tenten. Fez o mesmo que fez com Neji. Enlaçou o pescoço dela com seu braço. – Eu sou o amigo mais chegado dele, e eu nunca vi o Neji com nenhuma garota, a não ser a prima dele. Você é uma garota de sorte sendo a namorada do galã do bairro! – Disse ele com um sorriso enorme – Tenten, certo? Rock Lee, prazer. – Disse dando um aperto de mão

   - O prazer é meu. – Disse Tenten com um sorriso amarelo

   - Lee, pode ficar com Tenten por um segundo? Preciso falar com eles sozinho.

   - Pode deixar, chefia! – Disse mostrando o dedo polegar, indicando que estava tudo bem.

    E Neji seguiu um pouco mais a frente e virou numa esquina. O sorriso de Lee desaparece por um momento.

   - Ele diz que vai dar um jeito, mas no final, ele traz a namorada para o perigo. Grande, Neji. – Disse ele irônico

   - Como assim?

   - Não fico surpreso que não sabe. Ele não gosta de falar sobre o assunto. – Disse Lee

   - O quê? – Insistiu Tenten

   - O Neji tem certa rivalidade com esses caras. Uma hora são amigos, noutra não. E ainda dizem que o Neji deve algo a eles. Não me pergunte de onde eles tiraram essa idéia.

   Tenten curiosa, se solta de Lee e vai até a esquina onde neji virou. Parou e espiou. Lee ficou surpreso?:

   - O que está fazendo? – Perguntou indo até ela

   - Eu fiquei curiosa, oras. Vim ver. – Disse ela sem tirar os olhos de Neji

   - Não seria espiar? – Corrigiu Lee, mas ela pediu para ficar quieto com um “Shh!”.

   - Quem são eles? – Perguntou Tenten se referindo aos homens parados na frente do Neji

   - São os Uchiha. O que está no meio é o Sasuke, o da direita, Itachi, e o da esquerda, Kisame. Ele não é Uchiha, mas tá sempre acompanhando Itachi. Não se desgrudam nunca.

   Eles estavam pertos o suficiente para ouvir a conversa e longe o bastante para Neji não descobrir.

   - Agora, eu to livre? Vocês não vão mais pegar no meu pé? – Pergunta Neji jogando um pacote na direção deles

   - Pode se dizer que sim. A divida foi quitada. E não temos mais nenhum assunto com você. – disse Sasuke com tom superior

   - Ao que parece você trouxe amigos. – Disse Itachi olhando para Lee e Tenten que ao perceberem que foram descobertos se esconderam

   - Podem chegar mais perto, nós não mordemos. – Disse Kisame

   - Por favor, não façam como da última vez... – Disse Neji quase num suspiro

   - Não se preocupe, não temos armas dessa vez. – Disse Kisame lembrando-se da última vez que Neji tentou se livrar deles. – Coitados do Sr e da Sra. Mitsashi, com tanto tempo pela frente. – Disse sem nenhum remorso

   Quando foram ditas essas palavras, o coração de Tenten acelerou. Eles sabiam alguma coisa de seus pais? Ou talvez eles tinham alguma coisa a ver com a morte de seus pais? Ela não pensou nas conseqüências antes de se revelar e perguntar:

   - Como assim? Vocês tem alguma coisa a ver com a morte dos meus pais? – Perguntou Tenten chocada

   - Você é filha deles? – Perguntou Sasuke

   - Quer dizer, era, por que eles não estão mais aqui. – Corrigiu Kisame com uma risada cínica

   Por várias vezes, Lee tentou segurar ela, tirá-la dali. Mas era inútil, ela se soltava rapidamente. Estava curiosa e chocada ao mesmo tempo. O que tudo aquilo tinha a ver com a morte dos pais dela?

   - Você não sente culpa, Neji? Por tirar os pais dela assim... – Disse Itachi sem nenhuma expressão facial

   - Neji! – Disse olhando para ele como se perguntasse: “É verdade?” – Por favor, me diz que é mentira... – Disse ela no meio de lágrimas, quase suplicando.

   Mas ele apenas fitava o chão sentindo culpa. Como ele podia se explicar? Que era uma mentira? Não, ele sabia que era verdade. Ele causara isso e evitara falar de seus pais desde que a conheceu. Desde que ouviu seu nome. Tentara encontrar um jeito de se explicar, mas o fato dela morar em sua casa, mesmo que seja por um curto tempo, ela conseguiu conquistá-lo. Não podia evitar. Ela era muito feminina, tinha sorrisos maravilhosos, cada toque seu frágil, e seu corpo com curvas singelas o atraiam cada vez mais. E machucava seu coração ao vê-la chorando daquele jeito, principalmente por que sabia que aquilo era culpa dele.

   - Não posso... – Disse num suspiro que cortava seu coração mais ainda. Mas seu jeito sério de ser o impedia de chorar.

   Ela levou a mão à boca ainda mais surpresa e triste. Como ele pode fazer isso? Ela se afastava cada vez mais. Não acreditava que ele podia ter feito isso. Era inaceitável. Mas parte de seu coração dizia que era possível, afinal ela mal o conhecia.

   - Tenten, espera... Eu posso explicar... – Disse Neji como alguém que foi pego no flagrante e estava tentando explicar. Mas esse flagra estava um pouco atrasado.

   - Não... – Disse ela repetidamente – Não quero explicações, não preciso! Afinal, eu mal te conheço!

   E correu o mais rápido possível. As lágrimas escorriam pelo seu rosto e não paravam de chegar. De certa forma, traiu e foi traída. Traiu seus pais se apaixonando por quem os matara, e foi traída por Neji ao esconder que havia matado eles.

   Aquilo não era certo, não mesmo! E decidiu nunca mais vê-lo, nunca mais se apaixonar. Pelo menos, não pelo homem que matou seus pais.