Kaos - O Encontro Com Eris escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 7
A Calmaria


Notas iniciais do capítulo

O navio está passando por uma calmaria, uma calmaria tão intensa que se eles não saírem dela, podem ficar no mundo dos mortos para sempre.



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– Icem aquela vela! - gritava Barbosa.

– Icem aquela vela! - repetia Jack.

– Coloquem na direção do vento!

– Coloquem na direção do vento!

Ai que ridículo...

– Icem os cadetes!

– Icem os cadetes!

– O que está fazendo? - Barbosa perguntou nervoso enquanto todos trabalhavam seguindo as ordens no Pérola.

– O que você está fazendo? - Jack perguntou encarando-o.

– Não! O que você está fazendo? - Por Eris..., pensei revirando os olhos e balançando a cabeça negativamente.

Eles ficaram nessa discussão durante um bom tempo.

– Eu sou o Capitão desse navio - disse Jack.

– O Capitão do navio está dando ordens! - disse Barbosa se referindo a ele.

– Meu navio, eu sou o Capitão - disse Jack.

– Os mapas são meus! - disse Barbosa que não soltava o mapa de jeito nenhum e eu me arrependi de confiar o mapa a eles.

– Então você é o navegador.

– Calados vocês dois! Isso é uma ordem! Entenderam? - espera, careca dando ordens? Todos arregalaram os olhos na direção dele e ele começou a rir. - Desculpe, pensei que com o cargo de Capitão em jogo eu poderia colocar meu nome em pauta.

– Só que não, se estivesse em jogo eu seria a melhor opção, afinal é o que tenho feito desde que Jack se fora - eu disse apoiada no meu canto.

– Eu fui o Capitão - disse Barbosa.

– Foi uma ova. Você já era Barbosa - eu disse olhando as minhas unhas como se ele fosse insignificante.

Barbosa então subiu as escadas nervoso e Jack foi atrás querendo andar na frente dele. Eu continuei observando do mesmo lugar em que estava. Barbosa esticou sua luneta para ver o horizonte. Jack ficou observando a luneta e pegou a sua que era bem menor, mas bem menor mesmo. Barbosa olhou pra ele se achando. Preciso comentar o quanto aquela atitude era infantil e ridícula? Jack desceu as escadas.

– Preciso comentar o quanto isso foi ridículo? - eu disse para Jack.

Jack me olhou nervoso e foi para a cabine do Capitão, eu o segui rindo.

– Eu sou o Capitão do Pérola! Eu! - disse Jack nervoso.

– Eu sei. Calma, todos sabem disso.

– Nem todos - ele disse suspirando nervoso. - Como conseguiu navegar com Barbosa, William e Elizabeth?

– Confesso que tive vontade de matar Elizabeth algumas vezes. Will foi fácil porque ele é meu amigo de infância e Barbosa eu intimidei algumas vezes invadindo a alma dele.

– Oi? - Jack me olhou estranho.

– É... eu consigo fazer isso - eu disse como se fosse algo comum e dando de ombros.

Jack me puxou para perto dele, me envolvendo em seus braços.

– O que mais eu perdi sobre você nesse tempo que fiquei morto? - ele olhava para meus olhos e para os meus lábios e eu sorri de maneira desafiadora.

– Por que você não vai descobrindo aos poucos?

– Eu adoraria.

E então nos beijamos de novo. Pelos deuses, era muito bom, okay, vou parar de falar isso sempre em algum momento, eu sei que vou, mas por enquanto preciso dizer que é muito bom. As mãos de Jack na minha cintura, me puxando pra ele e minhas mãos descendo em seu peito por dentro da jaqueta.

– Você está andando em águas perigosas Kaos - ele disse quando minhas mão chegaram em sua barriga.

– Eu não tenho medo - eu disse abaixando para o início da calça dele.

– Pelo que eu sei de você, você ainda não fez isso.

– Não mesmo - eu disse puxando pra perto de mim. Ficamos nos olhando por um tempo. - Está com medo de me decepcionar Jack? Ou com medo de eu virar uma mocinha grudenta que vai ficar toda melosa te defendendo de tudo? Você sabe que a segunda opção não faz parte do meu feitio, não é mesmo? - dei uma risadinha e ele sorriu de volta.

Jack me pegou pela cintura, me puxando pra cima e eu envolvi minhas pernas ao redor da cintura dele, ele me colocou na cama,a cama que ele me deixava dormir enquanto ele dormia na rede, nossos beijos ficaram mais envolventes e comecei a sentir em meu corpo coisas que nunca senti antes, arrepios deliciosos. Começamos a tirar a jaqueta do outro até que eu senti algo estranho.

– Jack...

– O que? - ele beijava meu pescoço.

– Está sentindo isso? - perguntei.

– Uma vontade enorme de te agarrar? Estou.

– Não... - eu o fiz parar de me beijar e olhei nos olhos dele. - Os mortos... sendo levados ao Tártaro.

Ele me olhou sério e então começou a ajeitar a camisa dentro da calça e eu desci a minha camiseta e coloquei a jaqueta. Ele colocou a jaqueta e o chapéu de Capitão e nós dois saímos da cabine do Capitão e todos olhavam na borda.

– Olhem! É o meu pai! Chegamos! Estamos em casa! - gritou Elizabeth. - Pai! Pai, aqui! Olha pra cá!

– Elizabeth, não voltamos - disse Jack.

Então Elizabeth caiu na realidade e nós meio que sentimos muita pena dela naquele momento, até eu, confesso.

– Papai! - ela o chamou.

– Elizabeth - ele a viu no seu pequeno bote. - Está morta?

– Não, não - ela estava quase chorando.

– Acho que eu estou - ele disse sorrindo de lado.

– Não pode estar!

– Foi por um baú, entende? Estranho... na hora parecia importante...

– Venha à bordo pai!

– ... e um coração. Eu soube que se furasse o coração, o seu tomaria o lugar e você velejaria os mares para sempre. O Holandês deve ter um Capitão. Motivo bobo pra morrer.

– Alguém jogue uma corda! - Elizabeth ordenou em desespero. - Volte conosco! Volte! - ela já estava praticamente chorando. Ela jogou a corda sobre o bote do pai. - Pegue a corda!

– Estou tão orgulhoso de você - o pai de Elizabeth disse e eu comecei a chorar também, eu não entendi o porque exatamente, mas talvez seja porque eu sei como é a dor de perder o pai, de vê-lo partir diante dos seus olhos quando você poderia ter feito alguma coisa.

– Pegue a corda! Pegue a corda! - Elizabeth já estava chorando em desespero.

A corda caiu do barco e Elizabeth saiu correndo.

– Não pode sair do navio - disse Dalma e Will saiu correndo para impedi-la de pular. O que me lembrou nitidamente do momento em que gritei meu pai e quis pular atrás dele no mar. Era como se eu estivesse vivendo aquele momento de novo. Corri para Kyle e o abracei forte. Ele não me fez perguntas, apenas me abraçou de volta, ele começou a fazer carinho em minha cabeça, ele sabia que eu estava me lembrando daquele momento de novo. Os gritos de Elizabeth se misturavam ao meu da minha memória, o meu desespero em não deixá-lo cair, a dor nas minhas costelas, tudo estava vividamente sendo lembrado.

Então todos se recolheram e eu fiquei assistindo o sol nascer na proa. Jack se sentou ao meu lado.

– O que aconteceu ontem a noite?

– Como assim?

– Com os mortos... quando Elizabeth saiu correndo....

– Ah... isso... eu me lembrei exatamente do momento em que meu pai caiu no mar e morreu, eu gritei, querendo ir salvá-lo, mas me seguraram para que eu não pulasse do navio, gritei de modo tão desesperado quando Elizabeth e isso me deixou sensibilizada.

– E por que correu para o Kyle? - ele perguntou meio sem graça e eu comecei a rir.

– Ficou com ciumes?

– Não, não é isso é só que... sei lá... achei que... é... bom...

Dei um beijo na bochecha de Jack,

– Gosto de você pra caramba - sorri ainda com o rosto perto do dele. Ele sorriu pra mim, pegou minha nuca e me beijou.

Alguns dias se passaram enquanto estávamos à deriva, as águas tranquilas, o mar aberto, o horizonte infinito. Estávamos ficando sem água e sem suprimentos e o sol parecia cada vez mais seco e quente.

– Se nós não sairmos dessa calmaria antes da noite, vamos velejar por mares não mapeados, condenados a vagar entre os mundos, para sempre - disse Dalma.

– Sem água, o para sempre não vai demorar muito a chegar - disse Gibbs dramático como sempre.

Cheguei até Jack, que rodava o mapa.

– Como conseguiu o mapa? - perguntei baixinho, ao lado dele.

– Você ainda me pergunta querida? Eu sou incrível e esse navio é meu - ele disse concentrado no mapa. - Vou te ensinar a olhar esse mapa também.

– Não precisa, esse eu sei olhar - ele me olhou como se não acreditasse. - Quem você acha que trouxe todos pra cá?

– Você? Não acredito. Te ensinei a ler um mapa há pouco tempo.

– Desculpe se eu sou incrível - eu disse de modo convencido.

– Olha... "cima é baixo". Isso é completamente inútil, por que não podem ser mais claros?

– Use a cabeça Jackzinho - disse uma voz estranha do Jack e nós nos olhamos.

– Foi você que fez essa voz? - ele me perguntou e eu balancei a cabeça negativamente.

– Fure o coração - um mini Jack saiu do ombro dele e eu achei aquilo bem estranho.

– Não fure o coração! O Holandês deve ter um Capitão - disse um outro Jack.

– Jack, são suas consciências por acaso? - eu olhei estranho para aqueles Jacks.

– Ora, isso é menos que inútil - disse Jack olhando para o mapa.

– Veleje os mares pela eternidade - disse o Jack da esquerda.

– Eu amo o mar - disse Jack olhando pra frente.

– Mas e o porto? - disse o Jack da esquerda.

– Eu prefiro o rum, rum é bom - disse Jack.

– Cais do porto, onde compramos rum e mulheres salgadas - disse o Jack da direita. - A cada dez anos.

– O que foi que ele disse? - perguntou o Jack da esquerda.

– A cada dez anos... mas eu já tenho uma mulher que pode ficar no mar pra sempre comigo, isso não é o problema... só o rum...

– Dez anos é muito tempo marujo - disse o Jack da esquerda.

– O que demora mais ainda com a falta de rum - disse Jack.

– Mas a eternidade demora muito mais - disse o Jack da esquerda.

– E como você vai passá-la? Morto? - disse o Jack da direita.

– Ou não. O imortal Capitão Sparrow - disse o da esquerda. Okay, eu estava gostando mais do da direita e Jack estava tão absorto naquela conversa que nem parecia perceber que eu estava ali.

– Ah, gostei dessa - disse Jack animado.

– Venha o pôr do sol, não importa - disse o Jack da direita.

– Não o pôr do sol - Jack girou o centro do mapa, deixando o navio de cabeça pra baixo. - Escurecer e nascer... cima! - ele então se levantou de repente e apontou para bombordo do navio - O que é? - e saiu correndo naquela direção e eu o observei.

Okay Jack Sparrow, o que eu perdi sobre você nesse tempo em que ficamos separados? E por que diabos eu consegui ver e ouvir suas consciências com você?

– O que é? - todos foram olhar com ele. - Eu não sei... o que você acha? - ele conversava com ele mesmo.

– Onde? - Gibbs perguntou e Will o olhou estranho.

– Ali - disse Jack.

Ele deu um grito e foi para o outro lado do navio, com todos seguindo ele. Então ele foi para o outro lado e a quantidade de pessoas iam aumentando. Ele corria a bombordo e a estibordo, bombordo, estibordo, bombordo, estibordo. "Cima é baixo", o navio de cabeça pra baixo... é claro! É isso. Corri para estibordo quando todos foram. Ele me olhou e eu olhei pra ele com um sorriso desafiador, ele sabia que eu entendi o plano. Então nós dois nos surpreendemos com o outro lado e todos correram atrás de nós e então, quando o navio começou a balançar, todos entenderam o que Jack queria fazer e começamos a correr juntos, com o mesmo propósito, de um lado a outro. Até que começou a ficar difícil segurar do outro lado do navio e assim que começava a descer, tínhamos que sair correndo para o lado oposto e um dos marujos chineses não conseguiu segurar e saiu rolando para fora do navio. Agora eu estava até um pouco ofegante enquanto me agarrava à ponta do navio e então o navio se inclinou tanto que nossos pés ficaram balançando no ar, todos gritaram, mas eu confesso que estava achando aquilo divertido, até que um cara se soltou, ficou preso na escale e um canhão caiu em cima dele e então, finalmente o navio começou a girar e minha mão escorregou. Comecei a gritar, mas Jack me pegou pelo braço e ficou se segurando em uma mão só.

– Para cima é baixo - ele disse fazendo força para me segurar e manter nós dois em segurança. Ele foi me puxando para cima para que eu pudesse me segurar. Consegui chegar na ponta e segurar a beirada do navio envolvendo-a debaixo do meu braço. Estando segura eu também ajudei Jack para que ele se apoiasse melhor enquanto o navio virava e então o Pérola ficou completamente de cabeça para baixo, com todos dentro da água.

Eles estavam prendendo a respiração, mas eu não, eu agi normalmente. E Jack me olhou estranho. Eu sorri para ele e dei de ombros como quem dissesse 'surpresa!' E então, um certo tempo depois, a água começou a subir em nossa direção, ou seria descer? Só sei que ela avançava de maneira forte, nos dando um grande soco, era como se emergíssemos da água e então todos caímos no convés do navio completamente encharcados. Todos ofegantes e tossindo por causa dos pulmões em brasa. Eu fiquei normal e ajudei Jack a se levantar.

– Okay, você vai me explicar sobre isso - ele disse ofegante.

– Não é nada demais - eu disse. - Só ganhei um quinto dos poderes de Eris.

– O quê? - ele me olhou com os olhos arregalados.


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