O Amor Contado Em Histórias escrita por Vega Sage


Capítulo 9
Coração de Tamagoshi


Notas iniciais do capítulo

Mal a sombra-mulher terminou sua narrativa, o astronauta, que permanecera até aquele momento com olhos perdidos no espaço, não conteve seus pensamentos, que romperam a atmosfera silenciosa do jardim, com voz rouca de oráculo:
— Felizes os amantes!- foi o que disse, assustando a sereia distráida, na outra ponta do banco, que não dera por sua presença, até então.
— Falaste comigo?-perguntou-lhe, voltando-se, sem se virar completamente, enquanto seus pés procuravam cegos pelos sapatos apertados.
Foi a vez de o rapaz recompor-se, atinando que havia alguém mais naquele banco, embora ele, de fato, estivesse nas estrelas.
— É sobre a última história que o casal de namorados, que parece estar logo adiante, estava contando-explicou-se ele.
— Eu não prestava atenção- respondeu-lhe a moça, fingindo bom-tom.
Ele sorriu.
— Falavam do amor. Eu confesso, não pude evitar. Conversavam tão alto que pareciam estar no meio destes arbustos...Acreditas em amores assim?- perguntou-lhe o rapaz.
— Assim como?
— Tão arrebatados. Não lhe parecem coisas de uma época passada?
— És um incrédulo do amor? As épocas se vão, os amores são sempre iguais.
— Creio que hoje as pessoas se amem de outra forma. A tal modernidade...Sei de uma história sobre esses efêmeros e frios amores modernos.
— Ora viva, também contas belas histórias?
— Pensei que não tivesses ouvido o casal tagarela- brincou o rapaz.
A moça consertou-se, conseguindo, enfim, calçar os sapatos apertados.
— Tens razão: falavam alto demais. Mal se conseguia ouvir a música do salão de baile- admitiu, rindo.
Então, ele contou sua história.



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A moderna menininha ganhou de presente um bichinho virtual. Imediatamente, seu coraçãozinho de 100 quilobites enamorou-se pelo ser que não era vegetal, nem animal, mas um fenômeno que inaugurava uma nova espécie do reino digital.

Como era fácil e conveniente o bichinho, que se alimentava de sanduíches, macarrão, sorvetes e cenouras virtuais! Bichinho pouco exigente que se divertia no espaço exíguo de uma tela, cela de cristal líquido.

Passaram-se os dias, ou melhor diria, deletavam-se as horas. E a menina crescidinha transformou-se em moça que se arrumava diante do espelho, antes de seus passeios imóveis pela internet, para um namora hi-tec.

Mas um dia demorou-se o namorado, descumprindo o compromisso. O coração de 100 quilobites se enchia de raiva e desconfiou de que o amor se divertia em outro site.

Com dedos ágeis, ela digitou as teclas de seus sentimentos e deletou o arquivo amor.doc, para que não ocupasse mais espaço na sua curta memória.

O amor nasce de quase nada

e morre de quase tudo.

–Julio Dantas-


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Notas finais do capítulo

O amor deletado, doi mais quando se é lembrado... Espero que tenham gostado



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