O Amor Contado Em Histórias escrita por Vega Sage
Notas iniciais do capítulo
Finda a narrativa, comentou a sombra-homem com sua amada:
- Curioso como as pessoas enamoradas, muitas vezes,escolhem os caminhos mais tortuosos, mais longos, para alcançar seu intento. É como se adiassem deliberadamente o êxtase final.
— Não há nada de tortuoso. São as regras do jogo da conquista-argumentou a sombra-mulher.
— Todo jogo tem uma meta final. Neste, os dois competidores devem conquistar um ao outro, mas parecem se evitar, desdenham-se- tornou ele.
— E acaso ignoras o quanto esse ferimento, essa recusa calculada, dá prazer aos amantes?
— Estás certa disso?
— Sim. Até sei de uma história sobre esse tema-respondeu a sombra-mulher.
O rochedo estava lá, surpreendente em sua forma, como um navio geológico encalhado nos arrecifes das eras.
Comentavam e perguntavam-se as ondas a respeito daquele sujeito:
– Ah, como é belo, como inspira força e poder! No entanto, é tão solitário!
– Por que não avança com temeridade e nos conquista, como ousam as frágeis embarcações?
– Quem sabe do alto possa ver além, muito além do próprio mar, o objeto de seu desejo?
– Talvez seu coração de pedra não tenha o amor por timoneiro. E de nada adiantará eternizarmos nossos gemidos em conchas, porque ele permanecerá insensível.
Então, uma onda se apaixonou pelo rochedo. E pensou:
– Não se trata de um barco insensível. Na verdade, vejo que se molda como uma lâmpada de gênio, pronta paras ser tocada!
Intuitiva e enamorada, arremeteu sobre ele, acariciando-lhe o basalto limoso com intenções líquidas e certas.
De fato, o gênio do amor despertou dentro do rochedo e declarou à onda enamorada:
– Tens direto a três pedidos.
Ela, na preamar do desejo, clamou:
– Quero que me tenhas, rochedo!
Ele, num frêmito apaixonado, rompeu-lhe as rendas de espuma. Mas ela recuou, num refluxo de recato:
– Não, não. Pára!
E o gênio sentenciou:
– Com esse, foram dois pedidos. Tens direito a um derradeiro.
E a onda tornou:
– Ah, quero entregar-me ao desejo! Encontrar-te eternamente e celebrar, com sussurros de conchas e gozo, o nosso amor.
E explodiu sobre o rochedo, cobrindo-o de sal e saliva.
Poucos momentos, que retardam o gozo
do prazer, mais vivo o tornam.
–Almeida Garret-
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Ahh que amor salgado e genioso tens este, serás este o fim de teus desejos Ó grande onda de mi vida.
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