Sem perder a esperança escrita por Ester


Capítulo 14
CAPÍTULO 14 Beijos e frio




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POV KATINSS

Nossa conversa sobre minha visão do futuro não voltou a acontecer. Acho que Peeta entendeu que só queria partilhar meus anseios com ele. Confesso que tive medo que não estivesse comigo à noite, mas logo que cheguei da floresta ela veio com uma torta de frango para o jantar. Nós comemos e logo fomos dormir para recuperar o sono após duas noites cuidando do Luca. A hora em que falou que sempre quis ser meu marido pensei que ia parar de respirar, mas no fim consegui sair correndo antes de ficar muito vermelha. As semanas passam com algumas chuvas ocasionais principalmente no final da noite, nesses dias tenho estado particularmente carente de contato humano, não sei se pelo frio que está começando a fazer ou pelo fato de que comecei a me acostumar a dormir mais noites com Peeta. Antes dormia uma noite com ele e conseguia lidar com as próximas duas ou três noites, agora cada vez que dormimos juntos torna insuportável a separação no outro dia. Até ele que não costuma cobrar, nem falar nada, tem reclamado de forma sutil do tempo em que passa sozinho. Sempre sou eu quem decide se fica ou não, ele deixou a meu critério. Mas tinha noites que quando nos despedimos ele me olhava de um jeito que sei que queria ficar mas nunca dizia nada, até que por fim uma noite ele virou para mim e falou com expressão de cachorro caído durante a mudança:

_.. eu posso ficar? Está tão difícil dormir sem você, estou mal acostumado a ficar sozinho._ não consegui negar. Por isso já faz quase um mês que dormimos juntos todas as noites sem nenhuma reserva.

Não sei como Gale ainda não percebeu, talvez seja porque está treinando novos seguranças e isso tem demandado todo seu tempo. Ele também foi ao Distrito Dois aprender a usar novas armas e ficou umas semanas fora. Por isso não percebeu nada ainda. Penso se não é questão de tempo ele notar a presença constante do Peeta aqui, apesar de sermos sempre discretos, não há como negar que dorme e acorda comigo. E não dá para esconder isso para sempre. Quando penso sobre o assunto sinto culpa já que imagino o quanto Gale ficará decepcionado comigo. Mas não consigo abrir mão da segurança que desfruto com Peeta ao meu lado. Então escolho correr o risco.

A decisão de dormimos juntos também nos envolve em várias situações estranhas, um dia Peeta acorda atrasado, ele teria que estar cedo na obra para receber a cerâmica da padaria. O rapaz da entrega vem uma vez por mês e não recebê-lo implica em ficar parado um bom tempo. Não costumamos precisar de despertador, mas acho que com a presença um do outro estamos mais tranquilos até para dormir e perdemos a hora. Quando acordo chamo por Peeta que levanta enlouquecido, ele corre de um lado para outro tentando achar o seu sapato, não entendo como pode ter perdido, ele é sempre tão organizado.

_Katniss me ajuda, eu preciso do meu sapato._ ele diz olhando debaixo da cama e andando pelo quarto com um pé só. Não consigo parar de rir.

_Eu não entendo, como ele pode ter sumido daqui?_ Buttercup_ nós dois dizemos juntos. Ele sai pela casa chamando o gato mais ele não aparece. No fim Peeta sai correndo até sua casa, descalço e pegar um novo sapato. A noite passamos mais de duas horas procurando_ o pela casa, até encontrar o gato bem aninhado no sapato no quarto de Prim atrás de um baú. Mais tarde Peeta comenta comigo:

_Você acredita que depois daquela agonia toda, o entregador me ligou dizendo que iria demorar duas horas para chegar? A gente passa aquele sufoco e ele atrasa.

_Que bom que atrasou por que senão a obra ficaria parada_ falo olhando para ele e colocando comida para o gato.

_É mais acho que devemos recorrer a um despertador_ ele ri e continua_ quem diria que depois de tanta insônia o problema passasse a ser dormir demais.

Quando subimos passo a trancar a porta do quarto para que Buttercup não entre mais já que aprendeu a subir no aparador que fica próximo a entrada do quarto abaixar o trinco e abrir a porta quando não quer ficar sozinho. Ele ficou comigo mas obviamente não lhe dou tanta atenção então deve estar se sentindo abandonado. Peeta é quem mais lhe dá carinho por isso deve ter pego seu sapato. É essa decisão que me salva no domingo seguinte, pois durante a semana usamos o despertador do telefone do Peeta mas ele não o programa no domingo e enquanto estou dormindo tranquilamente escuto o barulho de alguém mexendo na porta. Peeta acorda alarmado mas não deixo que faça barulho, escuto quando Gale chama por meu nome batendo com força na porta.

_Katniss, Katniss! _ ele grita._ Você está bem? Abre essa porta._ parece preocupado e fico sem saber o que fazer. Peeta cochicha em meu ouvido:

_Responda a ele dizendo que está bem só que dormiu demais._ é o que faço, mas não se convence fica insistindo para que eu abra a porta. Olho para Peeta implorando ajuda mas ele fica rindo da minha incapacidade de inventar qualquer mentira convincente, bato em suas costas implorando para que pare de rir e me ajude e ele tem a ideia de que eu peça um tempo para trocar de roupa enquanto ele vai para o banheiro. É o que faço, depois abro a porta e deixo Gale entrar, como meu rosto está inchado pela quantidade de horas que dormi ele acredita na história e vamos para a floresta. Mas aprendo a lição no outro domingo acordo antes do nascer do sol para ir a floresta, não está chovendo e sei que Gale virá me chamar. Não quero que entre novamente no quarto e veja Peeta aqui. Até cogitei a possibilidade de dormir sozinha por ter que levantar muito cedo, mas ele fez uma expressão tão sentida que desisti da ideia. Chamo Peeta só para avisá-lo que irei caçar. Ele acorda e conversa comigo ainda sonolento.

_Você vai para a floresta nesse frio? Está tão cedo, fica só mais um pouquinho até o sol nascer_ ele me envolve em seus braços e tenta voltar a dormir. Não sei por que mas seu pedido sonolento e a forma que me abraçou e me mantém em seus braços mexem comigo, fico sem fala e com a respiração presa, sei que preciso me liberar e sair rapidamente antes que faça alguma coisa estúpida como beijar sua boca do jeito que tenho vontade de fazer agora. Não posso fazer isso tenho que sair mas, também não quero que fique chateado então penso em como agradá-lo. Sei que gosta quando vou a sua casa, lá é mais reservado e não tem a sombra do Gale por perto e comento com ele.

_Gale vai chegar logo então tenho que ir, fica aqui dorme até mais tarde, aproveita para descansar um pouco e quando voltar vou para sua casa e a gente assiste um filme que tal? Prometo que vou chegar cedo.

_Parece bom por que não vou levantar daqui agora mesmo, pode ir,_ele me libera dos seus braços e vira de lado_ Boa caçada, a gente se ver mais tarde. _levanto e vou para o banheiro me arrumar, antes de sair preparo o café da manhã para ele. Gale entra e estranha o fato de eu estar deixando a mesa posta. Dou uma desculpa dizendo ser para o Haymitch e saio logo de casa.

No início da tarde retorno, tomo banho e vou direto para casa do Peeta, ele não fala nada sobre a minha saída e passamos o resto do dia e da noite comendo e assistindo filmes. Dormimos juntos novamente agora que é praticamente impossível dormirmos sozinhos. De manhã quando acordo percebo como o tempo mudou, a chuva que começou perto das dez da noite agora está muito forte lá fora e percebo o clima esfriando. Vou até o banheiro faço minha higiene e penteio meu cabelo, uso uma pequena bolsa que deixo em sua casa para isso, com escova, pente e outros objetos pessoais que possa precisar. Peeta tem uma semelhante em minha casa. Quando estou pronta vou para a cozinha. Ele já está lá e me recebe com um sorriso. O ajudo com o café e nos sentamos para comer. Depois observo o tempo lá fora.

_Parece que a chuva não quer dar trégua._ digo levantando e indo em direção a janela, percebo uma quantidade grande de neve caindo e a temperatura baixando rapidamente. Aperto os braços sentindo frio. Peeta se aproxima por trás de mim e passa suas mãos esquentando meus braços, pergunta se quero um casaco, mas sinceramente tudo que quero é ficar aconchegada em seus braços por mais um tempo. Balanço a cabeça indicando que não, puxo suas mãos para mais perto de mim de forma que ficamos abraçados. Ele fica atrás de mim me envolve em seus braços e ficamos assim olhando a quantidade de neve que cai pela janela. O tempo passa e não quero me soltar.

_Não vai à padaria?_ pergunto por fim, pedindo secretamente que diga que não.

_Nesse tempo o máximo que vou conseguir é outra gripe. _ diz sorrindo.

_E você não vai trabalhar?­_ pergunta ficando de frente de mim, mas sem me soltar do seu abraço. Passa suas mãos pelas minhas costas e cheira minha cabeça, depois desfaz a minha trança soltando meus cabelos. Essa proximidade que estamos tendo é uma coisa que há muito tempo anda me deixando perdida, sinto seu cheiro, passo minhas mãos pelo seu peito e por um instante esqueço o que perguntou, fico muda aproveitando o momento.

_ Katniss?_ fala baixinho.

_O que, que foi?_ percebo que me desliguei um pouco e respondo rápido.

_ Você não respondeu_ sua boca está próxima ao meu ouvido e ele tem um sorriso nos lábios.

_Qual foi a pergunta?_digo sentindo um arrepio provocado por sua respiração tão perto de mim. Ele percebe pois está com uma das mãos no meu braço. Não diz nada só repete a pergunta.

_Se você vai trabalhar hoje?_ diz puxando meu rosto e me obrigando a olhar para seus olhos.

_ Não sei..._ respondo perdida olhando fixamente nos seus olhos. Em um minuto tudo parece tão distante, só percebo os seus olhos e sua boca próximos a mim. Ficamos um tempo assim até que finalmente nos beijamos. Não um selinho mas um beijo de verdade. Faz tanto tempo, que não acontece que parece ser a primeira vez. Se pensar bem é a primeira vez, sem câmeras, público, só nós dois. O beijo é lento, suave porém demorado, nos afastamos sorrindo, ele me olha e diz sussurrando:

_ Katniss eu te amo!

Sua declaração me atinge em cheio, ao contrário do clima frio que se instala lá fora com a queda dos primeiros flocos de neve, experimento uma sensação maravilhosa de calor percorrendo todo meu corpo, abro um sorriso e o beijo de novo, em algum momento o beijo se torna quente, ele me aperta contra o seu corpo, não ofereço nenhum tipo de resistência, me entrego aos seus beijos, seu carinho e amor. Ele para o beijo só pra abrir o mais lindo dos sorrisos e continua me beijando. Todo o seu toque é bom e me indica o quanto o meu corpo estava ansioso por isso. É o som do telefone que nos faz parar, ele suspira e se mostra irritado, começo a rir ao perceber sua chateação.

_ Não vai atender ?_ pergunto rindo.

_ Seja quem for pode ligar depois_ responde enfiando o rosto no meu pescoço e o beijando.

_ Pode ser importante_ digo me soltando do seu abraço e beijo que sinceramente estão mexendo com a minha sanidade. Ele percebe minha tentativa de sair dos seus braços e vai atender o telefone na sala. Retorna dizendo que a ligação é para mim.

_Para mim? _pergunto sem entender_ Quem é?

_Sim é o Gale _ diz sem entusiasmo._ Ligou perguntando se sabia onde você estava e disse que estava aqui. Ele quer falar contigo._ percebo sua chateação e antes de atender ao telefone beijo seus lábios e seguro sua mão o levando comigo para a sala.

_Gale?– digo ao pegar o telefone.

_Katniss o que aconteceu?– pergunta irritado- Fui em sua casa á noite e você não estava, liguei várias vezes ontem e hoje e você não atendeu. Estava ficando preocupado.

_ Não aconteceu nada Gale estou bem.

_ Você dormiu em sua casa? _ pergunta aos gritos. Não sei o que responder, fico em silêncio e Peeta que está bem perto de mim e com certeza ouviu os gritos do Gale, diz baixinho em meu ouvido:

_Não precisa falar se não quiser, não vou dizer nada._ Sei que ele está dizendo a verdade, que ele jamais me colocaria em uma situação delicada, me expondo assim mas não respondo ao Gale, ao invés disso faço outra pergunta.

_Por que está me perguntando isso? Aconteceu alguma coisa?– encerrando o assunto sobre onde dormir e com uma irritação perceptível na voz que o faz recuar.

_Não é nada, só estava preocupado com você. _diz já se desculpando ao perceber minha irritação.

_ Não fique, sei cuidar de mim, mais alguma coisa? – estou sendo grosseira, mas somente para disfarçar porque Peeta voltou a beijar meu pescoço me fazendo perder a concentração e não quero que Gale perceba.

_Não, até logo._ não espera eu dizer nada e desliga. Viro para Peeta irritada por ter ficado me tentando durante o telefonema, mas ele ignora minha raiva e volta a me beijar. Não resisto, ao contrário, o envolvo em meus braços e aproveito todo o momento. Peeta nos leva até o sofá e senta próximo a mim e continuamos a nos beijar, sorrir e abraçar. Ele sussurra constantemente que me ama, que sou linda, que adora meu cheiro e outras inúmeras declarações que me deixam completamente aquecida, apesar de não conseguir me declarar do mesmo jeito, não me sinto incomodada como antes, quando me sentia culpada toda vez que o ouvia falar sobre seus sentimentos por mim, ao contrário para cada vez que ele fala, aprofundo o beijo e tento demonstra com minhas atitudes o quanto me sinto feliz por ele estar tão perto a mim e por falar de sentimentos que imaginei estarem perdidos.

A chuva e a neve logo diminuem a intensidade e penso ser a hora de voltar pra casa. Peeta reclama e pede para que não vá, mas com medo de que comece uma nevasca e que fique fora de casa me despeço e retorno. Sozinha, subo para tomar banho, fico um tempo na banheira lembrando dos beijos e caricias que trocamos, não sei o que concluir com isso, só sei que me sinto flutuando, todos os beijos e declarações dele voltam ao meu pensamento, fecho os olhos e parece que estou novamente em seus braços. Amaldiçoou baixinho a hora em que decidi sair de lá, fico torcendo para que ele queira repetir a dose e venha me ver.

Quando saio do banheiro percebo que isso não vai acontecer a neve voltou a cair forte e com ela uma sensação estranha me percorre, constato que esse é o primeiro inverno que vou enfrentar sozinha. Sei que não me preocupei com isso nas demais estações, mas essa implica em longos dias e noites trancada em casa absolutamente só, ao perceber isso me entristeço. Mas então me lembro que dificilmente conseguirei ficar longe do Peeta, ele provavelmente ficará aqui comigo e pensar nisso me faz sorrir sozinha. É estranho perceber que não desejo a presença do Gale aqui. Normalmente aceito bem sua companhia na floresta e nas andanças pelo Distrito, mas dentro de casa, só consigo querer o Peeta. Nossas refeições são mais animadas, já que Gale mal fala enquanto come a não ser quando tem alguém diferente e se esforça para manter uma conversa. Também tenho resistido a todas as suas investidas e tentativas de afeto e no entanto passei parte da manhã nos braços do Peeta. Não sei o que pensar e nem sei como será daqui pra frente.

Aceito que será um tempo diferente e que talvez implique em algumas mudanças. Mais tarde vou para a cozinha pensando em preparar algo para comer e sinto o frio que está fazendo na casa. Desço até o porão para verificar o aquecedor e percebo que ele está quebrado. Lembro da minha mãe reclamando do seu funcionamento antes do massacre quaternário e que Peeta chamou uma pessoa para o concertar. Era um conhecido de seu pai que arrumava fornos e aquecedores, ele informou que tinha dado um jeito temporário, pois havia uma peça que precisava ser trocada, que ele não tinha disponível. Peeta ficou de pedir a peça de substituição mas com o anuncio do massacre fiquei tão alheia a tudo que não sei se pediu.

Resolvo ligar e perguntar, talvez nem se lembre do episódio, mas preciso conferir, uma casa deste tamanho sem aquecedor é um risco muito grande, posso congelar a noite. Ligo e espero atender.


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