Despedindo-se de Peter Pan escrita por Evangeline


Capítulo 3
III - Incômodo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo para Gengibre. ~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/555694/chapter/3

Já era noite quando o homem foi embora. Me irritava vê-los conversando sobre tantas coisas que eu não entendia. Falavam sobre amor, sobre vida, sobre ciência, sobre filosofia, sobre homens que nunca ouvi falar. No fundo eu os invejava, sabia exatamente de onde vinha meu mau humor.

Eu não lia.

Há muito tempo eu havia aprendido a ler, mas não conseguia mais fazê-lo, e aquilo me irritava muito. A Thatcher conversava abertamente com ele, certamente o conhecia há muito tempo, mas mesmo assim era incômodo.

Ela parecia estar contente, e aquele homem parecia estar aproveitando demais aquele momento. Aquele devia ser o tutor dela, eles deveriam estar estudando, mas estavam apenas conversando coisas que eu não entendia... Talvez estivessem realmente estudando, mas para mim estudar nunca seria motivo de animação e risadas.

“As vezes as noites mais lindas e tempestuosas nos trazes notícias terríveis. Num dia ensolarados as pessoas evitam coisas ruins. Parece que a chuva é um imã para coisas ruins... A chuva trouxe-me coisas horríveis, problemas, pensamentos...”

Quando ela disse aquilo, eu entendi exatamente o que estava acontecendo. Depois de mais de uma semana ali, eu não me sentia exatamente um incômodo, e sim uma companhia... Mas estava claro que eu era... uma coisa ruim que a chuva trouxe.

Por um lado eu não queria acreditar naquelas palavras, Mary não parecia irritada demais, ou chateada demais quando estava comigo... Mas nem sempre as coisas são como parecem.

Ela me pediu para dormir numa poltrona por ali, queria dormir na biblioteca naquela noite, e eu não neguei nada. Estava pensativa, gentil, melancólica. Eu não sabia se deveria dizer algo, fazer algo. Tive raiva.

Foi a primeira vez em que desejei que a chuva acabasse logo.

Quando ela estava quieta o suficiente para estar dormindo, eu me levantei e fui até a janela de onde eu havia chegado. Fazia mais de uma semana que a chuva não parava de cair. Os Meninos deviam estar sem sentido nenhum de direção sem mim, eram uns inúteis, talvez tivessem até sido pegos de novo por aquele James.

Fiquei observando a chuva por um longo período de tempo, eu não iria conseguir dormir. Ficar naquele lugar ode eu era um completo inútil estava me deixando a flor da pele.

Usar roupas de outro cara era humilhante, obedecer uma garota mimada também, tudo me parecia ridiculamente sem sentindo, e eu ainda tinha que encontrar Elizabeth. Estava perdendo tempo, gastando tempo...

Comecei a caminhar devagar por entre as estantes, como já havia feito outras vezes. Algumas vezes eu suspirava, outras eu parava e ficava encarando o chão.

– A linda estrela no céu... – Eu cantarolei muito baixo, praticamente apenas mexendo os lábios. - ...tem uma rara luz. – Terminei a frase e desisti de lembrar a letra. Eu não sabia de onde conhecia, mas tinha certeza de que tinha algo a ver com Elizabeth.

Mal havia percebido e já estava de volta àquela porta, olhando para a tempestade lá fora. O tempo parecia mal passar dentro daquela casa, dentro daquela biblioteca. Eu era um intruso idiota, com ideias idiotas e objetivos idiotas. Eu era fútil, mas a Thatcher não ficava muito para trás.

Se ela queria rir e chorar, precisava rir e chorar da realidade, não da ficção. Algo em mim tinha raiva dela, passava tanto tempo lendo sobre lindos campos e não se interessava pelos belíssimos campos da realidade. Lia sobre viagens incríveis, mas não viajava. Lia sobre romances exóticos e maravilhosos, mas não botava o pé fora de casa para viver um. Aquela Thatcher lia sobre vidas e acabava não vivendo.

E sequer sentia falta da vida, ela estava satisfeita com aquele muro idiota que havia criado ao redor de si.

Eu estava enfurecido com aquilo, mas conseguia me imaginar vivendo como ela. Eu sempre soube que ler era uma habilidade maravilhosa, e que gostar de ler era uma virtude, e que aprender e ler corretamente eram dons. Mas a leitura na vida de Mary, ao meu ver, mais parecia uma maldição.

Soquei a porta, fazendo um barulho seco que se camuflou com o som da tempestade lá fora, e encostei a cabeça no vidro enquanto apertava os olhos. Elizabeth não saía da minha mente, eu não suportava mais aquela dúvida, eu não suportava mais pensar nela há cada instante. Eu nunca havia me arrependido tanto de conhecer alguém.

– Maldita... – Eu sussurrei, mal segurando um grunhido de raiva que subia pela minha garganta. – Por que é tão difícil me livrar dela? – Perguntei-me por um instante, logo erguendo a cabeça e suspirando.

Sim, me livrar de Elizabeth era só o que eu queria, mas quando eu pensava nela sentia uma responsabilidade enorme sobre ela, como se precisasse protege-la apenas mais uma vez. Eu precisava retribuir um favor, pagar uma dívida. E era isso que os Meninos nunca entenderam.

Eu não quis me juntar à eles, mas se fosse pra ser bandido, que eu fosse o líder. E aqueles retardados precisavam de alguém para mandar neles...

Decidido a esquecer aqueles pensamentos, eu voltei para a poltrona e finalmente consegui adormecer. Nenhum sonho me incomodava àquela noite, e ao invés disso a Thatcher me acordou quase de madrugada mandando que eu me escondesse no porão da casa. Eu o fiz sem mais perguntas, ainda estava muito pensativo. Ela passou o dia inteiro longe, eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

Com o passar das horas, fiquei inquieto e quase não consegui me controlar para sair dali.

O porão era largo e tinha o teto baixo, com dezenas de artefatos antigos que estavam ali para serem guardados. Haviam pilastras enormes, como colunas gregas; baús com grandes fechaduras; espelhos gigantes e completamente empoeirados; e tudo o mais que se pudesse imaginar, desde camas até candelabros.

No final do dia Mary finalmente veio em tirar dali. Ela parecia exausta e impaciente, por isso segurei as minhas perguntas. Estávamos no corredor a caminho do quarto dela quando ouvimos alguém chamar o nome dela. Eu corri para dentro do quarto e me escondi no closet.

– Mary! – Ouvi a voz que reconheci ser do irmão dela. Haviam entrado no quarto.

– O que foi, Mark? – Ela perguntou, impaciente e claramente nervosa. Ela, definitivamente, não sabia mentir.

– Mamãe chamou Suzana e Claire para dormir com você aqui hoje... – Ele falou. – Estraguei a surpresa para que você possa... se preparar. – Disse rindo um pouco e saindo do quarto. Pude ouvir a gargalhada dele por muito tempo depois que saiu.

Mary trancou o quarto e abriu o closet, deitando na cama com um suspiro exausto.

– Suzana e Claire? – Perguntei.

– Primas. Minha mãe pensa que elas são minhas únicas amigas. – Falou irritada o suficiente para me fazer segurar um sorriso.

– E você tem mais? – Perguntei, não conseguindo me controlar, eu precisava fazer uma piada daquilo.

– Não. Mas elas também não são minhas amigas... – Falou por fim. Ela se levantou e começou a arrumar o quarto, guardando alguns objetos que me pareciam bastante específicos. Eu me calei depois daquilo e sentei no canto do quarto, no chão de carpete cinza do quarto de Mary.

Quando terminou de arrumar tudo, segurou a ponte do nariz entre o indicador e o polegar, com um suspiro cansado.

– O que vou fazer com você...? – Perguntou num sussurro que me fez estremecer. Por um instante ela me deu medo, parecia falar de tudo, como se pudesse fazer absolutamente qualquer coisa, inclusive me matar.

– Eu posso ficar no porão de novo. – Ofereci.

– Não teria problema? – Ela perguntou me olhando com os olhos quase fechados. Estava realmente cansada.

Eu me levantei e caminhei até ela, colocando as mãos nos ombros da garota. Ela estava bamba de tão cansada, mas me parecia cansaço psicológico.

– Tome um banho, Srta Thatcher. – Eu disse vendo-a esboçar um sorriso nada verdadeiro e ir até o banheiro, logo fechando a porta

Mary era uma garota bastante bonita. Não tinha um corpo espetacular, um cabelo chamativo ou olhos espetaculares... Mas as curvas de seu corpo magro eram graciosas e femininas, sem exageros. Ela cuidava bem de si mesma, e aquilo era extremamente feminino aos meus olhos.

Poderia estar vivendo uma vida maravilhosa fora da prisão onde ela mesma se prende todos os dias, achando ser a própria liberdade.

Eu suspirei e sentei de novo naquele cantinho de meu agrado.

Ela não demorou muito a sair do banheiro, enrolada numa toalha branca e com o rosto completamente vermelho. Estava com o cabelo castanho claro, agora parecendo bastante escuro, molhado e enrolado ao lado do pescoço. Havia esquecido de pegar as roupas, e eu não consegui tirar os olhos dela.

Mary correu até a porta do closet, atravessando o quarto de um lado ao outro, onde se trancou rapidamente. Eu só percebi que tinha prendido a respiração quando o ar começou a me faltar. Passei as mãos pelos cabelos, sem acreditar na cena, e pior: sem acreditar na minha reação.

Ela estava corada e com um sorriso extremamente tímido no rosto quando saiu do closet, com um vestido de mangas compridas que descia até o joelho e era azul escuro. Estava com meias brancas e luvas da mesma cor, começando a calçar uma sapatilha preta.

O cabelo ainda não penteado, enrolado ao lado do pescoço.

– Vai sair? – Perguntei quando recobrei a consciência. Ela negou com a cabeça. Foi até o banheiro e penteou o cabelo, prendendo-o num rabo de cavalo arrumado e alto.

Quando parecia estar “pronta” ela veio até mim e parou na minha frente. Eu me levantei, por algum motivo, encarando-a. Estava bem arrumada, muito bonita.

– Peter, quero que fique na biblioteca, é o único lugar onde apenas eu entro. – Ela falou com a voz baixa, cansada e macia. Eu assenti com a cabeça. – Minhas primas costumam dormir até muito tarde, mas vou tentar aparecer o mais cedo que eu puder. Tenta ficar lá no segundo andar, tá? – Ela me pediu, e eu apenas assenti.

Ela pareceu satisfeita e me deu às costas.

Eu precisava dize-la que estava bonita, era como uma obrigação.

Rapazes, sempre que uma moça bonita estiver bonita, diga à ela que ela está... vocês sabem: bonita. Eu não sei porque, mas sempre pensei daquele jeito. Uma garota sem vida social como Mary merecia saber que estava bonita para os padrões da sociedade.

Antes que saísse do quarto eu segurei o seu pulso, fazendo-a virar-se para mim, um tanto surpresa.

– Está bonita. – Eu falei soltando-a, sendo direto o suficiente e vendo-a sorrir. Segurou a barra do vestido com as duas mãos e me fez uma perfeita reverência.

– Obrigada, Sir Pan. – Agradeceu, dando-me as costas e indo embora corredor adiante. Eu não fazia ideia do que ela havia feito o dia inteiro ou da razão para ela se arrumar tanto naquele dia, mas eu não tinha opção.

Voltei para a biblioteca, como combinado, e decidi fazer algo diferente naquela noite. Tentar algo diferente.

Antes do amanhecer, talvez muito antes, Mary apareceu na biblioteca. Eu estava no segundo andar quando ela entrou raivosa, batendo os pés. Parecia ter esquecido que eu estava ali, ou apenas não se importava com quem estava olhando.

Pegou uma almofada numa poltrona qualquer e apertou contra o rosto, gritando ali para abafar a própria voz. Sua pele branca estava vermelha, e os cabelos soltos. Eu desci as escadas o mais rápido que pude, mas não me atrevi a incomodá-la.

– Pan. – Ela disse me chamando, pois sabia que eu estava ali.

Apareci em seu campo de visão, com o olhar indiferente e frio.

– Vamos embora. – Foi só o que falou, sem me olhar nos olhos.

– Ainda está chovendo. – Eu falei me aproximando até ela ser obrigada a encarar o meu pescoço.

– Eu não sou de açúcar, você é? – Perguntou sarcasticamente. “Definitivamente, você não é lá tão doce”, eu quis dizer, mas senti que não era um bom momento.

– Está de cabeça quente. – Eu falei, sério e firme. Ela franziu o cenho com raiva. – Você não vai se afastar dessa biblioteca nem tão cedo, Thatcher. – Continuei falando. Senti minha voz mais grave que o normal.

– O mais cedo possível, Pan. – Disse ela, com a voz quase morta.

– Eu vou o mais cedo possível, seguir com a minha vida. – Eu corrigi. – Você vai continuar a sua busca aqui. – Falei vendo-a balançar a cabeça negativamente.

– Não tenho nada para buscar, só quero ir embora. – Ela disse, revoltada. Eu me irritei e a balançei, segurando-a pelos ombros.

– Acorda! – Eu falei, sem gritar. Algo como um sussurro algo e frenético. – Sua vida é essa biblioteca, e seu objetivo está aqui! Vai precisar de algum tempo para se desfazer dela, se é que vai conseguir! – Falei. Ela me encarou com raiva.

– Não sabe de nada Pan! – Ela falou num grunhido.

– Não, garota. – Eu neguei, soltando-a quase violentamente. – Você não sabe de nada. Não sabe do acontece porta a fora! Não sabe como o mundo é frio e cruel, você passou a vida inteira na sua biblioteca quente e aconchegante. – Falei sem pensar muito. – Você tem dinheiro para tudo e mais um pouco, tem uma vida saudável, amena, simplesmente o que todas as pessoas na Inglaterra querem ter! Vê se tira os olhos do próprio umbigo e se toca! - Quando terminei de falar encarei os olhos estupefatos dela. Eu sabia que tinha falado demais, mas eu não aguentava mais aquela frescura vinda de alguém que tinha tudo!

– Você vai sair daqui quando resolver isso, séria, calma. – Eu disse, tirando coragem não sei de onde.

– E quem você é para mandar em...

– Não estou mandando, sua retardada! – Eu a interrompi. – É um conselho de quem já se arrependeu de muita coisa na vida, menos de encarar os desafios. Agora volta lá e encara a sua família. Se não conseguir encarar eles, não vai conseguir encarar o mundo. – Falei olhando para uma Mary completamente assombrada.

Ficamos em silencio por um longo tempo, e ela não demorou para me dar as costas e ir embora. Embora eu fosse rude, ao menos achava ter sido útil.

“Vá roubar algo que você realmente queira” era a frase que ecoava na minha cabeça. Eu tirado uma brincadeira com ela naquele dia, mas ela me cortou com aquela frase eu me fez imaginar... Me fez refletir sobre as coisas que eu almejava.

Eu estava “roubando” as coisas que eu realmente queria? E o que eu queria? Bem, isso eu sabia. Eu queria me livrar das regras que me impediam de fazer o que eu queria, na hora que eu quisesse. Sempre foi o meu maior desejo, passar a vida livre. Mas depois de quase duas semanas ali, preso e completamente dependente, eu já não me importava tanto assim com a liberdade. Era como se, ao entrar naquela mansão maldita, eu tivesse sido obrigado a abaixar a cabeça e ser outra pessoa.

Implicar com Mary era o meu cano de escape, e ficar sozinho era a faísca que acendia meu pavio.

Ela só voltou para a biblioteca no dia seguinte, de tarde, com os cabelos recém-lavados e trançados, um vestido florido, branco e repleto de flores minúsculas cor-de-laranja; meias brancas e um casaco fino vermelho. Havia voltado a sua aparência normal, aquela Mary que ia ler e que eu ficava apenas olhando para a cara dela. Estava com os braços atrás do corpo, deixando óbvio que estava trazendo algo consigo.

Me sorriu meio sem jeito, graças à noite anterior.

– Desculpe. – Ela pediu, mostrando as mãos. Havia um saco com biscoitos de forno. Pelas gotículas de água que escorriam muito minusculamente dentro da embalagem transparente, eu sabia que estavam quentinhos e que haviam sido feitos há pouco tempo. – Quando eu era pequena, meu Avô dizia que as chances de alguém nos desculpar era maior proporcionalmente ao número de biscoito que fizéssemos para essa pessoa. – Ela falou. Estava estranhamente calma, talvez até meiga, eu diria. – Sei que ele dizia isso para que eu fizesse o máximo de biscoitos possíveis... Acho que eu só estava sentindo falta de fazer estes biscoitos... – Disse ficando um tanto cabisbaixa.

Eu peguei a embalagem, abri, comi um e sorri meio torto para ela, que soltou uma risadinha e apontou para o canto da própria boca. Eu limpei a boca e ri um pouco, mas o clima estava pairando bastante melancólico ao redor dela.

– O que houve? – Perguntei algum tempo depois, quando estávamos sentados numa das mesas, enquanto ela folheava um livro sem lê-lo e eu comia alguns biscoitos.

– Hm? – Ela disse sem prestar muita atenção a nada: nem ao livro, nem a mim.

– Seu avô. O que houve? – Perguntei mais uma vez.

– Ah... – Suspirou um tanto triste e fechou o livro bem devagar. – Ele morreu há quase um ano de diabetes... – Comentou, quase num sussurro.

– Você precisava mesmo se desculpar tanto, menina? – Eu perguntei, por impulso. Ao invés de ficar com raiva, como pensei que ficaria, ela riu um pouco e pegou um dos biscoitos.

Ficamos em silencio por algum tempo, o clima parecia mais leve, e eu não sabia exatamente como reagia a aquilo.

– Então... Por que estava tão irritada ontem? – Perguntei. Estava realmente curioso para saber o que deixara aquela menina tão revoltada.

– Ah... Todo ano é assim... – Ela comentou, como se fosse a coisa mais óbvia e comum do mundo. – Eles sempre querem que eu dê uma festa, chame mil amigos... Como eu não chamo, eles me obrigam a passar a noite com aquelas duas retardadas. – Disse.

– Ow! Ow! Calma aí! – Eu falei, finalmente entendendo a razão de ela ter me isolado no porão o dia inteiro. – Ontem foi o seu aniversário? – Perguntei fazendo-a virar os olhos. - Quantos anos você tem?!

– Dezoito... – Disse como se fosse a coisa mais comum do mundo.

– Você faz dezoito anos e não sai para encher a cara, nem sair com alguém, ou qualquer coisa?! – Perguntei fingindo estar revoltado. – Ah! Entendi... – Disse como se tivesse entendido alguma coisa extremamente importante. – Você é mesmo uma danada, que imagem era aquela de santa que eu tinha de você, Srta Thatcher! – Eu falei brincando, mas fingindo estar dando uma bronca na garota, que riu um pouco nervosa.

– O que eu fiz?! – Perguntou, curiosa e confusa.

– Isso é inaceitável! – Eu brinquei, ignorando a pergunta e fazendo suspense. – Seu presenta para si mesma foi me manter exilado naquele porão?! Se tivesse me avisado que queria me prender eu não fazia questão de ficar preso no seu quarto! – Falei brincando e fazendo-a rir alto. Algumas lágrimas surgiram nos cantos de seus olhos, gotinhas que ela enxugou logo.

– Sonhe mais alto, Pan! – Disse entre risos. – Se eu te quisesse de presente, eu já teria pego. – Falou, me surpreendendo.

Eu não estava acostumado com aquele lado de Mary... Na verdade, não imaginei que ela tinha “aquele” lado.

– Teria nada! – Eu falei, entrando na brincadeira e rindo também. – Até que me prove, você é só uma estranha que mete a cara nos livros por lazer! – Ela continuou rindo, assim como eu.

– Eu não pretendo provar nada, até porque não devo nada. – Ela esclareceu.

– Se tivesse me dito, talvez eu tivesse te dado um presente. – Eu falei, um tanto chateado por não ter dado nada a ela. De onde eu vinha, era uma tradição dar presentes de aniversário.

– Você já deu. – Ela falou por fim, sorrindo e indo até a estante mais próxima, procurar algo. Eu fiquei a observando, pensativo. Quando mais tempo eu passava com ela, mais eu sabia que precisava partir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram de ver o ponto de vista de Peter? >



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Despedindo-se de Peter Pan" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.