Por Verônica

Não podia acreditar que eu estava voltando ao Rio no jatinho de Jonas Marra, e que ele estava sentando a minha frente, sorrindo e olhando em meus olhos. Como ele parecia poderoso, bonito e sedutor. Nós conversámos, e às vezes, ele me lançava cada olhar, aparentava me desejava fervorosamente...

Eu devia estar enganada ou louca... Pois aquele homem era casado, segundo constava tinha um casamento perfeito com uma mulher belíssima, rica e famosa. Ele não podia estar querendo algo comigo, uma das mulheres mais comuns da Terra. E se quisesse, eu não era do tipo que andava com homem casado.

Mesmo assim deixava me envolver por ele. Ahh, fazia anos que meu coração e meu corpo estavam adormecidos. Fazia tantos anos que alguém não me olhava com tanto fervor, ou melhor, nenhum homem tinha me olhado do jeito que Jonas Marra olhava. Eu me sentia deslumbrada, e isso me deixava mais confusa e atrapalhada que o habitual:

–... Então quer dizer que você aprovou a minha palestra! – ele comentou.

– Quem não aprovou? Foi incrível. Apaixonante, Jonas! – disse empolgada, me sentira importante por ele ter usado a minha pergunta.

– É bom ouvir isso da boca da mulher que me inspirou... Aquela palestra foi para você, Verônica! – seu rosto tinha uma expressão de lobo prestes devorar um cordeiro, eu tive que me segurar.

– É... Eu ... – gaguejei sem graça, ele não fora desrespeitoso, aliás, tinha muita classe seus nos flertes, mas aquilo estava passando do limite – Eu ... devia te cobrar por minha contribuição então...A minha pergunta que te ... – tentava mudar o rumo da conversa, mas ele me interrompeu.

– Uma das melhores perguntas que recebi nos últimos anos. Você não gostou que eu a citei?

– Claro que sim, me senti honrada... Mas me diz quanto ela vale?

– Milhares, Milhões... Não tem preço, Verônica – ele falava meu nome de maneira intensa, e olhava fixamente a minha boca.

– Está bom... Não tem preço, Jonas. Ficamos assim.

– E o que foi aquele episódio do brinco na entrevista, hein? –ele perguntou.

– Ahh, o brinco? - mais uma vez, ele me deixava sem graça, como eu poderia explicar aquilo? – É só o meu jeito! Adoro aquele brinco! Sabe era da minha vo...zinha!

– Está bem! – ele não parecia muito convencido, e continuou me pressionando, mas com outra coisa – É só impressão minha, ou você tem dificuldades com a tecnologia?

– Eu? Não claro que não. Sou ... –olhei bem para ele e não consegui mentir – Tá, eu não entendo muita coisa! Estou tentando aprender!

– Me diz como alguém que não entende de tecnologia é a responsável por falar desse assunto em um site? - ele deu uma risada gostosa e isso até me fez sentir melhor.

– É uma longa história – tentei fazer mistério.

– Temos tempo...

– Certo... Foi a oportunidade de dar uma guinada na minha carreira, o responsável pediu demissão, eu comecei agora. Vamos dizer que Jonas Marra caiu no meu colo, e eu...

– Eu caí no seu colo? – ele sorriu sugestivo – Pensei que você tinha jogado café em mim. Não lembro ...

– Modo de dizer... Jonas. E não joguei o café de propósito. - ri.

– Eu sei. Você veio feito uma locomotiva para cima de mim. – ele sorriu de volta.

– Jonas, considerando o que estava escrevendo pro site, a possibilidade de surgir outra chance em uma área que eu entendo é remota, assim eu agarrei essa oportunidade. Por ter conseguido participar da sua entrevista coletiva, vou me tornar a responsável pelas matérias de tecnologia. É um grande avanço para mim.

– Fico feliz por ter ajudado... – ele desviou rosto, mas depois voltou a me olhar, e que olhar -Vai ser interessante! A visão de uma leiga sobre T.I.

– Também acho. E tenho quem me ajude em casa. O Vicente... –ele me interrompeu.

– É o seu marido?

– O meu filho. Tem 14 anos, acredita?

– Olha que assim você entrega a sua idade...

– Eu sou muito jovem, era um bebê quando o tive – brinquei.

– Ok. Desculpa, sei que não devemos falar da idade de uma mulher! - ele sorriu brincalhão.

– Tem também o Davi. – eu continuei.

– O seu marido?

– O meu irmão... Eu não sou casada, Jonas.

– É surpreendente uma mulher como você não ser casada...– percebi novamente que ele me olhava como um lobo, não podia ser só a minha imaginação, ele parecia interessado em mim.

***

Depois de algumas horas de dedicação, e muita empolgação, eu tinha acabado de escrever a matéria sobre a Tecnow, a entrevista e a palestra de Jonas Marra. Estava satisfeita com o resultado, finalmente era responsável por uma reportagem séria e relevante.

Mas mesmo após terminar, a imagem do protagonista do meu texto, os seus olhares, as suas palavras não saiam da minha mente. Jonas Marra era um homem impressionante, tinha uma história riquíssima, uma lábia daquelas, e sua personalidade, então, era magnetizante... Era evidente que era um conquistador.

Considerando que eu estava balançada, o tornava confusão certa, uma furada que não iria entrar. Não havia desculpas. Eu não era uma menina ingênua, tinha caráter e valores fortes que meus pais me passaram... Ainda bem que já escrevera a matéria, e não precisaria mais me encontrar com ele. Pois eu nunca poderia pensar nele daquela maneira, aquela não era eu.

Eu supunha que havia me livrado da presença incômoda de Jonas Marra, mas estava enganada. Já que dias depois, e com minha matéria sendo bem acessada, compartilhada e comentada, Débora, veio até a mim toda animada, pois eu fora requisitada pelo próprio Jonas para fazer a cobertura de um prêmio que ele iria receber. Ela atribuíra tal convite ao sucesso da minha reportagem, mas eu imaginava que não era apenas por isso. Eu queria recusar, era o mais correto a fazer, Jonas mexia comigo, e me envolver com que ele, ia contra tudo o que eu acreditava, o melhor seria evitar o contato... Mas ele havia criado uma armadilha e sem outra opção, eu caí... Aquele homem queria me enlouquecer, só podia!

Cheguei à festa usando um vestido longo, era a minha melhor roupa, tinha ido a trabalho, mas como seria uma noite de gala, fui arrumada de acordo com a ocasião. Uma das primeiras pessoas que vi foi ele. A verdade é que eu estava procurando por Jonas Marra, mas mesmo se não estivesse, seria difícil não ver aquela figura resplandecente, ainda mais que ele estava com a mulher, que também tinha o seu próprio esplendor. Os dois realmente eram lindos, e pareciam ficar ainda mais bonitos juntos. O brilho de um aumentava o do outro.

Senti certo aperto no coração ao vê-los ao vivo. Eu não tinha, nem queria nada com Jonas, mas admito que doeu vê-lo com a esposa. Mais ainda ao perceber a beleza e o brilho do casal: andando de braços dados, posando para as fotos, sorrindo, cochichando com o outro e trocando selinhos. Pareciam tão íntimos e felizes.

Um garçom passou e me ofereceu uma bebida. Eu estava a trabalho e assim, não iria tomar nada alcoólico, peguei um suco, e depois fui até a mesa de comidas. Me sentia triste e precisava mastigar. Tinha um monte de quitutes “estranhos”, chiques demais para mim, dentre eles tentei selecionar um que parecesse mais normal. Peguei o primeiro, e até que era comível, não era bom como uma coxinha ou um pastel, mas como eu não era muito exigente com comida mesmo, comecei a colocar um atrás no outro na boca.

Já me sentia um pouco mais animada, e me virei pretendendo voltar para o movimento, afinal eu tinha ido lá para fazer uma cobertura daquele evento, e não experimentar tira-gostos estranhos.

Só que ao me virar, eu o vi, ele estava muito elegante com um terno todo preto. Jonas tinha uma expressão desavergonhada, e acredite, olhava para minha bunda. Eu tinha o pegado em flagrante, realmente ele devia ser mesmo um safado, a esposa estava há poucos metros de distância e ele me olhava daquele jeito.

Mas no fundo, isso até me fez sentir valorizada como mulher, aquele homem charmoso, que tinha uma esposa maravilhosa, em vez de estar ao lado dela, estava me olhando. Aquela situação era toda errada, só que eu gostei. Ele tentou disfarçar o olhar, pigarreou e parecia ter ficado desconfortável, envergonhado, era um pouco engraçado. Mas após alguns instantes falou:

– Verônica Monteiro! Que bom que você veio!

– Você não me deu outra opção, Jonas Marra... – ri tentando me descontrair e continuei – Ninguém pode dizer não aos seus convites, não é mesmo?

– Pensei que seria uma boa oportunidade para sua carreira...

– E é, estou muita agradecida pelo convite.

– O mérito é seu! Adorei o que você escreveu sobre a Tecnow. Eu mesmo pedi para colocar como referência no site da Marra. Você foi quem teve a visão mais próxima do real Jonas Marra.

Então esse era um dos motivos para a minha reportagem ter tido tantos acessos, o próprio Marra fizera propaganda dela... Jonas me ajudara nisso, e me senti agradecida, além de tudo também estava muito orgulhosa, já que um gênio como ele, tinha gostado do que eu escrevera:

– Obrigada, só fiz o meu trabalho. – tentei não parecer tão entusiasmada!

– Verônica, eu .... – ele foi interrompido pelo seu assistente.

– Boss ...

– O que foi, Murphy? – ele perguntou irritado.

– Boss... Sorry. Mas estão pedindo que o senhor volte para a sua mesa. Está quase na hora de entregar o prêmio.

Jonas se voltou para mim:

– Eu tenho que ir ...

– Eu também...- sorri

Cada qual foi para sua mesa. Eu ainda o olhava de longe, ele se mostrava tão atencioso com a esposa... A cerimônia começou e Jonas foi chamado ao palco:

– Para receber o prêmio de empresário brasileiro do ano: Jonas Marra! – falou a apresentadora.

Ele foi andando enquanto recebia uma salva de palmas, pegou o seu prêmio e começou o discurso:

– Obrigado, é com muito orgulho que recebo esse prêmio... Quando eu resolvi voltar ao Brasil, muitos ficaram surpresos e me perguntaram o motivo dessa volta repentina. Acontece que não foi repentina. Há algum tempo, eu penso em voltar para o meu país... Sim! Aqui é o meu país! Eu saí daqui há 22 anos, tive que sair para realizar os meus sonhos. Existia a lei de reserva de mercado, não havia estrutura, investimento ou mercado consumidor para desenvolver as minhas ideias. Hoje o Brasil é bem diferente. Em algumas cidades, há mais celulares do que habitantes. Somos o quarto na tecnologia da informação. Temos excelentes profissionais de T.I. E eu fiquei longe disso tempo demais, tive muita saudade daqui, sim, saudade, uma palavra linda que só existe em nosso idioma. Como um filho pródigo voltei para ajudar a desenvolver mais ainda o meu país. Transformar o Rio de Janeiro no novo Vale do Silício... Mostrar que aqui, não é mais o país do futuro, como sempre ouvi enquanto vivi aqui. O Brasil é o país do presente... Um lugar onde já podemos realizar os nossos sonhos... Esse é o meu Brasil ... – ele fez um sinal para o seu assistente e começou a passar imagens no telão atrás dele.

Só que a havia uma coisa estranha na apresentação, que começou com as seguintes palavras:

– Golias vai apresentar a vocês o verdadeiro JONAS MARRA....

Seguiram uma série de informações, afirmações de que Jonas em seus negócios com a Marra havia privilegiado vários países em detrimento do Brasil. Depois apareceu um vídeo dele, onde ele aparentava estar bêbado...

Todos ficaram chocados, e começou um zumbido no local, eu desviei o meu olhar para Jonas. Antes ele estava tão poderoso e seguro, agora parecia uma criança humilhada, assustada e desnorteada. Talvez não devesse sentir isso, mas fiquei com pena dele!