A nova Geração Brasil escrita por Cíntia


Capítulo 1
O enterro


Notas iniciais do capítulo

Como fã de Geração Brasil, pensei nessa história e escrevi esse capítulo com muito carinho... Esse primeiro capítulo é para apresentar personagens e situações um pouco diferente da novela. Espero que gostem....



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Por Verônica

É complicado pensar em como a nossa vida pode mudar de repente. Há poucos dias, eu via o meu pai sorrindo, e apesar da sua idade, mais de 60 anos, ele era muito forte e saudável, sempre orgulhoso da sua vitalidade, e do seu trabalho... Mas um acidente bobo, por causa de alguém distraído, ocasionou o seu atropelamento, tirou esse homem valoroso do mundo. Não parecia justo. O mundo perdeu tanto com isso, nós perdemos tanto.

Vê-lo sério, de terno escuro, e sem vida, o caixão sendo fechado, descendo... Como era difícil... A minha mamãe morrera há dois anos vencida por um câncer, e agora o meu pai. Eu me tornara órfã, sei que não era mais uma criança, mas não tinha mais ninguém que me desse conselho, ou bronca, alguém que contasse casos da minha infância, eles me ensinaram tanta coisa, quantas lições e valores me passaram, e de certa forma, eu não tinha mais esse tipo de referência, era quase como se eu fosse a próxima... Quanta saudade eu sentia deles. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, meu coração repleto de dor... A sensação de injustiça. Eu não tinha mais pai, nem mãe... Nem eu, nem Davi... E ele era ainda mais jovem do que eu, tinha apenas 22 anos (ou pelo menos era isso que supúnhamos), e não era a primeira vez que ele perdia os pais.

Lembranças vêm a minha mente... Memórias de um tempo bom, onde o futuro e o mundo pareciam brilhantes e ao alcance das minhas mãos. Eu estava na metade do curso de jornalismo. Era a melhor aluna da minha turma, possuía uma bolsa, e um estágio... Até mesmo , já aparecera na televisão, numa parceria que a universidade firmara com uma emissora, diziam que eu teria um futuro glorioso na profissão, a minha desenvoltura era invejável.

Então conheci um rapaz, Alberto ou Beto, como gostava de ser chamado. Ele estava prestes a se formar em publicidade, e mesmo com seus 22 anos, já tinha um charme e jeito de homem. Ele era de outro estado, e contava histórias divertidas sobre a sua cidade. A família era rica e possuía negócios relacionados à mídia. Beto me deixava com a autoestima alta. Me dizia que eu era incrível e talentosa. Nós trabalhamos um tempo juntos, eu me envolvi, e acabei me apaixonando.

Fui imprudente, e me vi grávida. Aflita, contei a ele. Não demorou muito, e ele desapareceu... Descobri que o fato de eu ser pobre, negra, era um grande impedimento, e sua família poderosa deu um jeito para Beto sumir, eu era vista como a garota que queria dar o golpe da barriga...

Com orgulho ferido, e coração partido, eu decidi não correr atrás daquele cafajeste, que além do sofrimento que me ocasionara, esmigalhara o meu sonho, a minha esperança de ser uma jornalista conceituada e respeitada escorrera pelo ralo. Eu seria mãe solteira e não poderia investir mais na carreira dos meus sonhos.

Praguejei muito, reclamei tanto do bebê que ainda esperava... Ele não era culpado, na verdade era o único inocente daquilo tudo, e era meu ... Meu filho... Assim enfrentei, levei a vida adiante, não ia ficar chorando pelos cantos. Tranquei o meu curso, e arrumei um emprego numa loja. Vi nos olhos dos meus pais a decepção que tiveram, eu havia acabado com o meu futuro, e eles investiram tanto em mim, como eu, sonharam muito. Mesmo assim, me apoiaram.

No meio de toda essa confusão, Davi apareceu em nossas vidas. Faltava pouco tempo para eu ter o Vicente e meu pai, voltava do trabalho de madrugada (ele fazia hora extra para me ajudar nas despesas), quando encontrou um menino branco com uns 7-8 anos de idade, andando sozinho numa rua deserta, com um machucado na cabeça, e não falando palavra alguma.

Ele o levou para casa, nós cuidamos dele, fomos ao médico, que atestou a sua saúde, só que sem nenhum motivo evidente, ele não falava. Tentamos procurar informações sobre o menino, mas ninguém sabia de nada, falamos com a polícia. E não havia registro algum sobre ele. Parecia que ele tinha surgido do nada. Ou caído do céu.

Os dias foram passando e nos apegamos a ele. O chamávamos de Davi. Com a minha gravidez, a nossa situação financeira não era das melhores, mas havia algo nele, uma doçura, e mesmo sem ele falar, Davi parecia compreender tudo e ser tão inteligente. Meu instinto maternal estava aflorado, a minha mãe e meu pai já o tinham como um filho e uma criança a mais não ia fazer tanta diferença. Meus pais resolveram adotá-lo. Aquele era um momento muito difícil para a gente, a história dele também era dura, não parecia que fora vítima de maus tratos, mas possivelmente ele tinha sido abandonado pelos pais. Resolvemos nos unir, mostrar como era uma família, acolher e amar aquele garoto. Desde aquela época, Davi se tornou o meu irmão.

Com o tempo, Vicente nasceu, e Davi se mostrou muito carinhoso e apegado ao meu filho, a verdade é que desde essa época, ambos sempre foram muito amigos.

Um dia, minha mãe resolveu levar Davi a uma ONG do bairro Gambiarra, onde nós morávamos, a Plugar, nela crianças tinham contato com computadores e ela achou que seria outra forma de ele se comunicar. A ideia se mostrou genial, pois Davi logo no primeiro momento já começou a mexer no computador. Mesmo com a pouca idade, ele parecia compreender o que se passava naquela máquina, muito diferente de mim, que mesmo possuindo um irmão e um filho, feras da tecnologia, sou uma analfabyte, tendo dificuldade nas funções mais básicas do computador ou do celular.

Após o primeiro contato de Davi com o mundo virtual, ele começou a falar, não lembrava nada da sua vida anterior, mas passou a ter voz, além de demonstrar um conhecimento inato de computação... A história do meu irmão era incrível, o menino que aprendeu a linguagem dos computadores antes da linguagem humana. Herval Domingues, o responsável pela ONG fez um vídeo sobre ele, que foi muito usado para divulgar a Plugar.

Hoje eu olho para Davi e Vicente, eles são o meu apoio, as minhas pilastras. Nos abraçamos. Se não fossem os dois, eu não teria nada, nem sei o que seria de mim... Ambos apareceram quase juntos, num dos piores momentos da minha vida, lembro o quanto estava triste, e sendo uma comedora compulsiva, o quanto comi. Meu filho viera de um erro, mas agora não imagino como seria a minha vida sem ele, Vicente é a melhor coisa que fiz, como me esforcei para dar e fazer o melhor por ele, o quanto o amei, o amo, e me orgulho do meu filho. Não imagino como seria sem Davi também, o meu irmãozinho, o menino puro sem memória, que agora é um verdadeiro companheiro, ele mostrou o quanto podíamos amar, e tornou a nossa família mais e mais unida...

Enxugo as lágrimas, aprendi a ser forte, a me conter... Faço força para não chorar, não demonstrar fraqueza, levei muitas pancadas na vida, mas sempre aprendi a me erguer... Só que não esperava essa perda nesse momento... Talvez eu achasse que sempre teria o meu pai por perto, ele sempre esteve ao meu lado .... Mais uma vez as lembranças chegam...

Vicente tinha uns dois anos, e eu continuava lutando por ele. Dava-lhe muito amor e carinho, assim como todos em minha casa. Trabalhava em lojas e supermercados, nada que eu imaginei que faria quando estava na faculdade, mas mesmo assim, fazia com orgulho e dedicação. Pois pretendia mostrar ao meu filho o valor do esforço, e queria dar a melhor educação para ele, pagar uma escola boa quando chegasse a hora.

Nesse momento, meu pai (principalmente ele), minha mãe e Davi, até mesmo Vicente, que mal aprendera a falar, começaram a me incentivar, queriam que eu voltasse a estudar... Mas com um filho pequeno e a luta diária, eu não tinha muito tempo... E ideias vieram, meu pai sugeriu que eu fizesse apenas algumas disciplinas á noite, e acabei acatando sua sugestão.

Era uma rotina muito pesada, eu não tinha tempo para quase nada, trabalhava duro, tinha a ajuda da minha família, mas precisava cuidar do meu filho, e ainda tinha que me dedicar às disciplinas. Eu quase não dormia. Mas após uns anos consegui meu diploma em Jornalismo. Só que não era simples conseguir um emprego na área, e tendo contas a pagar, um filho para sustentar sozinha, continuei trabalhando no comércio...

Após um tempo, de emprego em emprego, fui trabalhar no Varejão do Barata... E lá, soube de um teste para ser a garota propaganda da rede. O salário era bem melhor, não era exatamente a minha área, mas eu já tinha experiência em frente ás câmeras e possuía certo carisma. Fui aprovada e me tornei “ A garota do Barata”.

Os meus comercias fizeram sucesso, como diz meu filho, até viraram meme, e eu também fazia divulgação nas lojas. Com um salário maior, coloquei Vicente numa escola melhor, e decidi sair da casa dos meus pais, eles me ajudavam muito, nossa convivência era maravilhosa, mas eu tinha o meu orgulho, já era uma mulher adulta com um filho beirando à adolescência, e decidi seguir uma vida separada deles. Financiei um apartamento na Taquara e me mudei para perto da principal loja do varejão.

Ser “A garota do Barata” não era a carreira dos meus sonhos, entretanto pagava as contas, meu filho estava em uma ótima escola, e eu tinha uma vida relativamente confortável, pelo menos em comparação a de antes. Achava que estava feliz, não realizara meus sonhos profissionais. Mas tinha orgulho do que alcançara como mãe, Vicente era um ótimo menino, inteligente, educado, bom caráter. E eu até tinha me tornado independente.

Mas a morte do meu pai, me fizera pensar tanto. Fora tão repentina, e com essa noção de que a vida podia acabar a qualquer momento, pensei em meus sonhos... Ser jornalista, investigar, escrever as notícias, mostrar a verdade, escancarar as mentiras, informar as pessoas, falar de assuntos relevantes, ser ouvida. Eu tinha avançado tão pouco nisso. Mas só de pensar sentia uma adrenalina. Um gosto doce na boca, uma vontade no corpo... Será que algum dia realizaria isso?

Após o enterro do meu pai, cumprindo pendências burocráticas, um advogado nos procurou. Ele havia deixado a casa da Gambiarra para mim e Davi, além de um pouco de dinheiro numa poupança. E tinha uma surpresa, ainda havia uma indenização e um seguro de vida , os beneficiários eram eu, Davi e Vicente.

Com a minha parte da indenização e do seguro, eu conseguiria pagar um bom percentual do meu apartamento, o que faria minhas despesas diminuírem consideravelmente... Não pretendia fazer nada com a casa da Gambiarra, pois Davi ainda morava lá, e nunca tiraria o meu irmão do seu lar. Tinha uma pequena reserva de dinheiro. E uma ideia começou a se formar em minha mente... Eu sabia que não era mais uma jovenzinha, mas pensei que podia iniciar a minha carreira. Talvez fosse o momento de seguir meus sonhos.

Comecei a procurar emprego na minha área. Bati em muitas portas, e ouvi muitos nãos. Alguns diretores de jornalismo falaram claramente que eu não teria credibilidade como repórter depois de ter sido “A garota do Barata”.

Mas eu não era uma mulher de desistir assim. E depois de uma indicação de uma amiga da faculdade, acabei conseguindo um emprego num site de notícias. Era um início modesto, como todo o início deveria ser, o salário não era muito bom, as notícias que eu estava encarregada não tinham nada a ver comigo, nem eram lá muito relevantes. Mas era um trabalho como Jornalista, eu tinha grandes expectativas, começava a sentir a adrenalina no meu corpo e gosto doce da realização em minha boca. Eu ia conseguir...


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Querem continuação? Quem puder, não deixe de comentar, mostrar que está lendo, isso me estimula e me inspira a escrever mais e mais.



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