A Revolução Brasileira escrita por Pedro Henrique Sales


Capítulo 1
Dois mil e um




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Hamburgo, Colégio Hamburgo, uma das melhores escolas de São Paulo. Lá estudei até os meus 17. Sempre fui privilegiado, mas nunca mimado como a maioria dos garotos. Meu pai, Alberto Topffer Filho, engenheiro de armas do Instituto Militar de Engenharia (IME) e sargento do 3º Batalhão de Infantaria, criou-me, basicamente, num regime militar. Um pai que educava, cuidava, zelava. Minha mãe, Lorena Magnoli, formada em medicina pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, é dona de uma rede de clínicas nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Espírito Santo e, também, nos estados de Sergipe, Alagoas, Amazonas, Acre e Roraima que levam seu nome e dona de uma ONG. Desde pequena, sonhava em ser médica e trabalhar voluntariamente. Eis seu sonho realizado, milhares de vidas salvas e um respeito admirável. Mamãe criou-me com mais doçura, mais afeto, mais amor, se podemos assim dizer. Quando digo ser “privilegiado”, não apenas pelo dinheiro, mas, principalmente, pela educação que tive por ambos, uma complementando a outra.

Quando cursava a 4ª série, em 2001, entraram, na minha sala, na metade do primeiro trimestre, os irmãos Luigi e Camila Campos. Ele, mimadinho, arrogante, soberbo, insuportável! Ela, um amor de pessoa e super comunicativa. Filhos de dono de uma rede de postos de gasolina e de uma arquiteta. Luigi era o aluno mais metido da sala. Contava para todos os coleguinhas quanto ganhava de mesada (por curiosidade, R$800,00); qual era a importância de seu pai na sociedade paulista; das obras que sua mãe planejava; de todas as viagens que fez à Europa, aos Estados Unidos. Nossa, me lembrei de uma história bizarra agora. Assim: quando voltamos às aulas após o término das férias de julho, Luigi nos disse que viajou para a Antártida. Pegou um avião no aeroporto internacional de Guarulhos até a Patagônia e, de lá, partiu de carro para a Antártida! É engraçado, pois além de metido, era mentiroso. Dizia ele que seu pai havia achado petróleo na Antártida, embaixo da neve.

Luigi ganhou de aniversário dos seus 10 anos o primeiro reprodutor mp3 da Apple, o iPod. Chegou na escola com seu aparelho e todos foram ver como era. Um objeto pequeno que cabia na palma da mão e possuía um fone de ouvido espetacular. Era possível baixar as músicas que quisesse e ouvir quando quisesse. Na época foi algo revolucionário. Passaram uns dois meses e quase todos do Hamburgo compraram esse tal iPod.

No mesmo ano, meu pai comprou um computador com o sistema operacional recém-lançado pela Microsoft, o Windows XP. Esse sistema ajudou bastante no serviço do meu pai, sendo possível ter uma melhor interface nos programas de desenvolvimento de armas e tudo mais. A internet passou a ser mais utilizada, uma forma de transmitir informações de um jeito fantástico. Sempre fui encantado com essa invenção. A mídia sempre foi capaz de mudar drasticamente o comportamento de uma sociedade, apenas por modismo; transmitir informações instantaneamente para qualquer canto do mundo, etc.

Ainda em 2001, minha professora Marlene dava aulas de estudos sociais do primário. Sempre gostei muito de estudar, sempre. Estávamos aprendendo sobre a história do Brasil, ainda no descobrimento. Ficava enojado! Como que alguém podia chegar aqui e fazer o que bem entendesse? Escravizar os nossos nativos? Matar caso não os obedecessem? A nossa história fora feita de sujeira sobre sujeira. Sempre manipulados e roubados por aqueles que têm o poder. O nosso presente é decorrente desde os primórdios de 1500 quando os ibéricos chegaram. Contudo, essa mesma história repete-se em todo o planeta. Citarei uma bastante interessante:

Os portugueses chegaram em 25 de dezembro de 1497 na África do Sul, após passarem pelo Cabo da Boa Esperança, ao comando do navegador Vasco da Gama. Porém, a colonização só deu-se em meados de 1650, após a chegada dos ingleses e dos boers (holandeses). Os nativos, assim como os indígenas brasileiros, foram escravos na sua própria nação. Eram obrigados a trabalhar na economia agropastoril e à retirar todo o minério de suas terras, como platina, cromo, vanádio, ouro, etc. Toda a economia local era disposta apenas aos ingleses e os boers e. Houve várias Guerras de Resistência, que eram disputas entre ingleses /holandeses contra nativos, a fim de conquistar terras sul-africanas e de defender terras dos invasores.

Duas terras colonizadas, praticamente, do mesmo modo. Passado semelhante e presente, também. Por isso nunca gostei dessa parte da história, onde nunca ninguém tomou atitude alguma para melhoria da população. Nelson Mandela morreu para ser consagrado o salvador dos sul-africanos e, creio eu, que cá precise de alguém que revolucione drasticamente esse país, nem que volte a ditadura!

Tia Marlene admirava a minha opinião que, desde os 10 anos, nunca mudou. Era maduro em relação às outras crianças. Lógico que gostava de brincar de carrinho, jogar bola, jogar videogame... Mas sempre fui mais interessado aos estudos. As aulas de histórias eram como os filmes que assistia: Jurassic Park, O Rei Leão [...]. Recordo-me do dia em que a diretora mandou um bilhete na minha agenda. Todo lacrado com grampos. Fiquei assustado, porque todo bilhete lacrado na agenda enviado pela diretora era ou um pedido de reunião com os pais por causa do mau comportamento, ou uma advertência, nos casos mais graves. E eu, como nunca aprontava nada, não falava palavrão, prestava atenção nas aulas e fazia todas as minhas lições, me assustei mesmo. Quando cheguei em casa, mostrei ao meu pai o bilhete. Meu coração batia a mil! Não fazia ideia do que poderia ser. Sempre tirava 10 em todas as matérias, então não poderia ser um bilhete retratando o meu mau desempenho nas aulas. Não batia em ninguém, então não poderia ser por isso, também. Não saia da sala excessivamente, não levava chamadas de atenção das professoras por conversas excessivas. Não fazia ideia. Só sei que ele esperou minha mãe chegar do trabalho para conversarem.

– Lorena, venha cá. Bebeto recebeu uma carta da diretora. Quero ler junto contigo.

“Prezados pais,

Seu filho, Alberto Topffer Neto, está apresentando um excelente e admirável rendimento, muitíssimo acima dos outros colegas de classe. Tudo o que nossos professores ensinam, ele já sabe. Estamos propondo que, Alberto Neto realize uma Prova Global no dia 06 de dezembro de 2001. A porcentagem de seu resultado será convertida em um desconto de x% para todas as mensalidades do próximo ano (2002) e a isenção da taxa de material, devido seu merecido desempenho.

Att. Diretora Norma Duarte”

– Que orgulho de Bebeto! – disse minha mãe ao acabar de ler a carta.

– Bebeto, venha cá, agora! Precisamos contar-lhe um negócio.

E eu chego, com os dois extremamente alegres. Achei muito estranho.

– O que houve pai? O que a Diretora lhe escreveu?

– Você fará uma prova, envolvendo todas as matérias, no fim desse ano. E o seu resultado, será seu desconto ano que vem! Parabéns! Sabe o que isso significa?

– Não, pai. O quê?

– Um aumento na sua mesada! Mas não se esqueça: mantenha seu comportamento ano que vem, hein! Caso contrário, cortaremos sua mesada pela metade e não compraremos mais nada pra você? Estou sendo claro?

– Sim, senhor! – exclamei, com receio de que não cumprisse com minha promessa.

No dia seguinte, contei ao meu melhor amigo, que estudava comigo no Hamburgo.

– Nick, eu estou indo tão bem na escola que a diretora ofereceu uma proposta aos meus pais.

– Uma proposta? – indagou Nicolas, pensando ser algo extraordinário.

– Sim, cara. Eu irei fazer uma prova no final do ano e, ganharei desconto ano que vem, dependendo da nota que tirar! Não conta isso pra ninguém, ok? Meu pai não irá gostar caso alguém descobrir.

– Que demais! Pode deixar, não vou falar não.


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Notas finais do capítulo

* Betado.



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