Seus olhos se abriam lentamente, a claridade um choque imediato. Estava perdida, confusa sobre o que havia acontecido, até sentir mãos delicadamente tocando seu rosto, e ao abrir mais os olhos viu que estava em seu quarto, na presença do namorado, a irmã, Dandara....e o Gael. Sentiu novamente aquele aperto no peito ao lembrar o que havia acontecido. Todos a observavam com expressões preocupadas, hesitantes.

O primeiro a se manifestar foi o namorado, que sentava na beira da cama, acariciando seu rosto.

"Poxa esquentadinha, você me deu um baita susto, pensei que não ia mais acordar pra eu ver esses olhos azuis lindos" disse Pedro, com um sorriso no rosto, porem com os olhos atormentados.

Antes da menina responder, teve que limpar a garganta, sentia como se sua boca fosse um deserto de tão seca, sentia seu coração bater mais forte ao ver os rostos das pessoas que amava, diante de uma situação desconhecida e assustadora. Se sentia como um animal preso em uma jaula, de ante dos olhares expectantes de sua família.

Respirou fundo e disse "Não exagera Pedro, foi só uma tontura, um susto" Mentiu, pois sabia que ainda estava lidando com o choque do que havia escutado.

Seu pai...O Gael, deu um passo adiante, se manifestando pela primeira vez. Sentiu seu coração disparar ao olhar nos olhos daquele homem que havia idolatrado desde que era menina, ironicamente se comparando a ele, sentindo que era tão parecida...

"Minha filha..." ela não deixou ele terminar a frase, que terminaria com a palavra que só aumentava o aperto no seu coração.

"Será que você ainda pode me chamar disso? hein seu Gael?" Não queria chorar, mais já sentia seus olhos ardendo, estava lutando bravamente contra as lagrimas, mais perdeu imediatamente só de ver o olhar de seu pai, ao ouvir suas palavras.

"Não diz isso Karina, nunca mais diga isso! Você sempre será MINHA filha" ele suplicou.

"Será que sou mesmo? Agora tudo faz sentido, na verdade eu nunca fui. Você sempre preferiu a Bianca, claro! faz sentido, ela é sua filha de verdade. O que foi que você disse na sala? Eu sou filha daquele monstro do lobão!" sua voz cada vez mais exaltada, sentia as lagrimas descendo furiosamente eu seu rosto.

"Karina, isso que você esta dizendo é um absurdo! eu te amo minha filha, sempre te amei! e aquilo que eu falei na sala era só uma bobagem minha, uma semente plantada por pessoas invejosas, porque eu sempre tive as filhas mais bonitas, mais talentosas e bem sucedidas, Não deixa isso arruinar nossa família Karina!" Implorou o pai, que havia tomado o lugar do namorado ao seu lado na beira da cama. Procurou ansiosamente os olhos do namorando, precisando do seus braços confortantes e piadas que nunca são engraçadas, mais a fazia sorrir.

Ele estava no canto do quarto, observando a cena se desvendando, como um momento de suspense em um filme. Porem podia ver sua expressão de pânico, de medo pela namorada.

Olhou novamente para seu pai...Ou Gael. Estava confusa, e ele a observava com cautela.

"Olha só pai...Gael..." viu no rosto do pai uma expressão perplexa, pois ela nunca o havia chamado de Gael. "Eu estou confusa, me sentindo traída e machucada, mais não consigo falar mais disso hoje. É fisicamente e emocionalmente impossível pra mim" engoliu a seco "Eu vou dormir na casa do Pedro" ela declarou.

Olhou pro namorado, que arregalou os olhos e sentiu o olhar assassino do sogro.

"Mais nem pensar! Você não vai dormir na casa do namorado Karina, ainda esta muito nova pra isso!" reprimiu Gael.

"Me desculpe, mais eu vou sim! Eu acabei de descobrir que talvez a minha vida toda é uma mentira, e eu simplesmente não consigo ficar aqui nessa casa hoje, pensando no que é ou que não é, imaginando... dói demais" Respondeu Karina em um tom definitivo.

Dandara decidiu se manifestar,

"Meu amor, deixa ela, é melhor assim mesmo, desse jeito vocês conseguem ter um tempo pra pensar, a Karina precisa disso, ainda mais depois do susto de hoje não é bom ela se estressar ainda mais" Disse Dandara.

"Pode deixar que eu cuido muito bem da esquentadinha lá em casa Mestre" Pedro sorriu para a namorada, que devolveu o gesto. Era tão bom vela sorrir, especialmente no meio dessa confusão toda. Ele estava preocupado, quanto mais tempo de namoro com a esquentadinha, Pedro descobria que quando ela não estava bem, ele também não estava.

Gael respirou profundamente e disse "Por hoje tudo bem, mais minha filha, não tem como fugir desse assunto pra sempre, amanha nos vamos falar sobre isso, só eu e você" Afirmou Gael.

"Tudo bem, amanhã agente fala sobre isso então" respondeu Karina, levantando da cama com cuidado, para não sentir a tontura novamente.

"Opa perai esquentadinha, Pedro ramos esta a seu serviço aqui!" disse Pedro, andando rapidamente ate a namorada e a segurando pela cintura, caso ela perdesse o equilíbrio.

"Pelo amor de deus né Pedro, eu não to doente não, para de ficar exagerando" reclamou Karina. Nunca gostou de se sentir fraca, muito menos na frente de outras pessoas. Ela era forte, como o...Pai.

"Vamos logo vai Pedro" pediu Karina, não conseguia mais ficar ali.

"Seu desejo é uma ordem esquentadinha" disse Pedro, deixando um beijo na testa da namorada enquanto pegava na sua mão.

"Juízo vocês dois, e eu to de olho em você em moleque!" avisou Gael, com um tom resignado.

"Pode deixar mestre, tá comigo tá com Deus" Gael suspirou, não sabia como a filha conseguia ter paciência com o namorado, sempre o engraçadinho. Mais também reconhecia que o moleque era importante pra filha, especialmente nesse momento delicado, e era também o único que a fazia sorrir. E isso para Gael era o mais importante. Não importa o que ninguém dissesse, muito menos um papel que poderia dizer a verdade. Karina era sua filha, agora e sempre.

Karina se dirigiu ate a porta, os dedos entrelaçados com o namorado. Sentiu o olhar da irmã nela, mais não estava preparada para lidar com Bianca ainda, por mais que soubesse que ela queria somente o seu bem.

Assim que saíram do quarto, Karina já conseguia respirar melhor.

"Você tá bem esquentadinha?" No fundo ele sabia que era uma pergunta idiota, mais precisava da confirmação de que pelo menos fisicamente, não teria com que se preocupar. Já não bastava o susto de hoje. Não queria parecer exagerado, mais a imagem de sua esquentadinha com os olhos fechados, pálida e sem vida, ainda estava assombrando sua mente.

"Eu não to bem não Pedro, mais eu vou ficar" Respondeu Karina, apertando ainda mais a mão do namorado. Ele era a única coisa que a estava mantendo de pé.

***MDF ***

Já aviam se passado duas horas desde que chegaram da casa de Karina, os dois estavam deitados na cama de Pedro. Ele não sabia como confortar a namorada, que não queria nem tocar no assunto. Ele não era psicólogo, mais sabia que Karina precisava conseguir falar do assunto para superar.

Toda vez que Pedro tentava sequer mencionar o que ela estava sentindo sobre o que havia acontecido, Karina se fechava, como ela fazia com a maioria das coisas que não conseguia lidar ou entender.

"Mais esquentadinha..." começou Pedro.

"Mais nada Pedro, eu não quero falar sobre isso, porque que agente não muda de assunto, eu estava pensando, vai ter uma festa lá na casa da Pri, vamos!" Disse Karina rapidamente, deixando o namorado boquiaberto. Primeiro que Karina odiava festas, mais o que mais o chocou foi Karina querer ir para uma festa logo após descobrir que talvez não poderia ser filha do seu pai. Algo estava muito errado com a namorada. Ele sabia que haveria uma reunião lá na casa da Pri, estava todo mundo comentando la na ribalta, estava ate planejando ver se a esquentadinha queria ir, mais depois do que aconteceu estava preparado pra ficar com ela acordado a noite toda se precisasse.

"Olha só linda, eu sei que esse momento tá sendo muito difícil pra você, não consigo nem imaginar, mais eu acho que indo pra uma festa não é a melhor maneira de fugir do problema, eu te conheço Karina, você não tá bem" Disse o namorado.

Karina soltou um suspiro frustrado, levantando do abraço do namorado na cama e se dirigindo a porta.

"O problema Pedro, é que nem eu me conheço mais, e o que eu to precisando agora, e ir me distrair, eu vou nessa festa sim" disse Karina, com o tom definitivo.

Pedro ainda não achava que era uma boa ideia, mais sabia que nesse momento precisava fazer qualquer coisa que a namorada precisasse que ele fizesse, então levantou, pegou na mão dela e disse "Já que é isso que você quer, então vamos esquentadinha, to com você em todas, sempre saiba disso. Eu te amo demais esquentadinha" declarou o namorado.

Surpreendendo Pedro, Karina o puxou pela cintura e tascou um beijo no namorado, ela precisava sentir, ainda estava se sentindo paralisada, como se seu corpo, sua mente, estivessem dormentes. Ela o beijou com tudo que podia, deixando suas mãos viajarem para os cabelos bagunçados dele, enquanto as mãos dele estavam na cintura da menina.

Depois de alguns segundos, Karina se afastou, os dois completamente sem folego.

"Que isso hein esquentadinha, me fala o que eu fiz pra receber um beijo desse, tenho que anotar isso no meu caderninho!" ele brincou, ainda confuso com a atitude da namorada. Alias, estava confuso com tudo. Karina não estava chorando, ou dando socos, ou brigando com ele. Depois do que havia acontecido, ele esperava qualquer coisa, menos essa atitude descontraída. Não parava de pensar que ainda havia alguma coisa muito errada e ela não estava contando.

"Para de ser bobo moleque, vamos logo que a festa já começou," ela disse, pegando no braço do namorado e se dirigindo ate a porta.

***MDF***

A festa estava bombando, os pais de Priscila estavam viajando, deixando a menina com a casa só pra ela. Estavam presentes não só a galera da academia, mais como a da ribalta. Ao entrar, o casal recebeu as boas vindas da dona da casa, que já parecia ter bebido bastante, e teve que falar mais alto por causa da musica.

"KARINA! PEDRO! Que bom que vocês vieram! tem bebida lá na cozinha, fica à-vontade gente, E APROVEITA!" berrou a menina, que saiu dançando com um dos meninos da academia.

"Eu vou lá pegar alguma coisa pra beber Pedro, já volto!" disse Karina rapidamente, deixando o namorado sem reação. Karina estava cheia de surpresas hoje, não era de beber e todo mundo sabia disso. Mais não teve como ele responder, pois ela já havia desaparecido em direção a cozinha.

Havia passando um bom tempo e nada de Karina, geralmente Pedro ia estar conversando com os amigos, dançando, se divertindo. mais não conseguia, sentia que alguma coisa estava errada, estava realmente preocupado com a namorada.

"Pedro?" Ouviu a voz de Bianca se aproximando "Você aqui? a minha irmã ta com você?" ela estava acompanha de Duca, que a segurava pela cintura.

"Tá sim Bianca, ela cismou que tinha que vir pra festa, e você sabe que quando a Karina cisma com alguma coisa, não adianta tirar da cabeça dela, falar nisso já faz um bom tempo que ela sumiu, dizendo que ia pegar alguma coisa pra beber" disse Pedro, cada vez mais preocupado.

"Espera ai gente," Disse Duca, com o tom surpreso, "Aquela ali não é a Karina?"

Bianca e Pedro olharam em direção que Duca apontava, e ficaram de boca aberta ao ver a cena de Karina dançando com cobra e jade, os três visivelmente alterados, dançando como loucos, como pessoas tentando esquecer de tudo e de todos. Pedro sentiu um frio no estómago, algo lê dizia que as coisas iam mudar daquele dia em diante, e não sabia se era necessariamente para o bem.