Upside Down escrita por Lirael


Capítulo 11
Deixados para trás


Notas iniciais do capítulo

Olá mais uma vez pessoas! Antes que comecem as ameaças de morte por não ter postado semana passada, gostaria de dizer que foram motivos de força maior. Estava sem inspiração, com muita coisa pra fazer no trabalho além do fato de que me convidaram para ir a praia no fim de semana, então me perdoem. Não costumo atrasar e não vou fazer disso um hábito, ok?



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No meio da noite, Soluço levou seus amigos para a sala onde todos sentaram-se para ouvir o que era tão urgente. Merida escondeu-se na cozinha, escutando a conversa com interesse. Perna-de-Peixe tomou fôlego e começou a falar:

– Recebemos uma mensagem da ilha de Hellir. Eles estão com problemas por causa de Suspiros da Morte. – ele falou, usando um tom de voz cauteloso

– É a segunda ilha em dois meses... - mencionou Soluço, com uma expressão sombria.

– Parece que os Suspiros da Morte invadiram uma das cavernas de mineração deles, de onde extraem metais. Se não fizermos nada, a rede de túneis embaixo das cavernas vai fazer a montanha ruir e eles perderão o acesso ao metal. É a única fonte de comércio da ilha. - Perna de Peixe enfatizou, baixando os olhos para o chão.

– E se não fizermos nada, os moradores irão acabar invadindo as cavernas com seus próprios dragões e combater os Suspiros da Morte. Mas ninguém pode dizer o quanto eles cavaram e o que aconteceria se ocorresse um combate lá embaixo. Pessoas poderiam ser soterradas. - explicou Astrid - A melhor opção seria retirá-los sem fazer alarde e é por isso que enviaram o comunicado. Precisam da ajuda de alguém que possa lidar com a situação. - ela lançou um olhar significativo para Soluço.

Soluço inclinou-se para a frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e unindo as mãos. Fechou os olhos por alguns segundos e por um momento esteve tão imóvel que parecia estar dormindo. Os demais de remexeram inquietos até que Astrid pousou uma mão sobre as dele e rompeu o silêncio ao vê-lo abrir os olhos

– Quais são as suas ordens? - ela perguntou.

– Cabeça Quente e Cabeça Dura, reúnam o maior suprimento de erva de dragão que conseguirem encontrar. - Virou-se para Perna de Peixe - Precisaremos de Gronckels. Nossos dragões são muito grandes e eu não sei qual o tamanho dos túneis. Além disso o Gronckel é o único que pode voar verticalmente. - Olhou para Melequento - Melequento, precisaremos de tochas. Vamos mapear os túneis durante o dia, quando os Suspiros da Morte estarão descansando. De noite, espalharemos as tochas e a erva de dragão para atraí-los para fora. Enquanto isso, os Gronckels selarão as entradas com lava para evitar que eles entrem outra vez.

– Quando partimos? - perguntou Cabeça Quente.

– Precisaremos ser rápidos, mas também precisamos reunir suprimentos. - Soluço parou e olhou para ela, sem realmente vê-la - Acredito que dois dias será mais do que suficiente.

Quando Soluço terminou de falar, todos se remexeram de leve e se levantaram para sair. Todos menos Astrid.

– O que você vai fazer com relação ao Banguela?

Soluço olhou ao redor com preocupação, como se esperasse que o dragão estivesse por perto. Quando não o viu, voltou novamente sua atenção a Astrid.

– Não posso levá-lo. Banguela tem uma história com Suspiros da Morte. Eu não sei como ele vai reagir. Não quero que ele se machuque. - Soluço levou as mãos ao rosto e soltou um gemido pouco feminino. - As coisas vão ficar muito complicadas sem ele.

Astrid estudou o rosto de Soluço por alguns segundos. Ela nem podia imaginar o que ele estava sentindo. Desde que haviam se conhecido, Soluço e Banguela nunca haviam estado separados por muito tempo. Eram solidamente indivisíveis, como o mar e as ondas. Toda a Berk sabia que o dragão significava mais para Soluço e Soluço para o dragão do que qualquer um podia imaginar. A ligação que eles tinham era profunda demais, forjada em sangue e fogo, coragem e amizade, renúncia e sacrifício. Eles eram irmãos, cada um disposto a matar ou morrer pelo outro. Bocão tinha brincado mais de uma vez com a forma que os dois se moviam em uma sintonia tão perfeita que mais pareciam um casal de velhos, comunicando-se e se entendendo perfeitamente, quando um deles nem sequer era capaz de falar. Ela não se sentia assim com ninguém que não compartilhasse seu sangue, e pensou em como devia ser difícil para Soluço afastar-se dele.

– Como você vai fazer para mantê-lo aqui, Soluço? Ele não vai querer deixar você. - Astrid questionou, não ajudando em nada para melhorar a indisposição de Soluço.

– Eu vou pensar em alguma coisa.

– Se você está dizendo... - ela respondeu, sem muita convicção. - Preciso ir. Amanhã vai ser um dia longo e vamos ter que reunir muitas coisas.

Soluço assentiu, e Astrid virou-se para ir embora.

– Boa noite, Astrid.

– Boa noite. - ela disse, antes de fechar a porta atrás de si.

Merida inspirou profundamente, esforçando-se para se manter em silêncio. Soluço ainda estava ali, ela sabia.

– Você pode sair agora, Merida. - Ele falou, e ela arquejou com o susto, mas seu tom de voz não parecia bravo, apenas cansado, como uma pessoa que tem que tomar uma decisão difícil que está adiando a muito tempo.

Devagar e silenciosamente Merida se esgueirou para fora da cozinha, evitando que a ponta do seu kilt ficasse presa em uma cadeira ao chegar até a sala.

– Como você deve ter ouvido, há uma coisa que eu preciso fazer e terei que estar ausente por algum tempo. Vou precisar da Astrid comigo, e de toda a ajuda que eu puder encontrar, ao que parece. - Soluço prendeu a ponte do nariz entre o indicador e o polegar, inclinando-se para a frente e apoiando o cotovelo sobre o joelho. Pareceu uma pessoa muito mais velha quando fez isso - Mas também não vou poder levar o Banguela, de modo que você não vai precisar ficar sozinha. Eu recomendaria que você não saísse, mas se quiser sair, leve o Banguela, sempre. Ele vai cuidar de você, te proteger. Se tudo der certo vou voltar em poucos dias.

“E quem vai proteger você?” ela se perguntou em pensamento e assentiu para ele, surpresa com a preocupação repentina com Soluço. Desde que o conhecera, raramente via Banguela e Soluço separados. Ela não conhecia as habilidades dele, mas nem por isso conseguiu deixar de sentir-se preocupada.

– Esses... Suspiros da Morte, certo? Eles são...Humn... Muito perigosos? - ela balbuciou, um pouco constrangida.

Soluço olhou-a nos olhos, avaliando o que via ali. Ela estava preocupada com ele? Permitiu-se um sorriso. Era estranho ter uma garota preocupada com ele. Normalmente esse seria o tipo de coisa que os filhos esperam de suas mães, mas Soluço nunca tivera uma presença materna em sua vida. Era uma sensação estranha, mas ainda assim, boa.

– Eu prefiro pensar que eles são incompreendidos. - Ele explicou. - São arredios e muito difíceis de treinar, por que evitam a luz do sol. Quer ver?

Merida assentiu, e Soluço guiou-a até seu quarto. Merida entrou logo atrás dele e seu olhar foi capturado pelos desenhos de dragões espalhados pela escrivaninha. Uma boa parte deles era de Banguela, nas mais variadas posições, voando, dormindo, correndo, escalando. Mas também havia outros. Ela observava alguns desenhos, levemente consciente de Soluço separando cuidadosamente uma pilha de outros e guardando na gaveta, com um ar nervoso. Depois, ele apanhou um livro grosso e pesado na prateleira logo acima da mesa e folheou algumas páginas. Merida reparou que o livro estava cheio de remarcações com o que parecia ser a caligrafia dele. Seus dedos ágeis pararam em uma das folhas e ele sorriu quando encontrou o que queria. Colocou o livro na cama e convidou Merida a se sentar. Durante as horas seguintes, Merida e Soluço liam e conversavam sobre dragões, com o livro entre eles, mal notando que o sol nascia lá fora.

______

Passados exatamente dois dias, Merida observava Banguela enfiar a cabeça em um cesto repleto de peixe. Mas é claro, não era qualquer peixe, eram exatamente os peixes preferidos de Banguela. Enquanto isso, Soluço saía sorrateiramente nas costas de um Gronckel, assim como seu grupo de amigos. Merida espiou-os partir da janela de seu quarto. Se sentia estranha, mas não era por ser deixada para trás de uma aventura. No castelo, quando havia uma caçada a javali e os homens se armavam com lanças mortíferas, o pai dela - seu próprio pai, que permitia que ela, uma dama, usasse armas - sempre dava um jeito de deixá-la de fora, ou sair sem que ela percebesse. Aquilo acabava com ela.

Mas Merida se surpreendeu ao perceber que não estava magoada por ter sido deixada para trás. Ela estava magoada por que Soluço a deixara para trás. Desde que ela viera para Berk, os dois passavam quase todo o tempo juntos. Ela tentou dizer a si mesma que aquilo era apenas solidão, pois ela não tinha ninguém mais tão próximo dela naquela ilha. Mas a verdade é que ela também admirava Soluço. Ele era inteligente, engraçado - embora nem todos tivessem a sagacidade necessária para compreender seu humor sarcástico - paciente, ponderado, bondoso. Além disso, ele era uma pessoa interessante. A forma como reagia a ela nunca era o que esperava.

Uma brisa suave entrou pela janela e Banguela ergueu a cabeça do cesto de peixe. Seus olhos se estreitaram ao sentir os cheiros e Merida soube na hora que o vento trazia o cheiro de Soluço. Ele rosnou em protesto por ser deixado e o coração dela apertou-se. Era como ela se sentia.

Ele olhou para ela e Merida viu seus sentimentos refletidos naqueles olhos inteligentes. Tomou uma decisão.

– Banguela, nós vamos atrás dele. - disse, surpresa com a firmeza em sua voz.


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Notas finais do capítulo

Aos que não conhecem o Suspiro da Morte, recomendo fortemente assistirem a série.



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