Life is Unexpected escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 28
Capítulo 27




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A rua estava deserta. Nenhum carro sequer passava por ali àquela hora, e os poucos cachorros que latiam se calavam a passagem de um vulto. Sirius se levantou ganindo, carente pela ausência da dona havia tantos dias. O vulto se abaixou e acariciou suas orelhas com carinho, fazendo-o guinchar de alegria.

Abriu a porta dos fundos e observou a casa vazia. Caminhou em silêncio, observando cada uma das fotos na parede. Se deteve ao ver sua imagem ali, há tanto tempo que parecia outra vida. E era.

Subiu as escadas sem pressa, se detendo na porta do quarto de Ann. Estava vazio e sem a maioria dos brinquedos. Os dois quartos ao lado só tinham as camas e armários vazios. Pareceria uma casa abandonada, não fosse o último cômodo do corredor.

A música vinha baixa do banheiro, o único cômodo iluminado na casa toda. Pelo vão da porta, era possível ver Mari com a cabeça encostada para trás, relaxando. A pessoa se ajoelhou ao lado da banheira, esticando a mão e acariciando o rosto da cantora. Ela abriu os olhos assustada, e logo seu rosto era uma máscara lívida.

“Oi meu amor.” Franz a saudou com a voz doce, suave.

“C-como?” Ela gaguejou, olhando em volta. “Eu morri? Me afoguei na banheira, é isso?”

“Não, Mari, você está bem.” Ele sorriu, acariciando o braço dela. “Eu apenas vim para lhe dizer que está fazendo um ótimo trabalho com a nossa filha, ela está tão linda, tão esperta!”

“Está mesmo.” Ela concordou, ainda um pouco tensa.

“E eu também preciso da sua ajuda.” Ele suspirou, a encarando de forma séria.

“Minha ajuda? Franz, do que você está falando?”

“Sabe, pequena, eu não posso explicar, mas você pode entender.” Ela arqueou a sobrancelha, confusa, e ele riu. “Lembra que nós conversávamos sobre almas gêmeas? Sobre cada um ter a sua? Então, nós realmente temos. E, por mais que eu tivesse amado, nós dois não somos almas gêmeas um do outro. Porém, nosso encontro foi necessário, para nos proporcionar a chance de encontrarmos a nossa outra metade.”

“Como assim encontrarmos nossas almas gêmeas, Franz?”

“Eu não posso falar muito sobre isso, Mari, até porque eu não encontraria palavras. O que posso te dizer é que me foi dada a chance de voltar uma vez mais para esse mundo, em busca de encontrar minha alma gêmea. E eu escolhi voltar perto da nossa Bells, da nossa princesa. Voltar como alguém que poderia ajudá-la, cuidar dela... Escolhi voltar como seu futuro melhor amigo, seu primo. Escolhi voltar para Gabriel Cobreloa.”

“O filho da Jade e do Cobra?” O queixo da garota despencou, enquanto Franz assumia um ar sério.

“É por isso que eu preciso da sua ajuda, Mari. Você precisa ir encontrar a Karina, o Pedro e o Jeff, eles estão naquela lanchonete que vocês gostam, o Milles, com a Bella. Depois vocês precisam pegar a Via Expressa Presidente João Goulart, e ir até o próximo da Av. Trevo das Missões. Lembra desse lugar, onde a Karina vomitou aquela vez que fomos visitar seus tios em Minas?”

“Lembro, mas o que isso tem a ver com o Gabriel?”

“Aconteceu um acidente de carro lá, Mari, um acidente com a Jade e o Cobra. E eu e ela estamos em perigo. O resgate já está a caminho, mas você não pode perder tempo. Por favor, seja rápida.”

Ele se levantou do chão, e ela o imitou. Se encararam em silêncio, antes de Franz segurar seu rosto com as duas mãos e lhe beijar a testa com carinho.

“Seja feliz, meu amor. Por mim, pela Bells. Seja feliz, e eu poderei ser feliz novamente, como Gabe. E eu te amo, apesar de tudo, para sempre.” Sussurrou, encostando a testa na dela.

Em seguida, deixou o banheiro e Mari aos prantos, rumando para a janela e encarando a noite. Uma brisa fresca se aproximou, o envolvendo e levando para longe dali. Levando para uma estrada há alguns quilômetros dali, num curto trecho de mão dupla, onde um caminhão estava de atravessado na pista.

O motorista, bêbado, era um total desconhecido para Franz, mas podia sentir sua vibração. Já a havia sentido anos antes, logo após outro motorista bêbado acertá-lo. Realmente existiam forças que era melhor nem mexer, ou sequer discutir.

Se aproximou do veículo, capotado, e se ajoelhou. Cobra e Jade estavam desacordados, mas o rapaz dava sinais de estar voltando a consciência. Um filete de sangue pingava da testa da bailarina, assim como manchava a saia de seu vestido.

Observou o relógio no painel do carro, havia parado as 23h13. De acordo com o relógio de pulso de Cobra, já era 23h22. O resgate devia estar próximo, e se Mari foi rápida como esperava, demoraria mais 20 minutos para chegar ali.

Tudo estava dentro do tempo. Pelo menos, esperava que sim. Quando se trata da vida humana, tempo se torna algo extremamente relativo.

Ficou deitado no chão, logo abaixo daqueles que seriam seus pais, observando seus rostos desacordados. Em silêncio, pedia a Deus que os poupasse de dor e sofrimento desnecessários para sua chegada nesse mundo.

Quando ouviu as sirenes, se sentiu instantaneamente mais aliviado. Os bombeiros chegaram com macacos hidráulicos e serras, prontos para abrir todo o carro. O lado menos comprometido era o do motorista, e portanto o lado pelo qual começaram.

Durante o trabalho, Cobra retomou a consciência. Começou a falar sem parar e buscar Jade com os olhos, algo que atrapalhava o trabalho dos bombeiros em imobilizá-lo. Quando se preparavam para sedá-lo, ele gritou.

“Minha esposa está gravida de 37 semanas. Pelo amor de Deus, tira ela daí.”

O trabalho recomeçou de forma mais frenética e nervosa, quase compulsiva. A preocupação com a perda de sangue, acúmulo do mesmo na cabeça, falta de oxigênio para o feto... Um helicóptero foi solicitado para a remoção da paciente, marcada como em estado gravíssimo.

“Vias aéreas obstruídas, batimentos baixos.” Os paramédicos a examinavam enquanto retiravam do carro, cada vez mais preocupados. Quando ouviu um carro cantar pneus, Franz ergueu os olhos mais tranquilo.

Karina foi a primeira a sair do carro, correndo em direção à Cobra. Jeff e Pedro correram até os policiais ali presentes, desatando em fazer perguntas. Apenas Mari ficou para trás, com Anabella agarrada em seu pescoço, chorando assustada.

O rapaz se aproximou delas devagar, as envolvendo em seus braços e beijando o topo de suas cabeças.

“Tudo vai ficar bem, podem confiar.” Sussurrou, se afastando. A menina se agarrou mais a mãe, sorrindo entre as lágrimas, enquanto Mari olhava para o céu e agradecia em silêncio por algo que nem ela sabia explicar.

“Conseguimos!” O grito dos paramédicos atraiu a atenção de todos. Jade estava imobilizada sobre a maca, mas sua barriga estava torta. Um rápido exame e o paramédico ficou lívido. “Ela está hipóxia, sem oxigênio no sangue. Kit de intubação.”

“No helicóptero, cara, precisamos levar ela logo.” Um segundo avisou, já começando a guiar a maca para a aeronave que baixava ali perto. “Ela pode ter um acompanhante.”

“Eu vou.” Mari avisou, passando a filha para Jeff e correndo atrás dos paramédicos. Anna ainda gritou e tentou seguir a mãe, mas o padrinho a impediu e apertou mais junto de si. Franz, é claro, também seguiu para dentro do helicóptero.

Já no ar, Mari ficou encolhida em um canto, observando todos os movimentos dos socorristas.

“Sem reação nas pupilas, estão embaçadas.” Observou o mais velho dos dois, ligando os eletrodos e ligando o monitor. “Sem sinais vitais.”

“Manda um rádio para o hospital e avisa que está sem pulso.” Gritou o rapaz mais jovem para o piloto. “Entuba ela enquanto eu checo o feto.”

O homem mais velho parecia experiente, pois fez todo o processo observando o mais jovem. Primeiro deslizou a haste de aço pela garganta de Jade, encontrando certa dificuldade pela quantidade de sangue ali. Deslizou o tudo por ali depressa, inflando o manguito e se pondo a ventilar manualmente.

Enquanto isso, o rapaz mais jovem examinava Gabe através do monitor fetal. Os sinais do garotinho também estavam terrivelmente baixos, e aos berros ele pediu que preparassem uma cesárea de emergência. Pelo menos o bebê poderia ser salvo.

“Carrega o desfibrilador.” Pediu o rapaz, enquanto apanhava uma tesoura e rasgava de cima a baixo da blusa da mulher, expondo a barriga já se enchendo de hematomas. Apanhou as pás e virou para o mais velho. “250 joules. Afastar.”

Deu o choque e o corpo todo tremeu. O monitor continuou inútil, e ele apanhou um torniquete. Injetou a dose de epinefrina, aumentou a carga para 300 joules e deu outro choque, convulsionando todo o corpo da grávida. O apito se manteve continuo, e ele começou a massagem cardíaca, pedindo que aumentasse a carga para 320.

“Afastar!” Gritou antes de dar o último choque. O corpo saltou, a barriga se mexendo mole, mas o monitor afinal apresentou sinais cardíacos. Fracos, mas estavam lá. Todos suspiraram mais aliviados, e o piloto gritou que estavam chegando.

“Como está o Gabe?” Mari perguntou, falando pela primeira vez desde que entrara ali.

“Os sinais estão fracos, mas o bebê está vivo por hora.” Avisou o mais velho, observando o monitor. “A menos que façamos o parto aqui dentro, não tem nada mais que possamos fazer por ele, só rezar e esperar.”

“Estamos pousando.” O piloto informou pelo comunicador, e Mari agradeceu a Deus mentalmente.

O helicóptero pousou depressa, e logo uma equipe de médicos puxava a maca de Jade, enquanto os paramédicos gritavam as informações básicas de saturação e sinais vitais. Uma enfermeira acompanhou Mari, fazendo diversas perguntas sobre a paciente.

Franz seguiu seu novo corpo, calmo e sereno. Não demoraram para chegar à sala de cirurgia, onde o anestesista começou a trabalhar e as enfermeiras se puderam e preparar Jade para a cesárea de emergência. Haviam exames a ser feito, mas o tempo estava correndo e isso teria que ficar para depois. Do contrário, perderiam mãe e filho.

“Dr. Marcos, o marido da paciente chegou ao pronto-socorro. Está em choque atrás de notícias dela.” Uma enfermeira entrou em busca do médico, parecendo transtornada. “Temo que terão que sedá-lo.”

Franz riu baixinho, deixando a sala e rumando para o pronto-socorro. Lá, encontrou Cobra sendo medicado para poder ser examinado, já que estava bastante exaltado. Parou ao seu lado, examinando aquele que em breve seria seu pai.

“Seja forte por tudo o que está por vir, pai. E continue cuidando da mamãe e de mim, para que possamos ser felizes. Foi por isso que eu te escolhi como pai, pela sua força, pela sua perseverança diante das adversidades. E você vai me ensinar isso nessa nova vida que se iniciará em breve.”

Seguiu caminhando para a sala de espera, encontrando os demais ali. Karina e Pedro estavam escorados ao balcão de informações, os olhos fixos no corredor, o guitarrista com os braços em volta da noiva, tentando acalmá-la.

“Continue cuidando de todos como sempre cuidou, Karina, especialmente da Bella. E cuide bem de mim. Precisarei de alguém com a sua pureza de coração, sua alegria, seu amor para aprender muitas coisas.” Sussurrou próximo ao ouvido de Karina, virando-se para Pedro. “E de alguém com sua alegria de viver para me ensinar a ser brincalhão. Cuidem bem um do outro e sejam felizes. Logo seu anjinho apressado estará com vocês.”

Pouco mais à frente, junto a porta de entrada, Jeff acabava de desligar o telefone. Estava cansado e desgastado, após ter que dar a notícia do acidente para Edgard. O pai de Jade estava correndo para o aeroporto, voltando de Londres no primeiro voo que arranjasse.

Tomava coragem para ligar para os pais de Cobra, respirando o ar fresco da madrugada para tentar colocar o coração no lugar. Parou e observou Mari ninando Anabella na recepção, e naquele momento não havia Ella e nem mais nada no caminho. Ele só queria ir até lá e abraçá-las.

“Cuide bem delas duas por mim, Jeff, como tem cuidado todo esse tempo. Que seu coração continue bom e puro, fiel, para que possa ensinar isso a todos nós.” Franz colocou a mão em seu ombro, vendo-o encarar o céu. “E sejam felizes juntos, você e a Mari. Suas almas já ficaram separadas por tempo demais, merecem estar juntas afinal.”

Enquanto Franz se afastava, Jeff tocou o ombro, no local onde ele havia segurado segundos antes. O formigamento ali lhe transmitia paz e conforto, e de repente se sentiu pronto para ligar para os pais do amigo.

Por último, sentou-se ao lado de Mari e Anabella, começando a acariciar os cabelos da filha. Os olhinhos piscavam sonolentos, e a boquinha formou um leve sorriso, como se pudesse vê-lo ali à sua frente.

“Eu vou estar sempre com você, minha princesa. Serei seu protetor, seu melhor amigo, e não deixarei que nada de mais te aconteça. Você será a menina mais doce e graciosa desse mundo, e eu poderei ver isso de perto.” Ele sussurrou, beijando a testa dela. “Eu te amo muito, minha pequena.”

Ele ergueu seus olhos, encontrando os de Mari. Não foi preciso dizer nada, já haviam se despedido mais cedo. Ele apenas segurou sua mão e sorriu.

“Obrigada.” A cantora sussurrou, abraçando a filha com mais força. “Por tudo.”

Com um piscar de olhos, estava novamente na sala de operações. Médicos e enfermeiras trabalhavam febrilmente, bolsas de sangue e aparelhos surgiam a todo instante. Monitores apitavam, pessoas gritavam, o caos estava reinando.

E em meio a tudo aquilo, uma pessoa se postava tranquila e observava tudo com uma calma surpreendente. Os cabelos loiros caiam em ondas perfeitas pelas costas, emoldurando o rosto de anjo e os olhos verdes.

“Ella.” O nome saiu como um murmúrio, enfeitando a boca de Franz com um sorriso. Ela se virou para ele, sorrindo e estendendo a mão. Entrelaçaram seus dedos e aproximaram seus rostos, selando os lábios em um beijo casto.

“Está quase na hora, meu amor.”

“Estaremos separados uma vez mais, meu anjo.” Ele observou, mas não havia tristeza em sua voz.

“Por pouco tempo, Franz. Ambos cumprimos nossas missões, e agora poderemos voltar novamente, juntos. Você deu Anabella para a Mari, para que ela e Jeff pudessem encontrar seu caminho de volta um para o outro. E eu entrei na vida do Jeff, para que a Mari pudesse ver o que ela queria de verdade. E agora, eles poderão ficar juntos novamente, e eu poderei voltar para este mundo, para estar novamente com você!” Ella sorria, acariciando o rosto dele enquanto observava os médicos com o canto do olho.

“Eu te amo Jarine, Maria, July, Lin, Ella, Catarina.” Franz sussurrou, juntando sua testa com a dela.

“Eu te amo Nathan, Carlos, Scoot, Yin, Franz, Gabriel.” Um último selinho e um sorriso. “Agora vá em paz, meu lindo. Logo estaremos juntos.”

O médico fazia a última incisão, colocando a mão para puxar Gabriel para fora. Franz e Ella se encaravam pela última vez, ambos pedindo em silêncio que o tempo passasse logo e pudessem se encontrar novamente.

Então com o som de um choro, disse não adeus, mas até logo.


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Notas finais do capítulo

Só porque a Kerow tá ameaçando me matar, já postei o próximo HAHAHAHAHAH
To com um pouco de pressa, então notas rapidinhas!
Espero que gostem desse capítulo, e o aceitem de coração aberto!
Um grande beijo ;*



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