Life is Unexpected escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 15
Capítulo 14




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/552949/chapter/15

A pequena pizzaria estava abarrotada de pessoas, especialmente famílias com crianças pequenas. Pizzas repletas de queijo barato e gorduroso, gritos estridentes e garçons parecendo equilibristas deixavam o clima perfeito para a comemoração do aniversário de cinco anos da pequena Anabella.

“Ka, que horas o guitarrista desafinado vem te buscar?” Perguntou Jade, largando seu pedaço de pizza. “Pelo amor de Deus, passei metade da vida fazendo dieta para agora comer essas coisas.”

“Dona Lucrécia perderia o forninho.” Brincou Karina, recebendo uma série de risadas.

“Desenterrou esse, hein, Ka?” Perguntou Jeff, enchendo a boca de pizza sem ligar para o óleo que escorria.

“Em todo o caso, ele acabou de enviar uma mensagem dizendo que já está a caminho. Ele queria ir assistir um romance no cinema, eu pedi para irmos ver o novo filme dos Vingadores.”

“A Era de Ultron? Achei que iríamos todos juntos.” Reclamou Mari.

“Ah, cabritinha, é isso ou Cinderela. E olha a minha cara de quem está querendo ver filme de princesa da Disney? Já basta a Annie, por favor.” A loira limpou as mãos em um guardanapo com cara de nojo. “Se eu comer mais um pedaço de pizza, amanhã minha azia vai estar no berro.”

“Cadê a Anna?” Perguntou Jade, caçando a sobrinha com os olhos. Em resposta, a criança apareceu correndo, se jogando no colo do padrinho e apanhando um pedaço de pizza. “Come com calma, monstrinha.”

“Filha, come devagar se não vai engasgar. E cuidado para não se sujar inteira.” Pediu Mari, pegando um guardanapo e limpando a bochecha da menina. Mas logo a pizza era esquecida, enquanto a boquinha minúscula se abria em um sorriso gigante.

“Tio Pedro.” A criança deixou o colo do padrinho e correu em direção ao recém-chegado, se jogando em seu colo. As mulheres se arrepiaram ao ver as mãozinhas engorduradas na jaqueta de couro legítimo que o rapaz usava. “Veio jantar com a gente?”

“Não, tampinha, vim buscar a Karina para nós passearmos.” Ele explicou, beijando a bochecha da menina. “E a pizza está boa? Parece ter bastante queijo gordurento.”

“A mussarela mais barata que existe, diga-se de passagem.” Karina se levantou, tirando a afilhada do colo dele. “Cuidado com essas mãozinhas sujas, bezerrinha. Limpar couro é difícil, sabia?”

“O que é couro, tia?”

“O tecido da jaqueta dele, filha.” Mari sentou Anabella em seu colo. Enquanto isso, Pedro enlaçava a cintura de Karina e lhe dava um beijo no rosto, permanecendo abraçado com ela.

“Vocês são namorados, tia Ka?”

“Não, querida.”

“Ainda não.” Pedro corrigiu, recebendo um olhar surpreso de Karina, que foi respondido com seu sorriso característico.

“Nós só vamos sair juntos, Annie, nada demais.” A loira gaguejou, apanhando a bolsa.

“Oi para você também, desafinado.” Jade balançou a mão, fazendo todos rirem. “Adoro quando pareço estar invisível.”

“Oi, Jade. Mari. Jeff.” Pedro beijou a mão das duas mulheres e fez um high-five com o rapaz. “É um prazer vê-los, mas precisamos no apressar. A sessão começa em uma hora.”

Karina encheu o rosto da afilhada de beijos, causando gargalhadas na menina. Ela acenou para os amigos, ignorando as piscadelas das outras duas mulheres. Pedro a puxou pela mão, os dois deixando o restaurante barulhento para enfrentar a rua quente do Rio de Janeiro.

“Minha moto está estacionada ali na esquina. Você tem problemas com moto?” Ele indicou o local.

“Nenhum, já andei muito com a Jade e o Lírio.” Ela apanhou o capacete que ele estendia, colocando na cabeça. “Só não sei se confio no motorista.”

“Fica tranquila, nunca tomei uma multa. Só quebrei o braço quando um ônibus me acertou.” Ela arregalou os olhos enquanto ele gargalhava. “Brincadeira, esquentadinha.”

“Você não acha que foi precipitado, Pedro? Falando aquilo para a Annie?” O guitarrista a encarou confuso. “Digo... Tem anos que não nos vemos e agora só vamos ao cinema. Ela ainda é uma criança pequena, acredita em tudo; ela criar expectativas com um romance que não tem futuro...”

“E por que nós não temos futuro?”

“Você se esqueceu de quando nos conhecemos? Apagou da sua memória? Então eu te lembro: você tinha umas cem peguetes e nunca me deu a menor bola, mesmo sabendo que eu gostava de você. Me chamava de esquentadinha porque nós só brigávamos e eu te batia.”

“Karina, já se passaram quase oito anos que isso aconteceu. Eu tinha 17, agora tenho 25, quero acreditar que sou mais maduro do que naquela época. Eu era um babaca galinha, eu sei; mas não diga que nunca senti nada por você. Eu sempre te admirei, admirei muito. E depois que o João me contou tudo o que aconteceu entre você e as meninas, isso só se intensificou. Eu fui no seu Orkut e vi suas fotos e lembrei de tanta coisa... As provocações na escada da Fábrica, aquela vez que ficamos conversando na praça, quando eu estava na pior... O jeito como seus olhos fecham quando você ri.”

“Meus olhos?” Ela perguntou, corada.

“Seu olhinho é meio fechado, e quando você ri fecha ainda mais. Esse sorriso assim de lado, sabe? Esse jeito de você abraçar os joelhos quando está com vergonha ou cruzar as pernas no colo e ficar mexendo nos sapatos quando está chateada. A mania de morder o canto da unha quando está ansiosa e... Para de tentar abraçar as pernas, Karina, você está só encostada na moto.”

Pedro segurou a loira, que quase caia no chão. Ela se afastou dele, mexendo as mãos de maneira nervosa. Ela realmente queria morder o canto da unha.

“Ka, olha para mim, por favor. Eu sei que posso ter sido precipitado ali dentro, mas eu fui sincero. Eu não consigo explicar o que estou sentindo, mas o principal sentimento é de que não quero te perder.” Ele segurou a mão dela, enquanto ela o encarava de canto de olho. “Você me dá uma chance?”

Em resposta, ela se virou de súbito e o puxou para um beijo, algo que surpreendeu os dois. Ele a segurou pela cintura, alheios ao mundo ao redor por alguns instantes.

“Uou.”

“É, uou.” A moça concordou, apoiada nos ombros dele. “Mas é isso, Ramos: eu não sou uma menininha de se brincar, já sou uma mulher adulta e responsável pela Annie, apesar de não ser mãe dela. Então pense bem, porque se entrar nas nossas vidas é para ficar.”

Ele sorriu e a beijou novamente. Colocou o capacete e sentou na moto, indicando que ela fizesse o mesmo. Quando ela o abraçou, ele apertou o braço dela com carinho.

“Espero que saiba o que acabou de me pedir, esquentadinha. Porque depois dessa, não vai se livrar de mim tão cedo.” Ele avisou, dando partida na moto e acelerando.

Não muito após a moto partir, os demais deixaram a pizzaria. Jeff e Mari entraram no carro com Anabella, que dizia estar passando mal. Os dois resolveram correr com ela até a farmácia e Jade disse que voltaria para casa caminhando. Não estavam muito longe e a noite estava gostosa.

A Fábrica e a GND ficavam no meio do caminho e em um ímpeto inexplicável, a bailarina teve vontade de passar por ali. Talvez alguns minutos na praça que tão bem conhecia fossem bons para desanuviar sua mente dos pensamentos confusos que a visita daquela manhã havia gerado.

Mas ela não era a única que havia ido a um local familiar para espairecer.

Sentado em um banco bem em frente ao prédio abandonado onde um dia funcionara o QG, Cobra rolava a aliança de ouro entre os dedos enquanto falava energicamente no celular. Distraído como estava, não percebeu a aproximação de Jade, silenciosa, querendo ouvir a conversa.

Pouco entendeu, já que havia perdido o começo do diálogo, mas acreditava que ele estivesse falando com o pai. E entre os pedaços que ouviu, a conclusão não foi difícil. Ficou parada o observando até que ele desligou o celular e afundou o rosto nas mãos.

“Você terminou seu noivado?” A pergunta o assustou, fazendo-o virar depressa. Ela estava parada pouco atrás do banco, as mãos agarrando a alça da bolsa com firmeza.

“Não; pelo menos, ainda não.” Ele indicou o local ao seu lado no banco, onde ela logo se sentou. O rapaz deu um suspiro, bagunçando os cabelos negros. “Você sabe que um relacionamento nunca foi minha prioridade, Jade, longe disso. Mas depois da nossa conversa eu fiquei pensando: será que eu quero passar o resto da minha vida amarrado a alguém que eu não amo e mal suporto? Ou fazer isso sem ao menos ter me dado a chance de encontrar a pessoa certa?”

“Mas e o seu pai? Seus irmãos?” Por mais que o coração da bailarina tivesse se aquecido com a ideia de Cobra ficar livre da noiva maluca, não podia ignorar que a família dele poderia pagar um preço alto.

“Eu estava falando com ele.” Indicou o telefone com um sorriso triste. “Ele sempre me apoiou a terminar essa loucura, a ser feliz. E agora não foi diferente, claro. Disse que já estava analisando isso há algum tempo... Ele tem uma boa grana para receber da empresa quando sair, e minha irmã também. Você acredita que ele já estava sondando uma empresa aqui no Rio, para trabalhar aqui?”

“Você está brincando?” O sorriso no rosto da morena se alargou.

“Não, acho que ser sorrateiro é de família. O único empecilho é o ateliê da minha mãe e as clientes dela na cidade. Essas madames mandam fazer muitos vestidos, sabia?”

“Vagabundo, você percebeu que está falando com uma das donas de uma grande empresa de casamentos, não é? Trabalho é o que não vai faltar para a sua mãe aqui no Rio, isso eu te prometo.” Ela segurou a mão dele, sorrindo.

“E quanto a nós, o que você promete?” Ele perguntou, ficando sério novamente. Jade suspirou, soltando a mão dele e encarando a Fábrica. “Jade...”

“Você perguntou o que teria acontecido se você não tivesse ido embora. Bom, eu sei... Eu teria largado o Lírio e nós dois teríamos ficado juntos. Você ia ver a Anna nascer comigo, e seria você a descobrir a morte do Franz com o Jeff. E no final teria acontecido o mesmo que aconteceu com o Lírio: você iria embora, porque estaríamos em passos diferentes da nossa vida.”

“Então que bom que eu fui embora e só voltei agora, quando eu e você estamos no mesmo passo.” Ele segurou o rosto dela, sorrindo.

“Eu ainda tenho a Anna e as meninas na minha vida.”

“Eu não me importo, Jade. Eu acho o que você e a Karina fizeram pela Mari e a Anna maravilhoso, e sei que o Lírio achava isso também. A diferença é que a felicidade dele estava em outro lugar, a minha está aqui. Sempre esteve aqui.” Ele secou uma lágrima que escapou pelo canto do olho dela. “Eu só tinha desistido de procurar por ela, mas a vida tratou de me fazer encontrá-la de novo. E eu nunca mais vou te deixar escapar, ouviu?”

Sem resposta, Jade apenas o abraçou com força e chorou, chorou muito. Ele fez o mesmo, sentindo os olhos marejarem e escorrerem um pouco. Com um suspirou, quebrou o abraço e beijou a testa dela.

“Eu preciso voltar para o Paraná e resolver tudo isso: meu noivado, a demissão do meu pai, a mudança para o Rio. Mas eu vou voltar o mais rápido possível e vou te encontrar, ouviu?”

Ele se levantou, pegando a mochila no chão e começando a caminhar até um carro preto estacionado ali perto. A morena o observou por um tempo, antes de gritar.

“Hey, Cobreola?” Ele se virou e ela sorriu. “Se eu te disser que te amo, você vai me achar maluca?”

“Não, minha dama, só vou dizer que você demorou tempo demais para se dar conta disso.” E voltou a andar.

“Não tem nada a me dizer?”

“Fica de garantia de que eu vou voltar, só para poder te dizer isso.”

“Assim eu espero, vagabundo.” Sussurrou para si mesma, vendo-o entrar no carro e partir. A dançarina apenas se deitou no banco, encarando o céu estrelado e sorrindo consigo mesma.

Na casa das meninas, Anabella havia acabado de adormecer. Após tomar sal de frutas para ajudar na azia, causada pelo excesso de queijo provavelmente, a menina foi colocada na cama pela mãe e pelo padrinho.

Assim que o ursinho foi colocar ao seu lado, abriu os olhinhos e encarou os dois. Mari se abaixou para beijar sua testa.

“Boa noite, meu bem.”

“Boa noite, mamãe. Boa noite, papai.”

“Boa noite, pequena.” Jeff beijou sua testa também, enquanto ela tornava a fechar os olhos e adormecia de vez. Ele apagou a luz e saiu com Mari, que fechou a porta atrás deles. Desceram em silêncio e foram para a cozinha, onde a mulher pegou duas cervejas na geladeira. “Nada melhor para tirar o gosto daquela pizza.”

“Concordo.” Ela sentou à sua frente na mesa e brindaram, começando a bebericar logo em seguida.

“Desculpa.” Jeff disse do nada, surpreendendo Mari. “Por a Bells me chamar de papai. Eu sei que você não gosta e nem eu quero usurpar esse papel, mas...”

“Não tem mas, Jeff. Você não pode usurpar um papel que sempre foi seu, mesmo não sendo. Você enfrentou noites a fio comigo quando ela esteve doente, nunca faltou a uma apresentação escolar e sempre nos acompanhou no primeiro dia de aula. Você a ajudou a subir em uma bicicleta e a segura em frente ao bolo em cada aniversário. Tudo o que o Franz deveria fazer.” A mulher suspirou, secando os olhos.

“Eu não quero ser o Franz.” Garantiu o rapaz.

“Eu sei que não, Jeff, e não estou te acusando disso. É só que dói, entende? Especialmente em dias como esse, dói pensar que ele não está aqui para fazer tudo isso, para ser o pai dela.” As lágrimas caiam silenciosa, enquanto ela encarava o nada. “Nós somos os pais dela, Jeff, eu e você; a vida acabou se encarregando disso.”

“Mari, eu... Eu preciso confessar uma coisa.” Ele deu a volta na mesa, sentando ao lado dela e segurando seu rosto.

“Jeff, por favor, não...” Ela murmurou, mas os olhos se fechando denunciavam o contrário.

“Não fala nada, não pensa nada. Só sente, Mari, por favor.” Ele pediu próximo ao ouvido dela, sentindo que ela se arrepiava. Se aproximou para beijá-la, suas bocas estavam quase unidas, quando um farol iluminou a cozinha.

No susto se afastaram, encarando o corredor que dava para a sala. Ali estavam diversas fotos, incluindo uma ampliação de Mari, Franz e Anabella no dia do batizado da menina. Ao se deparar com a imagem, a cantora se levantou, secando os olhos.

“Eu não posso fazer isso, Jeff, me desculpa. É só que...”

“Não precisa falar nada.” Ele também se levantou, apanhando o casaco. “Pede para a Karina deixar ela no meu apartamento amanhã, depois que ela sair da escola.”

E sem dizer mais nada, sumiu da frente dela. Cruzou com Jade no corredor, mas a jovem estava tão avoada que não percebeu o clima estranho. Havia acabado de chegar de táxi, vendo que já estava muito tarde para ir sozinha para casa.

“Mari, você não vai acreditar no que aconteceu.” A morena estava exultante, mas mudou de expressão ao ver o estado da amiga. “Caipirinha, o que aconteceu?”

Não obteve resposta, claro. Mari passou por ela correndo e disparou escada acima, com a amiga em seu encalço. Entrou no quarto e se jogou na cama, abraçando o travesseiro e começando a soluçar com força. Jade se deitou ao seu lado, a abraçando e deitando a cabeça em seu braço.

“Calma, eu to aqui. Eu não vou sair daqui.” Prometeu, apertando mais a amiga em seus braços.

Não demorou muito para ouvirem o barulho de uma moto. Logo a porta da sala foi aberta e ouviram passos na escada. Karina estranhou ao ver a luz do quarto acesa e entrou, encontrando as amigas ali, com Mari ainda chorando. Em silêncio deu a volta na cama, ficando do lado oposto de Jade. Se encostou na cabeceira e deitou a cabeça de Mari em seu colo.

E assim ficaram pelo resto da noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

VOLTEI, OK?
Tá, to sem inspiração para notas, só espero que gostem.
See you ;*