Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 9
Paciência


Notas iniciais do capítulo

Olá, garotada! Tudo tranquilinho? Vamos ao 9º capítulo de Chamem os Bombeiros?



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Quando o Júlio sai da sala, cada um tem sua reação. O Felipe fica admirado e apaixonado pelo que ele fez, a Melissa roga praga, baixinho, o Edgar ainda petrificado olha a porta que o fotógrafo deixou aberta. E eu... Bem, ainda meio atordoada pelo jeito que ele me olhou. Dois minutos se passaram (ou menos), e o meu chefe diz:

— Bem, estão dispensados!

Todos nós nos levantamos, inclusive a jararaca da minha colega de trabalho. Mas quando íamos saindo...

— Menos você, Melissa!

É a voz do Edgar... E ele vai pedir explicações! Oh, se vai! Não posso deixar de esboçar um sorriso de canto de boca. Dirigi para minha mesa, mas algo plantou dentro de mim como uma praga. “Desça e vá agradecer o Júlio, vamos!”. Não, não vou fazer isso! “Mas ele te defendeu!”. As palavras que ele pronunciou ainda ecoavam em minha mente, e quase impediram que escutasse o Felipe falar comigo.

— Bee! Você, viu? Viu? Estou em choque! Sabia que o Juju era gente boa! E...

E num ímpeto, deixo-o falando sozinho. Saio correndo em direção ao elevador, aperto o botão para chama-lo. Meu, que nervoso! Desse jeito vou falar “Feliz Natal” para o povo da redação pela velocidade que vão esses elevadores. Quando o Felipe aparece na porta, pego o rumo da escada de incêndio. E desço correndo. Correndo como nunca. Poderia ter tropeçado, batido a nuca e morrido. Sei lá, posso ouvir a minha mãe falando: “Vá devagar, doida!”. Do que estava indo atrás? Nem eu sei. Mas o que sinto é quase como uma obrigação: agradecer o Júlio.

Mas, o que ele vai pensar de mim? Que sou oferecida, que estou a fim dele? Sei lá! Minha cabeça é um rodomoinho só! Mas desço degrau por degrau. E chego esbaforida ao térreo. As recepcionistas ficam surpresas quando me veem. “Ok, Giovanna, isso você faz todos os dias: correr atrás da notícia como não houvesse o amanhã. Mas... Pelo que estou correndo agora?”. Só sei que preciso alcançar o Júlio. Ou melhor, DEVO alcançar o Júlio. Quando tomo a rua, viro à minha esquerda, onde fica a garagem dos repórteres, dos carros das reportagens e diretoria. O vejo de longe, fechando a caixa-baú e trancando-a. Sim, ele tem uma vespa. É algo tão vintage, como hipster. Mas isso não me importa agora.

— Júlio!

Ele fica surpreendido quando me vê. Já montava a motoca e iria colocar o capacete. E mesmo com um tempo esquisito, se a gente não sabe se está frio ou calor, veste uma jaqueta. Coisa bem de motoqueiro.

Ele me espera chegar mais próximo. Coloca o capacete em cima da caixa-baú e me encara. O olhar dele não me revela muita coisa. Só surpresa. Por um momento fico indecisa. Se devo chegar mais perto ou mantenho a distância de onde estou.

— Eu vim agradecer pelo que você fez!

E aí sim, ele abre a boca:

— Fiz o que achei justo, Gi! Tudo bem, que você exagerou um...

— Júlio! Eu...

Para o meu espanto, o Júlio sai da moto e vem em minha direção, não tirando os olhos de mim. Mas para em determinado ponto. E continua em silêncio, me olhando.

Depois de um tempo, ele chega mais perto. Tão perto, o suficiente para sentir a fragrância cítrica do seu perfume. E sim, ele é cheiroso. Por um momento, sinto que ele está com receio, estica a mão em minha direção, mas a para no ar.

Não sei o que me deu. Estou hipnotizada. Paralisada, mas querendo avançar. Para fazer o que, não sei. Abraçar, talvez? Mas... Eu gosto do Júlio como fotógrafo, como colega de trabalho ou algo mais? Não, não é algo mais! Até porque o jeito dele me irrita! E sempre me provoca.

Por um momento fico com vontade de chorar. Não sei ao menos o porquê. Sabe? Não sou emotiva. E raramente choro ou me emociono. Não que seja fria, nada. Mas acho que pela força da profissão me deixou um pouco dura. Um pouquinho só!

Fecho o meus olhos, tentando recuperar o fôlego e frear a minha confusão. E aí sim, percebo o toque de sua mão nos meus cabelos. Não, não estou arrepiada, não é? Não sinto nada pelo Júlio! Quanto aposta que estou assim porque o meu ciclo menstrual está perto e...

— Gi! – a voz dele me chama a atenção e abro os olhos.

— Promete que vai se cuidar?

— Mas...

— Ao menos por hoje! Não vá se meter em nenhuma confusão por hoje, só, vai...

E aí ele me dispara algo que me mexe por completo. Uma palavra que em muitas vezes me chamou em campo, no carro durante o trajeto de nossos trabalhos e por aí vai. Mas agora, tem um complemento, que não sei o que pensar.

— Minha pequenina!

Fico tão em choque com tudo, que só o que me resta, é fazer sim com a cabeça. Ele retira a mãos dos meus cabelos, oferece um sorriso e completa:

— Boa menina!

E volta em direção à moto. Só acompanho com os olhos e o observo colocar o capacete, acenar para mim e sair quase cantando os pneus daquela... Vespa.

*********

Caminho da sala do Edgar até os elevadores que é uma distância considerável. Dá para sentir o olhar de curiosidade de todos da redação. Mas ninguém se atreve a perguntar o que aconteceu naquela sala. Simplesmente, não ligo! Há muita gente ali torcendo que a gente tropece e morra com pescoço quebrado para tomar o seu lugar. Mas tem também aquela turma gente boa que está pelo que der e vier. Bem dá para se ver que é um trabalho como qualquer outro...

Aperto o botão do elevador que logo chega. Vou até o térreo e contorno a minha esquerda, rumo à garagem dos funcionários do jornal. Cumprimento o Laércio, que é o vigilante do local, com um sorriso e vou direção à minha moto.

Francamente, me sinto um idiota por participar dos joguinhos de poder da Melissa. Quando fui chamado pelo Edgar até a sala dele, ela já estava lá. O estranho é que o velho não é de cair na conversinha de qualquer um. Mas, não sei o que aquela garota tem que todo mundo a atende prontamente.

Quando ouvi o Edgar pedindo para Lilian avisar a Gi e o Felipe, assim que chegassem, irem até a sala dele, pensei: “Agora, essa garota vai abrir a porta do barraco e chuta-lo com força”. A princípio fique lá, de boa. Querendo que o circo pegasse fogo e o palhaço morresse queimado. Mas tinha em mente, que a primeira besteira mais pesada, iria abrir a boca e contar o que realmente ocorreu em campo.

Quando ela disse que a Gi tinha cuspido na cara dela, sério, isso me deixou tão irritado. Tudo bem que menina é esquentadinha, mas caramba, jogar pesado aí já era demais! E cá para nós, que mania é essa que manipular todo mundo para o lado dela? Dá vontade de falar: “Ei, garota, já somos formados e adultos, sabia?”. Parece que a Melissa não saiu daquela fase que se disputa quem tem a caixa de lápis coloridos com maior variedade. Se é que as crianças usam isso hoje em dia...

Abro o caixa-baú e saco a minha jaqueta, que uso toda vez que ando com a minha moto. Verifico os meus equipamentos que vou usar para sessão de fotos para uma revista culinária. E esse é um trabalho espinhoso de fazer. Parece tudo apetitoso, mas o meu serviço é: mostrar a forma mais estética possível para qualquer mortal ao ver aquela foto, sentir fome. Mas todos os alimentos são maquiados e malcozidos para reter a cor e deixa-los sugestivos, mas não apetitosos.

Subo na moto com o capacete encaixado no meu antebraço. E quando vou coloca-lo, escuto a voz de uma garota que tem meio que atormentado meus pensamentos.

— Júlio!

A Giovanna se aproxima, mas para de uma distância considerável. Será que ela pensa que vou mordê-la? Bem... Eu morderia se ela me pedisse...

A Gi parece confusa, a tal ponto que não sabe se chega mais perto ou se dá meia-volta e vai embora. Coloco o capacete em cima da caixa-baú e continuou não acreditando que ela veio falar comigo por livre e espontânea vontade.

— Eu vim agradecer pelo que você fez!

— Fiz o que achei justo, Gi! Tudo bem, que você exagerou um...

— Júlio! Eu...

Não sei o que me dá, saio da moto e vou em direção a ela. Juro que minha vontade é acariciar seus cabelos, chegar mais perto, abraça-la... e beija-la. E sou tomado por um sentimento que comprime o meu peito. Uma vontade de que estivéssemos em outro lugar, em outro contexto... Como naqueles filmes clássicos, onde Frank Capra faz a mocinha se enrolar toda e o mocinho a abraça e a beija.

Sei que soa ridículo, mas... Definitivamente ela tem mexido comigo como há muito tempo uma mulher não mexia. Apenas estico meu braço para tocar em seus cabelos. Fico hesitante por um momento, mas aí, bem... Ela faz um gesto que me abala mais: fecha os olhos. Agora não sei se ela sente-se tão confusa quanto eu. Ou foi a pressão que passou durante esses dois dias. E aí sim, posso alisar seus cabelos. Eles são macios, suaves ao toque. Como veludo. Oh, Deus, será que estou virando gay como Felipe?

E sem pensar muito, a chamo:

— Gi!

Ela abre aqueles olhos amendoados que são, de certa forma, inquisidores quando devem ser. Mas, agora, eles simplesmente refletem o quanto ela tem um lado menina.

— Promete que vai se cuidar? – indago.

— Mas...

Não a permito terminar a frase e digo:

— Ao menos por hoje! Não vá se meter em nenhuma confusão por hoje, só, vai...

Ela continua me olhando e não me pergunte como cheguei a esse ponto para disparar:

— Minha pequenina!

Ela faz sim com a cabeça, ainda com um brilho nos olhos. Será que vai chorar? E o que se faz quando uma mulher chora na sua frente? Abraçá-la?

E aí arremato com um:

— Boa menina!

Ofereço um sorriso, dou meia-volta e vou em direção à minha moto. Hora de trabalhar. E que outra alternativa tenho? Só se o pai da Melissa pagar as minhas contas, como ele faz com a filha. Mas isso é outro papo.

Quando monto na moto, a Gi ainda me observa. Coloco o capacete e aceno para ela. Acelero e saio tomando o rumo da rua.


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Notas finais do capítulo

Não disse que esse capítulo seria puro amor? ;) Acho uma graça esses dois. E sei que tem uma turma que faz torcida para o ship Juliovanna! XD
Pois bem, antes do glossário, queria dar boas-vindas a quem chega agora! Obrigada por acompanhar a história. Mas deixe-a pública! É tão legal ver a carinha de vocês. E ah, beijos para Manu e Darkamy^^
E vamos ao glossário Chamem os Bombeiros:
Vintage – é um termo usado para pessoas que gostam, curtem e se vestem ou usam coisas relacionadas às décadas 20, 30, 40, 50 e 60.
Vespa – É um estilo de moto que lembra uma Lambretta. Essas motos têm aquela pegada vintage. Estilão dos anos 50.
“(...)que se disputa quem tem a caixa de lápis coloridos com maior variedade”. – antigamente, ostentação era ter uma caixa de lápis com 72 cores da Faber Castell. Quem tivesse 24, era visto como pobrinho...
Espinhoso - difícil
Frank Capra – cineasta italiano, naturalizado como americano. Ficou famoso por filmes leves mas que tinha um fundo emocional muito forte. Alguns deles: A Felicidade Não se Compra, Do mundo nada se leva, O galante Mr. Deeds
Bem, semana que vem, vamos trazer um assunto cabuloso... A falta de água aqui em São Paulo. Mas lógico, tudo levado no maior bom humor! Porque rir é preciso XD
Beijos, pessoal! Até sábado que vem^^



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