Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 10
Progressiva, Surpresa e Falta d’água


Notas iniciais do capítulo

Epa! Chegamos ao 10º capítulo de Chamem os Bombeiros. E com novos personagens ;)



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Consegui uma folga no meio da semana! Isso porque o Edgar ficou devendo um dia descanso para mim. Acontece que toda vez que se faz a cobertura de fim de semana, via de regra, ganhamos um dia de folga. Então, na quarta-feira, dia 15 de outubro, bem no dia dos professores, marquei uma sessão intensa de beleza: Depilação, limpeza das sobrancelhas, unhas dos pés e das mãos, e finalmente, a escova progressiva. Tinha prometido há tempos porque o meu cabelo é volumoso e ondulado. E por mais que o prendesse, fizesse rabo de cavalo, bem... Ele me irritava!!

Tudo pronto, com alguns traumas pelo cheiro forte da progressiva, justamente por conta do formol que vai na composição, estou linda e renovada. Sinto-me outra e nunca me achei tão bonita.

Quando chego em casa, abro a porta e dou de cara com Ernesto. Impressão minha ou ele arregalou os olhos? Abaixo e acaricio sua cabeça.

— Mamãe voltou, querido – falo para o gato

“Quem é você? O que fez com a minha dona?, mio. Francamente, alguém raptou a minha dona porque ela não é tão bonita assim”.

Ernesto mia admirado. Isso é possível um gato miar com os olhos arregalados? Talvez eu esteja delirando, vai ver que é por causa do formol.

Passo o resto do dia tranquila e relaxando.

No dia seguinte começa tudo de novo. Haverá reunião de pauta logo pela manhã. Duvido e faço o dó que não iremos cobrir a falta-d’água em São Paulo. Há uma estiagem nunca vista. Onde o Reservatório da Cantareira, responsável por abastecer boa parte da população paulista, está quase a zero em sua capacidade. A Capital e as cidades adjacentes são servidas pelo “volume morto”, que é uma reserva... Bem, melhor nem comentar! O Governador reeleito jura de pé junto que não falta água nas casas. Bem, ele deveria vir aqui pela manhã e ver que a coisa está realmente feia.

Sempre fui ecológica. Reutilizei água de chuva, da máquina de lavar roupas para limpar a casa e por aí vai. Mas a chuva não tem dado as caras. Sem contar que a falta de investimentos na área, a falta de uma educação rigorosa na população e soma-se aí a ideia que “água é algo que nunca falta!”, vira uma bomba-relógio. E a cidade está infernal. Um calor que ultrapassa, brincando, 35 graus. E parece que haverá mais calor.

Chego à redação e recebo todos os elogios possíveis e imagináveis. A Lilian diz: “está divino o seu cabelo! Deveria ter feito isso antes!”. A Juliana fala: “Ficou bárbaro, Gi! E não se esqueça de usar bons xampus, hein? Vou te indicar alguns para comprar naquela perfumaria maravilhosa da Liberdade! Você não vai se arrepender!”.

Estou passando perto do setor dos fotógrafos, escuto um assovio. Fico gelada. Será que é o Júlio?

— Hum, hum! Arrasou, Bee!

É o Felipe com uma cara traquina e pelo jeito que ele se aproxima, sei que vai rolar fofoca.

— Antes de tudo, mona! Você está diva! E menina, parece que você adivinhou o babado de hoje!

— Como assim? – e um frio no estômago me domina.

Por um momento, acho que o Júlio se enroscou de vez com a Melissa. Eles vão casar a semana que vem, e ela está grávida de uma menina, que irá chamar Júlia. Pronto, fim!

— Bee....Tem um boy magia novo na redação... Que é um ar-ra-so!!! Sabe com quem ele se parece? – me informa quase sussurrando.

Ele disse boy magia? Bem, agora fiquei curiosa.

— Ah, é? E como ele é? – indago curiosa.

— Bee! Imagina um cara lindo, alto, forte... E... – disse encostando o indicador no nariz. – Oh, só para te atiçar, me fala todos os caras lindos que você gosta nas novelas!

— Hum... Ele é parecido com Gianecchini!

Ele faz não com a cabeça e com meio-sorriso, fala:

— Frio! Tenta outro e mais bonito!

— Oh, Deus!!! Não permita! Ele é a cara do Thiago Fragoso!

— Hum... quase pertinho! E como você tem tara com esse loirinho, né? Também acho ele um es-cân-da-lo! Mas não é, não!

— Ah! Diz logo, vai! – peço impaciente.

— Oh, é xará do nosso fofo do Fragoso...

— Hum?

— Ah, beesha! Será que vou ter que entregar?

— Bom-dia!

Uma voz rouca e bem máscula nos chama a atenção. Quando viro para o lado, mal posso acreditar! É o novo redator, e é a cara do Thiago Lacerda! Deus do céu! Hoje morro!

— Bom-dia!! – agora é o Edgar que passa e nos cumprimenta. Com aquele jeito que entona mais no bom do que no dia.

Ele passa por nós e volta.

— Oras, vejo que acabam de conhecer nosso mais novo integrante da equipe. Este é o Murilo Laerte! Murilo esta é a Giovanna, uma de nossas repórteres.

Digo:

— Prazer! – com sorriso mais aberto do que normal. Será que estou passando a impressão que sou uma periguete? Mas é impossível não ficar com atordoada na frente desse homem.

— E este é...

O Felipe mais do que depressa, dá a mão ao Murilo e diz:

— Sou Felipe D’Urso a seu dispor! – dando uma leve olhada de cima em baixo para o rapaz.

Mas essa é uma bicha descarada, né? Não perde a oportunidade de flertar mesmo na frente do editor.

O chefe nos chama para a sala porque a reunião de pauta já vai começar. Mais repórteres, redatores, fotógrafos, todos a postos para as orientações do Edgar.

— Todos aqui?

— Chefe! – Décio, um fotógrafo baixinho e gordinho, torcedor fanático do Palmeiras, chama a atenção de Edgar.

— Diga, Décio!

— Só falta o Júlio!

Só a simples menção desse fotógrafo hipster me faz mexer na cadeira.

— Cacete, viu? E isso que esse maledeto fala que vem mais rápido de motoca!

O pessoal na sala não se aguenta e dá risada. E Décio para completar a brincadeira ainda corrige o meu chefe:

— Motoca, não, chefe! É Vespa!

Mal o palmeirense termina a frase, a porta se abre e lá está ele... Com cara que abriu o forno enquanto o bolo que sua mãe preparou cozinhava.

— Bom-dia! – ele olha para o pessoal em geral. E parece que fixa os olhos em mim.

Viro para frente e ajo naturalmente. Desde o episódio da Melissa, não sei o porquê, tenho evitado e torcido a cada trabalho para não irmos juntos a campo. Preciso entender o que acontece comigo, mas não consigo resolver esse assunto, sozinha. Pensei até em fazer terapia. Francamente... fazer terapia por causa de um hipster? Tenha dó!

— Entra logo, oh, barbudinho! – brinca Edgar e o pessoal dá risada. Meio sem-jeito, ele procura um local para sentar-se e encontra um lugar ao lado da Juliana. Ele me olha de soslaio e faço que não é comigo. Inferno! Vê se me esquece, oh, hipster!

— Pois bem, vamos começar a reunião de pauta e quero que a Lilian anote os pontos que iremos abordar. Mas, antes... Gostaria de apresentar a vocês e de modo formal nosso novo redator: Murilo Laerte!

O bonitão levanta-se para que todos o vejam. Não sei o que deu no Felipe, do nada, começa a bater palmas. E a coisa é tão insana que o resto do povo também o aplaude. Isso não é praxe, até o por que, o mínimo que falamos é: “seja bem-vindo”. Mas tá na cara que o meu fotógrafo “fervido” aprontaria uma.

— Obrigado, pessoal! Espero que nós nos demos muito bem.

Hum... Bem até demais, bonitão. Mas quando viro do lado, o Júlio está com uma cara azeda. Oh, amigo, ele não é fotógrafo, é redator! E não vai roubar seu lugar!

— O Murilo vem somar com a gente e trazer alguns aspectos que estou curioso em saber. – explica o chefe. – Isso porque ele vem do nosso concorrente! – e dá uma piscada.

Para bom entendedor pingo é letra. Na Capital há dois grandes jornais que batalham palmo a palmo em arrecadar leitores. Nós e o outro. Bem, cada um com suas características e peculiaridades. E é bem bacana saber como age e pensa o “inimigo”.

Feita as apresentações, prosseguimos para a produção de pauta. E nem precisava ter bola de cristal que a falta de água em São Paulo viria à tona. Acontece que os institutos meteorológicos preveem uma “bolha de calor” ficará instalada durante o final de semana na Capital. E o que o chefe quer saber é: como está o comportamento do paulistano em relação à água, com esse calor infernal. Iremos sair às ruas para “fiscalizar” se residências, prédios, condomínios e até órgãos públicos estão desperdiçando água.

Para isso, o Edgar disponibiliza uma equipe só para essa reportagem e estou no meio. Quando ele começa a distribuir os grupos, ouço:

— A Giovanna vai com Júlio e o motorista é o Juarez!

Um frio na barriga se instala instantaneamente. E bem... o hipster parece que esboça um sorriso. Mas o Júlio é o típico cara enigmático, a gente nunca consegue acompanhar muito bem suas expressões.

E aí, Edgar completa:

— Ah, sim! Ia me esquecendo! Gi! Você faria um favor para mim?

— Sim? – foi a minha primeira reação.

— Posso lhe confiar o Murilo para seguir o seu trabalho e até ser o colaborador? Gostaria que ele passasse em alguns setores para sentir como é o trabalho no jornal.

— Para mim seria um prazer! – o bonitão arremata.

Fico sem ação, só fico falando:

— É... É... É... Está bem! – respondo mais que depressa.

De canto de olhos vejo o Júlio bufar e se ajeitar na cadeira.

— Poxa, ficaria honrado também em ver você em campo, Júlio Sardinha! – declara o Murilo. E completa: - Sou um admirador do seu trabalho, mesmo saindo do concorrente. – e dispara um sorriso arrebatador.

O fotógrafo se faz de desatento e quando eu o chamo:

— Júlio! O Murilo tá falando com você!

Ele volta, me encara, comprime os olhos, como dissesse: “Afinal, qual é a sua, garota?” e depois vira para o Murilo e dispara:

— Que bom saber quem reconhece meu trabalho!

Qual é a desse cara? Grosso! Quer saber? Grosso, estúpido, sem jogo de cintura e hipster!

— Como disse, sou fã do seu trabalho desde quando atuava...

O fotógrafo metido o corta com:

— Que ótimo! Infelizmente não posso dizer o mesmo de sua atuação porque lia muito pouco e ou quase nada do concorrente. Tenho consciência que somos os melhores. Aliás, os melhores fotógrafos estão aqui!

Arrogante, metido! Não, não escutei isso! Horroroso! Hipster! Só faltou ele falar: “aprende com papai aqui!”. Oh, infeliz, poderia segurar a língua e ter a humildade de mostrar através de atos que aqui é mais bacana de trabalhar? Mas, não! Ele tinha que fazer seu showzinho!

— Bem, garotada! Vamos nessa! Chega de conversa e vão a campo! Tudo que registrarem, por favor, vão nos mandando. Quero uma cobertura ferrada para dar uma voadora no concorrente! – aí que o Edgar se tocou da presença de Murilo e arrematou: - Ops! Desculpe, Murilo!

— Que isso, chefe!

É... Parece que ele tem mais jogo de cintura do que esse energúmeno que vai fotografar todos os flagras. Que inferno!

Chegando na garagem do jornal, os motoristas, disponibilizados para a cobertura, já estão a postos e logo encontramos o Jura.

— Oi, Jura! Tudo beleza? – Júlio o cumprimenta.

— Tudo bem, campeão!? E aí...- por um momento ele para e me encara: - Gi, é você?

— Sim, sou! – sorrio.

— Caramba, você ficou uma tremenda de uma gata com esse cabelo!

E aí ele completa:

— Não acha, Júlio?

O fotógrafo maldito para de colocar os equipamentos que irá usar no porta-mala e me encara.

— Prefiro você ao natural! Desculpe, gosto mais como era antes. – e dá de ombros e volta a fazer o que tinha parado.

Fico perplexa, juro que tenho vontade de manda-lo à merda. Chorar de raiva! Quem é ele que fica secando a bunda daquela vagabunda que quase me ferrou, ferrou o Felipe e ele?

— Pois acho que ficou muito bom! – é a voz do Murilo.

Todos voltam a sua atenção a ele.

— Bem... – ele continua. – Não a conheci antes então não posso opinar se ficou melhor, mas acho que ficou muito bom. Até porque seu rosto é pequeno e você tem um ar sereno...

— Sereno? – retruca Júlio. – Sereno? Você não a conheceu em campo, como a conheci! – e termina a frase com um certo deboche.

O Jura fica perdido com cara: “O que tá rolando? E quem é esse?”. Para sair da situação constrangedora e não querer ir até o Júlio para enfiar cinco dedos na sua cara, digo:

— Jura, desculpe sermos desatentos! – e olho fuzilando para o Júlio. E volto-me a fitar o motorista. – Mas esquecemos de apresentar o novo redator, o Murilo.

— Opa, prazer! – o Jura estende a mão para cumprimenta-lo. E logo é retribuído pelo Murilo.

— Prazer meu!

— Bem-vindo ao manicômio! E saiba... – completa o motorista.

O barulho do porta-malas fechando acaba cobrindo a fala do Jura. Todo mundo se volta para o Júlio, que faz uma cara insolente, dá uma leve levantada de ombros, abre a porta traseira e nos encara com um:

— Desculpa!

Suspiro, resignada. E o Murilo dá um sorriso de canto de boca, sem-graça. E o Jura para aliviar a tensão, dispara a piada.

— Não liga, ele é hermafrodita e às vezes tem TPM.


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Notas finais do capítulo

E eis um bonitão na parada: Murilo Laerte. E aí gostaram dele? Gente, ele é um fofo! Isso porque já “convivo” com a sua presença em alguns capítulos ;)
E o “Júlio tá ciúmes! O Júlio tá ciúmes! Lá, lá, lá” XD E a Gi de cabelos lisos, hein? Ficou bonita^^
E aí... quem se tocou que fiz uma pequena participação especial aí? XD
E agora... Vamos ao Glossário – Chamem os Bombeiros
boy magia – homem bonito
fervido – é uma gíria gay que significa: não perde oportunidade. Paquerador, e baladeiro^^
hermafrodita – pessoa que possui os dois órgãos reprodutores, assim como as características.
E aí meninas, gostaram do “Thiago Lacerda”? XD (Apesar de que essa novelinha nova... ¬¬)
O próximo capítulo... Ai, ai! É pega para capar! Se preparem ^^ Gostaria de postar com menos dias de intervalo. Mas não vai dar gente, me perdoe! Estou com um trabalho bem punk! Fechamentos e tudo mais!
Por isso, a postagem (por enquanto) vai ser semana, geralmente aos sábados, viu?
Beijos e até o próximo sábado!^^



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