Matéria Crua

Agora, escutando essa musica, sinto uma vontade quase mortífera de sair por aí na rua, as onze e trinta e um da noite – Acabei de olhar no relógio – e andar. Sentir o vento passando por meu rosto, olhar o céu, as estrelas, a lua que foge do meu horizonte por que resolveu se esconder atrás da minha casa de uns tempos para cá.

Colocar meus ínfimos fones de ouvido pretos – Os normais, os intra-auriculares me dão dor de cabeça -, vestir a minha blusa xadrez de capuz por baixo da única jaqueta boa que ainda cabe em mim, e sentar no meio da rua deserta a essa hora.

Tomar alguma coisa que me deixe bêbado, qualquer coisa. Ou quem sabe nem beber, só simplesmente sentar e apreciar o momento.

Só não queria estar sozinho agora. Não queria que essa minha fantasia louca se realizasse com ninguém ao meu lado para fazer alguma piada engraçadíssima, ou divagar sobre arte no contexto filosófico por horas.

Quero virar a noite. Acredito que pela primeira vez em anos, quero sentir minhas pálpebras pesarem tanto que não conseguirei mais mantê-las em pé. Então vire a noite comigo? Nem que seja por e-mail?

Eu sei que você está ocupada com esse negocio que vai mudar a sua vida de um jeito engraçado até, mas sei-lá. Hoje estou carente, preciso de um ombro amigo e de um cafuné bem feito.

Preciso da sua mão fazendo carinho na minha nuca e dos teus beijos sem fim. Preciso dançar entre as cadeiras do cinema, ou nesse caso, no meio da rua, e olhar os teus olhos como se fossem as duas coisas mais preciosas do universo.

Preciso parar de ser tão sonhador... Mas a culpa é sua. Você que me faz pensar nessas coisas sem sentido e querer sair de casa nesse fio que congela até pinguim.

Você me faz sonhar – Você e essa musica ótima, mas a maioria é você – e eu amo voltar a fazer isso quando estou acordado.