Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, dessa vez o capítulo está em dia. O capítulo começa de onde paramos de ver a Liv, e não de onde o último capítulo terminou, só para vocês se situarem.
Espero muito que gostem!



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Liv

O silêncio é devastador, mas não tão devastador do que o que vem a seguir, quando Beatrice finalmente resolve falar — depois de alguns dos membros do Governo terem ido embora e os restantes não estarem dando a mínima atenção para nós. É pior ouvir dela do que de qualquer outra pessoa.

— Como consegue? — ela pergunta me olhando com algo que parece nojo em sua expressão.

— O quê? — falo como se não soubesse exatamente do que Beatrice está falando.

— Mentir para Tobias como vinha mentindo, sendo falsa, traí-lo dessa forma. Ele confia em você.

— Você queria matá-lo há pouco tempo.

— Isso não anula sua culpa — ela diz, e detesto saber que está certa. — Fui enganada. Por você, inclusive. E mesmo agora que acho que sei quem Nita é, ainda não conseguiria fazer isso, espionar para Tobias enquanto minto para ela. Apenas não consigo me imaginar fazendo isso, ser uma agente dupla, como está fazendo.

— Estava — corrijo.

— Só porque Nita parece ter enlouquecido e te tirou dos planos dela. Pelo menos eu estava lutando pelo que acreditava ser verdade.

— Estava mantando inocentes.

— Estava matando membros do Governo, que até onde sabia, eram mais que culpados.

— Já passou, cometi erros, estou tentando acertar agora.

— Não muda o que fez, da mesma forma que não muda nada do que fiz. Mas você sabia da verdade, eu não.

E eu sabia. Mas mesmo assim fiz tudo o que tive de fazer por causa da minha família. No entanto, parando para pensar, minha família morreu por causa de pessoas do tipo que me tornei.

— Por que não contou a ele? — pergunto de repente, depois de um momento em silêncio.

— Que estava se fazendo de boa moça enquanto reportava cada passo dele para Nita? — ela dá de ombros. — Não ganharia nada com isso.

— Se ganhasse, me entregaria?

— Tive o direito de conseguir uma segunda chance. Tobias podia simplesmente ter me matado assim que cruzei seu caminho, mas não o fez. Por que privar você da mesma coisa?

Fico em silêncio novamente, sem saber bem como responder a isso. Ela é bem melhor do que eu pensava, bem melhor do que eu.

E então, sem aviso algum, Beatrice me derruba no chão com toda a força e grita:

— Abaixa!

— O quê...? — não tenho tempo de terminar a frase quando uma bala passa voando por cima da minha cabeça e acerta um dos membros do Governo mais próximos.

Tentamos nos arrastar pelo chão até a saída, de costas, enquanto víamos mais uma chuva de balas e as pessoas se desesperando, mas sem podermos fazer nada.

— Para o chão! Vão para o chão! — Beatrice grita, mas sem efeito, eles parecem muito afetados pelo choque.

Não vamos muito longe, no entanto, quando colocam sacos pretos em nossas cabeças.

Tento lutar, mas em vão, já que um par de mãos firmes está me segurando. Porém não paro de me debater desesperadamente até que sinto uma pancada na cabeça. E então não vejo mais nada.

***

— Liv! Liv! Liv! — o som é muito baixo no início, mas vai ficando mais forte à medida que vou acordando. Quando ela vê que meus olhos se abriram, acrescenta: — Qual é o seu problema?

— Ahn... Vamos ver... — digo, mais desperta. — Quer que eu comece pela parte que eu quase levei um tiro, ou quando colocaram um saco na minha cabeça?

— Não se luta com um saco na cabeça — ela diz, como se fosse realmente a coisa mais pertinente do momento.

— Diga isso para meu instinto — digo. — Onde estamos?

— Numa vã — ela diz. — Estamos em movimento.

Paro para ficar ciente do que está a minha volta. Estou com as mãos amarradas, disso tenho plena consciência, e da dor na minha cabeça também. O carro em que estamos é bem espaçoso, então suponho que seja mesmo uma vã, e ela vai a um ritmo contínuo.

— Há quanto tempo estamos aqui? — pergunto.

— Mais ou menos uma hora, acredito, mas é difícil dizer. Ficou apagada por bastante tempo.

— Sabe para onde Nita foi? Porque é para lá que provavelmente estamos indo.

— Não faço ideia — ela responde com uma pontada de frustação.

— Ela não pode ter ido tão longe — digo, e, como se em resposta, a vã para abruptamente e vou parar em cima de Beatrice. — Desculpe.

— Shhh! — ela pede silêncio.

Obedeço e, quando presto atenção, ouço vozes do lado de fora, é um homem. Mas não consigo ouvir muita coisa, e apenas a última frase fica clara para mim:

—... Com calma... Machucar... Só Nita pode machucá-las.

A porta de trás da vã se abre e não um, mas três homens estão do lado de fora.

— Não dê briga a eles — Beatrice fala bem baixinho —, guarde suas forças para quando realmente tivermos uma oportunidade favorável.

O homem do meio nos olha e diz:

— Podemos fazer isso do jeito fácil ou do jeito difícil, vocês escolhem.

— Ficamos com a primeira opção, por favor — digo.

— Ótima escolha — o da direita diz.

Beatrice e eu nos arrastamos com dificuldade até a porta e eles colocam novamente os sacos em nossas cabeças, mas agora com mais delicadeza, e agradeço mentalmente por isso.

Andamos por alguns minutos por um terreno gramado — o que posso sentir uma vez que meus sapatos foram embora na confusão. Tento captar tudo que posso, mas não é fácil. Logo entramos em uma casa. Prédio, corrijo-me mentalmente quando ouço o barulho de um elevador. Entramos no mesmo e subimos alguns andares, não estou certa de quantos, e logo descemos. Caminhamos por mais algum tempo e ouço uma porta se abrir. Somos levadas através delas e finalmente tiram o saco de nossas cabeças.

Estamos em um quarto relativamente pequeno, com apenas uma cama. Espero que não tenhamos que ficar aqui por muito tempo, parece desconfortável. Porém, o mais assustador de tudo são as paredes, que são acolchoadas. Uma sala para prisioneiros, ou para pessoas com problemas mentais. Ou para prisioneiros que, de tanto tempo presos, desenvolveram problemas mentais.

— Não percam tempo tentando sair, a sala vai ficar muito bem trancada — e então os homens saem, sem mais explicações.

Beatrice caminha para a cama e se senta, com uma expressão pensativa, mas ao mesmo tempo entediada.

— Tem ideia de onde estamos? — pergunto para ela. — Nita pode ter falado qualquer coisa...

— Ela não falou — Beatrice responde, como se para eu parar com falsas esperanças. Não que sabermos onde estamos nos ajudaria a sair desse lugar.

Começo então a andar de um lado para o outro, inquieta e me sentindo sufocada com essas paredes.

Sem nenhum motivo aparente, algumas imagens começam a invadir minha mente. Primeiramente Derek, evidentemente, e nossas promessas de permanecermos juntos. E agora ele está morto. Então Abby, que morreu na minha frente sem que eu pudesse fazer nada. A promessa de que acharia Ash e a manteria a salvo para Trevor me dá um nó na garganta, e começo a suar frio. Tenho uma vaga noção de que Beatrice está chamando meu nome, mas não consigo parar, continuo andando de um lado para o outro, tentando não me fixar nessas paredes. Talvez eu tenha claustrofobia, e não é uma boa hora para descobrir. Finalmente começo a lembrar da minha mãe e dos meus irmãos. Eu vou conseguir, eu lembro como se fosse hoje, aguentem só mais uma noite...

Não sei exatamente como aconteceu, mas Beatrice me segura no exato momento em que estou desmaiando, e acordo em cima da cama.

— Me assustou — ela diz assim que abro os olhos.

— Desculpe — digo. — Isso nunca aconteceu antes. São essas paredes, me sinto sufocada.

— Acha que existem muitas pessoas no prédio?

— Não ouvi ninguém quando entramos.

— Nem eu — diz ela. — Consegue lutar se for preciso?

Sento-me na cama e sinto uma leve tonteira, mas acho que vai passar.

— Acredito que sim, qual é a sua ideia?

— Passe mal — ela levanta sem explicar nada e começa a bater desesperadamente na porta e gritar: — Por favor! Alguém! Por favor! Ela está passando mal! Alguém! Por favor!

Quando alguém começa a mexer na porta pelo lado de fora, começo a respirar pesadamente, como se alguém estivesse com as mãos no meu pescoço.

Um homem entra no quarto, deixando mais dois na porta.

— Que diabos está acontecendo? — o homem se aproxima de mim.

— Eu... Não... Consigo... Respirar — enceno.

— Era só o que faltava...

Ele se abaixa e Beatrice faz um aceno de cabeça para mim. Dou um soco no homem e ele se desequilibra, quase caindo. Beatrice já está em cima dos outros dois, que foram pegos de surpresa. O homem que bati tenta pegar a arma, mas o empurro e ele cai, batendo com a cabeça na quina da cama e desmaia. Ou morre. Não tenho tempo de descobrir.

Vou ajudar Beatrice, mas um dos homens já está no chão.

— As chaves — ela indica para um molho que está jogado no chão.

O homem caído não estava tão caído assim, já que estende a mão para pegar antes de mim, mas piso nela sem pena, e ele solta um grito de dor.

— Rápido — digo, me encaminhando para a porta. A adrenalina parece baixar um pouco e me sinto tonta novamente, me apoiando na porta.

— Agora não — Beatrice deixa eu me apoie nela depois de derrubar o último homem.

Ela tranca a porta com eles lá dentro e então corremos. Bom, eu tento correr, o que mais parece uma tentativa fracassada.

Logo avistamos o elevador, e estamos indo em direção a ele quando desabo.

Grito. Grito muito alto. O grito mais alto que já dei em toda a minha vida.

Estou sentindo uma dor lancinante na perna, não consigo me mover, não consigo falar, e o até o grito perde a força. Beatrice vem ao meu encontro, mas para, com as mãos para cima.

— Que indelicadeza da parte de vocês, saírem assim tão rápido, acabaram de chegar — olho para trás e vejo Nita, vindo calmamente em direção a nós na cadeira de rodas, com uma arma na mão e três homens de cada lado.

Não sei por quê. Talvez seja a dor, ou a exaustão, a frustação, ou qualquer outra coisa, mas começo a chorar, desesperadamente, no momento mais inoportuno. Meu emocional está totalmente fora de controle hoje.

— Por que está chorando? — Nita provoca. — Parecia tão decidida a “fazer a coisa certa.” O que houve com a sua determinação?

— Levou um tiro — cuspo as palavras —, isso que houve.

— Era desse mesmo jeito que estava quando eu achei você. Vulnerável, com frio, fome. Chorando.

— Eu devia ter morrido com eles, nunca devia ter achado que você traria algo de bom para mim. Maldito o dia que me encontrou.

— Achei que tivesse ensinado a você a não cuspir no prato que comeu.

— Nunca aprendi nada com você. Nada além de matar, destruir, mentir, decepcionar as pessoas com quem me importo.

— Está equivocada, querida...

— Não sou sua querida — corto.

— Muito bem, Olívia Williams — ela corrige. — Você aprendeu comigo que precisa fazer todas essas coisas para obter sua vingança.

— Isso não é vingança! — grito. — É covardia!

— Seus irmão e sua mãe iriam querer...

— Não ouse dizer o que eles iriam querer! — faço um esforço para me mover, mas volto por causa da dor.

Beatrice, que estava olhando aterrorizada para a discussão parece despertar e se volta para Nita.

— Se estamos colocando as cartas na mesa, o que acha de falarmos sobre você sendo uma vadia e reescrevendo minha vida com as suas palavras mentirosas?

— Ah, então você realmente descobriu? — Nita solta uma gargalhada, mas ainda sem parar de apontar a arma. — Desculpe, não foi pessoal, precisava de você para que o início do meu plano funcionasse. Eu precisava de todos vocês para que o início funcionasse. Vocês foram apenas a ponta do iceberg, meu plano é muito maior do que pensam.

— Quando? — pergunto com a respiração mais pesada do que já estava, preciso ficar atenta para manter o foco nela, não posso desmaiar agora. — Quando decidiu que não faríamos mais parte do seu plano?

— No mesmo momento que Derek matou Julie, no momento em que dormiu a primeira vez com Tobias, quando dormi pela primeira vez com Trevor, desde o momento que conheci Abby. Sabia que seriam fracos, sabia que cederiam, mas precisava de vocês, depois seriam descartados. Mas, pelo visto, estão fazendo mais, estão estragando meus planos. Pelo menos Derek eu consegui tirar do meu caminho.

— Sua... — começo a dizer, com tanta raiva que ignoro a dor por alguns segundos.

— Poupe seu fôlego. Vocês precisam ser devidamente castigadas. — Ela se volta para os homens no seu lado direito: — Levem-na, cuido dela depois — ela aponta com a arma para Beatrice, e depois para mim: — Ela vocês podem pegar e me acompanhar.

O homem me pega no colo sem nenhum cuidado, me fazendo urrar de dor. É bem provável que Nita me deixe sangrando até a morte.

Entramos novamente no elevador e subimos três andares.

— Fico feliz que tenham mantido tudo isso aqui — Nita diz, ao sairmos do elevador e nos dirigirmos a uma sala que parece um consultório médico.

— O que é isso? — pergunto quando me colocam em uma cadeira e Nita pega uma seringa.

— Soro da simulação. O Centro não era o único lugar a fazer testes para as cidades experimento. Bom, era apenas o único lugar a fazer isso legalmente — ela explica. — Bem vinda a sua paisagem do medo.

Sinto a agulha entrando em meu pescoço, e então tudo fica escuro.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Fico esperando as opiniões, os elogios e as críticas nos reviews. Até o próximo capítulo!
xoxo



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