Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 24
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo! Posso ouvir um aleluia? Bom, eu procastinei MUITO esse capítulo, por falta de tempo e bloqueio criativo. Porém, eu acabei ficando satisfeita com as ideias que tive quando finalmente consegui escrever esse capítulo. Então eu espero que gostem do capítulo e das reviravoltas que acontecem nele!
E também um imenso obrigada para a Dama do Poente, que recomendou a história. Sem você essa história nunca teria sido postada, obrigada!



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Tobias

— Tris! — exclamo. Não posso dizer que não pensei nela durante tudo que vem acontecendo, mas para mim Tris estaria fora da cidade, com Nita. Meu alívio parece palpável.

Ela se aproxima mais, com uma pasta na mão.

Olho para as outras pessoas na sala, que olham indiferentes para ela. Menos Amar, George, e principalmente Zeke — é a primeira vez que eles a veem.

Amar se levanta e olha para Tris de cima a baixo, de boca aberta.

— Você mudou — ele observa.

— Você não imagina quanto — ela diz, e olha para mim. — Podemos conversar em particular?

— Nita tem um exército do lado de fora da cidade — digo lutando contra tudo em mim que diz para eu ficar a sós com ela —, não posso perder tempo.

— Tínhamos uma aposta, ou já esqueceu sobre ela?

— Não esqueci — digo. — Mas não tive exatamente tempo de pensar sobre ela, ou de fazer algo a respeito.

— Mas eu tive — ela diz —, e achei coisas que podem te ajudar muito.

— Diga, então.

— Não na frente deles — ela aponta para Amar, Zeke e George —, que vão se admirar cada vez que eu abrir a boca para falar. A sós, Tobias, por favor.

Respiro fundo e finalmente me levanto.

— Tudo bem. — me volto para os membros do governo e meus amigos: — Esperem um momento, por favor, serei breve.

Desço mais um andar com Tris. É uma praça de alimentação, mas já está vazia depois do que aconteceu.

— O que tem aí que pode ser útil? — pergunto sem rodeios. — Tenho apenas cinco horas, então cada segundo conta.

— Divirta-se — ela joga a pasta na mesa mais próxima.

Pego a pasta e percebo que são as primeiras folhas são fichas. Tris se senta enquanto leio por alto os nomes.

— Quem são? — pergunto.

— O exército que Nita tem fora da cidade. Quinhentos homens, talvez um pouco mais. Todos GDs que um dia foram direta ou indiretamente discriminados pelo Governo.

— Como ela os convenceu a lutar por ela?

— Eu acabei de dizer, pessoas discriminadas pelo Governo, com raiva de todo esse sistema — Tris explica. — Ela os treinou, mas isso eu não sei como, e não importa realmente. O fato é que ela tem um exército e não tem nenhum medo de usá-lo.

— São muitas pessoas... — folheio novamente as fichas. — Não sei se vou ter a força necessária contra o exército de Nita.

— O exército não é deveria ser a maior das suas preocupações.

— O que quer dizer?

— Sente-se — ela aponta para a cadeira do outro lado da mesa.

Puxo a cadeira e me sento.

— Bom — ela começa —, quando tive minha conversa com você, comecei a ver as coisas de uma forma diferente, passei a ver Nita mais criticamente, e parece que as provas estavam bem na minha frente há muito tempo, eu só deveria abrir os olhos para ver. Venho evitando-a desde então, mas minha reputação como queridinha de Nita permanece, então fiz algumas ligações, entrei furtivamente em seu escritório e liguei uma coisa à outra. Nita não quer apenas destruir Chicago, ela quer ameaçar o Governo dos Estados Unidos.

Solto uma gargalhada de escárnio.

— Ridículo — digo. — Da última vez que fui ao Centro de Bem Estar Genético, David, o cara que eu pensei que tivesse matado você, disse que uma amiga contou para ele o que aconteceu após o acidente que tirou a memória das pessoas no Centro. Essa amiga era Nita, e ela colocou planos de retomar a cidade como um experimento na cabeça dele.

— Nita querendo retomar os experimentos? Isso que é ridículo. Nita odeia os experimentos, e odeia todos os envolvidos na organização do experimento de Chicago.

— Sim, eu sei, mas ela disse... — dou um soco na mesa. — Filha da mãe!

— O que foi? — Tris indaga.

A conversa que tive há tão pouco tempo volta em minha mente, e parece que entendo todo o plano de Nita.

— Ela vai fingir que está se aliando ao Governo, que tem interesse na destruição de Chicago e na sua reconstituição como cidade experimento. E se ela conseguir destruir a cidade, vai se virar contra o Governo quando estiver aqui dentro.

— Faz sentido — diz Tris —, mas pensando bem, ela não pode ter uma forma de ameaçar o governo do país, eles têm muito poder.

— O que eles vão fazer com o poder se ela tiver o povo do lado dela? Já aconteceram revoluções onde o povo ganhou.

— Por que o povo...? — ela começa, mas não permito que termine.

— Você mesma falou, quantos GDs temos ao redor do país? A guerra não afetou apenas Chicago, e não fomos a única cidade experimento. Se Nita estiver pensando em mobilizar todo o país, ela pode obter um retorno positivo, as pessoas podem achar que é uma causa justa.

— E não é? — ela volta, de repente, a ser a pessoa que desconheço. — Ouvi dizer que era GD, por que não lutar contra a opressão que o Governo está impondo?

— Vencemos a opressão quando Chicago deixou de ser um experimento, Nita só quer poder, sua vingança por ser GD é apenas um pretexto para lutar por ela mesma, e por mais ninguém. No fundo, espero que saiba isso.

Eu sei, queria que ela tivesse dito. Mas ela apenas se calou.

— Tem alguma ideia de como podemos pará-la? — pergunto.

— Enquanto ela estiver fora de alcance, não. Mas talvez impedir o Governo de se aliar a ela seja um bom começo.

— É, parece bom — digo. — Ainda disposta a cumprir sua parte na promessa?

— Sou sua, prefeito — ela diz, se levantando e se aproximando de mim, debruçando-se sobre a mesa —, faça-me lembrar.

— Posso confiar que não está sendo espiã para Nita? — pergunto, me aproximando também.

— Não sou como... — ela parece querer dizer um nome, mas guarda para si. — Não, não sou espiã, apesar de que, se eu fosse você, não confiaria na minha palavra. Mas considere os arquivos eu trouxe como uma oferta de paz. Sou bem capaz de provar minha lealdade.

Ela se aproxima mais de mim, e não consigo resistir. Até que sou obrigado, porque Zeke pigarreia ao lado da porta.

— E pela segunda vez... — reclamo, me afastando.

Zeke está com vergonha novamente.

— Desculpe — ele diz —, mas um dos membros do Governo mandou um relatório para a presidência explicando a situação. Você sem uma conferência de vídeo com o presidente marcada para daqui a pouco na força policial.

— Obrigado, Zeke. — Começo a me dirigir para a porta. — Vamos, Tris.

Quando volto ao andar superior, alguns dos membros do Governo estão de pé, inquietos, e outros conversando.

— Posso pedir para que não saia daqui? — pergunto para Tris. — Até o fim dessas cinco horas, pelo menos. Vou pedir a Liv para que faça companhia, caso os membros do Governo queiram ir embora. Quero ter tempo de conversar com você quando isso acabar, fazer com que converse com Christina, Cara, e até Caleb, seu irmão. Por favor.

— Tudo bem, mas não preciso de companhia.

— Proteção extra, então.

Ela não discute, apenas se afasta e procura uma cadeira para sentar.

Aproximo-me de Liv.

— Pode ficar aqui com Tris? Não vou deixá-la sozinha com eles.

— Claro — ela diz. Sinto que não está muito satisfeita, no entanto não posso satisfazer a todos.

— Senhores — chamo a atenção dos membros do Governo —, muito obrigado por seus conselhos, continuaremos fazendo o possível para resolver a situação, para que possam deixar a cidade em segurança. Se há algum lugar para onde queiram ir, fiquem a vontade, se não, voltarei para cá depois da conferência com o presidente na força policial.

Poucos realmente me deram atenção, mas o recado está dado.

— Zeke, George, Amar, vamos — chamo.

Chegamos à força policial em pouco tempo, e me deparo com todos os soldados do lado de fora da base, em formação, mas ainda no escuro.

— Avise a eles que terão ordens em breve, após a conferência — digo para George, que se aproxima deles.

Continuo meu caminho com Zeke e Amar até o escritório do Primeiro Oficial.

Lá, Zeke prepara rapidamente o computador, e espero o contato com o presidente.

— Sente-se aqui, Quatro — ele indica a cadeira de Amar.

Fico encarando a tela escura, até que muda, e estou vendo o presidente dos Estados Unidos.

É um homem de meia idade, de cabelos negros e barba bem feita da mesma cor, não há nada de especial nele, além do poder de destruir ou não a minha cidade.

— Vossa Excelência — cumprimento.

— Prefeito Tobias Eaton.

— Acredito que já foi informado da situação de Chicago. Temos um exército às nossas portas, e precisamos de ajuda externa.

— Qual a razão disso, senhor prefeito?

— Uma revolta GD, Vossa Excelência.

— Contra o que estão se revoltando?

— Um acerto de contas com o que aconteceu no passado, quando éramos um experimento, acredito eu.

Ele dá um longo suspiro e não prevejo que o virá a seguir seja bom.

— Quando a cidade de Chicago não deixou que a própria fosse reiniciada, a prefeita que estava em posse, Johanna Reyes, assinou termos de manutenção da paz na cidade, que os conflitos então vigentes não voltariam a ocorrer.

— Johanna Reyes faleceu, e os conflitos que estavam acontecendo foram realmente parados. Essa é toda uma nova situação.

— Precisa entender, prefeito, que quando não concordaram em serem reiniciados, quebraram uma ordem de como as coisas deviam ter acontecido. Não está sendo fácil diminuir a população GD por todo nosso país, eles ainda são maioria. O que está acontecendo em sua cidade não é nada mais que uma consequência do que buscaram há cinco anos.

Sei reconhecer uma causa perdida quando vejo uma. Nita já chegou até ele, penso com pesar.

— Então está querendo dizer que não nos ajudará?

— Não posso desperdiçar nossas forças assim.

— Fazemos parte dos Estados Unidos, fazemos parte do seu país, não estará desperdiçando forças, estará protegendo sua nação.

— Quantas mortes de civis tiveram até agora?

— Não basta todos os membros do Governo, Vossa Excelência?

— Vou reformular minha pergunta: quantos cidadãos de Chicago já perdeu?

— Alguns.

— “Alguns” não é o suficiente para ocupar as forças armadas dos Estados Unidos.

— Não pode deixar seu povo desse jeito, um ou mil, não importa.

— Está falando com o presidente, garoto — Amar me repreende em voz baixa. — Você não diz o que ele pode ou não fazer.

— Perdoe-me, Vossa Excelência — digo quando na verdade gostaria de usar meu palavreado mais chulo com ele. — Mas não poderei ver minha cidade sendo massacrada.

— Ela não será. O senhor tem um exército, não tem?

— Sim, mas não sei se será suficiente — minto. Tenho certeza de que não será.

— Acredito na sua capacidade de liderá-los, prefeito.

— Mas Vossa Excelência...

— Faremos contato novamente se houver necessidade, passe bem, senhor prefeito.

E a conferência acaba.

Olho boquiaberto para Zeke e Amar.

— Como ele pode dizer que não pode desperdiçar suas forças conosco? — indago.

— Talvez ela tenha feito uma boa proposta.

— Nenhuma proposta no mundo deveria ser capaz de corromper um presidente — digo, com muita frustação. — Johanna também lutava contra esse tipo de coisa.

— Não adianta ficarmos aqui, vamos delegar tarefas aos soldados.

Quando estamos caminhando até o elevador, meu celular toca, é Christina.

— Ligue a TV mais próxima — ela parece satisfeita.

— O que...?

— Rápido.

Volto correndo para perto da televisão do escritório de Amar e a ligo. Amar e Zeke já estão atrás de mim.

A tela mostra a Cerca, com a voz de um repórter ao fundo.

—... E depois de todos esses anos, a Cerca de Chicago volta a se fechar. Foram recusadas todas as tentativas de entrevista, mas existem pessoas, muitas pessoas, do lado de fora da cidade. Lembramos a todos que, por ordens do prefeito e por questões de segurança, não deixem suas casas. A Cerca foi construída há muitos anos com a intenção de...

Paro de prestar atenção à televisão e coloco o celular no ouvido novamente.

— Você conseguiu! — digo, feliz com a primeira notícia boa do dia. — Muito obrigado, Christina. Qual foi a reação do exército lá fora?

— De acordo com as câmeras, eles ficaram com cara de idiotas, mas não se moveram.

— Nita manteve sua palavra.

— Suponho que temos que agradecer por isso. Quanto tempo nós temos?

Olho para o relógio antes de responder.

— Quase três horas.

— O que vai fazer?

— Não sei, mas Tris está do nosso lado. Volte para a prefeitura, ela está lá.

— Ótimo — ela diz. — Até logo, então.

— Até — desligo.

Zeke desliga a televisão e voltamos a descer.

— Seria bom que falasse com eles, talvez ficariam mais confiantes — Amar diz para mim assim que saímos do elevador.

Olho em volta, sem tanta certeza de que algo poderá inspirar confiança neles. “Eles têm potencial, mas agora não passam de homens e garotos brincando de guerra”, não posso deixar de lembrar das palavras de Liv. Mas preciso tentar, de qualquer forma.

— Tudo bem — digo para Amar.

— Venha comigo.

Sou levado por Amar até um pequeno estrado de madeira, para falar através de um alto falante, para que todos ouçam.

— Soldados! — Amar exclama.

— Senhor! — eles dizem, todos juntos, em posição de sentido.

— Seu prefeito dará algumas informações e instruções que devem estar ansiosos para ter — ele indica para que eu fale.

— Bom, olá — digo ridiculamente. — Precisam saber que há um exército fora da Cerca, o exército contra qual vocês veem sendo treinados para lutar. A Cerca foi fechada, mas não podemos contar com isso, eles atacarão em menos de três horas, e não sabemos quais os artifícios que usarão. Metade de vocês será levada para a Cerca, a outra metade patrulhará as ruas. Certifiquem-se de que nenhum civil está fora de casa. Caso Chicago seja penetrado pelo exército, serão colocados em formação para conter aqueles que passarem pelos soldados na Cerca. E receberão mais informações assim que eu as tiver. Entenderam?

— Sim, senhor! — eles dizem novamente em uníssono.

Desço do estrado com Amar ao meu lado.

— Posso deixá-los em suas mãos daqui para frente?

— Claro, Quatro.

— Boa sorte — aperto sua mão.

— Boa sorte — ele retribui.

Despeço-me rapidamente de Zeke e George e volto ao prédio da prefeitura.

Subo as escadas e sinto um cheiro inconfundível. Sangue.

Corro escada acima para encontrar quase todos os membros do Governo mortos onde eu os havia deixado. Os que escaparam provavelmente haviam ido para outro lugar antes que fossem atacados.

Não vejo Liv e Tris em lugar algum.

— Tris! Liv! — grito. Vou no andar acima, onde Anthony foi morto, e nada.

Quando meu celular vibra, sei que é mais uma ameaça de Nita antes mesmo de checar a mensagem de texto.

Já devia ter aprendido que estou sempre um passo a frente. Muito esperto da sua parte fechar a Cerca, mas terá que abri-la novamente. Tris e Liv estão comigo. Da última vez que chequei, Chicago não tem aviões ou helicópteros, vai ter que sair pela Cerca para salvá-las, a não ser que crie asas. E prepare-se para ter que escolher qual das duas salvar. Tic-toc, cada segundo que passa elas ficam mais perto da morte.

Atenciosamente, Juanita.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Ficarei esperando os reviews com seus elogios, críticas e qualquer coisa que queiram dizer. Muito obrigada por estarem esperando tão pacientemente, até o próximo!
Xoxo



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