Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, espero fazer jus às expectativas que sei que muita gente alimenta sobre esse capítulo, aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/552662/chapter/10

Tobias

— Tem ideia melhor? — é o que respondo toda vez que Zeke ou Liv me perguntam se roubar é a única opção.

Se tivéssemos mais tempo, com certeza tentaria pensar em alguma coisa melhor para conseguir o dinheiro, ou não teria cedido tão fácil aos raptores de Christina sobre dar o que eles querem. Mas, em parte por causa da amizade de dela, em parte por eu não saber se suportaria perder mais alguém, não consegui tomar outra providência. Liv apenas perguntou se deveriam levar armas, eu perguntei onde conseguiríamos para todos nós e Zeke respondeu que “estaria mentindo se dissesse que não guardava um pouco da Audácia com ele”, e simplesmente foi ao seu apartamento e pegou armas para nós.

Shauna havia ficado na cidade com muita relutância. Segundo ela, foi por sua culpa que Christina foi sequestrada, e se sentia na obrigação de ajudar. Porém, a verdade é que ela nos atrasaria, e quando percebeu isso concordou em ficar. E, enquanto Zeke buscava as armas, chamamos Cara, que será nosso cérebro e nossa guia — uma vez que trabalha lá — nessa investida, e ela logo se dirigiu ao escritório para ajudar, e, mesmo não concordando com a ideia de roubar, sabia que era a única opção.

Eu disse à Liv que se ela quisesse ficar, eu, Cara e Zeke daríamos conta do recado, mas quando ela insistiu, não discuti, afinal não dispensaria a ajuda dela depois de ter visto o que ela pode fazer.

O plano é bem simples: ainda têm pessoas trabalhando no Centro, mas a quantidade de moradores e trabalhadores de lá é bem pequena, eles não trabalham mais com pesquisas sobre genes, e sim com técnicas de optimização da agricultura, que é onde Cara e Caleb trabalham. Porém, grande parte do dinheiro que foi investido lá continua lá, sendo usado aos poucos, sem tanta necessidade de uma ajuda tão grande às cidades experimentos, Anthony comentou que eles têm, aproximadamente, um milhão de dólares. E, quando Cara chegou, informou que o dinheiro que fica guardado em um cofre que foi construído onde era o Laboratório de Armas, estremeço ao ouvir o nome, com medo de não ser capaz de entrar lá.

Quando entrarmos, Cara vai desbloquear o cofre, nós vamos pegar o dinheiro e sair sem sermos visto.

Mas não sou ingênuo o suficiente para achar que nada de ruim vai acontecer, mas não podemos pensar nisso agora, não quando a vida de Christina está em jogo.

“O único lugar que você encontraria esse dinheiro seria no Centro, já que eles recebem dez vezes mais investimento do que sonhariam em usar, devem ter mais ou menos um milhão de dólares lá”, e isso foi tudo que Anthony disse, ele provavelmente não pensou que o prefeito ia tentar roubar esse dinheiro. Ah, se ele soubesse onde estamos agora.

Depois de algumas horas de viagem — provavelmente gastamos mais do que podíamos se considerarmos que a vida de Christina está no relógio —, avisto numa primeira cerca as palavras “CENTRO DE BEM-ESTAR GENÉTICO”, e não posso deixar de me lembrar que a primeira vi essa placa foi com Tris, sinto meu estômago revirar.

Quando saímos do carro, tudo está bem silencioso, as pessoas devem estar dormindo, suponho.

— Por que não tem mais guardas nas entradas? — pergunto à Cara.

— Porque ninguém quer roubar nada relacionado à pesquisa sobre agricultura — ela diz. — E a única coisa que temos aqui que pode ser roubada é o dinheiro, mas tem um bom sistema de segurança, que, por sorte, eu sei burlar.

Andamos até dentro do complexo em silêncio, com as armas guardadas, caso cruzássemos com alguém que só estivesse andando por ali e não oferecesse risco. Fico surpreso por lembrar o caminho, minhas pernas tomam a frente e nem preciso ficar atento.

Passo pelo lugar onde Uriah estava quando foi atingido, o que o levou a morte. Não gostaria de me lembrar da parte em que eu fui o culpado.

— Tudo bem, cara — Zeke diz, colocando a mão em meu ombro.

Se eu fosse Zeke, não me perdoaria, mas ele com certeza é melhor que eu.

— Próxima porta — Cara anuncia depois de um tempo.

— Eu sei — suspiro. — Peguem o dinheiro que precisamos, eu fico aqui fora tomando conta de tudo.

Zeke e Cara não discutem e logo seguem para dentro da sala, mas Liv se detém:

— Tem certeza que não quer que eu fique aqui? Não prefere se certificar de que o dinheiro esteja na quantia certa?

— Não posso entrar... Foi onde Tris morreu.

— Ah, me desculpe, eu vou lá — ela diz, quase entrando.

— Sei que não tivemos tempo para falar sobre o que aconteceu... o beijo — digo, segurando em seu braço.

— Eu entendo, Tobias, vocês não terminaram nem brigaram, ela morreu, entendo porque tenha se arrependido daquilo. — E ela entra, sem que eu tenha oportunidade de falar alguma coisa.

Eles demoram bastante, quarenta minutos já se passaram quando ouço um barulho no corredor, provavelmente alguém vindo. Entro na sala de imediato:

— Tem alguém vindo, já terminaram?

— Se tivéssemos terminado já teríamos saído, ou acha que estávamos aqui batendo papo? — Cara diz, impaciente. — Eu disse que saberia burlar o sistema, não que faria isso em tempo recorde.

Ela aperta um último botão depois de mais alguns minutos e a porta do cofre — um cofre médio preto embutido na parede — faz um barulho de bip e a luz que estava vermelha muda para verde. Zeke abre e, com a ajuda de Liv, começa a pegar bolos e bolos de notas.

Tranco a porta, caso tenha mesmo alguém lá fora, porém, uns cinco minutos depois, ouvimos barulho na porta, alguém está abrindo por fora, com chave.

Zeke, Liv e eu vamos para perto de Cara e todos apontam as armas, mas, quando abrem a porta, é um homem numa cadeira de rodas que entra.

Todos abaixam as armas, menos eu, porque foi desse mesmo jeito que ele apontou a arma que tirou a vida de Tris.

— O que querem aqui? — David diz, com as mãos para cima.

— Abaixe a arma, Tobias — Cara diz, calmamente.

— Tobias? — o homem diz, confuso. — É aquele prefeito de Chicago, que substituiu a prefeita que faleceu?

— Não, não é ele — Zeke diz, rapidamente. — Se nos deixar ir com uma parte do seu dinheiro e não dar nenhum tipo de queixa ou reagir, vamos embora sem machucar o senhor.

— Levem o que quiserem, mas me deixem com vida — ele responde.

— Ela também deve ter pedido pela vida, mas você não deixou — digo, me aproximando mais com a arma.

— Tobias... — Liv começa.

— Você apontou a arma assim para ela — digo, a raiva não me deixando pensar. — Ela só queria salvar as pessoas que ela amava!

Eu já estou gritando.

— Do que ele está falando? Quem é Tris? — ele diz, perguntando a ninguém em específico.

— Promete nos deixar ir sem prestar queixa? — Liv pergunta.

— Sim, só saiam daqui.

— Tobias — Cara se aproxima, colocando a mão em meu braço. — Se você atirar, não vamos sair daqui, Por favor, Tobias. Se não formos agora, Christina morre.

Seu nome me desperta. Christina. Vão matá-la.

— Tudo bem — digo, abaixando a arma. Faço sinal para que Cara avance, seguida de Zeke e Liv. Quando passo por David, dou uma coronhada em sua cabeça, querendo parti-lo em pedaços, mas, se o fizesse, além de Tris, perderia Christina por causa dele.

Quando já estamos correndo da sala por algum tempo, sirenes começam a soar.

— Aaargh, que droga! — Cara exclama.

— O que é isso? — Liv pergunta.

— Sirene de emergência, acontece quando o prédio é invadido, alguém nos viu, só pode ser isso.

— E o que acontece? — indago.

— Os vigias acordam, não que fosse preocupante, mas o sistema de segurança é todo tecnológico, as portas vão começar a fechar — Cara explica enquanto corremos.

— Não é idiotice prender as pessoas aqui com possíveis ladrões ou assassinos? — Zeke pergunta.

— Ser idiota é uma característica proeminente nas pessoas do Centro — ela responde.

Não demora muito para os tais vigias aparecerem, eles têm armas, mas não são parecidos com os guardas que viveram no Centro quando Chicago era experimento. Provavelmente tiveram suas memória alteradas do mesmo jeito que todo o resto, devem ter perdido a capacidade de segurar armas.

Todos nós sabemos lutar, mas não é realmente necessário, só corremos mais, e eles sequer conseguem nos acompanhar. Quando finalmente um tiro é disparado, já entramos em um corredor e os despistamos.

Chegamos às portas sem nenhum imprevisto, mas o problema é que as portas estão se fechando com uma placa de metal que desce do teto, e tem mais vigias guardando a porta.

— Rendam-se! — gritou uma mulher, que parecia de longe a mais valente de todo o grupo de homens que resta.

— Desculpe, mas é caso de vida ou morte — Zeke diz e me olha, sei o que precisamos fazer.

Eu ataco por um lado e ele por outro, as meninas entendem e vão pelo meio assim que todos olham para nós. Cara se abaixa e consegue passar pela placa de metal que cada vez mais baixa. Depois de uns socos, Zeke também passa.

Vejo que Liv me espera e, quando me livro de dois vigias, pego em sua mão e temos que passar quase deitados pela porta. Percebo que Liv não passou, continuo segurando sua mão, mas ela parece estar sendo puxada para o outro lado.

— Podem me deixar aqui — ela grita. — Salvem-na!

— De jeito nenhum — digo, e Zeke e Cara já estão me ajudando.

— Se não me soltarem, vou ser esmagada! Por favor! — ela diz, mas não estou disposto a largá-la.

Quando sentimos que ela foi solta do outro lado, vejo que ela não estava falando conosco.

Pego em sua mão e aperto forte, aliviado.

— Vamos logo — Cara diz, e voltamos a correr até o carro.

***

Já no carro, comentamos o que pode acarretar o que acabamos de fazer. Eu sou o prefeito, Liv é minha vice, Cara é uma funcionária do Centro, e Zeke é da força policial. Se investigarem o roubo mais à fundo, e se David der queixa e contar o que viu, estamos com um problema muito grande.

Vejo que a lista de pessoas já chegou, cada um com seus respectivos endereços.

Shauna, que está no escritório, digita os endereços que passamos por telefone, o que não demora muito porque a única coisa que muda é o número do apartamento. E, quando chegamos, colamos na parte de trás de envelopes que distribuímos o dinheiro.

Quando terminamos, deposito todo o dinheiro e volto ao escritório novamente, arfando nervosamente.

Todos estão inquietos, andando de um lado para o outro, quando meu celular toca:

— Incrível — o homem que está com Christina diz. — Se eu soubesse que faria qualquer coisa mesmo, teria pedido o cargo de prefeito.

— É — respondo —, me admiro que não tenha.

— Não é tarde demais...

— Vamos lá, onde eu recupero Christina?

— Na prefeitura — ele responde.

— Eu já estou na prefeitura.

— Não esse novo prédio improvisado, a verdadeira prefeitura. Aquela que reduzimos às cinzas.

***

É estranho entrar aqui, de armas nas mãos, comecei a trabalhar aqui por estar farto delas.

O cheiro de queimado ainda prevalece, como se ainda estivesse queimando.

— Christina? — grito, do primeiro andar, mas não obtenho resposta.

— Ela deve estar na sua antiga sala, nos andares superiores — Cara supõe.

Subimos as escadas, cada vez mais vendo as coisas destruídas, e juro que consigo distinguir cadáveres queimados pelo chão, mas talvez seja só coisa da minha cabeça.

Na escada para o último andar do prédio, podemos ouvir os gritos:

— Eu estou aqui! Tobias! Tobias! Eu estou aqui!

Corremos escada acima e achamos Christina amarrada no chão, com um saco cobrindo a cabeça.

— Ah, Christina! — digo, tirando o saco da sua cabeça e a abraçando.

— Seu idiota — ela diz, assim que se liberta do abraço. — De onde tirou o dinheiro que ele pediu?

— Não vem ao caso — respondo, sorrindo —, você está bem e eu não vejo uma bala na sua cabeça, valeu a pena.

— Muito obrigada por ser um idiota — ela diz.

Olho para trás enquanto todos estão olhando para Christina e perguntando se ela sabe onde estava e coisas do tipo. Vejo uma sombra se mexer nas escadas e, quem quer que seja, está nos observando pelo reflexo do vidro de uma janela quebrada.

— Fiquem aqui, volto em um segundo — digo, antes de seguir uma trilha deixada por cabelos loiros.

Quando chego ao fim da escada não acho ninguém, desço mais andares e acabo voltando ao primeiro. Quando saio da escada, sinto uma dor lancinante na cabeça.

Caio no chão, abro os olhos e não posso acreditar no que estou vendo. Na minha frente, de pé, com uma calça larga e camiseta preta está Tris. De cabelos compridos, do mesmo jeito que me lembro de quando eu era seu instrutor. Ela parece mais nova, porém mais voraz, e, acima de tudo, viva.

E está apontando uma arma para mim.

— Pena que não deixaram que eu te mate, mas não acho que seus amigos possam escutar alguns socos.

Ela me chuta muito forte e várias vezes. E depois espera que eu me levante. Estou chocado demais para me mexer ou falar. Ela se parece com Tris, tem seus cabelos, seu corpo e os mesmos olhos, mas não fala como minha Tris.

Ela parte para cima de mim com ferocidade, e começa a me atacar, usando exatamente tudo que ensinei a ela há anos atrás no treinamento da Audácia. Ela está usando minha força contra mim, e, mesmo sabendo qual vai ser o próximo golpe, sou incapaz de revidar.

Tris nunca teve uma irmã gêmea, então não pode ser outra pessoa.

— Você está viva! — exclamo entre um soco e outro, mas ela não parece me ouvir. Eu sou um alvo que ela quer eliminar, ela me olha com raiva, e não com a expressão boba e chocada que devo estar olhando para ela.

Quando ela finalmente me derruba no chão novamente, ela vai para cima de mim como já fez tantas vezes, só que não para me atacar.

— Tris! Você voltou! Eu senti tanto sua falta. O que está fazendo? Sou eu, Tobias, eu te amo tanto.

Ela ergue a arma e diz com irritação:

— Não me chame de Tris! — E é a última coisa que ouço antes de apagar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram, não gostaram? Comentem aí o que acharam do capítulo e o que esperam do próximo.
Xoxo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ressurgente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.