Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 24
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Lewis jazia caído no chão, com o corpo todo ensangüentado. Ele acabara de levar um tiro, quando eu estava de bruços no chão. Quando virei o rosto, eu nem conseguia acreditar no que via. Fui em sua direção para tentar acalmá-lo. Otto gritou o seu nome, correndo em sua direção, empurrando Anne e Hermann para que dessem passagem.

Lewis, que outrora foi um rapaz inteligente e medroso, agora estava pálido, com os olhos castanho-claro cravados no companheiro. O sangue que escorria do peito, umedecia o casaco pardo e escorria até o chão. Ele estava ofegante, mas a respiração estava inaudível. Anne tocou em meu braço.

– Lewis levou um tiro para salvar a sua vida. - falou, com a voz quase trêmula de medo. Virou o rosto para ver de onde veio a bala e depois, revirou para mim. - Arnold mirou em você. Ele é do bando da Frieda.

Agora entendi o porquê de Lewis ter me empurrado, para salvar a minha vida.

– Ele. Levou. O tiro. No meu. Lugar. - balbuciei, com a voz quase embargada. Depois virei de volta ao corpo de Lewis e Otto tentado reanimá-lo.

– Cara, por favor. - Otto implorava. - Não morra, não consigo me virar sem você.

Lewis dispôs do que restava da sua força para segurar a mão do companheiro. Hermann procurava estancar o ferimento, mas nada adiantou. Vi Lewis fechar os olhos devagar e expirar. Otto gemia. Anne, Hermann e eu tentamos acalmá-lo.

– Calma, tenha calma. - Hermann tentou consolá-lo. - Ele passou dessa para a melhor.

– Não fale isso! - Otto brigou, tentando se desvencilhar dos nossos braços. - Volte, Lewis! Por favor!

– Calma... - tentei abraçá-lo, para não ver aquela cena triste.

Lewis morria. A meu ver, ele perdeu mais da metade do sangue, pois como a bala disparada derramou um bocado de sangue, deve ter atingido a artéria aorta. Vi a nave do céu e chegando em nossa direção, emitindo aquele barulho ensurdecedor das turbinas. Corremos para a floresta adentro.

A nave aterrissava no mesmo local onde estava o corpo de Lewis. Uma luz azul-celeste foi emitida da porta dupla inferior aberta em sua direção, levitando-o para dentro da nave. A porta dupla fechou e, em seguida, decolou, tomando o seu rumo.

– Eles coletam os participantes mortos. - sibilei. Anne assentiu.

Ouvi a voz de Hermann falar.

– É, parece que Anne tem razão. - falou.

– Tenho? - Anne ergueu uma sobrancelha.

– É, - concordou. - porque encontrei uma caverna.

Você é mesmo um gênio, pensei. Corremos em direção àquela caverna, onde na entrada, havia uma fenda entre um pedregulho e uma ampla rede de galhos. O seu interior estava totalmente escuro, mas, provavelmente espaçoso. Empurramos com tanta força, que uma nuvem de poeira levantou-se sobre nós, nos fazendo tossir.

– Não tem praticamente nada! - certifiquei. - Como é que vamos descer sem algo que ilumine?

– Descendo com algo que ilumine. - Anne veio com uma tocha de madeira acesa.

– Como é que você conseguiu isso? - Hermann perguntou, incrédulo.

– Eu esfreguei. - ela respondeu, astuta.

Pude ver a cara de Hermann toda corada de vergonha e, ao mesmo tempo, ciumenta. Anne foi na frente para certificar.

– Tomem muito cuidado ao descerem. - sugeriu Anne. - A entrada é muito íngreme.

Eu teria escorregado e parado lá na frente, bem antes dela, se não fosse pelo ombro amigo de Hermann. Otto fez questão de ir sozinho, por estar muito desolado com a morte do companheiro. Imagina se eu morresse, seria Lewis a consolá-lo.

Lá embaixo, o terreno da caverna é plano e espaçoso, conforme eu pensei.

– É, parece que a caverna é o suficiente para a proteção contra o frio e a chuva. - garantiu Anne.

Saí para cortar lenha, enquanto Hermann e Anne preparavam a a comida, a sobra de ontem. Otto nada fez, pois preferia ficar sozinho, observando o céu. Hoje não chovia, mas fazia um friozinho. Quando cheguei, joguei o amontoado de lenha para que Anne possa passar fogo da tocha para fazer fogueira. Agora a caverna estava aconchegante.

Tivemos que fechar a entrada da caverna, para mantermos escondidos e seguros, deixando aberta apenas a fenda com uma rede de capilares de raízes.

***

Tirei o meu casaco e o pus para secar perto do fogo. Hermann fez o mesmo que eu, mas freqüentemente olhava preocupado com Otto, que olhava para o céu noturno, por meio da fenda, esperando a listagem dos mortos. Anne virava os rosbifes no espeto, alternando a assadura das carnes.

Fui ter com o Otto. Eu entendo que ele esteja devastado com a morte de Lewis. Eu também sinto. Até pensei que ele fosse me culpar por causa disso.

– Você não teve culpa por causa disso, Heinrich. - ele falou. - Lewis superou o medo. Ele fez bem em ter lhe salvado da morte.

– Eu lamento muito, Otto. - suspirei fundo. - Eu entendo a sua desolação. Vocês sempre foram tão amigos... - fui interrompido por ele.

– Quase irmãos. Conheci Lewis desde o jardim de infância... Eu até lembro da primeira vez em que o conheci. Ele tinha oito anos, quando tinha medo de descer do escorregador da escola. Daí, fui ajudá-lo e nós acabamos de descer juntos e caímos de cara na lama! - finalizou rindo. Mas depois voltou a entristecer. - Mas nunca esperava de que isso fosse acontecer.

– Nem eu imaginei. - murmurei, pondo a mão sobre o seu braço.

– Ninguém imaginou, Heinrich. - depois praguejou. - Maldito seja! - depois virou para mim. - Heinrich, pode me emprestar o seu bloco de notas para eu anotar a listagem dos mortos desta noite, por favor?

Balancei a cabeça em concordância, e em seguida, fui pegar o bloco, todo encharcado, mas dava para escrever, assim como o lápis. Os entreguei a ele e fui comer, já que Anne estava distribuindo os espetos de rosbife para Hermann e o outro guardou para mim.

***

Naquele trágico final da tarde em que Lewis morreu, estávamos encontrando uma caverna. Antes disso, Lewis estava vivo, quando uma bala ia disparar nele, o empurrei e fui atingido com uma dor aguda. Minha visão ficou turva e escurecida. Me vi caindo no chão, inerte e com o olhar cravado em Anne, que vinha correndo para me socorrer. Eu estava ofegante, não fazia ideia que quantos litros de sangue eu estava perdendo. Lewis e os outros tentaram me reanimar, mas eu estava bem longe de mim, vendo tudo em visão de caleidoscópio. Fechei lentamente os olhos e mergulhei em mim, nas profundezas do sonho, da morte.

Abri os olhos rapidamente. Eu morri?, pensei, apalpando a mão sobre o peito e a barriga. Eu estava ofegante. Era mais um sonho!

Olhei em volta. Estava dentro de uma caverna, com a Anne e Hermann dormindo. Depois, os meus olhos procuravam Otto, que já não mais estava sentado observando a fenda. Senti o estômago se revirando, quando encontrei o meu bloco de notas e o meu lápis jogados na pedra em que Otto estava sentado ontem. Na folha, estava escrito:

Mortos no terceiro dia:

– Stella, 16 anos, Hamburgo.

– Desmond, 17 anos, Munique.

– Lewis, 17 anos, Frankfurt. (o meu grande irmão do coração)

O meu batimento cardíaco acelerou. Desmond, morto? Eu sabia que ele foi atingido. Eu sabia que isso iria acontecer. Agora os meus colegas da escola vão me culpar por não ter salvado ele a tempo. Então Otto fugiu?!

Rapidamente acordo Hermann e Anne. Eles pareciam muito exaustos por causa de ontem e tristes pelo que aconteceu a Lewis.

– Que foi, Heinrich? - Hermann perguntou, com a voz arrastada de sono.

– Hermann, o Otto, - falo, sério. - ele desapareceu. Fugiu.

Anne levou a mão à boca. Os olhos de Hermann se esbugalharam.

– Ah, meu Deus!


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