Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 20
19




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Quando a noite caiu, nós quatro fizemos questão de aproveitar a fogueira, assando suprimentos que vinham na nossa mochila. Abri a minha e encontrei algumas barras de chocolates, um pacote de mashmallows, rosbifes em tiras e um cantil de água. Cada um tinha a mesma coisa na mochila, além de algumas armas, é claro, tais como facas, adagas e duas caixas de balas para munição. Eu tenho o fuzil, Otto tem a metralhadora, Hermann tem duas pistolas de calibre 43 e Lewis tem um fuzil maior que o meu. Tirei uma tira de rosbife, furei em um espeto e pus ao fogo, assim como os outros fizeram.

Todos nós rimos, divertindo-nos ao relento. Alguns de nós contavam historias, outros, piadas.

– ... E a minha prima acabou tropeçando com a tigela de macarrão e ficou com a cara toda melecada de molho! - contou Otto, rindo.

– E imagina se ela respirar! - Hermann completou.

– Aí, o macarrão entra pelo nariz! - Otto e os outros explodiram de tanto rir. Eu aproveitei a ocasião. Ele se virou para mim. - E você, Heinrich, tem uma história ou piada para contar?

Demorei a pensar.

– Não tem problema - Lewis disse. - Nós daremos tempo para pensar.

– Eu tenho uma. - lembrei. - Prestem atenção.

Os três ficaram com ouvidos bem atentos para a história que eu vou contar.

– Bem, - comecei. - em um show de mágica em um bar, um casal procurava atabalhoadamente um lugar para se sentar, até encontrarem uma mesa vazia.

Pouco antes do show começar, o garçom veio à mesa deles para anotar o pedido. Depois de deixar a mesa, o show começou.

– Senhoras e senhores! - disse o mágico. - Atenção que o maior mágico do mundo está aqui! Com vocês, o primeiro número, o número do Coelho da Cartola!

O público aplaude, enquanto a ajudante de palco traz a mesinha redonda, enquanto o mágico tira a cartola e a põe sobre a mesa.

– Coelho, saia da cartola! - disse o mágico, enquanto sacudia a vareta. E é claro, o coelhinho Himalaia aparece.

A multidão aplaude e ovacionam Bravo! Bravo!. Os aplausos cessam instantaneamente. Enquanto o mágico quis escolher um voluntário para servir como cobaia para os números, ele escolheu o marido da mulher que chegaram há pouco. E os holofotes focaram nele, é claro. Imagina os aplausos então, que deixou a mulher enciumada. Não teve outra!

Ele foi em direção do palco, onde o mágico pediu que ele entrasse para dentro de uma caixa retangular horizontal. A ajudante fechou duas tampas e o mágico disse ao público:

– Observem o segundo número! Ele pegou uma serra, cujas extremidades, cada uma continha um cabo, uma para ele e o outro para a ajudante. Enquanto eles serravam o homem, a esposa tapava os olhos, assustada com aquilo.

– Ah, meu Deus! - gemia. - O meu marido sendo serrado por aqueles torturadores!

Terminado de serrar, o mágico mostrou ao público, que ficava surpreso. O homem, ao olhar para aquilo, estranhou e, ao mesmo tempo, se assustou: foi dividido pela metade!

– Ah, meu Deus! - gritou ele. - Eu fui cortado, dividido! E sem sangue e sem dor?!

– Seu assassino! - a esposa gritou para o mágico. - Você e essa sirigaita cortaram o meu marido pela metade!

– Minha senhora, - o mágico tentou explicar. - é apenas um número!

– Um número?! - exclamou o homem. - Isso aqui tá mais para uma cirurgia de amputação sem sangue, sem nada! Me cole de volta! Me faça voltar ao normal!

– Eu vou chamar a polícia! - gritou a mulher.

– Está bem, está bem, claro! - o mágico, sobressaltado, adiantou-se para aderir as duas metades da caixa uma à outra e o homem saiu ileso, correndo do palco, daí para a saída, levando a esposa junto.

– Eu não venho mais aqui! - gritou ele e a mulher também.

E o pobre do garçom trouxe o pedido, quando o casal ia embora.

– Senhor, o seu pedido! - falou ele.

– Guarde para outra pessoa! - gritou o homem.

Quando terminei a história, os três me olharam fixos, atentos para cada detalhe.

– ...e fim. - terminei. Não demorou muito e eles explodiram em gargalhadas. Quase pulo de susto.

– Caramba! O homem nem sabia que o mágico era um simples ator? - Otto perguntou, entre gargalhadas.

– E dá para acreditar? - falei, também rindo. - Ele nem sequer havia sentido dor. E ainda por cima nem sabia que era um charlatão!

– Cara, - verbalizou Lewis. - por causa de tanto rir com a sua história, acabei debulhando em lágrimas!

– Pior que tá mesmo! - apontou Hermann.

Nós rimos até cansar. No momento em que todos nós dormimos (exceto Lewis, que ficava de vigia esta noite), eu aproveitei para pensar em Anne. Como ela está se virando está noite? O que será que está acontecendo com ela? Temo que ela esteja morta, quando um clarão aparece no céu estrelado. É uma lista de participantes mortos hoje. 6 mortos. 2 rapazes e 4 moças. Depois desaparece, a não ser a luz do luar. Tamborilo os dedos na gola da camiseta e tateio o pingente da Cruz do Sol. Dessa vez não está me enforcando. Ah, Anne. Onde você está?

***

No dia seguinte, retomamos o rumo, não sem antes de desfazer a fogueira. Hermann e Lewis cantarolam uma canção, enquanto Otto e eu seguimos atrás. Ele me perguntava sobre a contabilidade de mortes de ontem.

– Seis mortos. - respondi. - Dois meninos e quatro meninas. Anotei tudo no bloco.

Esqueci de mencionar os blocos de nota em cada mochila dos participantes. Eles tiveram que anotar qualquer coisa, se quisessem. Eu usaria para a listagem dos mortos. Ainda bem que não foi a Anne, pensei.

– Bem pouco. - respondeu Otto, pensativo. - Não tinha tanto sangue derramado ontem.

– É, agora só restam catorze de nós, vivos. - assegurei.

– E o casal de Berlim, então? - opina. - Continuam vivinhos da Silva.

– A menos que a gente arme uma arapuca para eles.

– Tá louco? Eles são espertos demais, não vão cair nessa tão cedo!

– Mas um ponto fraco, eles devem ter. - opinei, pensativo.

– É muito difícil... - Otto foi interrompido quando uma voz feminina se aproximava, seguida de outras. Até Hermann e Lewis pararam para ouvir.

– É o bando de Lorne! - observou Lewis.

– O que vamos fazer? - perguntou Hermann.

– Vamos nos esconder. - sugeriu Otto. - Mas aonde?

Procurei um local bem adequado para montarmos um esconderijo, mas nada adiantava.

– Talvez eu tenha uma ideia aqui... - Hermann pensou, acariciando o queixo com os dedos.

Uma escalada! Uma escalada na árvore. Pegamos o pinheiro maior e ficamos bem no alto. Até que escalar um pinheiro não é tão cansativo como escalar uma sequóia gigante, como a da Simulação. Apesar de não ter sido cansativo, minhas mãos formigavam e ficavam vermelhas de tanto esforço e contato com o atrito dos galhos e do tronco. Lewis tinha razão! Era o bando de Lorne e Frieda se aproximando e a voz era da Stella, a garota da mecha cor-de-rosa!

– Que azar! - lastima Frieda. - Ele nem apareceu na lista dos mortos, ontem à noite!

– Azar, não! - corrige Vampiro. - Sorte!

– Por que sorte, Ludwig? - pergunta a garota dos olhos heterocromados.

– Porque eu vou mordê-lo! - respondeu, debochando de mim.

– Canibal! - resmunguei, sem que eles ouvissem.

– Eu devia era esfolá-lo antes disso! - sugeriu Otto. - O que acham?

– Talvez seja uma boa ideia, ou não. - Lewis responde, com receio de que as coisas vão piorar a qualquer momento.

– Mas devem ter uma supresa nada agradável. - conclui Hermann.

Fiquei espiando o bando por um determinado tempo. Três rapazes, três garotas e... Anne?! Ah, não! Só pode ser brincadeira! O que ela estava fazendo ali, para o começo de conversa? Ela vinha trazendo um arco e uma aljava cheia de flechas nas suas costas. Se ela for aliada deles, levei uma flechada no coração. Flechada de... Traição! Nem percebi que havia quebrado um galho, que despertou a atenção do grupo, que passaram a olhar para cima, para nós.

Estamos perdidos, com certeza! Principalmente eu!

– Lorne, - Frieda chamou. - olha só quem está ali! A sua presa!

O meu rosto esquentou. O batimento cardíaco acelerou o ritmo, à medida em que ficava apreensivo, mas não estava com medo. Pelo contrário, estava determinado a encarar a morte, pois o que a Anne fez, não terá perdão. A garota por quem eu estava apaixonado...

– Aquele ali? - apontou Vampiro. - Mas ele é tão magrinho...

– Oh, tadinho... - ironizou Stella.

Mas Otto decidiu abrir o jogo.

– Tadinho é o seu cachorro! - berrei.

– Mas eu nem tenho cachorro - rebateu Stella. - sou alérgica a pelos.

– Por outro lado, a bochechinha deve ser das melhores! - sugeriu a garota dos olhos heterocromáticos.

– Desculpe perguntar, - comecei. - mas você já se olhou no espelho?

Otto, Lewis e Hermann não demoraram a rir, o que ridicularizou a garota.

– Já, e dai?

– Por que não usa uma lente para corrigir a cor? - debochei, o que aumentou ainda mais a intensidade da risada.

– Espere, Hannah, - falou Lorne, adiantando para disparar uma bala em mim. - deixe que eu cuide dele. - e em seguida, virou o olhar para mim. - Ainda não deixarei barato o lance de anteontem à noite, quando me ridicularizou.

– Qual é, foi um simples arranhão. - falei, para não deixar o papo morrer. - Qual é o problema?

– O problema é que você destorceu a nossa reputação! - briga Frieda. - Lorne, com sua licença.

– Com o maior prazer! - e apontou a arma para mim, quando Anne o impediu.

– Para! - falou, abaixando o cano. - Fazer isso não vai resolver em nada. Que tal deixar ele para lá e esperar que morra? - sugeriu, mas piscou o olho esquerdo, discretamente.

– É, você tem toda razão, Anne. - e em seguida, falou. - Vamos recuar, pessoal!

– Ah, logo agora que eu estava pronto! - lamentou Vampiro.

– Não exagera, Ludwig! - ralhou mais uma vez Stella.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, não se afligem! Anne estava apenas salvando a vida de Heinrich. Ela apenas aliou por encenação, para protegê-lo. Quanto ao amor, vocês descobrirão mais tarde.

Bjos!!



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