Já era madrugada e Bia não conseguia dormir de forma alguma, os pensamentos pairavam em sua cabeça e a impregnavam cada vez que ela tentava esquecê-los. Não queria continuar pensando em todas aquelas coisas, principalmente na hora em que viu Janjão naquele estado, não foi uma coisa agradável de se ver, por mais que estivesse o odiando. Outra coisa que não conseguia sair de sua mente, eram as revelações feitas por madame Esmeralda, as quais lhe traziam um certo medo. Medo de que aquilo tudo interferisse na sua relação com Binho, mesmo estando certa do que sentia por ele.

O relógio marcava exatamente às 3:45 da manhã, quando Bia resolveu levantar-se, pois ficar parada naquela cama, era um poço para pensamentos ruins. Esta desceu e foi à cozinha procurar algo pra comer (pensar demais trazia uma certa fome), logo atacou a geladeira e retirou um pote gigante de sorvete de morango, em seguida pegou uma colher, e passou a atacar o pote desesperadamente com colheradas generosas.

– Nossa eu sabia que você gostava de sorvete de morango, mas nunca pensei que tanto! – Exclamou alguém aparecendo de repente. Nesta hora Bia se virou derrubando o pote no chão.

– Caralho que susto! – Exclamou ao perceber que era Binho.

– Desculpa! Não era a minha intenção te assustar. – Disse Binho rindo.

– Olha só, ainda bem que o pote caiu virado pra cima, ainda dá pra comer! – Exclamou pegando o pote. Binho apenas a observou com uma cara estranha. – Porque você tá me olhando assim? – Perguntou Bia, sorrindo.

– É que tem sorvete no seu cabelo... – Disse Binho sorrindo. – E também porque você é linda e isso me deixa meio abobalhado. – Completou, fazendo Bia ficar vermelha.

– Sabe, eu acho que não quero mais sorvete. – Disse Bia.

– Não? – Perguntou Binho.

– Não... – Repetiu Bia.

– Então o que você quer? – Perguntou o garoto.

– Te beijar... – Disse Bia, logo esta se aproximou de Binho, encostando seus lábios nos dele, dando início a um beijo com gosto de sorvete de morango. De repente estes já estavam aos amassos no meio da cozinha. – Agente devia ir pra um lugar mais... Menos... É... – Estes resolveram ir para a sala da diretoria, que estava aberta, logo fecharam a porta e passaram a se beijar novamente.

– Por que você quis vir pra cá? – Perguntou Binho.

– Não sei, só pra não correr o risco de alguém nos ver... – Disse Bia. Esta passou a beijar e abraçar Binho mais intensamente, e este a correspondia, até que de repente os dois caíram deitados no chão. – Binho! Eu te amo... – Disse Bia olhando nos olhos do garoto.

– Eu também te amo! – Disse Binho, que estava deitado por cima desta. Logo Bia o beijou novamente, e enquanto o beijava resolveu arriscar algo novo, então esta resolveu subir a camisa do garoto até tirá-la completamente. A princípio Binho agiu normalmente, porém quando Bia resolveu tirar sua própria blusa, revelando um sutiã preto de renda, o garoto gelou e estremeceu. Logo este encarou-a por alguns segundos. – Bia... Você não tá pensando em... – Perguntou nervoso.

– Em quê? – Perguntou Bia.

– Você sabe... – Disse Binho. De repente Bia passou a rir, fazendo Binho ficar confuso.

– Você tá pensando que eu quero fazer sexo? – Perguntou Bia, rindo.

– Foi o que pareceu. – Disse Binho ainda nervoso.

– Acho que agente não tem idade pra isso ainda né? – Perguntou Bia, sorrindo.

– Eu acho a mesma coisa... – Disse Binho.

– Mas, não eu não tava pensando nisso, só queria ter um contato mais intenso com você... – Explicou Bia. – Mas se você quiser agente pode parar. – Completou.

– Não, é que me deu um pouco de medo, só isso. – Disse Binho, envergonhado.

– Não precisa ter medo... Basta se deixar levar... – Falou Bia, acariciando seu rosto. Esta o encarou intensamente por alguns segundos, e sorriu, Binho retribuiu o sorriso e a beijou.

Logo este passou a beijá-la no pescoço, enquanto a mesma acariciava seus cabelos, então o garoto passou a acariciá-la pelo corpo, e esta fazia o mesmo, até que Binho foi descendo até sua barriga, e passou a beijá-la, Bia sentiu cócegas e riu, então Binho voltou e a beijou novamente. Passaram-se alguns minutos e os dois estavam apenas de roupas íntimas. Bia sentou-se e Binho sentou por cima desta, dessa vez Bia o agarrou com toda a força e passou a beijá-lo novamente. Logo os dois cansaram da brincadeira e deitaram-se no chão abraçados.

– Eu nunca pensei que um dia agente estaria numa situação assim... – Disse Binho.

– Eu já tinha pensado... – Falou Bia, rindo e fazendo Binho sorrir também.

– Desde quando? – Perguntou o garoto.

– Você lembra naquela vez que agente foi dormir fora, na casa daqueles comediantes malucos? – Perguntou Bia.

– Lembro! – Disse Binho. – Quando você descobriu que eu chupava dedo... – Lembrou. – Pera aí... Você já gostava de mim naquela época? – Perguntou Binho arregalando os olhos.

– Sim, um pouco... E só pra você ter uma ideia, quando você dormiu eu fiquei te observando, por quase a madrugada inteira, e me deu uma vontade enorme de te atacar... – Revelou Bia.

– Isso é mesmo sério?! – Perguntou Binho.

– É, mas eu não fiz isso porque tive medo de ser rejeitada... – Disse Bia.

– Não teria sido... Eu sempre achei você a menina mais bonita do orfanato, mesmo sendo chata! – Respondeu Binho, Então Bia deu um tapa em seu ombro e sorriu. – Mas agora você não é mais a mais bonita do orfanato. – Completou.

– Não?! – Exclamou Bia.

– Pra mim você é a mais linda do universo inteiro... – Completou Binho.

– Meu Deus! Você vai acabar me fazendo ter um enfarte de fofura! – Exclamou Bia, abraçando o garoto.

Logo os dois cansaram de conversar e adormeceram abraçados um no outro, acordando apenas no dia seguinte quando...

– Meu Deus o que é que significa isso?! – Gritou Carol entrando horrorizada na sala, acordando os dois bruscamente.

– Carol! – Gritaram os dois assustados, estes estavam ainda apenas de roupa íntima.

– Eu acho que vou enfartar! – Exclamou Carol com a mão na cabeça.

– Carol, o que... – Mili entrou na sala de uma vez, e ao ver a cena deu um grito horripilante. Bia e Binho ficaram sem reação, apenas pegaram seus pijamas e se vestiram rapidamente.

– Carol, não é nada disso que você pensou! – Exclamou Binho.

– É, agente pode explicar! – Completou Bia.

– O que tá acontecendo, porque a Carol gritou? – Perguntaram Pata e Thiago aparecendo na porta.

– Gente, melhor agente sair daquí... – Disse Mili. Logo esta saiu com os dois, que ficaram sem entender. Bia e Binho continuavam calados.

– Então crianças, vocês vão me explicar ou não? – Perguntou Carol aflita.

– É... Agente só tava... – Falou Bia tentando se explicar.

– Agente não tava fazendo "aquela coisa" que... – Disse Binho se enrolando.

– Nem de longe! Não aconteceu nada que pudesse ter acontecido! – Completou Bia nervosa.

– Meu Deus gente, meu Deus, só tão piorando a situação... – Disse Carol ainda chocada.

Na cozinha...

– Sério eu não entendi nada! – Dizia Thiago.

– O que aconteceu Mili? Você que chegou lá e gritou. – Perguntou Pata.

– É e porque a Bia e o Binho estavam lá nervosos daquele jeito? – Perguntou Thiago.

– Gente, é melhor deixar que eles mesmo falem, porque nem eu tenho coragem pra falar isso... – Disse Mili.

– Fala logo Mili! – Exclamou Vivi.

– Pera aí gente, ele tava na sala da Carol com a Bia? – Perguntou Rafa. – Eu não vi quando ele acordou, nem quando desceu...

– Quando agente acordou a Bia também não tava no quarto! – Exclamou Cris.

– Pois é gente.... – Disse Mili.

– Vocês tão achando então que eles... Dormiram juntos?! – Exclamou Vivi, num tom de voz alta.

– Quando eu cheguei lá eles tavam... Eles tavam...

– Eles tavam, o que? – Perguntou Thiago.

– A Bia tava de calcinha e sutiã o Binho de cueca... Pronto falei! – Disse Mili rapidamente.

– O quê?! – Perguntaram todos espantados. (Nessa hora os menores não estavam na cozinha)

Na sala da diretoria...

Bia explicou tudo o que havia acontecido...

– Foi isso Carol, e não passou apenas disso, agente não é louco. – Concluiu.

– Crianças pelo amor de Deus, no que vocês tavam pensando, vocês não tem idade pra ficar namorando desse jeito, mesmo que não tenha passado de beijos e abraços.

– Desculpa Carol... – Disse Binho, este estava com lágrimas no rosto.

– Não castiga agente por favor... – Pediu Bia.

– Não crianças eu não vou castigar vocês...

– Para de chamar agente de criança, agente não é mais criança. – Pediu Bia.

– Sim Bia você tem razão, não são mais crianças, porém ainda estão entrando na fase da adolescência, e é nessas horas que as emoções ficam mais fortes, e muitos fazem as coisas sem pensar. Eu sinceramente espero que vocês estejam me falando a verdade, e espero que isso não se repita, é apenas isso que eu peço. – Disse Carol. – Estamos entendidos?

– Sim... – Concordaram os dois. Então estes saíram e subiram cada qual para seu quarto.

No quarto das meninas...

Bia estava sentada em sua cama pensativa, quando as garotas mais velhas entraram.

– Bia do céu! – Exclamou Cris exagerada. – O que você fez?

– Bia não dá pra acreditar, isso não pode ser verdade! – Exclamou Vivi.

– Valeu Mili por ter contado... – Disse Bia.

– Desculpa... – Pediu Mili.

– Bia onde você tava com a cabeça?! – Perguntou Pata.

– Calma gente! – Exclamou Bia. – Vão me deixar falar ou não?

– Fala logo pelo amor de Deus! – Pediu Cris.

– Eu não transei, se é o que vocês pensam! – Exclamou Bia.

– Ufa! – Exclamaram as garotas aliviadas.

– Mas mesmo assim onde vocês dois estavam com a cabeça?! – Perguntou Vivi. – Nem eu avancei desse jeito com ninguém, pelo menos não tanto... – Completou.

– Quer saber... Eu não devo explicações sobre minha vida pessoal a nenhuma de vocês. – Disse Bia saindo do quarto. Esta foi em direção ao banheiro, chegando lá, se preparou para tomar banho, passando um bom tempo embaixo do chuveiro, enquanto chorava. "Porque tudo que acontece comigo precisa ser descoberto assim, por quê?", pensou.

No pátio...

Pata estava sentada ouvindo música quando Mosca sentou-se ao seu lado.

– Pata, agente precisa conversar... – Disse. Porém Pata o ignorou, e continuou ouvindo músca. – Pata! – Gritou, puxando o fone dos ouvidos da irmã.

– Ai! Qual é? – Perguntou Estressada.

– Você vai continuar me evitando? – Peguntou Mosca.

– Não é da sua conta! – Exclamou Pata.

– Olha Pata eu sei que você tá brava, por causa que eu agi daquele jeito com o Duda, mas...

– Pois é, você foi muito infantil Mosca! – Interrompeu Pata.

– Mas eu só tava preocupado! – Disse Mosca.

– Não você fez isso de metido! Agora eu não concordo que você fique com a vadia da Janu, e nem por isso fico dando piti! – Exclamou Pata, alterada.

– Dando piti? – Mosca riu. Pata continuou encarando seriamente. – Até que Mosca passou a dar gargalhadas. – Fala sério Pata! O Duda é maior galinha, cai na dele não, vai acabar se decepcionando. – Concluiu Mosca, dando um tapinha no ombro da irmã, este levantou-se e se retirou em seguida.

– Era só o que faltava. – Disse Pata pensando alto. Esta sabia o risco que estava correndo, pois Mosca estava certo, Duda ultimamente estava demonstrando ser um completo galinha, mas mesmo sabendo disso, não conseguia ignorar o fato de querer estar com ele, cada dia mais.

No quarto dos meninos...

Os garotos conversavam quando Binho entrou, este acabara de sair do banho.

– Gente vocês tem notado que o Binho agora ta tomando mais banhos? – Zombou Thiago.

– Vai se ferrar Thiago! – Exclamou Binho.

– Qual é, tá pensando que tá falando com quem? – Peguntou Thiago irritado.

– Para de provocar Thiago! – Exclamou Rafa sussurrando.

– Qual é, a culpa não é minha se a Carol flagou ele comendo a Bia! – Exclamou Thiago. Nessa hora Binho não se conteve e avançou pra cima do amigo, lhe dando um soco horrivelmente forte no rosto.

– Binho para! – Exclamou Rafa, segurando o garoto.

– Olha aqui seu imbecil de merda, você não fala mas assim da Bia, ta me ouvindo?! – Exclamou Binho.

– Nossa Binho eu tava só brincando... – Disse Thiago, com a mão no rosto.

– Dobra a língua antes de pensar em fazer qualquer tipo de piada pra me provocar, seu otário! – Gritou Binho. – E só pra constar, não aconteceu nada do que você acha entre mim e ela, agente não é louco! – Concluiu. – Agora me solta Rafa! – Gritou, este ainda estava sendo segurado por Rafa. Então este o soltou. Logo Binho saiu furioso do quarto.

As crianças menores brincavam perto da fonte...

– Nossa, vocês ouviram aquela gritaria? – Perguntou Neco.

– Claro, agente nem é surda. – Respondeu Teca.

– Lá vem a Tati, talvez ela tenha escutado. – Disse Maria.

– Tati que gritarias foram aquelas? – Perguntou Ana.

– Eu nem sei, eu tinha ido passear com a Pipoca, só sei que parece que o Binho deu um soco no Thiago, por ele ter falado da Bia.

– Porquê? – Perguntou Neco.

– Não sei, as garotas não quiseram me dizer... – Concluiu Tati.

– Tenso! – Exclamou Teca. – Gente vamo brincar de alguma coisa? – Perguntou.

– Vamo, de quê? – Exclamaram as garotas.

– Bom eu tava pensando em... – Estas passaram a caminhar enquanto conversavam. Deixando Maria e Neco pra trás.

– Você não vai brincar com elas Maria? – Perguntou Neco.

– Não, eu prefiro ficar sozinha... – Respondeu Maria.

– Porque? Você tá triste? – Perguntou Neco.

– É, mas deixa pra lá, esquece. – Disse Maria.

– Pode falar. – Disse Neco.

– É a laurinha, ela não quer mais falar comigo... – Explicou Maria.

– Ah... – Disse Neco disfarçando a estranheza. – Não fica assim, você é uma menina tão legal, ninguém em sã consciência ia querer deixar de falar com você! – Completou.

– Sério? Você acha? – Perguntou Maria sorrindo. Neco assentiu. Então Maria sorriu e deu um beijo em seu rosto, e em seguida saiu correndo.

– Minha nossa senhora! Vou morrer! – Exclamou o garoto paralisado.

Mili escrevia no jardim, quando avistou Mosca saindo pelo portão do orfanato, logo esta levantou-se e foi em direção a entrada, ao chegar notou que Mosca estava com Janu na calçada.

– Iaí que tal agente sair pra tomar um sorvete? – Perguntou Janu.

– Pode ser! – Disse Mosca.

– Ou você prefere ir pra minha casa? – Perguntou Janu.

– P-pra sua casa? – Perguntou Mosca, sem jeito.

– É, sabe hoje eu tô sozinha, agente podia assistir um filme quem sabe... – Explicou Janu com um sorriso malicioso, esta percebeu que Mili observava escondida, então decidiu provocá-la. Abraçando Mosca. – E aí, você topa? – Perguntou sussurrando no ouvido do mesmo. Nessa hora Mili saiu rapidamente dalí, enciumada.

– Melhor não Janu deixa pra outro dia, é que eu tenho umas coisas pra fazer sabe... – Mentiu Mosca. Este na verdade não estava muito confortável com Janu, pois não gostava da garota e verdade.

Um tanto longe dalí...

Não havia nem completado uma semana e Paçoca conseguiu novamente sair do reformatório com a maior facilidade, esta realmente era sua especialidade. O mesmo tentava vender um celular próximo a comunidade, quando alguém o surpreendeu.

– Passa o celular tio! – Gritou a voz de garota cutucando as costas do mesmo.

– Ai! – Gritou Paçoca se virando. – Patricinha! – Exclamou o garoto ao notar que Marian havia voltado. – Tu voltou mermo?! – Perguntou sorrindo. – Que saudade, me dá um abraço aqui vai! – Pediu o garoto abrindo os braços. Mas ao invés de abraçá-lo Marian deu um tapa em sua cara. – Ai sua vadia! – Gritou Paçoca.

– Isso é pra você aprender por ter me dedurado. – Disse Marian.

– É mais enquanto tu escapou, eu tava me fudendo naquele inferno. – Lembrou Paçoca.

– Fazer o que, alguns nascem menos inteligentes que os outros... – Zombou Marian.

– Vai começar... – Resmungou Paçoca. – Mas diz aí, onde era que tu tava? – Perguntou.

– Não interessa onde eu estive, o que interessa é que agora eu voltei. – Respondeu Marian, com um sorriso malígno no rosto.