Just One More Day escrita por Ana Viollet


Capítulo 14
Capítulo XIII - Recaída




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Ás 3h56 da manhã, devido ao seu sono conturbado por pesadelos que mais pareciam intermináveis e uma sensação terrível que estava tomando conta de seu corpo, uma certa rosada levantou-se quase que abruptamente da cama, suando frio.

Apoiou-se no móvel mais próximo, com sua visão um pouco turva, e sem sequer perceber, derrubou o copo de vidro que sempre estava prontamente em seu criado-mudo, para caso sentisse sede durante à noite. Assustou-se com o estridente barulho de vidro estilhaçado após perceber o que havia feito, mas seguiu seu caminho, com mais cuidado, até o banheiro do quarto.

O líquido amargo subia e descia por sua garganta, induzindo-a. Não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas tinha certeza absoluta de que aquilo não era uma reação consequente de seu corpo, como em uma intoxicação alimentar, por exemplo. Estava amedrontada, pois sabia que alguma substância forte provocou aquilo a ela.

Ao sentir que a maldita ânsia atingiu seu ápice, deslocou-se correndo para o vaso sanitário, depositando todo o conteúdo antes incômodo ao seu estômago no vaso. Parou para respirar uma ou duas vezes, tossindo, e logo voltou ao infortúnio de ver grande parte do pouco alimento que ingeriu durante o dia sendo depositado no vaso. Logo, ouviu passos inquietos e rápidos em sua direção, até que foi capaz de distinguir quem estava lá, próximo a ela. Sentiu o alívio correr por todo o seu corpo.

"Meu Deus, Sakura... " A voz de Sasuke denotava uma extrema preocupação em ver aquele ser tão frágil, tão impotente. Aproximou-se rapidamente de sua paciente e segurou as madeixas rosadas que ousavam em cair no rosto de seu anjo, enquanto ela continuava seu infortúnio. Em pouquíssimo tempo, passou a sentir-se vazia, fraca, sem nada em seu estômago, sensação que nunca mais teve a chance de sentir. Não havia mais nada.

Apoiou-se na parede contrária ao vaso, fechando os olhos em seguida com a fraqueza que lhe atingia. Não tinha forças para se levantar, para falar, para mover um membro ao menos. O cansaço não veio apenas da crise que tivera poucos segundos atrás, ela tinha certeza, foi alguma substância. Ela estava inibindo sua movimentação, sua coordenação motora, seu raciocínio...

Sasuke repouso a mão direita na testa da rosada, tentando sentir sua temperatura, mas estava tão aflito que tremia, e também teve de se apoiar, ao seu lado, contra a parede. Passaram-se alguns segundos, quase minutos, até que Sakura recuperou parte de suas forças e tentou falar com ele, se comunicar.

"Por favor, eu... minhas roupas. " Sakura suplicou, cansada. Sua garganta ardia e o gosto que invadiu sua boca não era nada agradável. Ela queria apenas tirar a roupa que estava a sufocando no momento e ir dormir. "Eu não... não consigo. "

"Tudo bem, não se preocupe. " Sasuke se levantou, saindo da posição em que estava e deu um beijo quente na testa de sua paciente. Ela impulsionou contra a parede para tentar se levantar e talvez tocá-lo, puxá-lo, não queria que ele fosse. "Tudo vai ficar bem, ok? Eu não vou sair daqui. "

Sasuke tentava, com todo os seus esforços, manter a calma e transparecer o mesmo para a sua paciente, por mais que por dentro estivesse explodindo. Sua mente estava ativa com todas as possibilidades quanto ao estado de Sakura. Será que o psiquiatra realmente fez algo contra ela? O que teria acontecido para a sua situação ter piorado? Ela estava tão contente, saudável...

Após sair de seus devaneios, o médico agiu. Pegou uma liga elástica que estava em cima da pia do banheiro e voltou para o chão, ao lado de Sakura. Delicadamente, puxou seu cabelo em um coque malfeito, prendendo-o para não molhar posteriormente. Tentou captar o olhar da paciente, que ainda estava distante e obtuso.

"Sakura, meu amor, você consegue me ouvir?" Ela afirmou com a sua cabeça, fazendo que sim. "Pode abrir seus olhos?" Obedientemente, Sakura abriu os olhos tristes, encarando-o. Infelizmente, seus orbes verdes estavam carregados de lembranças tristes e inoportunas que vieram a sua mente sem aviso prévio. Sem entender o porquê, lembrava-se da faculdade, de seus primeiros anos... "Fique comigo, ok? Eu preciso saber do que aconteceu com você. Tente não adormecer, por favor"

"Sim..."

Voltou para o chão, ficando novamente perto de sua paciente. Então, se posicionou na sua frente e fitou-a mais uma vez, quase que pedindo permissão. Ela afirmou e com as forças que possuía, levantou levemente os braços acima da cabeça, possibilitando Sasuke de levantar mais facilmente o tecido sobre sua pele. Não demorou muito para ela estar apenas com sua roupa íntima, um conjunto azul escuro que muito contrastava com sua pele alva.

Não podia negar que estava um pouco constrangida por estar daquela forma na frente de seu médico, mas, no momento, não estava ligando muito. De qualquer forma, Sasuke percebeu e a primeira coisa que fez foi tirar sua camiseta para assim cobri-la. Não queria arriscar deixá-la desconfortável ou muito menos sozinha para buscar uma roupa no outro cômodo. Ela parecia assustada, de uma forma que ele nunca antes presenciou.

"Vista isso, pelo menos por enquanto. Vou te ajudar a levantar agora, tudo bem? Para que você possa lavar seu rosto na pia. " Sasuke explicava pacientemente, como se estivesse falando com uma frágil criança. Ela afirmou e colocou a camiseta do médico, bem acima de seu número, tanto que quase parava no meio de suas cochas, para então se apoiar nos ombros dele.

Conseguiu chegar até a pia e, ainda apoiada, lavou seu rosto e boca. Já no final, a fraqueza lhe atingiu mais uma vez e se não fosse por Sasuke, teria caído. "Vamos, você precisa se deitar um pouco. "

Os fortes braços de Sasuke a envolveram, levantando-a sem esforço. Passou a segurá-la com os dois braços confortavelmente e então, foi em direção ao outro cômodo, o quarto de sua paciente. Parou ao lado da cama e deitou-a cuidadosamente no colchão coberto pela manta floral. Ela abriu os olhos ao sentir o confortável tecido em sua pele, mas estava com medo. Não queria que ele fosse, não se sentia segura e não entendia o porquê de tanto medo ou de tantas lembranças estarem retornando. Efeito da suposta droga, talvez? Não tinha certeza nem que se tratava uma droga, estava delirando?

Ela passou a se encolher devido ao frio familiar que sempre estivera ao seu lado. 'Essa sensação de novo, não. ' Pensou. Como sempre, o seu médico percebeu e logo tratou de ajudá-la com a manta, cobrindo-a em seguida.

"Eu vou arrumar essa bagunça e buscar uma nova água para você... Sua garganta deve estar muito seca e-" Antes que pudesse dar um passo, Sakura reuniu suas forças mais uma vez e conseguiu segurá-lo pela barra da calça de moletom.

"Não vá, por favor, não... "

"Sakura, você pode ficar desidratada, eu tenho que..."

"Fique, por favor, estou com medo! " Gritou. Sasuke percebeu o desespero presente em sua voz e se assustou, parando em seguida. A rosada suspirou brevemente e continuou, ainda fraca "Eu.... Eu conheço m-meu corpo. Alguma substância fez isso a mim. "

"Eu quero saber quem fez isso a você. Foi o Sai? Sakura, por favor, me diga se ele fez alguma coisa, se ele te prescreveu algo..."

"N-Não, ele não fez nada. " A paciente fechou os olhos lentamente, relembrando de tudo que havia feito durante a manhã. A consulta com Sai não durou muito, pouco mais de uma hora. Ele apenas cumpriu seu papel como psiquiatra, perguntando e anotando, enquanto Sakura adquiria mais confiança ao moreno. Não queria estar errada quanto a ele, quanto a mais ninguém;

Estava exausta, extremamente exausta, então a memória já estava a falhar. Mas, mesmo assim, o seu medo fez com que ela suplicasse ao médico:

"Por favor, fique comigo. S-Só por hoje, por favor..."

Ele ponderou por alguns segundos e deu um longo suspiro, até que parou de resistir e foi em direção à cama. Mas antes, pegou os cacos maiores de vidro que estavam ao lado da cama e colocou em um local mais afastado. Não era o certo a se fazer no momento, mas ele cuidaria disso depois. Ela precisava dele no momento.

Subiu no lado esquerdo da cama e novamente captou o olhar de Sakura, que estava com os olhos marejados. As lágrimas desciam livremente pelo seu rosto, que já estava avermelhado. E assim que percebeu que estava sendo observada, rapidamente escondeu seu rosto entre os travesseiros.

"Ei, o que foi? Você está sentindo dor? " Sasuke se aproximou da rosada e tocou em seu queixo, retirando o rosto que antes estava enterrado no travesseiro. Revelando uma face levemente avermelhada e molhada pelas recentes lágrimas.

Sua maior vontade era responder que sim, que ela estava com a maior de suas dores retornando ao saber que o transtorno poderia estar voltando. Ela nunca seria capaz de provocar o vômito, mas sentiu-se extremamente assustada em perceber que a maldita sensação de estar vazia, sem nada em seu estômago, a agradou. Não poderia falar isso ao seu médico, não depois de tanto trabalho em prol da sua melhora.

"Não, eu... eu apenas estou triste. Eu estava tão bem, por que esse tipo de coisa sempre acontece comigo? A felicidade vem e vai embora, dando às costas para mim, me deixando assim de novo e de novo." Não pode completar sua frase, pois as lágrimas chegaram novamente, e dessa vez, caíram em uma quantidade maior.

Sasuke não pensou duas vezes e abraçou-a, puxando o seu pequeno e gélido corpo para perto do seu. Ela envolveu seus braços ao redor do torso nu do moreno e agarrou-o, nunca mais querendo soltar. O seu cheiro, sua presença... Ele! Ele era o único ser capaz de acalmá-la, de a fazer enxergar.

"Eu prometo que vou fazer tudo possível e o impossível para te ver feliz. Eu vou cuidar de você, não posso deixar com que nada de ruim aconteça, pois você, Sakura, é meu anjo. Ver você assim, tão frágil, me deixa... Impotente. Prometo te proteger..."

Ao ouvir essas belas e tranquilizadoras palavras, a jovem conseguiu se acalmar e aos poucos, pegou no sono nos braços de seu médico. Sentia-se segura, pois sabia que ele estava sendo sincero. Estava totalmente em paz ao lado dele.

[...]

Em um bairro de classe média localizado nos subúrbios de Konoha, o jovem de nome Sai acabara de acordar em seu apartamento. Era um local muito bem estruturado e mobiliado, por mais que a bagunça do rapaz abalasse um pouco a beleza do local. Os tons frios, o inox e mármore presentes m boa parte do apartamento davam um ar ainda mais gélido ao lar do jovem.

Saiu de seu quarto e fitou rapidamente o relógio digital que estava em cima do balcão da cozinha. A maior frustração veio depois, quando soube que horas eram.

"7h40 da manhã, merda. Por que diabos eu acordei tão cedo? Só vou atender daqui há duas horas..." Passou as mãos pelo curto cabelo liso e foi em direção a sua cozinha. Abriu a moderna geladeira e retirou uma garrafa de vidro contendo água de dentro, despejando o conteúdo em um copo qualquer que se encontrava por cima do mármore em seguida. Estava com uma dor de cabeça infernal, por isso, tomou o primeiro analgésico que viu pela frente.

Não queria estar mais preso ao seu infortúnio. Poucas horas com sua mais nova paciente foram o suficiente para criar em sua mente inúmeros pensamentos talvez estranhos para os de fora, mas muito atrativos para o moreno em questão. Amarrá-la àquela cama seria só o início:

Queria ver sua pele branquinha mudando de cor, ficando rubra, após um tapa bem dado;

Queria ouvir sua voz negando, gemendo, a cada ato seu, o que o deixaria ainda mais excitando;

Queria possuir controle total sobre ela, um controle fora do normal.

Enfrentar mais horas preso àquele quarto quase 'hospitalar' com aquele serzinho inocente seria demais para ele, mas Sai devia dar um tempo. Provavelmente, as drogas já teriam feito efeito e tinha certeza de que se ela ou ele reconhecesse aquela reação como proveniente de algum tipo de mistura, ele seria o principal suspeito. Negaria tudo. 'Não vou entregar meu jogo tão fácil assim. ' Pensou. Ele seria sutil, sorrateiro.

Andou pela sua sala e ligou a televisão de tela plana. Não para ver algo em especial, mas apenas para preencher o quarto com algum ruído ou som. Sai foi em direção ao móvel da sala e abriu uma fina gaveta que estava bem no centro. Após procurar um pouco e destapar um fundo falso, encontrou o que tanto queria – ou necessitava, segundo ele-. Ao lado do saco transparente, Sai encontrou o seu revólver, parando alguns segundos para observá-lo. O brilho metálico, polido. Nunca mais havia sentindo a adrenalina de apontar a arma para alguém, de apertar o gatilho.

Logo, fechou a gaveta. As ideias perigosas são as melhores, mas são igualmente arriscadas.

"Olá, amiguinha" Falou para saquinho que estava em sua mão. Sacou uma lâmina de barbear da gaveta e foi para sua mesa. Despejou um pouco do pó branco sobre a mesa e passou a dividi-lo em pequenas fileiras pela mesa. 6 ao total. "Para começar o dia bem..."

Uma.

Duas.

Três.

E o pó começava a sumir em contraste do vidro da mesa.

Quatro.

Cinco.

Seis.

E foi o suficiente. Largou a lâmina de um dos lados e olhou satisfeito para mesa sem mais nenhum resquício de pó. Fungou um pouco e quando estava pronto para depositar o restante do pó sobre a mesa, o telefone tocou.

"Puta merda..."

Levantou-se irritado e foi rapidamente em direção ao seu quarto, onde o seu telefone celular estava. Sem olhar o número de identificação na tela do aparelho, atendeu, sem qualquer paciência.

"Quem é? "

"O que você deu a ela, Sai? " Quase não reconheceu a voz de primeira, mas não estava em condições muito boas de reconhecer a voz de ninguém. Mas, logo captou.

"Sasuke Uchiha. Como vai, chefe? "

"Não venha com brincadeiras para cima de mim. O que você deu a ela? Minha paciente não está passando nada bem"

"Sakura? Ela estava bem quando eu deixei o quarto ontem. Um pouco abalada, claro, a consulta a deixou assim. Mas não cheguei a receitar nada ainda, Dr. Uchiha"

"Não minta para mim! Foi alguma substância que causou isso tudo a ela e você é um psiquiatra, deve entender muito bem desse tipo de coisa. "

"Pura difamação, Dr. Uchiha. A menos que tenha provas contra mim, isso tudo não passa de ilusão da sua cabeça"

"Eu não confio em você,"

" Eu não preciso da sua confiança, Sasuke, apenas da dela. Então, eu recomendo você, Doutor, a ser bem cuidadoso a partir de agora, para não ferir o coraçãozinho de sua paciente. Ela confia totalmente em mim, talvez até mais do que em você..."

"Do que você está falando? "

"Todo mundo tem recaídas, Doutor, algumas são mais drásticas que outras. E a sua amada estava péssima quando me viu pela primeira vez. Não podemos deixar uma dama sozinha, não é verdade? " A droga estava influenciando em cada palavra sua, mas logo procurou se conter. "Eu tenho que ir agora. Mas a nossa conversa já acabou, sim? Nos vemos mais tarde"

E antes que Sasuke pudesse rebater ou falar algo sobre, já estando furioso no outro lado da linha, Sai desligou, portando um sorriso malicioso no rosto.

As coisas iriam mudar a partir daquele dia. Sai iria fazer questão disso.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Eu acredito que esse tenha sido o maior capítulo escrito até agora nessa fanfic, e eu só tenho a agradecer a vocês. Primeiramente, eu quero deixar claro que em nenhum momento tenho a intenção de fazer apologia às drogas ou a qualquer um dos transtornos aqui apresentados. Isso é 100% ficção e a história é destinado a uma faixa etária que possivelmente já possui uma certa maturidade para ler assuntos desse tipo, então eu espero que isso fique bem claro. Nunca irei fazer apologia e nem quero influenciá-los de forma alguma.
Bem, como antes comentei, esse capítulo seria bem intenso. Portanto, passei bastante tempo corrigindo (mais do que o normal), fazendo algumas alterações e tentando deixar o mais forte possível, para que vocês realmente entrassem na história e entendessem o lado de cada personagem. O que acharam dele? Fiquem à vontade para comentar suas impressões, pois vou adorar respondê-los sobre. Muito obrigada a todos vocês, um beijo e até próximo sábado.
Pequeno spoiler para vocês: Daisuke voltará no próximo capítulo!



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