Living escrita por Absolutas


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora - muitos trabalhos de escola, além do meu emprego.
Enfim o capítulo 1, espero que gostem... E comentem.
Boa Leitura!!



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CAPÍTULO 1

Desliguei minha mente enquanto sentia, satisfeita, meus punhos irem de encontro com o saco de pancadas preso no teto da sala.

Eu me encontrava em uma sala comprida e parcialmente vazia – exceto por um banco grande de madeira onde repousava minha mochila e a garrafa de água; e duas fileiras de armários de metal cinzas – com quatro paredes brancas e um teto revestido de madeira escura.

Desde que chegara a Chicago, não havia encontrado lugar que trouxesse conforto como a academia de lutas onde eu arrumara um emprego como professora de Muay Thai. Embora fosse um local repleto de pessoas em combate, golpes e gritos, era o local mais reconfortante que eu encontrara aqui – talvez por ser onde, no fim do meu expediente como professora, eu extravasava minha raiva;ou talvez por ser o local mais parecido com a Academia de Não-Humanos em Chicago, mas enfim, eu me sentia viva aqui. Recuperada.

Vez ou outra a imagem do rosto de Nathan aparecia por traz de minhas pálpebras, o que só fazia com que eu socasse ainda mais forte o saco de pancadas à minha frente, tamanha a raiva que eu sentia de mim por não conseguir esquecê-lo.

Por fim, quando ficou demasiado tarde para que eu continuasse treinando, tomei uma ducha no vestiário feminino, ajuntei minhas coisas e tranquei as portas da frente, – tarefa da qual eu era encarregada por sempre treinar até mais tarde - indo em direção ao meu carro, um velho Chevrolet Corvair Monza Coupe 1963.

Retirei a chave do bolso da minha calça jeans e abri o carro, acomodando-me no banco do motorista. Meu carro, depois da academia de luta, era o local mais reconfortante de toda Chicago – seus bancos de couro gasto, o painel obsoleto, o cheiro de hortelã e terra molhada... Suspirei, deliciando-me com o odor já conhecido.

Coloquei a chave na ignição e girei-a. Ao invés de ouvir o som estrondoso do motor antigo, houve apenas um engasgo e o carro morreu. Tentei novamente, porém com o mesmo resultado. Respirei fundo e tentei de novo e de novo... Nada.

–Droga! – gemi.

Com o resquício de esperança que ainda me restava, girei a chave novamente, mas, como nas quatro tentativas anteriores, o carro engasgou e morreu.

– Ah,que ótimo! – exclamei com a voz carregada de sarcasmo. Encostei a testa no volante e deixei um grito de frustração escapar de meus lábios.

Logo recolhi minha mochila e casaco do banco do carona e sai do carro, trancando-o e prometendo a mim mesma que o concertaria amanhã de manhã, quando teria a luz do sol como aliada – uma vez que seria impossível concertar meu carro no breu que estava no momento.

Com as passadas largas e rápidas, e a ânsia de chegar ao meu quarto na pensão e desabar na cama como companhia, segui meu caminho pelas ruas desertas; feliz por não ser tão grande a distância que eu teria que andar.

Ao contrario da maioria das garotas da minha idade, eu não tinha medo de andar sozinha à noite em ruas desertas, pelo contrário, tinha que admitir que essa idéia era de certo excitante, considerando o fato de que eu sabia me defender.

Tentei manter meus pensamentos concentrados no caminho que eu seguia, mas, algumas vezes, eu me pegava pensando em Nathan novamente – deixando-me frustrada e triste. Eu sabia que nunca o teria e esse era um dos motivos que me fazia querê-lo ainda mais. Mas eu havia desistido de lutar por ele; se era ela quem ele queria... Que fosse feliz. Eu só não queria estar por perto para assistir.

Um ruído abafado como o de um golpe – carne contra carne – me tirou de meus devaneios, deixando-me alerta, imediatamente. Eu parei de andar e tentei me concentrar para ver se ouvia o som novamente... Alguns minutos depois, o mesmo som chegou aos meus ouvidos, fazendo-me mudar meu rumo.

Eu sabia que era loucura ir checar o que era, sabia que provavelmente não era nada além de uma briga de rua, mas não consegui me impedir de ir até lá.

Quanto mais eu me aproximava, mais alto ficava o som, e notei que vinha de uma viela escura, há alguns metros à minha frente, entre dois galpões escuros à minha esquerda. Sorrateiramente andei até lá, usando uma das paredes como esconderijo para poder espiar a cena.

Imediatamente fiquei pasma. Não era uma briga de rua como eu previra, mas sim, algo mais para um assalto. Havia um garoto meio encostado no fundo cercado por três caras trajando roupas escuras. Todos altos e musculosos – não que o outro garoto não fosse, mas ele não tinha a mínima chance contra os outros.

O homem da esquerda, tinha a pele morena e segurava um pé de cabra, enquanto encarava a vítima. O cara da direita, tinha um revólver preso no cinto e o homem do meio, tinhas as mãos livres, porém usava o punho para atingir o garoto – o qual sangrava pelo nariz.

– É sério, o que querem comigo? – perguntou a vítima, a voz grave e desfigurada pelo medo. Ele cuspiu no chão uma vez e voltou a encarar os três homens fortes. – Não tenho nada que possam roubar...

– Quem disse que viemos roubá-lo? – perguntou o cara do meio, em um tom de deboche. Os outros dois riram.

– O que querem então? – perguntou o garoto, com real curiosidade.

Dessa vez os três riram e eu não pude mais me conter com tamanha covardia. Eu não sabia o que aquele garoto havia feito, ou sequer se havia feito algo para aqueles caras; mas tive que agir. Tive que interferir.

Antes que eles se dessem conta, corri até o da direita, o qual portava o revolver e empurrei-o contra a parede ao seu lado. Percebi que os outros ficaram em silêncio, inclusive a vítima. Dobrei o joelho e acertei-o na coxa. Ele gemeu e eu consegui pegar o revolver do cinto, batendo com ele em sua nuca. O homem caiu desacordado quase levando-me com ele.

Não tive tempo de me levantar. Assim que ergui um pouco a cabeça, vi uma sombra atrás de mim. O cara do pé de cabra, pensei pois havia um objeto cumprido em sua mão. Antes que ele me acertasse, ergui meu escudo como forma de proteção e ouvi um ruído do surpresa vindo dele, quando sua arma não me acertou. Virei-me com uma expressão feroz no rosto e o cara deu dois passos para trás, os olhos repletos de medo.

– Acabe logo com ela, é só uma garoa. – disse o cara do meio, agora, imobilizando a vítima no chão, enquanto ele se debatia, tentando se soltar.

O homem na minha frente, engoliu em seco e avançou em minha direção. Eu segurei o pé de cabra quando ele tentou acertar-me com ele novamente e puxei-o, deixando o homem perto de mim, as laterais dos nossos corpos se tocando. Então, soquei seu estômago com toda a força até ele ficar sem ar e cair no chão aos meu pés.

Não hesitei nem por um segundo antes de saltar nas costas do terceiro, e apertar seu pescoço, até seu rosto ficar vermelho por falta de ar. Quando isso aconteceu, dobrei o cotovelo e acertei-o diversas vezes na nuca, antes de ele cair desacordado no chão, eu por cima dele.

Levantei-me limpando minhas mãos na calça e respirei fundo.

Virei-me para o garoto – a essa altura ele já havia se sentado no chão úmido. Havia sangue escorrendo de seu nariz e de sua boca e havia um corte em sua sobrancelha. Percebi que seu olho esquerdo começava a inchar. Tirando os ferimentos, o garoto era realmente bonito: pele levemente bronzeada, olhos verdes, cabelos castanhos, lábios cheios, nariz retilíneo e um corpo escultural e musculoso de dar inveja a qualquer lutador.

O garoto me encarou por longos minutos: talvez se perguntando quem eu era e como conseguira derrubar três brutamontes com o dobro do meu tamanho.

Depois de alguns longos minutos, ele se moveu um pouco tentando ficar de pé. Uma careta de dor desfigurou suas feições, acompanhada de um gemido.

– Espera, deixe-me ajudá-lo, você está machucado. – falei sem saber realmente o porquê. Se eu tivesse pensando direito, já teria chamado a polícia e dado o fora daqui.

– Quem é você? – perguntou ele, quando estendi minha mão para ajudá-lo a se levantar.

Eu revirei os olhos e o puxei para cima. Ele apertou os lábios reprimindo um grito. Respirei fundo e me agachei, passando os braços por seus ombros, e permitindo que ele se apoiasse em mim. Ele ficou de pé, colocando o peso na perna direita, aparentemente a esquerda estava machucada.

– Sou Sarah. E você devia me dizer o que esses caras querem com você. Deve ter aprontado alguma coisa. – respondi por minha vez.

– Eu não fiz nada, eu nem ao menos os conheço. – ele se defendeu, cutucando um dos caras com o pé machucado e fazendo uma careta.

– Tá legal. – falei com sarcasmo.

– Estou dizendo a verdade. – ele se virou para me olhar nos olhos e percebi que estava sendo realmente sincero.

– Que seja, - falei com desdém. – temos que sair daqui antes que eles acordem.

– E para onde vamos?

– Primeiro, vou levá-lo até a Academia onde dou aula, para ver esses ferimentos e... depois você pode ir para casa.

– Só não diga que é muito longe, não sei quanto eu vou conseguir andar com essa perna.

– É perto e eu vou ajudá-lo. Mas acho que devia ir à um hospital. Provavelmente você quebrou a perna.

– Não acho que seja necessário. – discordou ele.

– Tudo bem, você quem sabe. – dei de ombros. – Agora vamos.

O garoto se apoiou pesadamente em mim enquanto saíamos do beco – e tenho que admitir que se não tivesse uma boa preparação física, jamais teria conseguido servir de suporte para ele durante a caminhada.

Estávamos em frente à Academia de Muay Thai quando ele tropeçou, quase derrubando a nós dois.

– Ei, cuidado garoto! – exclamei irritada.

– Elliot. – disse ele.

– O quê? – perguntei sem entender.

Meu nome é Elliot.

– Ah. Muito bem, então Elliot tome mais cuidado ou vai acabar derrubando nós dois.

Ele riu do me mal humor.

– Eu estou com uma perna machucada. Você podia relevar isso.

–Desculpe. – repeti e ele sorriu largamente.

Elliot se encostou na parede enquanto eu pegava a chave no bolso do meu jeans e abria a porta dos fundos, ajudando-o a entrar e se sentar em um dos bancos do vestiário. Então fui pegar o kit de primeiros socorros no meu armário.

– Você da aula de Muay Thai... – disse ele, mais para si mesmo do que para mim. – Isso explica como derrubou aqueles caras.

Eu revirei os olhos e não disse nada, apenas abri a caixa, retirando algodão e álcool para limpar os cortes em seu rosto. Umedeci um tufo de algodão com o álcool me sentei ao seu lado, passando-o levemente em sua testa. Ele gemeu por conta da ardência mais não disse nada. Continuei o processo, limpando o corte em sua sobrancelha, em sua bochecha e no canto da sua boca.

– Como aprendeu a lutar? – perguntou ele de repente.

– Por que isso interessa a você?

– Tem razão, não devia me interessar.

Ficamos em silencio enquanto eu terminava de esterilizar os cortes. Elliot só me olhava, analisando cada movimento que eu fazia com seus olhos verdes. Era no mínimo constrangedor ter alguém me fitando desse jeito, sem nem ao menos desviar o olhar.

– A-acho que já pode ir. – gaguejei desconfortável. – Eu já terminei.

–Não sei se consigo chegar à algum lugar sozinho com essa perna... Talvez eu seja abordado novamente...

– Então acho melhor eu chamar uma ambulância. – respondi, entendendo o que ele queria.

– Ah, qual é Sarah. Você podia me acompanhar.

– Você não acha que está sendo um pouco abusado? Não sei se eu conseguiria carregá-lo, você não é tão leve quanto pensa. – brinquei.

– Vai me negar ajuda? – perguntou, os olhos brilhantes.

Eu bufei.

Eu podia não ser a pessoa mais gentil do mundo, mais carinhosa e piedosa; mas era difícil para mim negar um pedido à alguém, principalmente depois de tê-lo salvo.

– Onde você mora? – perguntei por fim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam??



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