Se você olhasse para o céu de Berk as quatro da manhã, iria ver um Fúria da Noite fazendo manobras incríveis. Bom, veria eu e o Banguela fazendo manobras incríveis. Quem via a gente voando majestosamente, não imagina o que passei para ajustar a cauda e as manobras.

Nós caímos muito. Porém foi um processo maravilhoso e engrandecedor. Enquanto isso aprendia mais sobre os dragões e utilizava isso no treino para matar dragões. Muito estranho, eu sei, e isso me causou problemas enormes. Mas com a nossa vitória contra o Morte Rubra tudo ficou certo. Ou na medida do possível. Afinal parte da minha perna não existe. Mas eu não ligo muito para isso.

Quando eu voava com o Banguela nós nos sentíamos livres. E naquela hora eu me esqueci do sonho pesadelo que me atormentava. Perdi a noção do tempo. O Banguela se divertia, ele ama voar (Ok, ele é um dragão, e é uma coisa idiota de se dizer. Mas quem está narrando sou eu, então ele ama voar).

Mas eu percebi que estava amanhecendo e minhas obrigações falaram mais alto. Um líder tem suas tarefas...

–Vamos amigão, precisamos voltar. A minha mãe vai ficar preocupada- ele resmungou. –Mais tarde eu voo com você, não se preocupe- ele não gostou muito, mas fez a curva para voltarmos para Berk. Então eu tive uma ideia para alegrá-lo. - Amigão! Olha, quando chegarmos em casa eu te dou um peixe bem gostoso. Que tal?

Digamos que o Banguela acelerou nossa volta.

Entramos em casa e eu fui preparar um café. Minha mãe é péssima na cozinha. Mas eu, bem, quebro um galho. Banguela ficou me olhando com aquela carinha tão fofa que comove todo mundo e ele sempre consegue o que quer. Então eu puxei para sala uma cesta cheia de peixes. Ele começou a me lamber.

–Tá bom, tá bom, para Banguela! –ele riu de mim. –Você não é mole, né? Aproveite o seus peixes e...

A porta abriu de repente.

–SOLUÇOOO! –Era o Bocão. Quando me viu, ele gritou.

–Oi Bocão - ele era o meu “professor”. Ensinou-me tudo que eu sei sobre trabalhar com ferros e boa parte sobre dragões. Quanto aos dragões ele aprende mais comigo do que eu com ele. Ele é um grande amigo, quase um tio (embora eu tenha um tio, o Gosmento, pai de Melequento), já que era quase irmão do meu pai.

–De pé tão cedo?

–Eu ia mesmo falar com você. Pode me levar até a Anciã? Eu tive um pesadelo, ou sonho, sei lá. Eu acho que pode ser importante.

–Claro. Podemos ir agora mesmo.

–Só vou tomar um café. Estou acordado há muito tempo. Aceita um pouco?

–E eu recuso? O seu café é uma delícia.

Minha mãe estava descendo quando eu estava colocando o café para o Bocão.

–Bom dia Soluço. Bom dia Banguela- Banguela se virou para ele e deu um de seus sorrisos matinais. Ela sorriu de volta. –Olá Bocão. Algum problema?

–Não de minha parte. Vim chamar o Soluço para me ajudar na Ferraria. Mas agora vou acompanha-lo até a Anciã.

Ela olhou para mim preocupada.

–Algum problema?- ela me perguntou.

–Talvez sim, talvez não. Não se preocupe, está bem? Tem café pronto. Vamos Banguela? Bocão?

–Vamos! Tchau Valka- Bocão se levantou num pulo.

–Tchau- minha mãe disse. Ela tinha a voz realmente preocupada. Eu me senti mal por preocupa-la por algo que poderia não ser nada. Mas poderia ser algo, outra parte de mim pensava.

Nós subimos até a casa da Anciã. Era a casa mais alta da ilha. Ela me recebeu com uma reverência. Eu fico incomodado quando ela faz isso. Ela é a anciã, a pessoa mais... experiente de Berk. Então eu devolvia a reverência. Ela fez sinal para que nós entrássemos.

Eu contei a ela meu sonho. Bocão colocou a mão (a que não tinha o gancho, obviamente) não boca, com os olhos arregalados. A Anciã começou a desenhar no chão. Bocão começou a me dizer o que estava escrito:

Jovem Líder a guerra virá. Você estará preparado, se agir. O Passado retornará e se juntará a um Presente distante que contra Berk irá lutar. Este Passado quer sua morte, a de sua metade e se persistir de sua paixão. Este Presente lhe causou grande dor e não foi derrotado completamente. O Futuro é frio, Soluço. Você pode usá-lo a seu favor ou não. Você tem um grande coração e fará a coisa certa. Eu confio em você. E todos de Berk também.

Depois que Bocão terminou seu relato, ela fez uma reverência. Eu nem sei como eu fiz uma reverência de volta, estava completamente surpreso com as palavras da Anciã. Eu saí de sua casa e desci até a praça.

–O que achou Soluço? -Bocão me perguntou.

Eu me recompus e respondi:

–A maioria das coisas fez sentido. E por isso digo que a coisa está pior do que parecia. Convoque os representantes dos clãs para o Grande Encontro de Todos hoje à noite. Precisamos agir. Você acha que a Astrid está acordada?

–Irei convocar Soluço. Concordo que o assunto é importante. E sim. Todos os vikings já se levantaram a essa hora.

Eu olhei em volta e vi realmente o movimento.

–Vou falar com ela. Ou vou explodir. Depois irei para a Ferraria.

Despedi-me de Bocão e caminhei com Banguela até a casa de Astrid. Ela devia estar sozinha, pois os pais dela viajaram ontem à noite para fazer negócios com a Ilha das Ladras do Pântano.

As Ladras do Pântano, meu pai dizia, costumavam ser inimigas. Porém quando meu pai tinha dez anos, Berk e as Ladras do Pântano tiveram que se unir contra um mal maior (que meu pai nunca disse qual). E desde então se aliaram economicamente. Não se enganem. Embora tenham precisado de ajuda, elas são guerreiras natas. Lutam como ninguém e são incríveis.

A Tempestade estava comendo um frango nos eu abrigo individual ao lado da casa de Astrid.

–É Banguela. Ela já deve estar de pé. Fique com a Tempestade, se quiser.

Ele correu até a Tempestade e eles começaram a brincar. Eles são muito amigos. Eu bati na porta da Astrid e então a esperei abrir.