A Seleção - Interativa escrita por Lady Ann


Capítulo 9
Os Anjos da Guarda


Notas iniciais do capítulo

Eu só queria dizer MUUUUUUUUUITO OBRIGAADA a Just Keep Reading eu fiquei muito feliz com a recomendação, saí pulando e correndo pela casa como eu sempre faço, você não tem noção de como eu fiquei feliz!! Eu não estava esperando e você me pegou de surpresa, nunca fiquei tão feliz como quando eu entrei do nada na minha conta do Nyah e A DIVA DA MINHA GÊMEA RECOMENDOU A MINHA FIC *000000000* não tenho nem palavras pra te agradecer, nada do que eu disser vai ser melhor do que você escreveu! Estou me sentindo privilegiada, quase morrendo de felicidade aqui, meus dedos tremem enquanto eu escrevo T^T TE AMOOO CARAAA VEMK MORAR COMIGO GÊMEA *000000*

Erika Miller:
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Dakota Helppen:
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Phoenix Gilbert:
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Marzia Rose:
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Louise Yasya:
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Erika Miller

Minha província nunca foi a mais bonita ou a mais culta, nem a mais pacífica ou a mais bem cuidada, ela sempre foi neutra, tinha seus problemas, mas para mim aqueles momentos não importavam, pois, do lado de Dakota Helppen, eu sentia muita saudade de Dakota, que, por coincidência, era o nome daquela mulher nojenta e da minha província.

Quando eles me avisaram que, por que minha província não tinha aeroporto e estávamos muito longe de Angeles, eu teria que ir para outra província me encontrar com outra Selecionada, eu achei que seria a melhor coisa do mundo, eu iria me encontrar com outra menina super legal, que é como eu, que poderia ser minha amiga na Seleção. Mas tudo o que eu encontrei indo para Sota foi Dakota Helppen.

Quando eu a vi, achei que ela iria ser legal comigo, ela não estava vestindo nada extraordinário, acho que nenhuma de nós estava pela despedida recente das províncias, onde só podíamos vestir um vestido de uma cor e um broche com o símbolo da nossa província. O vestido dela era lindo, ele sabia mesmo como esconder as garras e os dentes afiadíssimos de Dakota.

– Oi! Eu sou a Selecionada que vai para Angeles com você – me apresentei, quando nos encontramos na entrada do aeroporto.

Milhares de pessoas estavam no aeroporto tirando fotos com todos os tipos de máquinas e eu já estava me sentindo uma atriz de cinema famosa. Eu e Dakota desfilávamos onde podíamos passar e éramos guiadas por nossos seguranças até o nosso jatinho particular, que não era tão particular assim... Eu acenava para as pessoas, mas chegou a um ponto que eu estava tão distante de Dakota, sem dizer nada, que eu tentei falar com ela. E foi meu primeiro erro na Seleção.

– Ótimo – começou ela, seca –, isso é realmente bom. Então você vai comigo para Angeles e a nossa relação acaba quando chegarmos lá. Boa sorte. – E me lançou o melhor (ou pior) sorriso cínico que eu já vi na vida.

E, surpreendentemente, quando ela fez isso, a multidão gritou ainda mais, feliz por ver as Selecionadas se dando tão bem. Ela enganava todo mundo! Eu fechei a cara na hora, mas não me fechei para ela. Ela poderia estar só nervosa e eu queria fazer novas amizades. Percebi que não era o momento de falar nada, e, por isso, eu me calei e voltei a sorrir para as pessoas.

Era tanta gente, eu nunca vi tanta gente na minha vida. E eles tiravam tantas fotos que eu tinha medo de sair horrível em alguma delas. O salto estava machucando meu pé, eu só queria chegar ao jatinho logo e tentar falar alguma coisa com Dakota de novo. Eu já deveria saber que ela não é o tipo de garota que vai para a Seleção para fazer amizades para a vida toda.

Quando entramos no avião e eu me sentei onde mandaram, percebi que Dakota ficava bem do meu lado e nós poderíamos conversar. Quando ela se sentou tentei puxar assunto:

– Como acha que vai ser lá no palácio? Ansiosa para conhecer os príncipes?

– Eu acho que se todas as Selecionadas forem como você vai ser um inferno. E eu já conheço eles, não preciso de toda essa ansiedade e nervosismo, pode ficar pra você.

Minha boca estava aberta, não podia acreditar que alguém que nem me conhecia já estava me xingando. Tudo o que eu queria naquele momento era mostrar toda minha habilidade no boxe quebrando a cara dela de tanto soco. Eu não era só a carinha bonita, e, se ela mexesse comigo de novo, não iria ser tão fácil como naquele dia. Mas, naquela hora, eu só engoli a raiva e tentei seguir o regulamento da Seleção “Está proibida a agressão Selecionada contra Selecionada; qualquer Selecionada que for pega em uma briga, mesmo que sejam apenas tapas, terá que passar pelos príncipes e eles decidirão se a mesma irá embora”. Eu não queria ir embora, queria ficar, era a minha chance de arrumar um amor e eu tinha certeza que, como nenhum dos príncipes irá querer essa nojenta, tenho menos uma Selecionada com quem disputar.

O jatinho decolou e Dakota colocou fones de ouvido na entrada Mp3 do jatinho. Eu poderia fazer o mesmo, mas com certeza eu não acharia nada para meu gosto e todos os aparelhos eletrônicos das Selecionadas foram confiscados como eles avisaram. Sem celular, sem iPod, sem nem um rádio, minha vida estava perdida. Eles disseram que isso tudo era para nossa proteção, mas eu já estava discordando.

Tentei pensar nas Selecionadas, muitas coisas delas já tinham sido liberadas na internet. Uma delas, Palloma Alguma-Coisa, teve fotos horríveis jogadas por toda a internet. Eu realmente não quero estar na pele dela. Outra Selecionada, uma da família Dayline, foi acusada de entrar na Seleção pela fama, e muitos boatos sobre ela foram sendo criados. Todas as redes sociais das Selecionadas que não apagaram seus dados foram usadas para sites de fofoca e algumas delas hackeadas. As Selecionadas mais famosas, aquelas que as pessoas já têm uma certa intimidade por saírem em tudo quanto é notícia ou serem filhas de famosos, foram as menos atacadas por eles e pelo grupo de pessoas que vasculhavam os perfis de cada Selecionada. Mas as que eram desconhecidas pelo público em geral até a semana passada e eram ativas em redes sociais realmente foram difamadas terrivelmente, bem, pelo menos a minoria delas.

Por já ser consideravelmente famosa, a única brecha de rede social que eu podia ter era o “Frommer”, basicamente um aplicativo de conversa, e nada mais. Eu tinha pena das Selecionadas que não sabiam que isso iria acontecer até que já tinha acontecido. Muito provavelmente elas iriam sair facilmente, pois a Rainha não pode ter fofocas desse tipo.

Eu só esperava que eu me saísse bem, e com tanta fofoca rolando nessa Seleção, talvez fosse fácil passar pelas Selecionadas e me apaixonar. Mesmo que Dakota não estivesse nervosa, quanto mais perto de Angeles eu ficava, mais minha mão suava e meu lábio inferior ficava mordido. Eu queria ter a chance de encontrar o meu amor.

Dentro do jatinho haviam dois homens, os dois eram guardas reais, eu sabia pelo distintivo, mas eles estavam de terno. Eles estavam lá atrás, perto das saídas de emergência, e não se escutava um pio deles. Na verdade, não se escutava nada dentro daquele jatinho, foi a única parte da minha vida em que eu desejei que o barulho da turbina fosse tão alto que eu não iria estar tão desanimada por ficar em silêncio e parada. Eu decidi brincar com aqueles homens, afinal, como eles mesmos disseram, estavam ali para minha proteção e bem estar, e eu não estava nada bem.

Levantei-me para o lado do corredor, e quase que automaticamente os soldados olharam para mim. Um deles veio até mim. O que poderia acontecer comigo? Tropeçar e morrer? De algum jeito a preocupação deles me pareceu engraçada.

– A Senhorita precisa de algo? Eu posso ir buscar – ele se ofereceu.

O soldado à minha frente era loiro e tinha o corpo de quem passa o dia todo na academia, mas nem tão sarado nem tão fraco. Ele era o que eu achava que todos os soldados seriam. Era tão perfeito que eu podia jurar que todos os outros eram clones dele se o outro soldado não tivesse cabelo preto e o rosto mais quadrado. Por que todos eles eram tão lindos? Será que quando você vai fazer o teste obrigatório para os soldados eles pegam os mais bonitos e colocam no palácio?

– Como é seu nome mesmo, soldado? – perguntei. Queria ficar de pé, só isso que eu queria.

Pude ver Dakota tirando um fone do ouvido para escutar a conversa.

– Hm, Milles Hilliard, Senhorita – ele respondeu, meio que sem entender.

– Certo, soldado Hilliard, posso te pedir que busque alguma coisa com que eu possa me entreter? – perguntei. Àquela altura eu só estava falando o que me vinha à cabeça e vendo no que dava. Eu nunca mais iria vê-los mesmo.

– Que tipo de coisa, Senhorita?

– Um jogo, talvez.

Ele pensou por um instante.

– Com licença – falou, antes de ir para perto do outro soldado e dizer alguma coisa para ele que eu não consegui escutar.

O soldado de cabelo preto me estudou e respondeu ao soldado Hilliard outra coisa. Eles falaram alguma coisa no rádio de transmissão e foram respondidos. Os dois vinham até mim.

– A Senhorita deseja jogar? – perguntou o soldado de cabelo preto. Eu senti malicia em sua voz.

Não aconteceram muitas coisas na minha vida. Eu não tive muitos namorados, nem tive uma história triste, eu só tive muitas vitórias no boxe e uma família que eu amo muito. Mas, quando tinha dezessete anos, comecei a namorar um garoto que eu achei que amava e que me amava também, mas ele acabou me traindo com minha amiga. Podia não ser a garota com mais experiência na Seleção (talvez Dakota fosse...), mas tinha muita malícia no coração, como dizia minha vó. Eu sorri me lembrando disso tudo.

– Como é seu nome, soldado? – perguntei.

– Sou o soldado O’Keeffe, Senhorita. Hilliard me avisou de que a Senhorita deseja um jogo, mas não temos jogos aqui. O voo deve ser de três horas, e faltas duas horas e quarenta minutos. Eu acredito que a Senhorita não poderá jogar algum jogo de tabuleiro ou algo do tipo.

Eu fiquei chateada. Só tinham passado 20 minutos? Para mim eram 4 horas, eu queria me jogar dali de cima. Dakota era tão extremamente chata que estava acabando com a minha viagem para o palácio. Que Selecionada tem outra para conversar, mas têm que fazer amizade com soldados por ela ser tão chata? Ah, é, a Erika.

– E o que você me recomenda? – Era tão engraçada a formalidade deles que eu tive que imitar.

– Falamos com o sistema e acreditamos que, em caso de tédio mortal de alguma Selecionada – dizia ele com um sorriso pequeno –, somos obrigados a tentar salvar sua vida, certo?

– Certíssimo – concordei sem entender nada.

– As orientações que a base nos passou era que devíamos arrumar um jogo para a senhorita e livrar-te de teu tédio – explicou o soldado Hilliard.

Eu podia ver a cabecinha de Dakota olhando a movimentação, tentando entender onde eu queria chegar. Mas o que ela não sabia era que eu também estava querendo entender.

– E que jogo vamos jogar? – perguntei, já entediada de tanto papo furado.

– A Senhorita pode criar. Vamos pegar papel e caneta. Pode montar qualquer jogo de tabuleiro!

Eu sorri. Aquilo sim seria divertido. Jogar um jogo que eu inventei com soldados altamente certinhos por duas horas e meia. Aquilo seria a coisa mais engraçada que eu ainda não tinha visto. Eu percebi que Dakota estava rindo baixinho. Perguntei se ela também queria jogar e ela disse que sim, voltando ao seu normal arrogante.

E, em alguns minutos, estávamos fazendo as piores piadas (inclusive Dakota) no melhor momento da Seleção até ali. Se só o começo já foi divertido assim, eu não podia esperar o que estava por vir.

● ● ●

Phoenix Gilbert Mancoi

"Se não posso te dar uma vida melhor eu mesmo, pelo menos eles podem". Aquelas palavras não saiam da minha cabeça. Quando Weally me disse aquilo, eu senti como se tivesse levado um tapa. Nossa vida não era horrível, mesmo que não fosse nada boa, eu era feliz. Se eu estivesse com a minha família, eu continuaria sendo feliz. Mas ele não aceitou essa condição, ele simplesmente me inscreveu na Seleção, levou a minha foto do anuário do Orfanato Municipal de Carolina, minha nova província, e me inscreveu.

Acho que o pior momento foi quando estávamos assistindo a emissão das fotos das Selecionadas na televisão e minha foto apareceu, meu nome foi dito, minha nova província e minha nova casta: Oito. Todos do orfanato pararam o que estavam fazendo para me olhar assustados, ninguém sabia que eu tinha sido inscrita. Muito menos eu. Foi a pior coisa que já senti depois de perder meus pais, por que não foi só ser Selecionada, foi ser traída, Weally não tinha ideia de que o Orfanato era o meu lar, só mais um ano lá e eu poderia sair alcançando a maioridade, iria adotar Díly, minha irmã mais nova que passou pelo pesadelo comigo, e nós seríamos felizes de novo.

Mas não, agora eu estava sozinha, completamente sozinha, em um carro sendo levada para o aeroporto, pronta para ir um lugar que eu odeio, onde as pessoas que destruíram tudo o que eu tinha vivem, onde a realeza finge que está tudo bem em acabar com a vida de crianças e adultos dizimando toda uma província em nome dos Rebeldes de lá. Tammins não era inteira feita de marginais e Rebeldes, mas todos que estavam lá naquela noite pagaram o preço, e agora todos de Illéa tinham uma noção do que a realeza podia fazer e iria fazer caso alguma coisa não saísse do jeito deles. Agora minha província era representada por alguém de outro país e só o nome ainda continuava sendo dito. As pessoas de lá não existem mais. As pessoas de lá, as que conseguiram sobreviver, são Oito, são nada, e escondem sua história com medo de serem chamados de Rebeldes. O povo de lá simplesmente foi destroçado.

A porta se abriu e eu saí do carro. O vestido e o salto que o palácio me concedeu para ir à despedida da minha província eram pequenos demais e eu estava desconfortável, queria ir embora dali. Mas então eu ergui os olhos dos meus sapatos e vi. Tinha tanta gente reunida, e, assim que eles viram quem eu era, todos começaram a falar juntos coisas paralelas. “Eu te amo”, “Estamos torcendo por você”, “Já ganhou”, “As Selecionadas da nossa província são guerreiras e por isso ganharam por séculos”, “Você é linda”, “Manda um beijo pra minha mãe”, eram algumas das coisas que eu consegui ler nos mais de 94120632 cartazes que as mais de 123872143854734 pessoas seguravam e balançavam para frente e para trás enquanto gritavam meu nome e apelido e sobrenome, como se já me conhecessem há décadas.

Um segurança surgiu do vento do meu lado.

– Eu vou guia-la ao seu destino, Senhorita Gilbert, você não tem nada a temer. Espero que possa guardá-la com êxito e satisfação de sua parte. Qualquer desconforto da sua parte pode ser relatado a mim, estou aqui para servi-la. Sua vida será protegida como se fosse a minha e espero que a Senhorita se sinta à vontade até chegarmos ao palácio.

Ele parecia estar me olhando nos olhos, mas eu não conseguia ver os dele, ele usava um óculos escuro que mais parecia um óculos normal com um pedaço de cartolina preta nas lentes. Eu não podia ver nada através delas.

– Certo, eu posso saber o nome do meu anjo da guarda? – perguntei.

Ele parecia não ter entendido, mas recuperou a postura em segundos.

– Sou o soldado Finch Horridge Milles, chamado de soldado Horridge pela tropa, a Senhorita pode me chamar do que quiser.

As pessoas gritavam tanto que eu só escutei até Finch. Sabia que eu não devia chama-lo pelo primeiro nome, tinha plena e sã consciência disso, mas eu não tinha escutado mais nada, então seria daquilo que eu o chamaria. O soldado Finch.

– Sou Phoenix, mas pode me chamar de Nix – sorri. Não queria ser arrogante com aquelas pessoas, embora aquele não fosse meu melhor dia. Além do mais, ele estava lá para me salvar se algo desse errado, eu não queria ser rude com alguém que poderia me livrar da morte, certo?

– Sim, Senhorita... Nix.

Eu ri.

– Por favor, siga-me – ele pediu. Agora olhava fixo para frente.

Seu olhar parava em cada uma das 73368651213 pessoas ali e pulava para a próxima em segundos, analisando todos, sem pular um, passando informações pela escuta no ouvido e por um aparelho que parecia um celular.

Ele começou a andar e eu utilizei todo o meu conhecimento sobre andar de salto (e olha que não era muito) para chegar até a porta do aeroporto. O homem quase desaparecia na minha frente, eu tinha que segui-lo rapidamente tentando me equilibrar naqueles saltos enormes. Eu estava odiando aquilo. Uma grade foi posta para abrir caminho para mim e para o soldado Finch, eu acenava para as pessoas e pegava rapidamente as cartinhas que eram estendidas – e jogadas – para mim.

Enquanto eu pegava uma dessas cartinhas, alguém me puxou pelo braço e me encostou na grade, colocando um celular na minha frente na câmera. Eu não me lembro de ter emitido som algum, mas o soldado Finch simplesmente virou para trás e apontou uma arma para a menina que me segurava a fim de tirar uma foto. Eu entrei em choque. Era uma arma. Toda a ação daquele dia voltou. Meu coração acelerou de uma tal forma que achei que ia desmaiar. As pessoas soltaram gemidos assustados.

– Só uma foto, só uma! – implorou a pessoa do meu lado.

Eu olhei para ela, era loira e estava vermelha, parecia ter ficado muito tempo ali. Tentei me controlar.

– Abaixe isso, ela só quer uma foto – falei. E algumas pessoas começaram a repetir o que eu disse para todos naquele aeroporto. Mais gritos animados de todos.

O soldado Finch guardou a arma e fez questão de que eu andasse na frente dele quando acabei de tirar a foto. Ninguém mais pediu uma foto. 67 cartinhas foram recolhidas por mim com sucesso e 17 presentes foram aceitos com sorrisos. Missão cumprida. Agora era só uma questão de tempo até ir para o palácio, ser rejeitada e voltar para Díly e Weally.

Dei tchau para todos antes de entrar em um corredor isolado que iria parar na parte de fora do aeroporto. Um jatinho imenso e azul esperava por mim lá fora.

Weally e eu perdemos tudo, eu só consegui salvar a vida da minha irmã Díly depois que as bombas explodiram e os gritos puderam ser ouvidos. Weally tinha raiva, ele ficou frio, se fechou pra tudo, eu nunca consegui entende-lo, mas quando ele disse aquilo, eu entendi. Ele queria nos dar mais, e nós nunca teríamos mais, por que Oito são nada, e não merecem mais. Eu, por outro lado, tentei seguir com a vida, precisava daquilo, Díly tinha que crescer como qualquer outra criança e não sendo lembrada como vítima de uma tragédia, ela precisava seguir em frente, e para isso eu também precisava. Eu tirei forças daquilo, por pior que tivesse sido, já tinha sido, e eu nunca vou voltar atrás, eu só posso ir para frente, e era para frente que eu iria, eu iria fazer um futuro melhor para mim e para Díly.

Bem, eu faria, se eu não estivesse nesse inferno de Seleção longe de todos que eu amo.

– Senhorita Gilbert, a Senhorita aceitaria uma xícara de chá? Ou talvez um copo d’água? Está com fome? – uma voz falou do meu lado.

Acho que eu estava tão funda nos meus pensamentos que aquela voz me parecia uma lembrança, mesmo que o homem estivesse bem ali do meu lado. Ele era o... Bem... Eu não sabia como eram chamados os garçons de avião, mas ele era um. Eu já estava no jatinho fazia algum tempo, talvez alguns minutos, mas meus pensamentos estavam completamente perdidos. Eu nunca nem tinha andado de avião. A janela tinha virado meu refúgio, eu poderia ver tão alto lá de cima, a vista era linda por toda Carolina.

– Hm? Ah, sim, bem, não... Quero dizer, acho que um copo d’água seria bom – gaguejei. Ficava tão nervosa em errar alguma coisa perto daqueles almofadinhas.

Em toda a minha vida eu só tinha andado de transporte público, tais como os compúblis, que são algo como os trens do passado, eu tinha certeza já tinha lido em algum livro antigo do meu pai o que eram trens. Os compúblis passavam pela cidade toda por debaixo da terra, eram um jeito fácil e eficaz de se chegar em qualquer lugar e, por sorte, os da Carolina estavam na lista dos mais bem cuidados de Illéa. Eram compartimentos cheios de gente que tinha que sair de manhã para trabalhar, e eu e Weally tínhamos várias histórias neles. E nesses compúblis, se você fosse beber água de um copo, iria morrer afogado, pois vez ou outra tudo tremia. Eu ainda estava fascinada de como uma coisa que voa poderia ser tão retinha e equilibrada a ponto de eu não conseguir me sujar com água ou chá. Os jatinhos eram lindos!

Senti falta de Díly, ela com certeza iria gostar de saber que você pode beber água enquanto voa e eles não tremem como os compúblis. Weally também ia gostar, ele sempre ficava com sede pela manhã. Eu sentia tanta falta deles... Quanto tempo iria levar até que os príncipes percebessem que eu não era a pessoa certa para estar ali e me dispensasse? Esperava que fossem apenas dias, e poucos dias.

– Senhorita Gilbert? – chamou-me alguém.

Eu olhei para o lado e o soltado Finch estava bem ali, parado com seu terno incrivelmente preto e absurdamente branco.

– Sim? – perguntei.

– Acho que lhe devo desculpas pelo inconveniente no aeroporto esta manhã – ele disse. Agora sem os óculos escuros eu podia vê-lo melhor.

Sua pele era levemente dourada e seus olhos eram marrons. Ele não era nada parecido com aqueles guardas loiros de olhos azuis que sempre apareciam nos jornais, ele era normal. Acho que, depois de ter percebido aquilo, também percebi que eles tinham família, como eu, e estavam longe delas, como eu. Afinal, eles não eram tão diferentes assim de mim ou de qualquer outra Selecionada.

– Eu entendo sua atitude. Realmente tomei um susto quando aquela menina me puxou, você só fez o que lhe foi pedido e foi muito bom no que fez. Embora o alvo não fosse o certo. – Sorri.

Ele também se permitiu sorrir por um minuto.

– Senhorita, sei que não é da minha conta, mas ouvi de algumas pessoas que a Senhorita era uma Oito. Isso é verdade?

Como explicar que eu nasci Dois, passei a ser Oito, e agora, com a Seleção, era uma Três? Eram muitas castas para pouco tempo de viagem.

– Sim, eu era. Agora sou Três, né? Não que isso importe muito... Eu continuo sendo quem sou por dentro, um número não muda muita coisa.

– Também acho. A Senhorita vai se sair muito bem na Seleção pensando desse jeito, espero que se torne Rainha ou Princesa, assim pode levar nossos pensamentos à frente. Com licença, Senhorita, obrigado por seu perdão.

E ele foi embora.

Pensei um pouco. Nunca passou pela minha cabeça que eu poderia ganhar. Eu sempre achei que iria ser mandada embora e passaria o resto da vida com Díly e Weally, talvez cassasse, talvez não, mas seria feliz. Pensar em outro futuro para mim foi quase impossível, mas a Coroa estava lá, ela poderia ser de qualquer uma das 35 Selecionadas, ela poderia ser minha tanto como poderia ser das outras. E, de repente, eu acabei caindo no luxo de correr atrás dela.

● ● ●

Marzia Rose Lester

Uma simples frase mudou toda a seleção para mim: “Sua província não tem aeroporto, Senhorita Lester, terá que ir para outra”. Aquelas eram palavras que toda Selecionada iria querer ouvir, pois quando você vai para algum lugar que não conhece ninguém, sempre quer conhecer mais daquelas pessoas, e o momento perfeito era no avião. Eu estava muito animada, não sabia como as Selecionadas seriam, como seriamos tratadas, como elas conversariam entre si.

Será que todas elas imaginava a Seleção do mesmo jeito que eu? Será que todas elas sempre acharam que seria muito legal estar na presença da Rainha Naomi e do Rei Richard? Eu estava perdida em meus pensamentos enquanto o carro mais chique em que eu já andei me levava para outra província. A província de Fennley não ficava muito distante da minha em Waverly, na verdade, era a que ficava mais perto da capital da província e eu chegaria lá em duas horas. Eu não podia nem conter minha felicidade.

Logo, logo, eu seria apresentada para outra Selecionada, isso era a melhor coisa de todas!

Quando o carro parou foi como se todo o meu estômago estivesse querendo sair pela boca e eu tinha que deixá-los dentro. Meu sorriso nem cabia no meu rosto. E eu ainda nem tinha visto ela! Paramos na frente do aeroporto e um guarda real abriu a porta do carro para mim. Ele era lindo. Os príncipes deviam ser três vezes mais bonitos que o guarda pessoalmente, assim como eram pela televisão, com certeza. Eu não deixava de pensar neles um segundo.

– Senhorita, Lester, eu vou guiá-la até seu destino, o palácio. Qualquer inconveniente que a Senhorita tiver deve ser relatado a mim para que eu possa satisfazê-la da melhor forma. Sua vida será protegida como se fosse a minha, então não precisa se preocupar.

Eu apenas fiz que sim com a cabeça, ele disse tantas coisas e tão rápido que eu não estava nem prestando atenção, apenas assentindo. Olhei para a entrada do aeroporto, tinham tantas pessoas lá esperando as Selecionadas, a maioria dos cartazes estavam com o nome de outra Selecionada: Louise Yasya. Nenhum deles tinha meu nome, nenhum. Eu fiquei chateada com aquilo, mas estava em outra província, nem era a minha, ninguém sabia que eu ia para lá, ou seja, ninguém teve tempo para fazer um cartaz para mim.

Conforme eu me aproximava, as pessoas gritavam mais. E a maioria sabia meu nome. Alguns falavam a pronúncia errado por causa do sotaque forte daquela região, mas eu não liguei, eu finalmente tinha encontrado um lugar onde as pessoas realmente torcessem por mim, e aquilo era a melhor coisa.

Não vi Louise em lugar algum. Também não me lembrava da foto dela no Jornal Oficial no primeiro dia, muito provavelmente ela foi anunciada depois de mim, quando a festa lá em casa já tinha começado. Mesmo não vendo nenhuma foto dela, eu já tinha escutado boatos: ela era linda, uma das melhores concorrentes, as pesquisas diziam que ela estava no topo da preferencia pelo povo, muito carismática e divertida, eu tinha ficado com alguém que era legal aos olhos de todos. A viagem seria muito boa!

Sempre parava no meio do caminho para falar com as pessoas, tirei mais de 800 fotos com todas as pessoas que me pediam, dei autógrafos (ou rabisquei em algumas folhas e disse que era um autógrafo), fiz tudo o que eu pude, queria ser daquelas artistas legais que faz de tudo para agradar aos fãs, muito embora aquelas pessoas não estivessem ali para me ver. Elas tinham ganhado um bônus e tanto!

– Por aqui, Senhorita Lester – guiou-me meu guarda real.

Passamos por um corredor imenso e, descendo uma rampa, chegamos ao lado de fora do aeroporto, onde os aviões ficavam. O guarda continuou guiando-me até o jatinho mais lindo que eu já vi: ele era azul e tinha marcas de pétalas, as flores azuis eram marcas registradas da Seleção. Nessa época, onde se visse flores azuis a Seleção estava lá. Eu subi uma escada até a porta do jatinho e entrei, finalmente. Minha acompanhante já estava lá.

– Eu irei ficar aqui atrás cuidando da sua segurança, Senhorita, qualquer coisa só chamar – disse o guarda.

– Qual seu nome mesmo? – perguntei.

– Soldado Adams, Senhorita.

– Certo, muito obrigada! – Sorri.

Continuei andando até a minha cadeira, no lado da janela, ao lado da minha companheira de viagem. Ela estava sentada perfeitamente. De onde eu estava, só conseguia ver seu cabelo loiro. Se ele já era perfeito, como será que ela era?

Eu me sentei e ela olhou para mim. Parecia muito irritada, quase transbordando de irritação. Eu sorri e disse “oi”. Ela tirou o fone do ouvido.

– Eu achei que você não chegaria nunca! – reclamou.

Eu me senti ofendida, não quis demorar a viagem, eu achei que pudesse falar com todos antes de irmos, ninguém disse que eu teria que ser rápida.

– Eu não quis demorar, fui falar com...

– Foi falar com quem? Com todo mundo? Qual sua casta mesmo?

– Sou Três, se quer saber – falei, sendo seca agora. Como ela poderia estar me culpando se nem sabia o motivo da minha demora?

– Já deveria saber, Três estão sempre atrasados, nunca chegam na hora certa, sempre atrasam, sempre estão por baixo. – Ela revirou os olhos e colocou os fones.

– Você não sabe do que está falando! – Eu já estava gritando.

Um dos guardas veio até nós e perguntou se estava tudo bem.

– Está sim – bufei. Ela nem sequer olhou para ver o que estava acontecendo.

– Tudo bem, só não queremos confusão entre as Selecionadas, vocês sabem que é proibido.

– Certo – falei, querendo que ele se explodisse. Não estava com saco para regras e guardas reais. Tudo o que eu imaginava daquela viagem simplesmente foi para o espaço.

Depois de um tempo sem falar nada, eu já estava com saudade da minha irmã, do meu irmão. Eles iriam ficar bem sozinhos, mas sempre gostei de cuidar deles. Eu era a mãe deles depois que ela se foi, eu era o pai deles depois que ele ficou doente e agora eu era só um fantasma. Eu só esperava que eu pudesse falar com eles do palácio. Eles não nos explicaram nada sobre as regras lá dentro quanto a aparelhos eletrônicos, eles simplesmente pegaram todos os nossos celulares.

Fiquei imóvel durante todo o caminho. Não estava mais com saco pra nada. A Selecionada não era nada do que eu imaginei. Agradeci por estarmos perto de Angeles e eu não precisar ficar mais tempo com ela depois que ela mostrou as garras. Carismática e gentil? Louise não tinha nada disso, era rude e nojenta. Muito provavelmente uma Dois, só podia ser uma Dois-nariz-em-pé.

Ela se mexeu na cadeira dela. Podia ouvir o barulho, mas não me atrevi a olhar, ela devia estar com a maior cara amarrada. Talvez tentasse me matar com os olhos, quem sabe. Na faculdade de filosofia sempre nos ensinaram que a irritação era apenas um obstáculo a ser ultrapassado, acho que Louise não sabia disso. Ela deveria passar mais tempo na biblioteca e menos no salão de beleza.

– Ei – chamou-me Louise.

Não olhei, não estava afim de me estressar. Queria chegar lá linda e feliz.

– Ei, Marzia... Seu nome é Marzia, não? – ela continuou.

Fiquei de cara fechada, não sabia se ela podia ver o meu reflexo na janela, mas eu podia ver o dela. Ela estava com uma cara de cachorro que caiu do caminhão de mudanças terrível. Será que estava arrependida? Não ia arriscar tomar um fora, continuei olhando para a janela.

– Olha, eu sei que deve estar chateada, eu não queria insultar sua casta, me desculpe, sério.

Eu podia ver seu rosto pela janela e ele demonstrava arrependimento real. Talvez ela não fosse tão ruim assim. Virei-me para ela. Queria que ela visse que tinha me magoado de verdade. Ela continuou:

– Desculpe. Eu sei que estava errada. Disse coisas horríveis, mas sei quando tenho que pedir desculpa. Se tem uma coisa que não sou é teimosa. Queria te pedir desculpas por ser tão estressada.

– Eu... Eu fiquei bem chateada, Louise – admiti.

– Eu sei, eu imagino. Eu estava estressada por causa da demora. Eu posso ser bastante chata quando estou estressada. Juro que eu não queria fazer isso, mas fiquei tão irritada com isso tudo de Seleção e demora e regras que acabei descontando tudo em quem nem tinha nada a ver. Peço desculpas.

Eu não sabia se ela estava falando a verdade, mas que opção eu tinha? Eu poderia virar a orgulhosa em questão e dizer que não aceitava as desculpas, ou poderia simplesmente aceitar e quando chegasse ao palácio arrumar outra amiga, ou talvez ficar sozinha se fosse o que me restasse. Ela não me parecia nada má quando não estava irritava afinal.

– Tudo bem, eu te desculpo. Desculpe-me por gritar com você também, você me irritou – eu disse, rindo. – Olha, que tal começarmos de novo?

– Boa ideia! – ela disse.

Seu sorriso era incrivelmente lindo. Ela era linda. Tinha como competir com ela? Ela tinha se mostrado muito sincera quanto aos sentimentos, era linda e ainda era a favorita do povo... Talvez a Seleção fosse um mar para peixes grandes.

– Sou Marzia – apresentei-me.

– Louise! - Sorriu.

– Está animada?

– Na verdade, estou m-o-r-r-e-n-d-o de ansiedade, parece que não durmo há três décadas! – Ela riu. – Eu estou bastante nervosa, desculpe por jogar isso encima de você.

– Ai, então somos duas, eu estou muito animada! Ainda não caiu a ficha que estou indo para o palácio casar com algum dos príncipes!

– Nossa! Por falar nos príncipes, que olhos são aqueles os do príncipe Matthew?!?!

Eu ri. Também achava eles lindos. Uma das poucas coisas em que os irmãos não eram iguais era na cor dos olhos. O príncipe Matthew tinha olhos verdes e o príncipe Thomas, marrons, assim como a Rainha Naomi.

Eu conversei com Louise o resto da viagem inteira. Ela era muito legal no fim. Talvez eu devesse parar de julgar todo mundo pela cara que tem e pelas respostas que dá. Todas aqui estamos muito nervosas e com os nervos a flor da pele. Estamos todas no mesmo barco e eu acho que, depois de Louise, eu tinha aberto mais os meus olhos para o que a Seleção era de verdade. Nós não estávamos de férias, estávamos competindo para ser a rainha ou princesa de Illéa.


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo vocês conhecem minhas duas Selecionadas: Dakota e Louise. Podemos perceber que as duas tem personalidade forte e ERA O QUE TAVA FALTANTO PQ VCS SÓ FIZERAM CAFÉ COM LEITE, NÓS AQUI É TUDO NA BASE DA CAFEÍNA!! Então, espero que tenham apreciado a suuuuper gentileza das duas :3