Matthew Lewis acordou com alguém o cutucando. Ele sabia exatamente a quem aqueles dedos pertenciam, era acordado por eles fazia anos e poderia diferenciá-los de qualquer outros do mundo. Eram os dedos doces de Annaliz que o acordavam todos os dias desde que se entendia por gente. Annaliz era a criada oficial de Matthew. Era a pessoa para qual ele sempre pedia ajuda em tudo o que fazia, a confidente dele, a que sabia de tudo e fingia não saber de nada, a garota perfeita para ele, mas uma criada melhor ainda.

Matthew já teve uma queda por ela. Ele tinha 14 anos e ela 22, com cara de 16 e espírito de 12 anos. Matt contou para ela e ela o ajudou a se "recuperar" do romance, mas aos 16 anos ele voltou a ter essa queda por ela novamente e só nessa idade recebeu seu primeiro beijo. O melhor beijo que ele já teve. Annaliz foi a única pessoa que já beijou Matthew, se Annaliz não existisse, ele nunca saberia o que é beijar alguém que gosta muito, ou saber o que é amor de verdade.

E agora ela estava ali. O acordando de manhã para suas obrigações da manhã. Café da manhã, banho, escolha de roupas, até o Jornal Oficial de Illéa, onde seriam anunciadas as 35 garotas com quem ele teria que conviver e que teriam que conquistá-lo a ponto dele escolhê-las para passarem toda uma vida juntos.

Pressão demais? Talvez para seu irmão fosse, mas para Matthew não fazia tanta diferença. Annaliz disse que se o coração dele achasse a garota perfeita, ele saberia de cara quem ela era. Matthew confiou em Annaliz, afinal, ela já se apaixonou tantas vezes e ele só se apaixonara uma e por uma criada, além de ser uma mulher mais velha.

Hoje, Matthew e Annaliz são íntimos o suficiente para não se apaixonarem, mas Matthew ainda se sente uma criança apaixonada quando Annaliz vem o acordar de manhã e a primeira coisa que ele vê quando acorda e a última quando dorme é a mulher que ele amou.

– Acorda, bela adormecida - chamou Annaliz, com seu sorriso meigo logo pela manhã.

Matthew gemeu com sono e se virou para o outro lado. Ele estava muito bem acordado, só queria charme com ela e Annaliz sabia bem. Uma coisa que Matthew amava na criada era que ela o chamava de tudo quanto é nome, menos de alteza ou príncipe ou qualquer coisa relacionada a nobreza. Isso o fazia se sentir normal. Está ai uma coisa que Matthew nunca será.

– Anda, Matthew, seu irmão já está acordado há duas horas! Acho que nem dormir direito esse menino dormiu! Você não está nem um pouco ansioso? - a voz de Annaliz fez Matthew sorrir e entregar seu sono falso. - Ei, acorda logo!

Annaliz se sentou na cama aos pés de Matthew e ele a surpreendeu puxando-a de uma vez só para o lado dele na cama, passando suas pernas por cima das dele. Eles estavam cara a cara na cama.

– Porque eu ficaria preocupado? Trinta e cinco garotas no palácio e eu tenho que sair com todas, isso é ruim? - Matthew sorriu e fitou o teto todo desenhado.

– É quando você tem que escolher só uma e seu irmão também - falou Annaliz, encolhendo as pernas, mas mantendo-as por cima de Matthew. - E além disso, você sabe como é difícil fazer essa escolha.

– Eu vou ficar bem, vou ficar ótimo! Não tem com o que se preocupar! - o garoto sorriu para Annaliz e puxou a perna da criada, com apenas uma meia-calça preta, para mais perto dele. Ele a encarou nos olhos. - Se você estivesse na Seleção, eu te escolheria.

– Se eu estivesse na Seleção você ficaria totalmente perdido aqui no palácio e é por isso que estou aqui. Para te ajudar e te alertar que você está atrasado.

Matthew riu e observou Annaliz se levantar e ir pegar algo em um saco que estava sobre o baú perto da cama de Matthew. Ela retirou um terno azul escuro perfeito de dentro do saco, ele parecia ter sido retirado do fundo do oceano com aquela cor e ser do melhor tecido que Matthew já vira. Ele percebeu assim que olhou para o terno que aquilo era muito mais importante do que ele esperava. Era a noite. Era a vida de Matthew em jogo, era toda uma vida que seria mudada. Eram dias e dias em que Matthew terá que fazer a escolha mais difícil que ele já fez. E sozinho.

– Vou chamar criadas para vesti-lo - anunciou Annaliz. - Esteja pronto em meia hora, precisamos dar início ao almoço e logo depois os preparativos para o Jornal Oficial começam. As ordens foram deixar vocês arrumados o dia todos para que não ajam imprevistos, além disso, tire o paletó quando for comer, esse tecido é importante demais para ser manchado com seu descuido.

Annaliz sorriu. Matthew odiava quando ela era "a criada", Annaliz tinha que ser "a garota normal", não aquela à quem davam ordens para dar ondem ao garoto. Matthew virou para o outro lado com cara de emburrado, não queria acordar, muito mais se Annaliz fosse ser chata assim o dia todo, pois o rei estaria os vigiando o tempo todo.

– Se não estiver pronto, vou de carregar de cueca até a mesa do almoço!

Matthew se virou para Annaliz sorrindo e ela deu uma piscadela. Ele sorriu e ela acenou antes de sair do quarto. Ela não era como as outras que reverenciavam Matthew, ela não ligava para formalidades e fazia Matthew se sentir um garoto normal por mais que fossem por poucos segundos. Era isso que ele amava nela.

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Thomas Lewis não dormiu a noite toda. Sempre que ele fechava os olhos a única coisa que ele poderia pensar era em como eram os rostos das meninas que viriam. Como elas poderia agir, como elas seriam, qual ele escolheria. Ele queria muito estar certo de fazer a escolha certa e era isso com o que ele estava mais preocupado. Queria ter certeza que aquela a garota perfeita para ele, mas como? Ele só esperava que seu coração soubesse.

Thomas estava tão nervoso que mal conseguia parar de tremer, suas mãos suavam e ele não conseguia ficar quieto em um lugar só. Ele se levantou assim que o primeiro raio de sol pode ser visto da sacada. Não conseguia mais ficar na cama. Thomas estava tão ansioso para ver as garotas, para se apaixonar pela primeira vez com alguma delas.

Será que ele faria certo? Quando saberia qual deveria escolher? Como saberia que não está mandando para casa alguém que deve ficar? E se nenhuma fosse a menina ideal? A Seleção parecia tão assustadora, Thomas não tirava ela da cabeça, era tudo o que ele conseguia ver, tudo em que pensava e ele pensava nisso o tempo todo.

– Alteza...? - chamou uma das criadas. Thomas estava olhando para os montes ao redor do castelo, tentando se manter calmo, com as mãos nos bolsos para que não começasse a roer as unhas. - Devo avisar-lhe que o almoço já está saindo, além disso, depois do almoço começaram as preparações para a grande noite. O senhor precisa de algo?

– Não, muito obrigado, Elisa - agradeceu o príncipe. E a criada se retirou com uma reverência.

O príncipe ainda ficou ali alguns minutos imaginando o que estava por vir. Ele tinha certeza que Matthew ainda estava dormindo, ou sendo acordado agora por alguma criada. Matthew sempre foi o cara despreocupado e sempre o melhor em tudo, Thomas era apenas o mais esforçado e responsável, pelo menos ele tinha atributos certos para ser o rei. Já Matthew... Ele só era o cara durão e mesmo assim conseguia ser o melhor.

Alguém bateu na porta e Thomas mandou entrar. Era sua mãe, a rainha Naomi. Ele a observou entrar, estava linda com o vestido, não havia um dia que ela não estivesse perfeita, aliás. Ele lembrou do que sua mãe disse sobre a Seleção dela. Ela sabia que ia ser do príncipe, hoje rei, desde a primeira vez que ele a tocou. E ele também. Mas e se com ele não fosse assim? E se nunca soubesse de verdade?

– Thomas - começou a rainha Naomi. - Acredito que esteja nervoso. As moças me disseram que estava trêmulo e desajeitado. - A rainha riu um pouco no final.

– Só estou um pouco nervoso. Essa noite vai ser um pouco desgastante.

– Se vai ser isso para você, imagine para as meninas! Garotas de todas as castas foram selecionadas. Isso é bem divertido. Me lembro bem de quando fui selecionada. Era uma Quatro e comemoramos todos os minutos depois da minha foto aparecer na TV! Foi uma festa perfeita!

– Acha que vai ser difícil? Você sabe, nunca houve uma Seleção em que dois irmãos disputassem as trinta e cinco garotas. - Thomas encarou o chão.

– Hm, eu acho que vai ser muito prazeroso, Tommy, tanto para você quanto para seu irmão. Vocês são bons garotos. Se houver alguma garota que deva ficar, seu coração os alertará disso. Mesmo que o tempo não dê chance, o coração sempre sabe o que dizer e quando o fazer, não há dúvida disso. Vocês são se sair bem, filho. Tenho total certeza disso.

Thomas sorriu. O confortava o fato dela ainda o chamar de Tommy, como se nada fosse dar errado, como se ele fosse perdoado de qualquer erro depois que o cometesse, como se ele ainda não tivesse que passar por aquilo. Mas ele tinha e depois daquelas palavras ficou mais calmo. Caminhou até a sua mãe e a abraçou forte. Ela o beijou e o levou de mãos dadas até a Sala de Jantar.

Aquela seria uma grande noite. Nenhum dos garotos sabia o que esperar, mas ambos estavam ansiosos para descobrir o que viria.