Kaos - A Chave de Davy Jones escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 13
Estranhos Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Kaos está sentindo muitas coisas diferentes que ela não entende bem o que são, mesmo que já tenha sentido antes, elas chegam em uma potência e de modo diferente.



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– Wiiiill! - Elizabeth gritou desesperada.

– Fogooo! - Will ordenou e todos os canhões foram acionados, machucando os tentáculos do Kraken e fazendo com que caíssem por cima do navio ou ficassem cambaleando antes de cair na água.

Os tentáculos se recolheram e todos correram para a borda comemorando. Acho que isso só deixou o Kraken ainda mais nervoso, na minha opinião. Sim, um bom plano, mas não foi o bastante para afastar o Kraken de nós.

– Ele vai voltar, temos que sair do navio - ouvi Will dizer, então ele também vai embora assim?

– Não há botes - disse Elizabeth e ela tinha razão, o tentáculo do Kraken quebrou o último.

– Capitã? O que vamos fazer? - perguntou Kyle.

Fiquei olhando para a borda, nós podíamos nadar até algum lugar, ou sobre um pedaço de madeira, mas depois do meu discurso de ficar para ajudá-los, eu ia embora? E era esse o pensamento do Will também? era impossível matar o Kraken, eu não sabia o que fazer.

– Capitana?

– Levantem as redes, ponham a pólvora na carga! - Will ordenou e todos começaram a fazer. Fiz um sinal para que Kyle e Rato fossem ajudar enquanto eu estava ali, pensando no que fazer e na raiva que eu estava sentindo ainda. Will então entregou uma arma para Elizabeth - Você não pode errar.

– Quando estiver seguro - ela disse.

– Estamos com pouca pólvora, seis barris! - gritou um dos marujos lá embaixo.

– Will, há só seis barris de pólvora.

– Então joguem o rum!

Gibbs me olhou com uma cara triste.

– Você ouviu Gibbs, joguem o rum - pobre rum.

– Isso... joguem o rum - ele disse triste, quase chorando.

E então eles começaram a jogar os barris de rum para a rede. Na borda do navio eu olhei adiante e vi algo vindo em nossa direção em ala velocidade debaixo d'água e então, de repente, um baque no navio. O Kraken voltou. Olhei para o outro lado do navio e vi Jack em um bote. Ao mesmo tempo que fiquei com raiva eu poderia ter ido pra lá, mas sem ser escondido e sim com Kyle, Rato, Will, Elizabeth, Gibbs e quantos mais coubessem, mas não, ele pensa só nele mesmo, quanto egoísmo. Tudo bem que ele pensou em me levar, mas não posso abandonar meus amigos assim. Então meus pensamentos foram cortados quando o Kraken veio com toda força enfiando seus tentáculos no lado do navio, despedaçando ele todo.

– Puxem!! - Will gritou para levantar a rede.

Os homens começaram a fazer força para colocar a rede cheia de pólvora e rum acima do convés. Enquanto isso era possível ouvir os gritos dos marujos sendo levados pela parte de baixo do navio, onde os tentáculos passeavam e se rebatiam, quebrando tudo. Até que finalmente chegaram na parte de cima.

Comecei então a cortar os tentáculos que se aproximavam de mim. Eu estava com duas espadas, uma do lado contrário como costumava usar e então dei um giro fazendo um corte no tentáculo que tentava pegar Rato e depois, na continuação do giro, passei a espada ao contrário, abrindo uma ferida muito maior, o que fez o tentáculo se recolher. As pessoas estavam sendo puxadas e quando eu caí, um tentáculo veio por cima de mim, mas Kyle o fez recuar com uma ferida de espada, me pegou pela cintura e me puxou para o lado, me colocando de pé. Agradeci brevemente e continuei a lutar contra os tentáculos.

Então, enquanto corria em direção a um tentáculo para salvar um marujo, um outro pegou minha cintura e começou a me puxar, mas de repente parei de ser puxada e cai nos braços de alguém. Quando fui ver eram os braços de Jack. Tirei o tentáculo da minha cintura e fiquei de frente pra ele.

– Obrigada - eu disse.

– Não há de quê - ele respondeu com um sorriso.

– Pensei que ia embora.

Jack me abraçou e enfiou a espada num tentáculo que aparecia atrás de mim.

– Não consegui ir embora - ele ficou me olhando nos olhos.

– Elizabeth! Atira! - ouvimos Will gritar.

Olhei para o lado e Elizabeth acabara de ser puxada pelo Kraken, mas foi salva por alguém que eu não sei quem, mas ela deixou a arma cair.

Comecei a correr para ajudá-la com o tiro e Jack me parou.

– Não ganho um beijo de agradecimento? - ele perguntou.

– Estamos sendo atacados pelo Kraken, não dá tempo - eu ri.

– Nós podemos morrer sem nunca saber se poderia ter dado certo Kaos.

Me aproximei dele, bem perto de seu rosto.

– Nós não vamos morrer Jack - olhei nos olhos dele e saí correndo de novo.

Ele veio atrás de mim, subindo pela outra escada até onde fica o timão. A arma de Elizabeth caiu ali. Ele pisou na arma, Elizabeth desesperada começou a empurrar o pé dele para sair de cima, quando ela viu que era Jack, ela parou de empurrar. Jack pegou a arma e apontou para onde Will estava e só então eu percebi que ele estava pendurado naquele monte de pólvora e rum. Ele não podia atirar com Will lá em cima, mas graças aos deuses Will conseguiu se soltar e caiu no convés. Os tentáculos do Kraken começaram a envolver aquele monte de barris e então Jack disparou a arma, fazendo uma enorme explosão no centro do navio e quando o fogo abaixou, foi possível ver os restos de tentáculo do Kraken e então seus tentáculos se recolheram. Eu podia jurar que ouvi o Kraken chorar de dor, um gemido estranho que lembrava dor pelo menos. O navio estava cheio de restos de carne de Kraken e o cheiro era um pouco ruim.

– Ainda não acabou. Capitão, ordene! - gritou Gibbs.

– Abandonar navio - disse Jack descendo as escadas e eu descendo em seguida.

– Jack, o Pérola...

– É só um navio, amigo - ele dizia em um tom desanimado enquanto os outros desciam para o bote, até Kyle e Rato, que eu fiquei feliz de escoltá-los.

– Tem razão, temos que ir para a terra - disse Elizabeth.

– Até a terra, é muita água - disse o careca.

– Temos que tentar - disse Will.

– Se formos agora, dá tempo antes do Kraken chegar, ele está se recuperando da perda dos tentáculos, provavelmente com muita dor - eu disse e todos me olharam estranho. - O que foi?

– De qualquer forma podemos escapar enquanto ele afunda o Pérola - disse Will e eu agradeci mentalmente por ter tirado os olhares estranhos de mim.

– Abandonar o navio. Abandonar o navio ou a esperança - disse Gibbs, dramático como sempre, indo em direção ao bote.

Todos começaram a descer. Gibbs, Olho de vidro, o careca, Will e quando eu fui descer, Will ficou parado, olhando para um lado. Eu ia chamá-lo, mas decidi olhar também e vi Elizabeth beijando-o. Okay, não consigo descrever exatamente o que senti assim que vi aquela cena.

– Vamos, temos que colocar o bote em movimento - gritava Gibbs.

Parei de olhar aquela cena e tentei não olhar para Will, não agora porque eu não sabia o que aquilo significava pra mim. O que era esse sentimento? Raiva? Tristeza?

– Will! Kaos! Vamos! Não há tempo a perder.

Will começou a descer as escadas meio desconcertado e eu também, mas eu ainda não conseguia entender porque eu sentia isso tudo, Jack é meu amigo, eu não amo ele, pelo menos não da mesma forma que amei Peter. O que é isso? Cheguei no bote e me sentei ao lado de Kyle, eu ainda não tinha coragem o suficiente para olhar para Will. Então Elizabeth veio descendo, sem Jack. Ela se sentou e eu e Will olhamos para ela.

– Onde está o Jack? - Will perguntou com uma certa ironia disfarçada.

Ela olhou pra ele e eles ficaram se encarando por um tempo.

– Ficou pra trás para nos dar uma chance - ela disse com uma cara séria.

Meu coração ardeu em chamas e minha vontade era de socar Elizabeth, mas enquanto eu não soubesse o real motivo de fazer isso, eu não poderia socá-la. Jack voltou, mas eu não sei porque ele voltou, talvez ele sempre quis Elizabeth e por isso voltou, talvez Jones colocou ideias falsas na minha cabeça sobre o coração dele disparar quando eu fiquei em perigo. Eu não sei ao certo, só sei que eu estava com tanta dúvida e raiva que meu corpo não conseguia se mexer e eu não conseguia falar.

– Vamos! - Elizabeth ordenou e começaram a afastar o bote do Pérola.

Olhei para o Pérola enquanto afastávamos. Pérola e Jack estão ficando para trás e Elizabeth ficou um pouco perturbada. De ter beijado ele ou de ter deixado ele para morrer? Parei de olhar Elizabeth para não atacá-la e fiquei olhando o Pérola enquanto nos afastávamos. Era realmente muito estranho abandonar Jack daquele jeito, era diferente de abandoná-lo por vontade própria como fiz quando fui para o Holandês e era estranho me imaginar sem Jack, sem o pirata que me ajudou a sair de Port Royal, sem aquele que quase me fez ser devorada por canibais, sem aquele meu amigo que nos fazia sair de situações horríveis das piores maneiras possíveis mas que davam certo. Com quem eu iria discutir essas coisas bobas de romance? Com quem eu iria planejar saques? Perder Jack ali foi quase como perder meu pai. Então vi o Kraken subindo no navio. Meu coração começou a doer e aquele mesmo sentimento de ver o meu pai caindo no mar em fúria retornou. Kyle esticou sua mão escondido para mim e eu a peguei e meu olho começou a arder. Tentei segurar o choro, não queria demonstrar fraqueza naquele momento para todos do bote. E então assistimos o Pérola afundar e eu limpava rapidamente a lágrima que caiu, eu queria gritar, como da última vez, mas seria estupidez. Respirei fundo tentando não chorar quando não vi mais o Pérola. Comecei a bater meu dedo na madeira do bote para controlar meus sentimentos e por mais que eu tentasse, ou quisesse, eu não conseguia parar de olhar para o espaço vazio onde antes estava o Pérola.

– Então... para onde vamos? - perguntou o anão.

– Nós...

– Nós vamos para a Dalma - eu disse sem olhar para nenhum deles com seriedade.

– Kay, eu sei que foi uma grande perda pra você só que...

– Eu sou a Capitã aqui Will - eu olhei para ele seriamente - e eu digo que vamos para a Dalma. Você quer fugir? Tudo bem, vai embora.

Nos encaramos por alguns segundos.

– Tudo bem, desculpe...

– E vocês? Estão comigo? - perguntei para Gibbs, o mudo com papagaio, o olho de vidro, o careca e o anão.

Eles se olharam com um pouco de dúvida.

– Eu estou - disse Gibbs depois de me analisar por um tempo.

– Eu também - disse o anão em sua voz grave e rouca.

– É... eu também - disse o olho de vidro com a voz fina e trêmula.

– Isso aí - disse o careca.

– Vamos! Rá! - disse o papagaio e o mudo assentiu pra mim.

Olhei para Will e Elizabeth, ela não conseguia me olhar nos olhos, devia ser o ódio que eu estava emanando pra ela. Eles concordaram com a cabeça. Arrumei meu chapéu de Capitã e então o careca e o olho de vidro começaram a remar em direção à casa de Dalma.


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