Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 73
Capítulo Trinta - Adeus


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo da temporada! Terceira será iniciada na segunda quinzena de novembro!



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Adeus é uma palavra quase impossível de pintar.
As cores parecem um misto de tristeza com angústia, então ela julgaria que as cores frias seriam mais do que suficientes. Um roxo pálido que pintava a superfícil dos cabelos dela quando ele a abraçava, o azul de seus olhos, o bege de seu corpo, novamente o azul em suas vestes. Ela olhava como mera observadora, atenta ao impressionismo das cores que em sua imaginação pintava aquela cena indesejada.

If you hear a voice
In the middle of the night
Saying it will be all right
It will be me

Nunca fora boa observadora de pessoas.
Preferia vê-las através do que imaginava de sua alma, algo que seu coração ousava adivinhar antes de pintar. Naquele momento ela nada dizia, apenas pincelava a tela suavemente, coincidentemente o logal de despedida era seu local de partida. Era lá que encontrava inspirações para os quadros que enfeitavam as próprias paredes de sua casa e de sua imaginação. Ela não tinha pretensões complexas nas cores, senão as que as auras apaixonadas refletiam naquele momento. Ela via azul muito azul e um pouco de roxo. Era tão triste que seus olhos podiam jurar que estavam sendo acompanhados por lágrimas.

If you feel a hand
Guiding you along
When the path seems wrong
It will be me

Ela molhou o pincel no pequeno copo de plástico e deixou os pingos de água caírem levemente na tela, uma falsa aquarela de sentimentos.
— O que faz aqui, Vio?
Foi interrompida pela voz que lhe chamou. Alexy tinha o cenho franzido atrás dela, enquanto tentava decifrar o quadro diante de seus olhos.
— N-ada, e-eu só gosto de pintar aqui. — ela tinha o corpo rígido, apesar de já ter tido uma franca conversa com Alexy, ainda era difícil tê-lo tão perto, sabendo que ele nunca a corresponderia.
— Hm. Esses dois parecem alguém que conheço. — ele pôs a mão sob o queixo, depois notou o que havia diante deles.
Era Natsumin e Castiel.
— Está pintando eles dois, sua danadinha. — Alexy sorriu maliciosamente.
— N-não, e-eu sempre pinto aqui, só que hoje...
— Tudo bem, Vio, estou brincando. — ele deu um abraço apertado nela, de costas. — Ninguém esperava... Eles dois, você sabe. Qual o nome do quadro?
Violette crispou os lábios. — Despedida.
Alexy pareceu triste. — Parece pertinente. — ele abaixou os ombros. — Eles se gostam, está bem claro. — ele apontava para a frente, enquanto fazia um biquinho torto. — Ainda bem que Armin desistiu enquanto tinha tempo, porque ele não tinha chance mesmo.
Violette continuou em silêncio.
— Seu quadro está lindo, Vio. — Alexy se posicionou ao seu lado, agachado. Ela estava sentada em um banquinho baixo e de madeira, diante da tela grande. Natsumin e Castiel estavam a poucos metros dela e, se se esforçasse, podia ouvir bem a conversa dos dois.
— Obrigada. — ela ruborizou. Notou que nos olhos de Alexy havia lágrimas. Prefiriu nada dizer, não queria se precipitar.
— É difícil ver duas pessoas que se gostam terem de se despedir assim, não é? — Alexy passou as costas das mãos nos olhos. — Por isso que você usa essas cores frias, não é? Cores da tristeza.
Violette não resistiu e lançou-o um olhar firme e ligeiramente impressionado. Realmente, Alexy a entendera.

There is no mountain that I can't climb
For you I'd swim through the rivers of time
As you go your way
And I go mine
A light will shine
And it will be me

O Parque em que estavam chamava-se parque dos artistas. Tinha esse nome em razão dos belos adornos que o enfeitavam, como plantas em formas de animais, ou personagens de desenho animado, mas também, principalmente, pela quantidade de pintores que ali ficavam sentados, recebendo inspiração todos os dias. Castiel e Natsumin não combinaram de se verem de propósito ali, apenas era o lugar mais próximo de onde ela pudesse vê-lo partir sem precisar ser notada, já que o parque estava a poucos metros da rodoviária em que o ônibus com a banda de Debrah o esperava.
O dia anterior fora fatídico com as despedidas de Castiel de amigos mais próximos como Lysandre e Iris. Principalmente os dois, integrantes ferrenhos de seus momentos de banda amadora. Castiel era grato aos dois pela amizade que cultivaram. Ele tentara aproveitar ao máximo o tempo no hotel com Natsumin, mas a cólera que o atingiu nesse último dia fora tão forte que o que mais conseguiu fazer foi ficar sentado com ela no sofá, assistindo filmes de terror bem ruins no final da noite. Tocara "I will crumble", de vez em quando pegava o violão pela madrugada e, vendo que ela não conseguia dormir, tocava acordes aleatórios e tentava fazê-la cantar, como ouviu na primeira vez em que se conheceram de verdade, naquele porão imundo que hoje é um grande salão.

If there is a key
That goes to your heart
A special part
It will be me

Mas ela simplesmente não cantava, era como se a música fosse a grande culpada de todos os seus problemas e, pelo que ela havia explicado de sua história, de fato o era. Castiel partia, mas decidido a conseguir conquistar seu sonho, seu sucesso, não por ele ou Debrah, mas por ela, por Natsumin. Para prová-la que a música é a maior expressão da alma e nunca poderia ser uma coisa ruim. Iria prová-la que um dia ela também poderia realizar seu sonho e, se ele retornasse com fama e prestígio, voltaria para dá-lo à ela também.

If you need a friend
Call out to the wind
To hold you again
It will be me

Era um novo pacto do ruivo consigo mesmo. Em silêncio.
Na tela, o rubro de seus cabelos tornara-se vinho. Um forte vinho tomando o quadro tal qual ele fazia no ambiente. Próximos, a mão dele tocava o rosto dela, enquanto o vento esvoaçava o cabelo dos dois, tapando as expressões doloridas em seus rostos. Dizer adeus para sempre seria difícil e as palavras que aquele ar frio, apesar de estarem em dezembro, trazia, ecoavam como um triste e amargurado violino. Violette também pintava aquelas palavras, coincidentemente, ou não, como melancólicas canções.

Oh, How the world seems so unfair
Creating a love that cannot be shared
As you go your way
And I go mine
A light will shine
And it will be me

— Quando eu voltar, posso não ser mais o mesmo. — ele ajustou o violão na case que carregava nas costas.
— Eu sei. — ela tinha ambas as mãos sobrepostas e os braços abaixados sobre a própria barriga.
— Posso estar com uma modelo russa do meu lado.
Ela sorriu. — Eu sei.
— Posso, de verdade, ter outra pessoa. — o rosto dele não sorria.
— Eu sei. — azuis como a tristeza pincelada na tela, os olhos dela eram serenos.
— Só sabe falar isso, eu sei? — ele tinha o cenho franzido. Os raios de fim de tarde iluminava o rosto dele, mas na tela não eram alaranjados, eram azulados e tristes.
Ela sorriu um sorriso pálido como as cores pastéis daquela composição.
— Você vai sobreviver sem mim, apesar de tudo. — ela levantou os ombros e apesar da brincadeira, uma aura arroxeada sobrevoava sua cabeça.
— Quem disse que não, hum? — ele tocou seu rosto.
— Nossa vida vai mudar bastante, não vai? — ela acariciava o próprio rosto na mão dele, enquanto segurava-a.

I see ever after there's a place for two
Give me your tears and laughter
I will be there for you

— Espero que para a melhor. Estou cansado dessa m*rda. O colégio é uma m*rda.
— É. — ela assentiu. — Estamos.
— Você provavelmente vai estar com um idiota ao seu lado quando eu voltar. Vai ser mãe e milionária.
Ela suspirou e balançou a cabeça negativamente. — Para de colocar o Viktor no meio.
— Quer apostar? — o olhar sério dele era pintado em azul escuro, bem como o contorno dos dois.
Ela balançou a cabeça num sorriso. — Aprendi com o meu erro, depois da primeira vez.
— Está dizendo que morar comigo foi um erro? — ele cruzou os braços e aquele sorriso de canto de boca era difícil de ser desenhado.
— Ver você andando sem camisa o tempo inteiro foi traumatizante. — ela revirou os olhos, escondendo um sorriso que foi pintado de azul claro.
Ele abriu novamente o sorriso difícil de desenhar. — Ontem, anteontem e na primeira madrugada não pareceu ser assim. — ele pronunciou na orelha dela e aquilo era para ser pintado de rubro, mas ia quebrar a harmonia das cores frias. Usou uma mistura de roxo e vinho. Nada sutil, como o cabelo dele.
— Para de ser bobo. — ela o empurrou ligeiramente.
— Não fui eu que me atirei nos seus braços. — ele deu um passo em sua direção, formando uma silhueta bonita dos dois. Aquilo seria pintado de azul marinho, definitivamente.
— Você vai poder pular a cerca de vez em quando, quando eu voltar. — ah, aquele sorriso difícil de novo...
— Não faço esse tipo de coisa. — ela ria, mas falava sério.
— Eu sei. — ele modificou as expressões, um sério azul fechado ficaria melhor. — Acho que dessa vez o adeus é de verdade.
— É sim. — ela o olhava com intensidade. Uma intensidade mais azul do que roxa. Talvez uma intensidade anil, de muitos tons de azul?
— Adeus então. — ele não se moveu. As cores ficavam difíceis. Talvez fosse o momento de borrar com um pouco de água novamente.
— Adeus. — o suspiro dela seria azul bebê.
Ele apenas assentiu com a cabeça, antes de dar de ombros e passar a andar para a saída do parque. Aqueles passos seriam de um azul intenso, misturado a cinza. Talvez conseguisse a tristeza daqueles pés. Ele sequer a deu um abraço.
— Castiel. — ela não precisou elevar a voz para que ele virasse o rosto. Aquele tom seria lilás.

The Sun and the Moon
The Land and the Sea
Look all around you
It will be me

— Mesmo com as modelos lindas e russas, acho que isso vai impedi-lo de se esquecer de mim. — ela caminhou em sua direção, passos quase cinza de tão tristes. Entre seus dedos havia algo, ela pegou a mão dele e a abriu, colocando ali um colar com uma pedra preta. Ônix. Comprara de um andarilho porque era justamente a pedra que a remetia aos olhos dele.
— Não garanto que vou me lembrar. — ele pôs o colar no pescoço, ainda sério, depois tomou a mão dela nas suas. — Muito menos se vou voltar. — aquela dureza seria azul marinho. — Se persistir nisso, Natsumin, acabará sendo deixada para trás e ficando sozinha para sempre.
— Portanto viva sua vida sem precisar se lembrar de mim. — os olhos com lágrimas dela seriam cinzas. — Mas, não se esqueça que essa pedra tem a cor de seus olhos.
— Isso não dá pra esquecer. — ele apertou a pedra com a mão direita. Aquele gesto que mostrava o quanto se importava tinha de ser azul escuro.
O silêncio que se formou também era cinza. Ficaram olhando-se por minutos, sem dar uma palavra, a cor daquele momento era um lilás com poucos toques de sutil vermelho. Paixão.
Ele levou a mão ao bolso, de onde tirou algo de cor rubra, transferido à tela para vinho. Era uma paleta pequena, sua preferida. Vermelha, a menor do mercado. Direcionou à ela.
— Isso aqui é para você se lembrar que o passado tem de ficar no passado. E que você não pode se condenar a vida inteira. — ele pôs a paleta na mão dela e fechou-a, apertando com força nas suas. — A vida é pequena, Natsumin. Como essa paleta.

There is no mountain that I can't climb
For you I'd swim through the rivers of time
As you go your way
and I go mine
A light will shine
It will be me 

Ela nada disse, as lágrimas desciam por seu rosto.
Ele, por sua vez, puxou-a, finalmente para um abraço.
— Castiel já foi embora e te deixou para substituí-lo? — ela pronunciou entre lágrimas no peito dele. Aquela silhueta formada com o abraço era roxa, com certeza.
Ele tomou a mão dela na sua. Apertou-a. — Adeus, Natsumin.
Ao fundo, o ônibus buzinava à espera dele. Castiel já estava com mais de trinta minutos de atraso. Aquela irritação também seria vinho.
— Adeus. — ela deixou o vento engolir suas palavras, à medida que o sol se punha. No quadro, o misto de cores que condecoravam a intensidade daquele momento eram mosaico para um fundo que envolvia a silhueta de um casal num abraço. O resultado final era fabuloso, enquanto a menina que ficara ali, sozinha, caminhava com o vento afeiçoando seus cabelos, um azul de tristeza permeando seus contornos daquele dia, para sempre.

It will be me ...


Até a TERCEIRA TEMPORADA!
A segunda se despede com esse capítulo curto e significativo, como a palavra Adeus.


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Notas finais do capítulo

Peço perdão pela absurda demora para postar o capítulo. Minha vida está uma loucura, mal tenho tempo para escrever. Gratidão a todos que ainda acreditam em DB e até a terceira, breve e última temporada de DB!



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