Boneca Humana escrita por SweetAmmy


Capítulo 8
Capítulo 7 — Não faça o que eu digo. Nem o que eu faço!


Notas iniciais do capítulo

→ Resolvi misturar um pouco da história verdadeira de Amor Doce aqui nesse capítulo, vocês irão perceber por causa da Debrah.

→ Como não consegui postar mais de uma imagem, não deu pra ver a foto do vestido da Kaplan. Então, aqui está: http://media.tumblr.com/993ce0cb8a6dddf727db14ae5db4ec12/tumblr_inline_n74jj16mZm1se8j5v.jpg

→ No capítulo, Kaplan cita a "Agência de Moda Boulevard", que é uma agência que eu criei para ser uma versão The Sims da Victoria's Secret. Aqui uma foto do ensaio "Wild & Free", que a Kaplan citou: http://media.tumblr.com/993ce0cb8a6dddf727db14ae5db4ec12/tumblr_inline_n74jj16mZm1se8j5v.jpg



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No dia seguinte, fomos visitar o Clark e a Lianna no hospital. Eles não estavam tão feridos e os médicos disseram que eles seriam liberados em menos de uma semana. Fiquei feliz porque os dois estavam bem, mas essa não era minha maior preocupação no momento.

Debrah Bocch. Debrah Blocch. Esse nome não saía da minha cabeça. Quando ela beijou Castiel na noite do show de Os Engravatados, fiquei mais intrigada do que já estava. Se os dois tinham realmente algo a mais, por que Castiel havia ficado tão apreensivo quando Logan a chamou para cantar com a banda?

Mas depois de algumas pesquisas com meus colegas (mais necessariamente, com a Peggy), descobri a verdade sobre Debrah e Castiel. Debrah era uma ex-aluna de Sweet Amoris e ex-namorada de Castiel. Enquanto estudava aqui, costumava cantar com Castiel e Lysandre (é por esse motivo que Debrah e Lysandre não tiveram problemas para cantarem juntos naquela noite). Ah sim! E Castiel tinha cabelo preto naquela época.

Debrah sempre dizia que seu sonho era ter uma carreira musical, viajar pelo mundo fazendo shows e ser famosa como as grandes divas da música. Um dia, ela teve essa oportunidade quando ela e Castiel fizeram testes para integrar a banda Stars From Nightmare. Debrah conseguiu, mas Castiel não porque, de acordo com a banda, Castiel “era um diamante bruto que ainda iria demorar para ser lapidado”. Isso queria dizer que o ruivo-de-farmácia era bom; entretanto, ainda demoraria bastante para ele ser considerado profissional.

Sem hesitar, Debrah aceitou a proposta da banda e se mudou para os EUA, nem se dando o trabalho de ficar triste por Castiel não ter sido aceito e não poder ir com ela. Para falar a verdade, Peggy me disse que ela terminou tudo entre os dois porque não poderia continuar um relacionamento à distância. E, como se já não fosse o bastante, Debrah ainda deu razão para a Stars From Nightmare e afirmou que Castiel ainda precisaria melhorar muito caso realmente quisesse fazer sucesso algum dia.

Por mais irritante que Castiel fosse, confesso que senti pena dele quando Peggy me contou tudo. Primeiramente porque eu pensava que Castiel nunca poderia se apaixonar por alguém, sendo que tinha aquele jeito rude e rebelde. E segundo: Ser abandonado por alguém que você ama, ainda mais de uma forma tão fria? Ai… É de partir o coração!

Na escola, o assunto não era outro. Todos estavam felizes porque Debrah estava na Europa novamente e estavam morrendo de saudade. Debrah costumava ser muito popular quando estudava aqui. Entretanto, uma pessoa não estava feliz: Ambre Armitage. Desde o primeiro dia em que a conheci, estava na cara que ela era apaixonada pelo Castiel. Não sei se ela pensou que tinha alguma chance, mas, de qualquer forma, foi tudo por água abaixo com o retorno de Debrah.

— Não sei o que o Castiel vê nela. — Ambre dizia. — Ela é tão artificial! Tem tatuagens, usa lentes de contato, se veste como periguete e nem é tão bonita assim! Até acho que ela colocou silicone! Não me lembrava de os peitos dela serem tão grandes quando ela estudava aqui.

E eu apenas ria discretamente. Armin, Alexy e Wendy não conheciam Debrah; haviam entrado na escola logo depois que ela saiu. Kentin era quem nos contava tudo - apesar de que ele não tinha muitas lembranças da garota.

— Tudo o que eu me lembro é de ela ficar ensaiando no porão da escola junto com Castiel e Lysandre depois das aulas. — Kentin disse enquanto conversávamos na sala de aula antes de a aula começar. — E os três não conversavam muito com os outros. Mas nessa época, Castiel e Nathaniel eram amigos.

— Epa! Como é? — Perguntei. Achei não ter ouvido direito.

Kentin riu.

— Por mais estranho que pareça, os dois realmente eram amigos. Digo, não “melhores amigos”, mas eles conversavam sem um ameaçar o outro. A rivalidade entre os dois começou por causa da própria Debrah.

— Que tudo! — Alexy exclamou. — Além de famosa, talentosa e sexy, ela também é problemática?

— De certa forma, sim. — Kentin confirmou. — Castiel flagrou Nathaniel dando em cima de Debrah poucos dias antes de ela ir embora. Aí vocês já sabem. Nathaniel veio com um monte de desculpas, mas nenhuma foi o suficiente para fazer Castiel acreditar nele.

Kentin não parecia estar mentindo, mas eu nunca imaginei que Nathaniel gostasse de garotas com o estilo de Debrah.

— E mesmo com a garota longe, os dois ainda continuam com essa rivalidade. — Falei.

— Exatamente. Mas já até nos acostumamos. — Kentin disse.

Nesse momento, uma pessoa entrou na sala de aula. Era Debrah. O que ela estava fazendo aqui?

— Oi gente! Que saudade de vocês! — Ela disse, sorrindo. Alguns foram correndo cumprimentá-la.

— A diretora Shermansky me deu permissão para vir aqui ver vocês de novo. E também me deu permissão para dar uma notícia fabulosa para todos vocês! — Debrah disse. Todos se sentaram para ouvir melhor.

Debrah se posicionou ao centro da sala e começou:

— Bem, como todos sabem, eu estive nos EUA por algum tempo sendo vocalista da banda Stars From Nightmare. Então, algumas semanas atrás, a Associação Golden Voice me fez uma proposta para gravar um CD solo e eu aceitei, então saí da banda.

A Golden Voice era uma associação formada por um monte de gravadoras por todo o mundo que descobriam novos talentos e lançavam-nos na mídia. Meu pai e a gravadora dele, Foxy Records, faziam parte dos associados.

— Estou de volta à França porque a gravadora Foxy Records, uma das associadas da Golden Voice, foi indicada para gravar o meu CD. Kaplan, — Debrah se voltou para mim, sorrindo. — Muito obrigada pela oportunidade que seu pai me ofereceu.

— Hã… — Eu não sabia o que falar. Eu estava mais assustada do que lisonjeada. Meu pai não havia me contado nada sobre isso. E… Se Debrah iria gravar com meu pai, o que aconteceria com Os Engravatados? — De nada!

— E logo depois que eu gravar o CD, irei fazer uma turnê de lançamento por seis meses, pelo mundo todo. Mas isso não é o mais espetacular da história toda! Castiel Dumont, venha à frente, por favor! — Debrah olhou para ele, ao fundo da sala. Era estranho vê-la chamando-o com tanta formalidade, considerando que os dois eram ex-namorados.

Castiel nunca obedeceu a ninguém. Havia vezes em que nem a própria diretora Shermansky conseguia domá-lo. Mas, por incrível que pareça, ele se levantou sem hesitar e posicionou-se ao lado de Debrah. Ela segurou as mãos dele e disse:

— Castiel, eu quero que você seja o meu guitarrista na turnê!

Todos, inclusive Castiel, ficaram surpresos. Era um convite irrecusável, ainda mais porque Castiel sonhava com isso há muito tempo.

— Quando eu te vi tocando com Os Engravatados, concluí que eu estava errada em achar que você não era bom o bastante. Você é incrível e eu lamento muito não ter percebido isso antes. — Debrah disse. — E então? Aceita meu convite? Aceita ser meu guitarrista na minha turnê?

Todos olharam para Castiel, os olhos brilhando e esperando uma resposta. E ele estava um pouco apreensivo.

— Posso pensar um pouco primeiro? — Castiel perguntou.

— Claro que pode, gatinho. — Debrah disse. Peggy havia me contado que Debrah chamava Castiel de “gatinho” quando os dois namoravam. Ainda não acredito que Castiel, sendo tão durão, se submetia a um apelido tão tosco! — Irei ficar em Bridgeport pelas próximas semanas e passarei aqui em Sweet Amoris depois de amanhã. Com certeza a diretora Shermansky não verá problema em eu fazer uma visitinha de vez em quando. E acredito que até lá você já tenha sua resposta.

— Fique tranquila. Te darei a resposta depois de amanhã. — Castiel respondeu.

— Perfeito! Eu preciso ir. Foi um prazer conversar com você. — Debrah deu um selinho em Castiel e depois se virou para a sala. — Foi um prazer rever todos vocês! Até mais!

E então ela saiu. Imediatamente, Peggy foi até Castiel curiosíssima.

— Você já tem a resposta em mente, não é mesmo? — Peggy perguntou.

— Eu disse que iria pensar. Me deixe em paz, Peggy! — Castiel disse, rude, como de costume.

— Uma proposta assim é irrecusável! — Peggy insistiu. — Você vai ser famoso! Mesmo que ainda não tenha certeza da resposta, acho que já tem alguma coisa em mente, não é?

— Eu já disse que vou pensar! — Castiel disse. — Mas… Pode ser que eu aceite.

Peggy bateu palminhas, comemorando, assim como boa parte da classe.

— Me mantenha informada de tudo! — Ela disse. Castiel ignorou-a e voltou a seu lugar. O professor Faraize já havia chegado.

Passei o resto do dia distraída, pensando na proposta que Debrah havia feito. Será que Castiel aceitaria mesmo ir com Debrah depois de tudo o que ela fez com ele? E mais: o que seria de Os Engravatados? Eles continuariam na gravadora ou meu pai iria dar um tempo com eles agora que Debrah estava na jogada?


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Depois da aula, Kentin, Alexy, Armin, Wendy, Rosalya e eu fomos passear um pouco no parque. Eu não queria voltar tão cedo para casa sabendo que Debrah poderia estar lá. Havia alguma coisa nela que eu não gostava muito.

— Kaplan, você não comeu nada hoje! — Kentin disse. Ele e os outros estavam pegando sorvete em uma máquina do parque.

— É verdade. — Wendy disse. — Você nunca come muito, mas hoje você passou o dia inteiro com a barriga vazia. Pegue um sorvete, vai te fazer bem!

— Não quero, obrigada. — Falei. Estive tão distraída o dia inteiro, que nem me importei em pegar um brioche no almoço, só pra disfarçar que eu não preciso comer.

— É o fato de o Castiel aceitar a proposta que te incomoda, não é? — Wendy arriscou.

— Não. — Menti. — Por que você acha isso?

— Porque você está estranha desde o momento em que ele disse que talvez aceitaria ir na turnê. — Rosalya disse. — Pare de mentir para si mesma, porque você não está enganando ninguém!

— Estou mais preocupada com Os Engravatados. — Falei. — Não queria que as gravações com eles fossem adiadas por causa da Debrah. Eu gosto muito deles e eles são realmente bons. Merecem ser famosos. Debrah, por outro lado, já é famosa. Não precisa de mais um CD!

— Eu ainda acho que você está triste porque o Castiel prefere a Debrah ao invés de você! — Armin disse.

— Eu não sei de onde vocês tiraram que eu tenho algo a mais com o Castiel! Sou amiga dele da mesma forma que sou amiga de vocês cinco. — Falei.

— Sim. Só que você não quer levar nenhum de nós cinco para a cama! — Armin riu.

— Ai Armin! — Falei, dando um soco no ombro dele. — Que horror!

Ficamos conversando mais um pouco até que olhei na tela do celular e percebi que já eram quase 6 da tarde. Eu já deveria ir para casa antes que meus pais começassem a ligar como loucos querendo saber o porquê de eu ter demorado tanto.

Quando cheguei em casa, notei um bilhete pregado em meu notebook. Nele dizia:

Kaplan,

Fomos fazer compras e depois jantaremos na casa dos Armitage. Eles contrataram a Oasis para fazer o paisagismo de sua casa de campo e iremos discutir tudo no jantar hoje à noite.
Não voltaremos tarde.
Beijos, Lucia.

Olhei para o bilhete por alguns segundos e tive uma ideia. Insana, talvez. Mas tentadora.

Aquela seria a oportunidade perfeita para consertar tudo. Algumas semanas atrás, eu havia dado uma péssima primeira impressão para os Armitage. Na visão deles, eu era uma garota barraqueira que se vestia como vadia e que não era boa companhia para seus filhos - apesar de Daniel achar que eu tinha a personalidade de um líder. Hoje, eu iria provar que eles estavam errados em fazer julgamentos prévios de mim. É loucura, eu sei. Eu poderia piorar tudo ainda mais, mas eu tinha que arriscar. É como eu sempre digo: Nunca façam o que eu digo, muito menos o que eu faço.

Fui a meu armário e peguei a roupa mais comportada que encontrei. Uma blusa curta com listras alternadas nas cores branco e azul-marinho e uma saia longa que tinha uma estampa semelhante à de uma galáxia. Para completar, peguei uma tiara de flores e coloquei em minha cabeça. Meu visual estava meigo e ao mesmo tempo divertido. Ok, eu ainda estava com uma parte do tronco de fora, mas quem liga? Eu escolhi uma saia longa, isso já é um grande progresso!

Depois de fazer uma breve maquiagem, fui até um ponto de táxi perto de minha casa e pedi que um deles me levasse a Paris. Mas antes de ir para a casa de Nathaniel, passei em uma confeitaria e comprei uma torta de abóbora. Acho que eles iriam gostar, afinal, quem não ama torta de abóbora? Pelo menos é o que minha mãe diz, já que eu nunca comi.

Eu já havia estado na casa dos Armitage algum tempo atrás, quando eu e Castiel fomos fazer o trabalho do Dia da Pizza. Paguei ao taxista e fui até a porta de entrada equilibrando a torta de abóbora em uma das mãos e tendo o cuidado de levantar a saia longa com a outra, para que eu não tropeçasse.

Toquei a campainha e esperei que alguém viesse me atender. Quem apareceu foi Nathaniel.

— Kaplan? Você está tão… Uau! — Nathaniel arregalou os olhos, olhando para mim.

— O que foi? — Dei uma risada. — Não esperava me ver bonita?

— Bom… É que… Eu… Na verdade… — Ele gaguejava. E então soltou uma risada. — Desculpe. Eu não esperava te ver aqui hoje.

— Meus pais já estão aí? Sinto muito pelo atraso, passei na confeitaria antes para comprar isso. — Ergui a torta de abóbora. — É sempre educado a visita trazer a sobremesa.

— Oh, claro! Entre! — Ele abriu caminho para que eu entrasse e depois me levou até a sala de jantar, onde meus pais conversavam com Daniel e Claire Armitage. Ambre também estava com eles. A mesa já estava posta, mas ninguém ainda estava comendo. Isso era um bom sinal, afinal, interromper o jantar de alguém é um péssimo hábito.

— Kaplan? — Philippe olhou um pouco espantado para mim. Daniel e Claire também me fitaram.

— Ela é filha de vocês? — Claire perguntou para meus pais. Ih, ferrou!

— Antes que digam alguma coisa, desculpem pelo meu atraso. — Falei, colocando a torta em cima da mesa. — Pensei que seria uma boa oportunidade para recomeçarmos, já que a primeira impressão que os senhores tiveram de mim não foi muito boa. Antes de tudo, queria pedir minhas sinceras desculpas ao Sr. Armitage por meu comportamento inadequado na noite em que nos conhecemos. Estou muito arrependida, agi sem pensar e depois consegui refletir sobre o quanto meu comportamento foi digno de reprovação. Como um pedido de desculpas, comprei esta torta de abóbora para o jantar de hoje à noite. Sei que não é muito, mas é de coração.

Daniel e Claire ficaram paralisados por alguns segundos, absorvendo aquilo que eu acabara de falar. Da mesma forma, meus pais se entreolhavam, não entendendo nada que eu havia falado. Philippe lançou um olhar para mim que dizia “Precisamos conversar sobre isso depois”. Fiquei um pouco tensa esperando uma resposta. Até que, depois de um longo silêncio, Daniel disse:

— Acredito que todos merecem uma segunda chance. Faça valer à pena, srta. Foxy. — Daniel disse em tom firme, o que me fez suspirar de alívio e me sentar na cadeira ao lado de minha mãe.

— Muito obrigada senhor. — Falei, sorrindo. — Quero acrescentar também que seu filho, Nathaniel, está me ajudando muito e me incentivando a melhorar minhas notas em Sweet Amoris. Estou sempre me mudando por causa da profissão de meu pai e nem sempre é fácil se acostumar com um lugar novo. Felizmente, há pessoas como o Nathaniel que sempre te dão apoio no que você precisar. Ele está sendo um ótimo amigo desde o dia em que cheguei.

Ambre revirou os olhos, achando tudo aquilo entediante. Nathaniel olhou para mim e dei uma piscadinha de volta. Ele sorriu.

— É bom saber que ele finalmente está fazendo algo de útil. — Daniel disse.

"Controle-se Kaplan, controle-se!", eu dizia para mim mesma. Era impressionante como Daniel fazia pouco caso de seu filho.

— Já que estamos todos aqui, podemos começar a comer. — Daniel disse. — E então depois, Lucia, iremos te levar ao meu escritório para conversarmos sobre seu projeto para nossa casa de campo.

— Seria ótimo, Daniel. — Lucia disse. E então um cozinheiro (ele usava um daqueles uniformes que vestimos no Dia da Pizza) trouxe os pratos e as taças. Minha mãe disse que era costume dos franceses ricos servir a comida antes de os pratos e taças estarem na mesa. Estranho, não?

— Você não vai se servir, querida? — Claire perguntou, vendo que eu era a única que ainda tinha o prato vazio.

— Eu… Não estou com muita fome! — Falei. Todas aquelas comidas estavam cobertas de molho. E eu não posso comer nada que tenha muito molho, porque isso pode prejudicar meu mecanismo interno. E o que seria pior naquele momento do que dar um curto-circuito bem na frente de todos?

— Você deveria comer um pouco. — Ambre disse. — Os chefs da família tem mãos de ouro!

— Disso eu não duvido nem um pouco! — Falei. — O caso é que… Eu comi com meus amigos antes de vir para cá.

— Se você viria para cá, então por que comeu antes? — Daniel perguntou.

— Eu… — Fiquei apreensiva, tentando encontrar algo para dizer. Então, Lucia ergueu uma taça e disse:

— Quero propor um brinde ao novo projeto. Uma casa de campo que terá um resultado incrível!

Todos ergueram suas taças e brindaram. “Obrigada, mãe!”, pensei. Como se adivinhasse meus pensamentos, Lucia se aproximou de mim e cochichou um “De nada”.

Depois do jantar, Daniel e Claire levaram meus pais ao escritório deles e nós permanecemos na sala de jantar enquanto os cozinheiros recolhiam os pratos vazios.

— Se não se importam, eu vou assistir ao desfile de moda da agência Boulevard pela TV. — Ambre disse. — Se quiserem ver também, estou na sala.

Ela se levantou e saiu da sala de jantar. A Agência de Moda Boulevard era relativamente nova, mas já havia alcançado um sucesso enorme porque eles eram simplesmente inovadores. Gostavam de fazer ensaios temáticos e transformavam uma coisa sexy em algo divertido. Como o do mês passado, que se chamava Wild & Free, em que os fotógrafos levaram as modelos para o meio da floresta com a intenção de tornar tudo mais real.

A Boulevard era a única agência de moda que eu suportava, apesar de eu odiar moda. Mesmo assim, não queria passar o resto da noite assistindo a um desfile entediante com Ambre.

— Pra falar a verdade, eu odeio moda. — Falei para Nathaniel.

— Que ótimo. Pensei que teria que assistir a um desfile chato com a minha irmã! — Nathaniel riu. — O que quer fazer?

— Hum… Que tal um filme? — Sugeri.

— Claro. Tem uma TV no andar de cima. — Nathaniel disse. Nos levantamos e eu segui Nathaniel.

Infelizmente, saia longa e salto alto nunca foram uma boa combinação para mim - e era por isso que eu evitava ao máximo ter que usar. Enquanto eu subia as escadas, pisei em falso e acabei tropeçando no salto e caindo escada abaixo. Seria até engraçado, se não fosse o fato de que a parte de baixo da saia acabou com um rasgo horrível. O salto provavelmente havia feito aquilo. E minha mãe iria me matar quando saísse do escritório.

— Kaplan! — Nathaniel desceu as escadas correndo e foi até onde eu estava. — Você está bem?

"Se eu estou bem? Eu acabei de cair de uma escada, retardado!", pensei. Mas a verdade é que eu estava bem. Eu não me machucava como pessoas normais.

— Estou. — Falei, tentando me levantar. Foi aí que percebi uma coisa: Meu pé não funcionava direito. Oh, oh! Provavelmente a queda fez com que alguma engrenagem se soltasse ou desse mal-contato.

— O que aconteceu?

— Acho que eu torci meu tornozelo! — Falei. Era o que os humanos normalmente falavam quando caíam e não conseguiam mover o pé.

— Droga! — Nathaniel disse. — Venha, eu vou te levar ao quarto da minha irmã. Meu quarto está uma bagunça e eu acho que ela não vai se importar.

— Não precisa, sério! — Falei.

— Você se machucou. Tenho uma pomada para dor muscular no meu quarto, eu posso te emprestar. — Nathaniel disse.

Seria burrice minha recusar. Se eu queria parecer humana, tinha que agir como uma. E a Kaplan humana, provavelmente, teria torcido o tornozelo de verdade e precisaria de uma pomada.

— Tudo bem. — Respondi. Nathaniel me ajudou a levantar e serviu como um apoio até o quarto de Ambre. Lá, ele me colocou em cima da cama de Ambre enquanto ia buscar a tal pomada. O quarto de Ambre, ao contrário do que pensei, tinha as cores vermelho e preto como principais na decoração. Era por causa de Castiel, claro. Só não pensei que Ambre fosse tão obcecada assim.

— Achei a pomada. — Nathaniel voltou, jogando a pomada para mim. — Não use demais.

— Você espera que eu mesma passe? — Perguntei. — Com uma saia justa desse tamanho, eu mal consigo andar, quanto mais levar a minha mão até meu tornozelo. Boa tentativa, mas você vai ser o médico hoje! — Joguei a pomada de volta para ele.

— Q-quer que… Eu passe a pomada em você? — Nathaniel disse, ficando vermelho.

— Por quê? Você tem alguma objeção? — Perguntei.

— Er… Não… — Ele disse. E então sentou-se na cama e tirou meus sapatos. Em seguida, abriu o tubo de pomada e começou a massagear meu tornozelo com ela.

— Se estiver doendo, é só dizer que eu paro. — Nathaniel disse. Concordei, mesmo sabendo que nunca iria doer. Meu tornozelo não estava machucado de verdade. Eu até fechei os olhos para aproveitar melhor a massagem.

E depois de uns minutos, percebi que deixá-lo passar a pomada em mim foi a pior ideia que eu poderia ter tido em toda a minha vida. A engrenagem do meu pé não funcionava, mas a pele sim. Lembram-se que eu havia dito que Agatha, quando fez a pele falsa, colocou o sentido do tato muito intensificado? Então. A pele era sensível demais, e, consequentemente, eu era sensível demais. A massagem estava tão boa que, involuntariamente, eu acabei soltando um gemido forte (daqueles que as pessoas soltam quando estão tendo um orgasmo). Imediatamente, Nathaniel parou e eu tapei a boca com as mãos. Mas já era meio tarde.

— Foi um gemido de dor. Eu juro! — Falei. Percebi que Nathaniel havia ficado mais vermelho do que já estava.

— T-tudo bem… — Ele disse. — Acho melhor eu parar.

Droga! Em que eu fui me meter? Devia ter ficado quieta! Fui tentar me parecer demais com os humanos e acabei piorando as coisas. Agora Nathaniel devia pensar que eu sou uma pervertida!

— Então… — Falei, tentando mudar de assunto e acabar com aquele silêncio constrangedor. — O que achou da volta de Debrah para a França?

— Sinceramente? — Nathaniel disse. — Pra mim, tanto faz. E se Castiel aceitar ir com ela será até melhor. Assim não precisarei olhar para a cara dele todos os dias.

Aquilo não me agradou nem um pouco.

— Está com ciúmes porque Debrah prefere ele do que você? — Alfinetei, me lembrando que a rivalidade deles começou quando Nathaniel deu em cima de Debrah.

— Você não deveria falar isso. Você ouviu apenas um dos lados da história. — Nathaniel se defendeu.

— Desculpe, mas se todo mundo está falando que você assediou a Debrah, então tem um fundo de verdade! — Falei.

— Tem. Mas isso é no que Debrah fez eles acreditarem.

— Como assim?

— Antes de tudo: Você ouviu a história toda? Inclusive a parte de Debrah e Castiel terem feito testes para a Stars From Nightmare? — Nathaniel perguntou. Concordei com a cabeça e ele continuou. — Bom, em primeiro lugar, Debrah não foi a única aceita para fazer parte da banda. Castiel também havia sido aceito.

— Como você sabe?

— Porque eu ouvi Debrah conversando ao telefone com Joseph, o baterista da banda. — Nathaniel respondeu. — Debrah queria sucesso sozinha e, para isso, fez com que os integrantes da banda acreditassem que Castiel não estava pronto para assumir o compromisso de ser o guitarrista principal. E então eles concordaram. E eu ouvi tudo. Disse que iria contar a verdade para o Castiel. Mas Debrah foi mais esperta. Ela foi até o Grêmio Estudantil naquele dia e ficou dando em cima de mim. Disse que sabia que eu a desejava e que me daria uma chance se eu prometesse não contar nada para o Castiel. E, nesse instante, Castiel entrou no grêmio e viu a cena. Ele interpretou errado e achou que eu havia dado em cima da namorada dele. E foi assim que nos tornamos rivais.

— Nossa… — Fiquei perplexa.

— Na época, todo mundo acreditou na versão de Debrah e eu fiquei sem falar com eles por um bom tempo. Mas hoje já não ligam mais pro ocorrido. Se quer saber, não faz muita diferença ter o Castiel como amigo ou inimigo.

— E como eu vou saber em qual versão acreditar? — Perguntei. O que Nathaniel disse fazia sentido, mas poderia muito bem ter sido apenas uma história que ele inventou.

— Acredite no que quiser. — Nathaniel disse. — Mas tenha a certeza de que eu nunca mentiria pra você.

Olhei para ele. Nathaniel parecia sincero.

— KAPLAN! — Ouvi gritos no andar de baixo. Era minha mãe.

— Eles devem ter terminado a reunião. — Nathaniel disse. — Eu te ajudo a descer as escadas.

Calcei os sapatos novamente e me apoiei em Nathaniel para descer as escadas.

— O que houve com você, srta. Foxy? — Daniel perguntou.

— Kaplan caiu e torceu o tornozelo, então eu emprestei um pouco da pomada para lesão muscular. Só estava ajudando-a a não sentir tanta dor. — Nathaniel disse.

Philippe me olhou de forma gélida. Devolvi um olhar de “O que queria que eu fizesse? Só estou tentando ser humana!”.

— Muito obrigada, Nathaniel. — Lucia disse, pegando meu braço e colocando em volta do pescoço dela. — E muito obrigada por tudo, Daniel. Vou falar com o pessoal da Oasis e já poderemos começar na próxima semana.

— Excelente. Até mais! — Daniel e Claire nos acompanharam até a porta e acenaram para nós enquanto caminhávamos até o carro. Lucia me ajudava a andar e depois expliquei para ela e Philippe o que havia acontecido de verdade com meu pé.

— Amanhã ligamos para Agatha e perguntamos o que fazer. — Philippe disse enquanto voltávamos no carro para Bridgeport. — Você só precisa tomar mais cuidado.

E ele tinha razão. Por causa disso, passei a maior vergonha na frente de Nathaniel. Mas, ao menos, ele havia me contado outra versão da história que eu (e pelo visto, o resto da sala) não conhecia. Ambas as versões eram convincentes, mas somente uma era verdadeira. A questão era: Qual?


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