A Chance escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 22
Capítulo 21




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A casa está silenciosa, lembrando a Beatriz que seus empregados estão de folga,  o que a deixa aliviada, pois assim pode deitar tranquilamente no sofá da sala com os braços cobrindo seu rosto. Naquele momento desiste de tentar não chorar, sente que não precisa ser forte agora, permitindo que suas lágrimas escorram por sua face. Ela não consegue pensar em como sairá daquela situação. “Hugo está acordado e não se lembra de nada sobre a vida dele, a nossa vida. Ele esqueceu tudo o que vivemos, por quê? Por que somente o período em que estávamos juntos? Um período que agora só eu conheço profundamente... Não serei capaz de enfrentar essa situação sozinha. Preciso pensar em algo, preciso de uma ideia. Não quero lembrar como éramos antes... Como éramos antes? Antes de ficarmos assim? Não posso pensar nisso... Preciso de ajuda,mas quem poderá me ajudar?

Por mais que tente, não consegue pensar em nada e acaba dormindo no sofá. Mas não por muito tempo , pois o interfone que está na cozinha toca, fazendo com que ela acorde. Após muita insistência, ela atende:

— Diga, Jairo – pede Beatriz, identificando o porteiro.

— Oi, Dona Beatriz, uma moça chamada, Lúcia Maria Ribeiro da Mata, está aqui na portaria. Ela não consta na lista da restrição, mas nunca veio aqui... Eu autorizo?

— Pode autorizar. –responde Beatriz que desliga o interfone.— Era só o que faltava... – resmunga respirando fundo, enquanto olha para o teto da cozinha.

***

 Beatriz começa a se questionar sobre o motivo de Lúcia estar sentada em sua sala, quando ela a encara ajeitando a blusa de alças roxas e a saia curta de couro.

— Ele não me reconheceu... – começa Lúcia com a voz embargada — Quando ele fugiu... Eu estava lá no quarto... Ele acordou e disse... Seu nome... Quando me viu... Ele pulou da cama, desesperado. Eu vi dentro dos olhos dele... Ele não me reconheceu. Fugiu... Depois ele voltou com você... O jeito como ele te olhava naquela sala... Aquilo foi insuportável... Vocês dois... É demais saber…

— Desculpa, aonde está querendo chegar? – pergunta Beatriz, confusa.

— Você ainda o ama? – pergunta Lúcia fuzilando Beatriz com os olhos.

— O quê? – questiona Beatriz franzindo a testa — O que isso tem a ver com o fato de Hugo ter perdido a memória?

— Ele se lembra de você e do seu  beijo. Além de saber que vocês foram casados, então o pouco que eu conheço dele, sei que tentará ficar com você... Assim como você também sabe disso. O que eu quero saber, agora, é se você ainda o ama e se vai querer resgatar esse amor, pois  saiba que eu desistirei do Hugo tão fácil. Espero que também não se aproveite da situação, pois quando a memória dele voltar, ele virá até mim e te odiará muito mais.

— Sinceramente, essa conversa está um pouco confusa. Não sei se isso é uma ameaça, uma confissão, ou se você está me perguntando…

— Você ainda o ama? – pergunta Lúcia, exaltada — Você vai lutar pelo Hugo? Você vai disputar comigo o amor dele?

— Lúcia, seu caminho está livre. Ele é todo seu – afirma Beatriz calmamente — Era isso que gostaria de ouvir? Aí está. Quando ele for liberado, você o levará para sua casa ou onde vocês estiverem morando.

— Tudo bem, era isso mesmo que eu gostaria de ouvir - responde Lúcia levantando do sofá.

— Como descobriu onde eu morava? – pergunta Beatriz ainda sentada.

— Eu sei há muito tempo. Assim que eu comecei a namorar com o Hugo, o seguia até aqui. – revela Lúcia.

— Ele vinha aqui? - pergunta Beatriz, curiosa.

— Sim, entregar os papéis de divórcio para você – responde Lúcia.

— Impossível, pois esses papéis foram entregues pelo oficial de justiça – recusa Beatriz, incrédula.

— Na verdade, era pelo taxista do Hugo e ele fazia isso há meses. Sempre ficava parado do lado de fora esperando... Não sei o quê – responde Lúcia indo em direção à porta — Bom , preciso ir para casa. Fico feliz em saber que não vai tentar nada para ficar com ele.

— Tudo bem - responde Beatriz levantando do sofá — Até sexta.

— Até – responde Lúcia saindo.

  Beatriz fecha a porta, encosta-se a ela pensando no motivo pelo qual Hugo vinha até o apartamento. O que isso significa? O que isso quer dizer?

 

***

   A aula do curso mal terminou e Beatriz já dirige para casa. Apesar de todos os outros compromissos terem sido adiados, pelo menos conversar com o Flávio, deseja conseguir, tanto que chega a casa e já pega o computador. Senta na sala e conecta o Skype em menos de cinco minutos, aparece uma chamada de Flávio, fazendo Beatriz sorrir.

— Oi, amor – Flávio com um enorme sorriso. Está vestindo um smoking preto, sem a gravata ainda — Tudo bem? Pensei que não conseguiríamos conversar hoje.

— O Hugo acordou – confessa Beatriz, fazendo Flávio ficar sério. Ela omite o fato da praia — Ele perdeu a memória.

— Humm... Nossa, mas eu acho que isso é comum em quem fica muito tempo em coma, não? – questiona Flávio ajeitando a gravata.

— Sim, mas ele esqueceu os últimos catorze anos - informa Beatriz.

— Então ele não se lembra de você? – pergunta Flávio prestando atenção.

— Ele se lembra de mim, se lembra do réveillon e essa é uma das suas últimas lembranças – responde Beatriz com o rosto preocupado.

— E agora? – pergunta Flávio encarando o rosto de Beatriz — O que está te preocupando?

— A médica disse que eu preciso ajudá-lo ,pois sou a única que participou diretamente de todos os eventos ou os mais importantes. Porém é muito cansativo e sugeriu que eu me consultasse com um psicólogo.

— Você terá de ajudar o Hugo a lembrar? – questiona Flávio, desconfiado. Ele respira por alguns instantes— Por que você não pede ajuda a alguém que o conheça tão bem quanto você? Tipo um parente, um amigo…

— O Jorge! – exclama, entusiasmada — Ele pode me ajudar. Assim não precisarei ficar tanto tempo com o Hugo.

— Isso mesmo – concorda  Flávio sorrindo.

— Posso te fazer uma pergunta? – pergunta Beatriz, pensativa.

— Sempre – responde Flávio, amoroso.

— Você se lembra da virada em Copacabana? – pergunta Beatriz curiosa observando a expressão vazia de Flávio.

— Sim... Nunca me esquecerei do que fiz com você e nem da forma que agi – responde com a voz triste — Eu era um idiota naquela época, achava que o mundo devia girar em torno de mim. A forma como falei com o Hugo, não foi... Eu sinto muito pelo o que falei a ele e espero que entenda que não sou mais aquele garoto. Eu mudei, amadureci e percebi que ninguém deve ser rotulado, ou sofrer preconceito. Eu aprendi da pior forma possível que uma atitude inconsequente pode afastar a quem se ama. Eu poderia estar com você até hoje, mas preferi ser o cara babaca e fiquei sem você por muito tempo. Espero mudar isso... e também que  me perdoe.

— Eu já te perdoei naquele dia, lembra? – recorda Beatriz sorrindo.

— Sim, mas não quis ficar comigo. Espero que isso mude…

— Está mudando, senhor Duplex. – comenta Beatriz.

— Amor, eu preciso ir, pois tenho uma reunião com novos clientes, mas prometo que amanhã serei todo seu – despede-se mandando um beijo para a tela — Até amanhã.

— Até amanhã – responde Beatriz tocando na tela.

  Ela pega o telefone envia uma mensagem de texto para Sônia pedindo para conversar com o Jorge amanhã na hora do almoço. Se ele concordar, Beatriz não precisaria mais falar com o Hugo. Porém, a conversa com a Lúcia ainda martela em sua cabeça.

“Você ainda o ama?"

— Não sei – sussurra Beatriz aproximando seu telefone em seus lábios.


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