A vida de uma garota totalmente alienada escrita por Garota Impopularizada


Capítulo 2
Não esquecer...


Notas iniciais do capítulo

Eu acho que vocês estão querendo me torcer pelo pescoço...



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– Vamos, Calipso! Nesse ritmo só vai vencer sua avó - Dylan provocou.

– Estou... Morrendo...

Calipso sentou-se na calçada e arrancou uma florzinha que nascia bem por entre as rochas do chão.

– Se esta florzinha estivesse em um campo ou vaso, poderia crescer o quanto quisesse ou pudesse.

– Ela é bonitinha. É roxa como seus olhos.

– Não gosto de meus olhos.

– Por que não? São bonitos e únicos. Perfeitos para você.

– Únicos... - ela o encarou - Nem tudo que é único é bom. Às vezes precisamos de pessoas parecidas para nos ajudar, mas parece que o Destino me odeia. Isso é muito injusto.

– Tudo é injusto para você. Ser diferente é bom. Assim como eu só consigo me transformar em equinos, sua mãe só pode virar pássaros que cantam...

– Todo pássaro canta e ela só vira pássaros que gravam e reproduzem sons. Mas até a situação de vocês não é igual à minha. Sou a única que não vira nada, nem nada fútil e tolo, como uma formiga. Sei que todos têm uma eximia importância para algo, ou alguém, mas para que necessitaríamos virar formiga?

– Para passar por debaixo de uma porta, ao se esquecer a chave. Para sair de casa sem alguém ver. É frágil, mas tem um valor. Como você.

Dylan sorriu, o que perturbou Calipso.

– Eu acho que eu preciso te dar o doce, não?

– Nós já temos o nosso próprio doce em casa. O que você vai fazer amanhã?

– Não sei. Amanhã tem a escolha do representante, mas eu nunca vou.

– Invés de irmos, poderíamos ir até o jardim. Pode ser?

Calipso o olhou angustiada, por ele não desistir de tê-la.

– Não tenho nada melhor para fazer depois da aula mesmo...

– Até amanhã! - estalou um beijo na bochecha rosada da moça

– Até.

Ao entrar em casa, Calipso percebeu a falta de movimento e gente por ali. Não era de se espantar que os mais velhos chegassem tarde, mas nunca fora um lugar tão vazio e sem vida. Subiu a grande escadaria que levava ao andar superior e ao sótão, onde dormia. Passou pela porta e adentrou no vazio. Um longo espaço branco, apenas com o papel de parede florido de um rosa desbotado estava lá. Apenas poeira.

– Minha nossa! - espantou-se.

– Calipso! - a voz grave e aconchegante de seu pai soou - Filha?

– Sim, pai! Estou aqui.

Ela desceu e o encontrou.

– Venha! Temos que ir embora.

– Por quê?

– Apenas venha. Todas as suas coisas já foram mudadas. Iremos trocar de casa. Só isso.

– Vamos morar onde, senão aqui?

– Vamos para o campo. Terá tempo de sobra para conhecer os mais variados tipos de flores e começar seu treinamento - Paul já a estava levando pelo braço quando o chamou.

– Pai?

– Sim, meu anjo.

– Como ficam meus amigos? E se Erick voltar?

– Você me promete uma coisa?

– Depende dessa coisa.

Paul riu e logo se recompôs.

– Prometa nunca abandonar suas lembranças. Elas são únicas, assim como você. Promete?

– Prometo!

Juntaram os dedos mindinhos e correram da casa. As gotas de chuva se permitiam cair aos montes sobre o refúgio. Era um começo de noite fria e chuvosa. As plantações iriam se molhadas, as flores regadas e os sentimentos levados ao ralo.

A casa situava-se entre algumas outras. Todas eram habitadas por pessoas que mexiam com agricultura ou pecuária, pessoas pobres ou isoladas. Era um local com ar triste mas casas bonitas. Não podiam ser comparadas às que eram de mármore ou detalhadas em ouro do Cercado, mas eram floridas ou bem cuidadas.

Haviam mais crianças do que dentro do cercado. Todos pareciam acabados, sem recursos mínimos para uma refeição, mas assim que abriam a boca, se percebia o quanto eram educados e limpos. Alguém do Cercado, os chamados Cercadores, não esperavam isso de alguém que trabalhava no campo.

Correram até uma casa branca com colunas de decoração em mármore. Era relativamente bela e cheia de flores. Ficaram em pé, escorados na parede gélida e úmida enquanto se recuperavam da corrida.

– Espero que possamos ter um gato ou um cachorro.

– Desde quando você se interessa por algo que não sejam flores?

– Desde que eu vi aquele cachorrinho fofo no Jardim. Estava com uma coroa de flores no pescoço e era uma graça.

– Melhor vermos isso depois. Por enquanto, é melhor nos focarmos em ficar aqui.

– Por que nós viemos para cá mesmo?

– Sua mãe vai contar para você. Não sou bom com palavras - ela riu.

– A mãe diz que você conquistou ela por conversa.

– Sua mãe fala de mais. Vamos tomar um chocolate quente e depois terminamos isso.

Em poucos minutos, estavam adormecidos pelo calor agradável proporcionado pela bebida. A noite foi profunda e calma, com as gotas de chuva batendo repetitivamente em sua janela, em um ritmo frenético e calmante. Ao acordar, jogou-se da cama e pôs-se a caminho do Jardim.

– Procurando por alguém, Alteza?

– Dylan?

– Sim, Vossa Magnificência. Eu, Dylan Sedução, digo à ti, tão longe do chão, que vives na asa da imaginação...

– Pare de cantar, por favor!

– Sim, Vossa...

– Majestade! Agora, pegue para mim uma maçã que estou com fome.

– Vai me fazer de empregada, mulher?

– Vou mesmo!

– Hum...

Dylan procurou uma macieira e logo já estava com uma maçã em mãos.

– Para que nós usamos a Matemática?

– Para contar, ué?

– Não, Calipso! Por que eu vou usar se eu não faço contas?

– Você é estranho.

– Ser estranho é bom. Como ser único ou diferente.

– Se está tentando fazer com que eu me sinta melhor, tenta outra.

– Se eu te pedisse algo, você me daria?

– Quem sabe... Por quê?

– E se eu fizesse isso e te pedisse para não esquecer?

– Isso o...

Dylan a puxou para si, conectando os olhos. Colocou os lábios quentes nos dela e deu início à um beijo calmo e apaixonante. Havia uma troca de energia entre ele. Parecia que Calipso tinha engolido borboletas.

– Olha só... O mauricinho e a menina das flores. Que vais rolar entre vós? - Mia, uma ruiva muito ingrata com a vida os perturba.

– Que faz aqui? - irrita-se Calipso.

– Nada, apenas vim aqui te contar sobre a sua família...


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Notas finais do capítulo

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