Após assistir o vídeo que Dimitri tinha deixado para mim, eu permaneci no meu quarto, abraçando meus joelhos no peito. Eu não podia acreditar que eu era tão burra, mas cada segundo em que eu pensava no que poderia ter acontecido se eu estivesse disposta a abrir mão do meu orgulho por cinco segundos, mas tinha certeza que eu era o ápice da imbecilidade.

— Não é culpa sua — foram as primeiras palavras que o rei Ivan disse para mim quando Anya abriu a porta do quarto para ele. — Embora eu não saiba o que levou a briga entre vocês, conheço meu filho e seu que ele a estima imensamente. Logo Dimitri estará novamente aqui.

Suspirei.

— Eu o acusei de coisas horríveis, Majestade. Fui má e não o deixei se defender e o pior é que eu estava errada!

O rei pousou a mão em meu ombro.

— Eu já lhe disse uma vez e agora digo outra: Dimitri mudou muito desde que a conheceu. Ele faz tudo para que a senhorita seja feliz — o homem mais velho me olhou com franqueza. — Ele a ama, princesa Layla, e duvido que qualquer que seja o assunto que os levou à discussão o faça desistir de você.

Eu também duvidava e isso era ainda pior. Dimitri merecia alguém melhor do que eu.

— Sinto falta do seu filho, Majestade. Quero poder me desculpar com ele e saber se está tudo bem entre a gente — meu rosto queimou quando admiti isso.

O rei sorriu.

— Duvido que seja necessário que você se desculpe. Embora seja uma boa ideia — acrescentou.

Eu também sorri.

— Eu vou.

— Majestade! — Um homem alto e desconhecido chamou do lado de fora da porta. — Temos um problema.

O rei olhou para a porta fechada e assentiu para si mesmo como se aquilo fosse esperado.

— Lamento, princesa. Essa conversa fica para mais tarde?

— É claro — fiz uma reverência e ele a respondeu.

Anya, que estava silenciosa em um canto se sentou do meu lado.

— Eu sou uma idiota, não sou? Eu achei que ele tinha me traído, mas ele não tinha e eu briguei com ele por ele ter quase me socado, mas na verdade o meu ego estava ferido pela falsa traição. E agora Dimitri está lá longe, onde ele pode morrer e é culpa minha.

Anya pegou minhas mãos. Nossos tons de pele eram tão diferentes que me lembrava o quão longe eu estava de casa.

— Você é mulher, Alteza. Não está livre da insegurança mais do que qualquer uma de nós. Como você poderia saber que as coisas eram de outro modo, se você viu uma coisa que poderia perfeitamente ter acontecido?

— Confiando no meu marido!

Anya riu.

— Você iria confiar, depois que a raiva passasse. Mas por agora você nem sequer queria ficar no mesmo ambiente que o príncipe. Tenho certeza que duvidaria da continuidade daquelas filmagens — ela ergueu uma mão diante do corpo. — Ele me contou o que aconteceu.

— E você está do meu lado mesmo depois de ter sabido? — funguei. — Nem eu estou.

Anya sorriu.

— Não existem lados, princesa. Eu estou apenas comentando como espectadora.

Suspirei e deitei a cabeça em seu ombro.

— Você é como uma mãe pra mim, sabia? Minha mãe possivelmente falaria a mesma coisa depois de me dar um sermão de três horas por eu ser teimosa e achar que estou sempre certa.

Anya deu tapinhas em meu ombro.

— Você é mesmo muito teimosa, mas isso é parte do seu charme. Afinal, foi sua teimosia que ganhou noventa por cento de aprovação para a eliminação da pena capital na Rússia. E, se me permite uma sugestão, acredito que enquanto o príncipe está fora você deva fazer mais projetos de lei, mais da parte burocrática. Você é a futura rainha e deve assumir seu lugar.

— Por quê? — estranhei.

Anya se inclinou para trás para que olhasse em meu rosto.

— Quando o rei for informado que o príncipe já se casou irá passar a coroa para ele como gesto de confiança nas decisões do filho — contou. — Geralmente esse evento ocorre durante o próprio casamento, mas como foi tudo feito às escondidas, presumo que haverá um evento solene de posse para o príncipe Dimitri. Embora o rei Ivan vá continuar sendo o alto chefe de estado, o seu filho será o principal diplomata, junto com sua esposa, até eles obterem a confiança dos aliados do país para assumirem totalmente o trono.

Eu fiquei olhando-a por alguns segundos.

— Eu não sabia disso! — declarei abismada.

Ela deu de ombros.

— Seu marido não queria pressioná-la sobre isso. Não é assim em Illéa, por exemplo.

Suspirei.

— É, está na hora de começar a trabalhar mais mesmo, já que não tenho mais Dimitri para me distrair.

— Como se você reclamasse muito com o príncipe por ele te distrair — retrucou brincando.

Ergui o olhar.

— Você nunca verá eu reclamando disso, Anya — pisquei para ela.

— Comentário desnecessário, Alteza — ela fez careta e eu ri me levantando para ir para a escrivaninha.

— Onde estão os relatórios de Dimitri? — mudei de assunto para não provocá-la como outro tema. — Pegue alguns para mim?

Assentindo, Anya foi até a saleta e voltou com um monte de papeis.

— Vocês dois estão sempre neglicenciando seus deveres — ela fez um muxoxo para o calhamaço em suas mãos.

— Eu sim, Dimitri não. Ele estava sempre no escritório nos horários certinhos se afogando em trabalho.

Anya revirou os olhos e sentou ao meu lado, vez ou outra me ajudando, mas eu conseguia fazer aquilo, mesmo estando em russo. Não era muito diferente do que eu Dimitri e eu estudávamos durante nossas primeiras semanas juntos.

Permaneci entretida com aquilo — não que alguém precisasse saber disso — até que bateram à porta e Anya foi prestativamente abrir.

Rei Ivan estava parado com uma expressão séria diante da porta e entrou sem pedir licença.

— Alteza, precisamos conversar.

Só essas três palavras me fizeram prender a respiração. "Precisamos conversar" nunca é bom.

— Vou me retirar — Anya disse.

— Não, fique. — O rei respirou fundo. — Muito bem, não há modo gentil de dizer isso. Aparentemente o carro onde meu filho estava, juntamente com sua escolta, foi atacado. Não conseguimos rastrear nenhum dos carros e foi mandado um grupo de elite do exército russo para encontrar sobreviventes. Nos próximos dias receberemos um relatório dos membros do grupo de busca. Espero que tudo esteja bem com meu filho, mas se prepare para o pior, princesa Layla. Dimitri pode estar morto.