POV Lily:

Era um novo dia. Por um momento, esqueci o que tinha acontecido, mas vi o horário. Era muito cedo, exatamente o que eu planejava. Evitaria o corredor lotado, pegaria o melhor lugar na sala e ainda não encontraria ninguém que não queria encontrar.

Tomei uma ducha rápida, e terminei de me ajeitar. Estava morta de fome, por isso resolvi passar na cozinha. James afinal ensinara algo que viria a calhar.

Os elfos domésticos que trabalhavam ali estavam felizes e animados, e era tão contagiante! Vê-los sempre alegres em ajudar os outros era quase inspirador, e eles não demoraram em trazer um monte de comida para mim, mesmo que estivesse sozinha. Conversei com eles, e até pedi para que comessem comigo. Quando saí dali, já me sentia muito melhor.

Já estava na sala de Feitiços quando o café começou a ser servido. Escolhi um lugar no canto, porém na frente. Abri o livro e dei uma lida nos conteúdos que estudaríamos na aula, e inclusive alguns mais avançados que estavam no final do livro. Deveria ter vindo um pouco mais tarde, confesso que aquela sala completamente vazia chegava a ser assustadora, além de tediosa.

– Lily?

Era Marlenne. Acho que ela sabia que eu viria mais cedo, ou então me vira levantando. De qualquer forma, afugentei qualquer outro pensamento, e me concentrei em sorrir.

– O que aconteceu ontem? Você parecia tão animada e agora... O que houve?

Por que eu esconderia qualquer coisa dela? Ela era minha amiga, e de qualquer forma, acabaria contando. Descrevi tudo o que aconteceu, incluindo a mão no meio do beijo e o tapa na cara da Bellatrix. Ela ouvia tudo, e por vezes soltava um exclamação.

– Lily Evans! Eu mal sei o que dizer... Bom, concordo plenamente com tudo o que você fez! Mas essa história ainda parece meio esquisita, não? Quer dizer, Bellatrix? Até Peter Pettigrew deve ter conseguido uma garota melhor! Ela é linda, mas... É simplesmente má. Ouvi dizer que ela faz os novatos fazerem a lição dela, boatos é claro, mas ainda assim...

– Lenne, deixe essa história para lá.... Já passou, sabe? E eu ainda acho que Bellatrix tem algum motivo para ser assim, algum trauma ou ela quer atenção talvez. E eu não vou dar bola para nada, vou mostrar que não fez nenhuma diferença para mim.

Dorcas entrou, um pouco depois que eu terminei de falar.

– Concordo que deve ser forte, mas por que, exatamente? – Disse ela, se apoiando na porta, sorridente.

Eu e McKinnon contamos toda a história para ela.

– O QUÊ? AH, MAS EU MATO AQUELA INSOLENTE! Ela teve a audácia de fazer isso? Eu vou dar uma lição naquela metida!

Essa era a melhor coisa sobre Dorcas. Mesmo brava, ela conseguia fazer qualquer um rir. Eu nem tinha notado o horário, e logo a turma começou a entrar. James e os meninos entraram, e viram que estávamos rindo como nunca. Vi uma sombra cruzar o rosto do apanhador, e ele tentou fazer algum tipo de contato visual. Me virei, e olhei para minhas amigas, trocando um olhar significativo. Logo, ambas começaram a conversar comigo sobre um assunto qualquer, entendendo a mensagem.

Eu não ia deixar James ver que ele e aquela garota me afetaram. Afinal, repita uma mentira mil vezes, e ela se tornará verdade.

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POV James:

– Cara, dá um tempo pra ela... Deixa ela pensar um pouco, algo assim.

Esse era o problema. Se ela pensar demais, vai acabar tendo ideias malucas sobre o que aconteceu lá, e eu queria explicar o que realmente houve, mas não sabia como. “Ela se jogou em mim” era clichê, mas era verdade. E como eu ia convencer ela disso? E se eu jamais conseguisse beijar outra garota, depois de chegar ao paraíso que era Lily Evans? Provável. Nenhuma garota dessa escola se comparava à ela. E se ela seguisse em frente, e eu ficasse encalhado, pensando nela? Merlin, por favor não. Eu tinha que convencê-la.

– James, quem sabe você não pede para a Bellatrix falar com ela? – Péssima ideia, Peter, péssima ideia. – Já que ela gosta de você, você podia pedir para ela e tal... Não?

– Não! – Dissemos eu, Sirius e Lupin juntos. Era Bellatrix Black, e ele esperava que ela fosse simplesmente se arrepender e demonstrar a bondade de seu coraçãozinho?!

Eles iam dando idéias, e a cada frase, minha mente se distanciava um pouco mais de tudo. Viajava nas palavras dela, que ainda ardiam em mim. Eu queria, mais do que tudo, o coração dela, os olhos dela. Eu desejava mais e mais, e por mais que nossos beijos parecessem distantes, eu ainda sentia o mesmo. Eu estava sentado ali, e talvez nunca a abraçasse como fazia antes. Quem sabe os lábios dela não são mais meus, como imaginava. Meu coração estava com ela, toda noite e todo dia. E as chamas que antes ardiam em mim, me queimavam.

Procurei-a na Sala Comunal, o mais cedo que pude. Na hora do café, e até na biblioteca. Só vi-a na sala de aula, e ouvi a seu riso, que soava para mim como algo simplesmente angelical. Eu queria falar com ela, mas ela parecia ter simplesmente esquecido. Encarei-a, querendo falar algo. Mas o que? O que eu faria, se Lily jamais me olharia da mesma forma?

Talvez eu devesse deixá-la ir. Mas por que eu abriria mão da garota que eu amo, não é mesmo?

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POV Lily:

O primeiro período de aulas pareceu se arrastar, e por mais que eu me concentrasse ao máximo na matéria, não podia deixar de contar os segundos para o fim de cada aula. Quase pulei da cadeira quando a última aula acabou, e era a hora do almoço. Peguei minhas coisas, e esperei por Alice, Lenne e Dorcas. Finalmente, era a hora do almoço.

O Salão já estava enchendo, e a comida estava deliciosa.

– Molly, como vão as coisas com Arthur? – Perguntei, levando uma garfada de pudim à boca.

– Ah, Lily! Vão ótimas! Ele é um amor, e no último passeio para Hogsmeade foi perfeito! E James, como andam as coisas? Vocês são tão perfeitos juntos! – Esqueci que ela ainda não sabia de tudo que aconteceu. A última frase dela formou um nó em minha garganta.

– Bom... É que... que.. Aconteceram algumas... coisas, e tal.... Estamos... – Mal consegui explicar. E não queria falar sobre o que aconteceu ali, na frente de todos e onde qualquer um poderia ouvir. – Dando um tempo. – Consegui concluir minha frase, afinal.

– Oh, não! O que houve?

– Detalhes depois. – Dorcas levantou as sobrancelhas, em um olhar que dizia: Aqui não.

Íamos nos levantar, quando senti algo pegajoso molhando minhas costas. Suco de Abóbora. Me virei, já sabendo o que esperar. Bellatrix Black, e a esse ponto, o Salão inteiro virara as cabeças para nós.

– Olhem para mim, Lily Evans, tão pura e virgem! Eu não bebo nem uma cerveja amanteigada! Minhas gravatas passadas de seda não podem ser tocadas! Oh! – Disse ela, em um falsete horrível, imitando minha voz.

Cheguei a rir, discretamente. Era engraçado ver como ela tentava esconder seus sentimentos através do sarcasmo e da maldade. Quem sabe ela realmente amava James, não é mesmo?

– Quão baixo você foi, Bellatrix! Acho que isso tem um nome... Espere, acho que me lembrei da palavra! Ah, é! Desespero.

– Você é a ensopada de suco, não eu. Acho que estamos quites, agora, não? – Disse ela, triunfante. Ela se aproximou rapidamente de meu ouvido, e sussurrou “Uma palavra sobre isso e eu conto o que aconteceu na Torre. E adiciono algumas coisinhas.” Sorriu, mostrando todos os dentes perfeitamente brancos e alinhados, delineados por grossos lábios pintados de carmim. Ela caminhou para longe de nós, gingando os quadris.

Segurei Dorcas, que lutava com todas as forças para ir atrás da Black (que parecia rir mais e mais a cada xingamento que minha amiga berrava). Até que ela se soltou de mim, e correu até a morena, puxando um tufo enorme de cabelos dela. Bellatrix virou-se, vermelha de raiva. Ou melhor, ódio. A loira sorriu, e jurei que a prima de Sirius berraria uma maldição a qualquer momento. Porém, graças à Merlin, a professora McGonagall interferiu, analisando o enorme punhado de fios negros na mão de minha amiga. Uma detenção, e 10 pontos a menos para a nossa casa.

– Valeu a pena. – Disse Dorcas, depois. Estava orgulhosa de si mesma como eu nunca vira. – Aquela estúpida bem que mereceu. Fora que eu amei os aplausos!

Apesar de eu ter adorado ver a expressão no rosto de Bellatrix, eu sabia que eu tinha algo que ela queria. E, por mais que eu odiasse admitir, não iria abrir mão de James tão facilmente.

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POV James:

Merlin, Dorcas Meadowes é minha soberana. Ela fez o que eu daria o mundo para fazer, e de maneira simplesmente épica. A escola inteira comentava, e alguns sonserinos do primeiro ano dirigiam olhares agradecidos à ela.

– Pelo santo Hipogrifo, vou pedir um autógrafo à ela! – Exclamou Lupin, quando Meadowes puxou o cabelo da prima de Sirius. O Salão inteiro murmurava e olhava a confusão que se desenrolava. Alguns até bateram palmas quando tudo terminou, incluindo nós quatro.

– James, você é definitivamente o maior conquistador dessa escola! Bellatrix Lestrange em duas brigas seguidas por você! – Disse Peter, rindo.

– Ei, essa categoria ainda é minha. James ainda tem muito chão pra me alcançar. – Sirius piscou, em uma tentativa de ser sedutor.

Rimos, e descemos para o jardim. Eu não parava de pensar em alguma maneira de reconquistar Lily. Eu tinha arrepios só de pensar nela, e quando vi ela sentada embaixo daquela árvore, conversando com suas amigas, eles se multiplicaram por mil. Eu tinha que melhorar, se eu iria provar. Peguei o pomo de ouro que eu tinha conseguido no ano entrei no time, em nossa primeira vitória. Deitei no chão, e brincava com a bolinha dourada, divagando.

Sentamos em uma árvore próxima da delas, e não podia me conter e não olhar para ela. Eu estava perdendo todo meu controle, o poder que ela exercia era eletrizante.

– James. Alerta-vermelho. – Sussurrou Sirius.

Larguei o pomo, e comecei a fingir que estava fazendo flexões. “101, 102, 103...”, contei, olhando para Lily com um sorriso. Ela entendeu a brincadeira, e riu discretamente.

– Essa foi por pouco. – Disse Almofadinhas, rindo.

Ela era única, e era a minha garota. Eu só sabia disso.

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POV Lily:

O que ele fazia comigo era diferente de qualquer coisa que eu já tivesse sentido. Quando vi ele largando o pomo e fingindo fazer flexões, lembrei dos anos nos quais ele usava as piores frases clichês para me conquistar, e não contive o riso. Esqueci tudo o que tinha acontecido. Como diabos ele fazia isso?

Passei o dia pensando: O que exatamente eu queria? Eu precisava de alguém, mas meu coração estava amarrado no garoto de cabelos eternamente bagunçados. Mas ao mesmo tempo, eu queria algo que fosse de verdade. Ele fez algo que eu não entendo. E é tão engraçado, geralmente eu sempre procuro ouvir o que aconteceu e dar segundas chances. Por que eu não conseguia fazer o mesmo? E por que eu me sentiria ameaçada por Bellatrix Black?

Tentei voltar, em minha memória do dia na Torre. Era tudo tão turvo, distante. Ele não se mexia. Ele tentava empurrá-la. Meu subconsciente sussurrava, distante. Ela se jogou nele. Você só sentiu a língua dela na sua mão. A cada detalhe que cruzava minha cabeça novamente, um turbilhão de pensamentos veio em minha cabeça. Eu não confiei em James.

Imagino o que ele diria se eu contasse como meu coração bate quando eu vejo ele. Queria que pudéssemos simplesmente fugir das multidões, esquecer o resto do mundo.

E acho que no fundo, eu sabia que ele era quem eu queria.