A Última Harrison escrita por Caderno Azul


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos e boa leitura!



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Era mais uma noite fria de domingo na Rua dos Harrison. Tudo estava como o habitual. O pai e a mãe assistiam a algum programa de auditório enquanto a primogênita falava ao telefone em seu quarto. Reclusa, Kate estava no porão, seu lugar preferido. Ela deixava as luzes apagadas. Gostava de ficar na escuridão, gostava da chuva. Gostava de coisas que pareciam estranhas aos outros moradores daquele bairro. Talvez fosse por isso que a maioria a achava estranha.

Chovia naquela noite. Chovia também nos olhos de Kate. Ela não queria estar lá. Não pertencia aquele lugar. Talvez jamais achasse um lugar onde pertencesse. O pensamento a deprimiu ainda mais. Olhou para trás imaginando como cada integrante da família estaria. Às vezes ela os invejava. Aquele bairro, a rotina, as pessoas, tudo aquilo parecia ser o suficiente para eles. Conseguiam se adaptar. Seu pai era médico, a mãe trabalhava numa imobiliária e a irmã mais velha gostava genuinamente do colégio. Mas algo nunca pareceu verdadeiramente certo a Kate.

O barulho de batidas na porta a arrancou de seu universo de pensamentos. Kate olhou pela janela. Havia três homens, todos vestidos de preto, em frente à porta de sua casa. Como o porão estava escuro e silencioso, nenhum deles notou sua presença. Ela também não conseguia enxergar o rosto dos visitantes. Mas para sua aflição, ela enxergou muito bem a arma que o líder dos homens sacou. O comportamento foi imitado pelos demais.

Enquanto Kate ainda processava o que acabara de ver, a porta da casa se abriu e apesar de ela não saber quem o havia feito, teve certeza que estava morto, porque foi imediatamente atingido pelos tiros que os homens lançaram. Seu grito havia sido abafado pelo barulho. O grupo entrou na casa e ela voltou a escutar o som de tiros.

Não havia nada que pudesse fazer. O pavor já a havia paralisado. O mundo parecia girar ao contrário, o tempo havia se desacelerado. De repente, ela não estava mais ali no porão. Flutuava e ao mesmo caía em queda livre em seus próprios pensamentos tortuosos. O aperto no peito era forte, tudo parecia terrível demais para ser verdade. Ela queria rebobinar sua própria vida ou talvez, deixar de existir. Concluiu que aquilo deveria ser o tão falado estado de choque.

Kate não era corajosa o suficiente para sair do porão e tentar ajudar a sua família. Tampouco era burra, sabia que de nada serviria contra três homens armados. Mas não era covarde a ponto de procurar um esconderijo, embora uma voz interna, talvez seu próprio instinto de preservação, não parasse de avisá-la que se quisesse sobreviver, essa era sua única opção. Ela permaneceu ali, encolhida e petrificada, a espera do momento que a porta do porão se abriria violentamente e então seria a sua vez.

Contudo, sua vez jamais chegara. O líder dos homens saiu da casa, ele andava irritado e levava uma foto nas mãos. Daquela distância, ela não poderia distinguir a pessoa no retrato. E ainda assim, apostaria qualquer coisa que era ela quem eles estavam procurando. O único integrante da família que não foi achado.

A adrenalina que restava em suas veias a atingiu.

Tinha que fugir.


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Notas finais do capítulo

Mais uma história para vocês! Espero que gostem, e por favor comentem para eu saber o que estão achando. Beijinhos e até a próxima.