Irreal escrita por Pepper


Capítulo 1
Uns cem anos atrás.




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Sempre estive presente na vida de todos. Sou aquela vizinha velha, que nunca morre, e que sempre acaba te encontrando no mercado e conta histórias antigas e bonitas. Sim, era eu. se nunca me viu, não se preocupe, poucos conseguem me encontrar hoje em dia. Bom, já que provavelmente você me ignorou no mercado, eu poderia contar-lhe aquela história agora?

Obrigada.

Estou ficando velha, e esquecida, mas desta eu me lembro com plena perfeição.

Foi a muito tempo atrás...

Duas crianças na chuva, naquela época não tinha tanta frescura quanto tem hoje, brincar na chuva era algo mágico, que toda criança amava fazer. Menos uma. Clarinha de meros doze anos, estava sentada num local protegido da chuva, lendo um livro grosso. Ela se achava adulta, como toda menina de doze anos, e não se via mais na idade de brincar. Leo, menino que mora do lado da casa dela, de treze anos, a puxava pelo braço seco, tentando empurrá-la para a alegria de ser criança.

- Para Leo! Você vai molhar meu livro! - Ela reclamava. E o garoto não desistia.

- Vamos Clarinha, livro é chato, vamos brincar!

- Você já passou da idade de brincar, e eu também!

- Prefiro brincar do que ser uma pessoa chata como você. - Leo largou de seu braço, agora molhado, e correu para brincar na chuva.

Essas brigas dos dois ocorreram até os dezesseis anos... Lembro-me de cada uma delas.

Quando acabava as aulas, as crianças corriam para uma pracinha brincar, e as amigas de Clarinha e ela ficavam sentadas conversando, fofocando, como qualquer menina de treze anos fazia. Os meninos brincavam na rua de futebol, se sentiam os melhores, como qualquer menino de quatorze anos. De vez em quando meninos e meninas brincavam de pega-pega na rua inteira, ou se não, de esconde-esconde. Todos brincavam, menos Clarinha.

- Clarinha! Para de ser chata, vem brincar! - Chamava Leo.

- Isso é brincadeira de criancinha. - Respondia Clarinha. - E não me chame de Clarinha, é Clara.

Leo se aproximava e perguntou:

- Porque não "Clarinha"? Sempre te chamei assim.

- Pois não é mais pra chamar assim! Clarinha é nome de criança.

- E você é o que?

- Adolescente.

Leo ria.

- Se faz tanto de adulta, aposto que nunca beijou!

- Como se você tivesse beijado!

- Mais do que você. - Clarinha se irritava e ia embora pra casa. Todos os dias eles discutiam a mesma coisa.

Clarinha se sentia adulta, queria ser adulta. Achava inútil as brincadeiras de criança, ela preferia ler e conversar. Um dia implicou tanto com a mãe, que esta acabou permitindo que Clarinha fosse sozinha no mercado. Foi lá que nos encontramos. lembro perfeitamente do brilho nos olhos, a felicidade de tanta responsabilidade. Vou para perto dela.

- Você é a Clarinha, não? - Pergunto.

Ah, que saudade daquela época! Eu estava saudável e trabalhava mais do que hoje. Eu aparentava ter 35 anos mortais. Minha saúde era a de uma criança, diferente de hoje. Já não há tanto trabalho para mim, já não estou tão sadia e nem aparentemente tão nova.

Ah! Por favor,me perdoe, não estamos falando de mim. Onde parei?

Ah, sim!

A menina meolhou curiosa e respondeu:

- Clara, sim, sou eu.

- Bom, Clara, onde está sua mãe? - A pergunto, falsamente curiosa.

- Em casa.

- Seu pai está contigo aqui?

- Não senhora, eu vim sozinha.

- Não é muito nova para isso?

- Não, já sou uma adolescente, e tenho algumas responsabilidades.

- Bom, já que sua mãe confia em você, creio que também posso confiar, certo? - Ela assente. - Mas para isso, você terá de confiar em mim também. - Eu pisco e a convido para fazer compras junto comigo.

A menina conversava como uma adulta, até melhor do que uma adulta, era simpática e não agia como se eu fosse louca. Ela me fez sua amiga ao me ver. Gosto de pessoas assim, que não me fazem de inimiga, de uma coisa ruim. E sim me fazem suas amiga, talvez por isso eu tenha me apegado tanto à essa história.

Conversamos como duas adultas, o que, lógico, nenhuma de nós era. Do mercado até a porta da casa dela. Lá, eu me despeço.

- Bom, eu moro ali - Aponto para a terceira casa após a dela. - Quando quiser, apareça lá, adorei conversar com você.

- Também gostei de conversar com a senhora, Dona Bélle.

Nós nos despedimos e então ela apareceu na minha casa uns dias depois com lágrimas clandestinas nos olhos e uma dor no coração jovem...

Bom, olhe a hora! Vá para seu mundinho virtual agora, e depois durma e volte quando quiser ouvir o resto da história, quando estiver pronto. Lamento, mas estou já muito velha, preciso tomar meus remédios e descansar um pouco.


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