Um jeito de ser bom de novo escrita por Sassenach


Capítulo 5
Capítulo 2




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“Quando o vi, fiz o primeiro retorno que encontrei, pois sabia que caso ele ou um dos seus soldados me visse, me reconheceria como quem dirigia o carro no qual você fugiu. Dei ré e entrei na primeira esquerda, desviando da rota que eu planejara. Estava apavorado e temia que eles me seguissem. Por fim, consegui entrar numa estrada alternativa, por dentro de uma área com muita mata, e cheguei na vizinhança de onde eu morava. Quando cheguei minha mulher e meus filhos me receberam calorosamente e abraçando-os chorei diante da ideia de que poderia ter morrido mais cedo. Conversei com minha mulher e expliquei tudo que estava acontecendo. Disse que havia o deixado no hotel e eu a essa hora deveria estar voltando para casa com o menino. Disse que tinha encontrado o homem na estrada e que não estaríamos seguros ali. Ela ficou apavorada quando eu sugeri que nos mudássemos para uma cidade mais longe ou quem sabe outro país, o mais rápido possível.”

“Ela achou que era loucura, mas então lhe mostrei seu envelope e ela derramou todas as bênçãos sobre você! Disse para que ela arrumasse os garotos e encaixotasse todas as nossas coisas, que afinal eram poucas e colocasse tudo no carro. Nós guardamos nossos pertences e explicamos previamente para os meninos o que estava acontecendo. Eles concordaram imediatamente em se mudar e também ficaram agradecidos a você. Nós colocamos as caixas no porta malas e saímos na mesma noite. Pegamos uma estrada oposta a qual os talibs estavam e seguimos por dentro da cidade até chegar na cidade vizinha. Lá, usei uma parte do dinheiro para pagar uma estadia de dois dias num hotel onde ficaria com meus filhos e minha mulher. Nós nem nos demos ao trabalho de tirar as coisas do carro, só subimos e descansamos.”

“No dia seguinte, um homem que morava numa casa perto da minha, com sua mulher e uma filha, veio até o hotel em seu carro procurando por mim. Ele estava com o rosto meio inchado e pediu para se sentar. Sua menina chorava e sua mulher estava assustada. Ele disse que um carro com talibs passou por lá e disse que estava me seguindo. Eles perguntaram ao homem, cujo nome é Zemar, se ele tinha me visto e se sabia onde eu estava naquele momento. Zemar disse que não sabia onde me encontrar e perguntou por que eles queriam saber. O talib deu um soco em se rosto e disse que não deveria questioná-lo. Depois disse que eu havia traído a pátria e ajudado um americano num roubo à casa de um talib. Disse que eu havia ajudado a sequestrar o empregado do talib. Zemar continuou negando meu paradeiro, embora eu houvesse dito à ele que estava saindo da cidade e que queria que ele mantivesse sigilo sobre minha partida.”

“No fim das contas os talibs se enfureceram e atacaram fogo na minha casa. Eu e minha mulher ficamos aterrorizados e partimos imediatamente daquele hotel. Pedimos para que Zemar e sua família viessem conosco para o Paquistão. Eles aceitaram, já que sua casa também fora afetada pelo fogo. Nós partimos em direção à cidade e no caminho encontramos cartazes com uma foto do meu carro e que diziam que o Talibã estava a procura daquele veículo, de seu motorista e de um homem que o acompanhava. Ou seja, Amir agha, ele estava nos caçando. Por sorte, ninguém reconheceu meu carro e me denunciou, e consegui chegar ao Paquistão são e salvo. Lá, encontramos uma casa à venda, pequena mas muito melhor que nossa antiga e imediatamente pagamos por ela. Com o resto do dinheiro comprei alguns móveis para a casa e tinta para pintar meu carro, não para fazer tipo, mas para poder despistar qualquer tipo de suspeita.”

“Desde aquele dia até agora, estou morando nessa casa com minha mulher, filhos, Zemar, sua mulher e sua filha. Há cerca de uma semana, recebi uma notícia: o Talibã estava retirando a maioria dos seus homens da cidade de Cabul. Eles seriam mandados para outras cidades, onde as coisas estavam fugindo do controle. Quem me contou foi uma mulher que vivia perto de onde eu morava e que ficou sabendo que os talibs estavam desocupando as casas. A maioria já se retirou de lá, eles deixam as casas com tudo dentro e formando grupos de oito ou dez homens, vão embora. Fiquei muito feliz ao saber disso, mas me lembrei de que minha casa agora já não passava de cinzas. Só o problema é que ainda ficaram alguns, que como disse estão atrás de nós. Mas escute, Amir agha, eu me lembrei também daquela casa em que você me fez parar aquele dia, aquela na qual você quis entrar. Imediatamente procurei por informações a respeito daquela casa e pedi para que alguns amigos fossem até lá par ver em que estado ela se encontrava. Dois dias depois, me contaram que a casa também havia sido desocupada e que agora estava vazia, e graças aos céus, não tinha sido queimada nem destruída. Então, resolvi que precisava contar à você sobre sua antiga casa. Na semana seguinte porém, ou seja, nesses dias, recebi uma carta endereçada por Rahim Khan, que continha documentos e escrituras de uma casa. “

Rahim Khan... Ele ainda estava vivo!

“Uma carta acompanhava as escrituras, e tomei a liberdade de lê-la. Ela era na verdade um testamento em nome de seu pai, que dizia que quando ele viesse a morrer, a casa e todas as propriedades dele seriam suas Amir agha! Podemos conclui então que Rahim Khan, me enviou as escrituras para que eu enviasse à você! Amir, você pode voltar para sua casa!”

Eu não conseguia me mexer. Minha boca estava aberta e tive que me lembrar de respirar, quando já estava ficando tonto. Deitei e agarrei o travesseiro, enterrando-o em meu rosto. Fechei bem os olhos e me sentei de novo. Em seguida, com a voz falha e sem acreditar no que acabara de ouvir, disse:

— Eu, eu não sei... Não sei se posso... Eu não sei se consigo ir até lá Farid. Eu não... eu não aguentaria entrar lá de novo! Não dá!

— Bem, você indo para lá ou não, a casa é sua e você tem documentos que o provem. Se você quiser pode vendê-la, mas duvido que faria isso. Aliás, a casa também é do garoto não é? Esse que foi com você pros Estados Unidos. Ele já não morou lá também? Aposto que ele adoraria voltar para lá!

Aquilo foi golpe baixo. Muito baixo aliás, pelo fato de que Farid estava certo. Não havia nada nesse mundo, nessa vida e nem em qualquer outra que deixaria Sohrab mais feliz do que visitar sua casa. Mas é claro que ele não iria se contentar apenas em “visitar”. Deus sabe como eu queria leva-lo lá, para vê-lo feliz, mas era muito provável que ele pedisse para que nos mudássemos para lá. E isso era tudo o que eu mais temia nesse mundo. Eu jamais poderia morar lá novamente. Entrar na sala principal, no meu quarto e até mesmo na “sala de fumar”. Aquilo fez meus pulmões se contraírem e me lembraram de outra coisa:

— E Assef? — então me lembrei de que não havia mencionado o nome daquele indivíduo para Farid — Digo o talib de quem pegamos o menino?


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