Um jeito de ser bom de novo escrita por Sassenach
Notas iniciais do capítulo
Essa é a minha história em si, se passa em 2006
Maio de 2006
EM 2004 RECEBI UMA LIGAÇÃO. Eu estava sozinho em casa com Sohrab, pois Soraya havia ido ao mercado comprar comida para o jantar. Sohrab estava na sala, quieto e assistindo televisão. Eu estava numa poltrona o lado do sofá, vendo com ele um desenho animado no qual animais falantes interagiam com pessoas reais. Aquilo era maçante e eu estava torcendo para que alguma coisa me impedisse de assistir aquilo. Eram umas quatro da tarde e o sol estava entre nuvens. Sohrab finalmente estava usando o suéter que khala Jamila tinha feito para ele. O suéter havia sido feito há três anos, mas como era grande ainda servia nele e ficava até um pouco largo. O telefone tocou e ele olhou para mim.
— Sim eu vi, pode deixar que eu atendo. —o que foi uma afirmação inútil já que ele nunca atendia ao telefone por nós — Pois não? — perguntei. Seguiu-se um silêncio estranho e então uma voz masculina cansada respondeu do outro lado:
— Posso falar com Amir agha?
— Sou eu mesmo. — a voz do outro lado da linha deu um riso abafado, quase como se não quisesse fazer barulho ou ser percebido, e então se apresentou:
— Oi Amir agha, sou eu, Farid.
—Espere o quê?! Farid? É você mesmo? — eu não conseguia acreditar em quem estava do outro lado da linha. As lembranças do que aconteceu quatro aos atrás voltaram em minha mente. Quando foi a última vez em que o vi? A sim, claro, no hotel quando pedi que ele voltasse para sua família e lhe entreguei o envelope com o dinheiro. — Farid? É você mesmo? Como você está?
— Sim sou eu Amir — ele ria do meu espanto — Sou eu mesmo e estou bem.
— Pensei que nunca mais iríamos nos falar! Como você passou esses últimos anos? — eu estava completamente feliz por ouvir aquela voz amiga. Cheguei a pensar em que sina teria tido aquele bom homem, assim como seu irmão e os filhos dele. Fiquei pensando em como ele teria usado o dinheiro, e cheguei até a imaginar que Assef o teria matado ou mandado um de seus submissos faze-lo. Falar com ele era relembrar toda a adrenalina daquela aventura. Olhei para Sohrab e ele estava assustado. Sorri como quem diz para que ele se tranquilize. — Espere um minuto. — disse para Sohrab que podia continuar assistindo a televisão porque eu voltava em pouco tempo. Fui até meu quarto e sentei na cama de casal. Tomei o cuidado de fechar a porta e as cortinas, mesmo que isso não fizesse sentido. — Pode falar.
— Muito bem Amir, em primeiro lugar quero agradecer por aquele dinheiro que você me deu. Creio que eu não estaria falando com você hoje se não fosse pela sua ajuda.
— Como? — perguntei assustado — O que aconteceu Farid?
— Vou explicar. Quando você me pediu para voltar para minha casa e me deu o dinheiro eu me senti a pessoa mais feliz do mundo. Fiz como você falou e no mesmo dia tomei a estrada até minha casa. Porém, um dos pneus estourou e tive que ficar estalado em um hotel naquele dia até encontrar um pneu novo para trocar pelo que furou. Do hotel liguei para minha mulher e contei sobre como encontramos o garoto, sobre sua estada no hospital e disse que estava voltando para casa. Ah, ela será eternamente grata a você Amir agha. Continuando, naquela noite eu dormi no hotel e no dia seguinte peguei u pneu novo e troquei pelo furado. Eu estava já em meu carro e peguei a próxima parte da estrada, mas estava um trânsito infernal.
“Eu perguntei a algumas pessoas na beira da estrada o que estava acontecendo e porque estava um trânsito tão grande. Ele disse que os carros estavam desde a madrugada sendo parados por talibs que estavam revistando os automóveis procurando por dois homens e um menino. Perguntei se ele sabia quem eram esses homens e o menino. Ele disse que aparentemente, segundo lhes foi informado, um dos homens era um americano e o outro era um afegão que estava ajudando o americano a trair o talib. Perguntei quem seria o garoto e ele disse que ele seria um empregado do homem.”
— Que canalha!— exclamei e Farid prosseguiu
“Os carros estavam indo cada vez mais devagar e em certo trecho e consegui ver alguns talibs parando carro por carro, tirando violentamente os motoristas de dentro deles e revistando porta-malas e qualquer outro tipo de compartimento no qual pudesse se abrigar uma pessoa. Forcei um pouco os olhos e consegui ver que um deles estava vestido de banco e com uma faixa no olho esquerdo. Ou pelo menos onde ficava seu olho esquerdo. Ele era meio loiro e seus olhos azuis estavam inchados, como se ele tivesse passado a noite inteira ali acordado, procurando as tais pessoa. Ou seja, procurando por nós.”
Meu estômago revirou e senti tontura. Assef estava vivo e procurava por mim e por Sohrab. Pedi para que ele continuasse.
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