Um jeito de ser bom de novo escrita por Sassenach


Capítulo 15
Capítulo 12




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Amir agha, rezo para que essa carta chegue a suas mãos com a proteção de Alla.

Amir agha, Rahim Khan partiu para o Paquistão há mais ou menos um mês. Estamos todos sentindo muito a falta dele e esperamos que ele nos faça uma visita algum dia. O real motivo de estar escrevendo essa carta é que estive conversando com Farzana e consentimos em te fazer um convite: queremos que venha nos visitar no próximo mês. Estamos reformando a casa, ou pelo menos a mantendo limpa e bem organizada. Não quero que fique decepcionado ao voltar e encontrar a sua casa mal cuidada. Sohrab também nos ajuda com as tarefas mais simples. Vários talibs estão morando nas casas vizinhas, e vi alguns deles rondando aqui por perto há algumas noites. Eu não vou sair daqui por nada nesse mundo. Essa é sua casa e eu a defenderei de todos os meios possíveis Amir agha. Sinto saudades. Quando você vier nos ver, vai encontrar seu velho amigo...

A carta acabou. Virei o papel em todos os ângulos possíveis procurando pela continuação. Virei do avesso e procurei mais algum papel no envelope, que eu tivesse deixado passar batido. Mas não havia nada. Me ocorreu qual seria o motivo para a carta ser interrompida repentinamente.

— Quando ele escreveu a carta Sohrab?

— Acho que você sabe... — coloquei as mãos nas têmporas que estavam doendo mais do que nunca — Ele começou a escrever durante a tarde. Ele já estava quase terminando quando os talibs chegaram e... — ele respirou fundo e soltou o ar de uma vez — A carta ficou ai. Mamãe foi ajuda-lo e ele disse para eu ficar dentro de casa. Eu obedeci. Quando ouvi o barulho de tiro eu... Abri um pouco a porta para ver lá fora e...

— Ah meu Deus Sohrab! Meu Deus... Você viu?!

— É... Eu vi. Eles estavam caídos. Eu fechei a porta e comecei a chorar. No dia seguinte me levaram para... Para o orfanato. — a última palavra saiu como se raspasse a sua garganta. — Imaginei que a carta ainda estaria ai e... Que você gostaria de ler.

— Eu gostei sim. Me... Desculpe-me por não ter vindo visitar vocês. Eu estava confuso e.., Seu pai e eu ainda tínhamos assuntos mal resolvidos.

— Amir agha, — ele falava como se fosse mais velho que eu — Ele nunca me contou direito o que aconteceu. Mas sabe, seja lá o que for, ele não se importava mais com aquilo. Ele já tinha perdoado você. Ele me falava sobre todas as coisas legais que você faziam quando eram crianças e me levou á na colina uma vez. Nó fomo lá para empinar pipas. Ele colocou a pipa azul no se quarto, para que você se lembrasse do dia da vitória — obviamente não foi isso que a pipa me lembrou — Ele realmente queria que você voltasse.

— Me desculpe por ter decepcionado vocês. Eu não estava pronto entende? Eu não conseguiria olhar novamente nos olhos dele. Acho que se eu tivesse recebido essa carta, poderia ter mudado de ideia e quem sabe...

— Mas não recebeu, e também não veio. — ele tinha razão — Acho que não vale a pena falar do que poderia ter acontecido. Isso só torna as coisas piores. Além disso, khala Soraya está esperando por nós.

— Tem razão. Vamos arrumar toda a bagunça que ficou naquela casa, e depois vamos passar a noite lá dentro. Ou você prefere dormir aqui? — ele fez que não com a cabeça — Ótimo você vai dormir num lugar especial!

Eu pretendia terminar de limpar pelo menos os quartos, para que ele pudesse dormir no meu quarto. Eu dormiria com Soraya no quarto de baba. Pegamos as vassouras e começamos a varrer o chão do salão principal. Soraya tirou todas as cortinas e abriu todas as janelas, o que sem dúvida deixou o ambiente bem mais claro e menos assustador. Ela me entregou sua vassoura e me pediu para terminar sua parte enquanto ela passava um pano nas janelas. Sohrab me acompanhava com a pá e me ajudava a varrer. Quando terminamos a salão fomo para a sala de jantar, e Soraya continuou com as janelas. Empurramos a mesa e as cadeiras, o que deu um grande trabalho, e varremos toda a sala. Peguei um pano úmido e passei em toda a mesa, tomando o cuidado de não levantar pó. Limpei igualmente as cadeiras. Soraya foi dar um jeito na cozinha enquanto eu voltava para a sala principal e limpava a lareira. Coloquei todas as cinzas e toda a sujeira da lareira meu saco de lixo e o levei para frente do portão. Limpei as estantes de fotos e passei pano em todos os vidros.

Mesmo que estivéssemos cansados e nervosos, ainda assim conseguimos descontrair um pouco. Às vezes Soraya espirrava água em mim e eu ameaçava passar a vassoura em sua roupa. Sohrab se permitia rir conosco. Depois fui até o segundo andar. Limpei a sala de fumar, colocando todos os móveis no lugar e esfregando bem até que todas as manchas de bebida saíssem do piso. Fui até meu quarto e tirei o cobertor para tomar Sol, além de colocar todos os presentes em caixa, em baixo da minha mesa. Era a primeira vez em vinte e poucos anos que aquele quarto estava arrumado de novo. Levei o lixo e os baldes para fora e me empenhei em tirar a mancha de óleo do meio da alameda. Coloquei o máximo possível de produtos de limpeza e esfreguei com toda a força. Coloquei tira manchas e tudo o que encontrei para limpar aquilo. Eu quase estraguei o esfregão, mas o que importa é que a mancha saiu quase que completamente. Soraya estava com as mãos todas enrugadas e suava. Guardei todos os baldes, as vassouras e os produtos e fui tomar um bom banho. A água não estava lá tão quente, mas foi reparador.

À noite, estávamos exausto por toda aquela limpeza. Colocamos roupas de cama que trouxemos dos Estados Unidos, já que as de lá estavam empoeiradas. Soraya saiu de seu banho e sentou do meu lado na cama. Abracei-a de lado e beijei sua testa:

— Às vezes nem acredito que estou aqui. Depois de tanto tempo... É incrível como a maioria das coisas continua do jeito que sempre foi.

— Eu também tinha vontade de voltar para minha casa aqui no Afeganistão. Por diversas vezes, sem que você soubesse, procurei pacotes de viagem para cá, mas achei que você não gostaria de vir. Eu queria tanto ver a casa da minha infância...

— Soraya! Por que você nunca me disse? Nós teríamos vindo por você!

— Eu sei que você viria, mas achei melhor esperar por um momento mais oportuno. E acredito que não tinha melhor hora para vir do que agora. — ela se ajeitou e ficou sentada de frente para mim — Posso ser sincera? Eu achei que você ia dar ré no momento em que chegamos à frente do portão. Não pensei que você conseguiria entrar.


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