Estou no avião ao lado de León rumo de volta aos Estados Unidos, mas com o coração preso em Buenos Aires. León dormia serenamente ao meu lado, com a mão entrelaçada a minha e o corpo aquecido com uma fina coberta que apenas cobria de sua cintura para baixo, assim como o a minha. Eu não consigo pregar os olhos, não estou com sono, e sim muito agoniada. Minha cabeça está girando em torno de pensamentos nada convenientes.

Meu pai foi transferido para o Hospital de Buenos Aires, e está melhor, não tão melhor, mas bom o suficiente para me mandar voltar para os Estados Unidos, terminar os estudos. Angie disse que não sairá do lado dele, e papai confirmou que vai se casar na mesma data marcada, daqui uma semana e meia, nem que ele esteja de cadeira de rodas ou bengala. Angie insistiu para que mudassem, mas ele não quis. Meu pai não muda nunca, a última opinião tem que ser sempre a dele.

Pelo menos daria tempo do León ir comigo a essa cerimônia. O casamento de meu pai exato dois dias antes de sua viagem. E eu já tinha colocado na minha cabeça que tentaria a todo custo não sofrer pela partida dele, mesmo sabendo que ele conhecerá garotas diferentes, mais bonitas e interessantes do que eu. Eu não posso parar minha vida por causa dele, não é?

Tive uma conversa com Angie sobre isso, e ela me disse que a dor do León partir, passa, e eu vou esquecê-lo – não que eu queira – mas eu jamais vou me esquecer do León, tudo que eu sei sobre relacionamento eu aprendi com ele. Tudo bem que eu sou melancólica o suficiente para fazer uma tempestade quando ele for.

Suspirei com esses pensamentos. Quando você pensa que tudo está se encaixando nos seus devidos lugares, vem um problema e detona tudo, deixando o meu mundo de cabeça para baixo.

— Violetta – a voz rouca e baixa do León me chamou a atenção e eu virei minha cabeça para olhá-lo. – Sem sono?

— Apenas pensando. – resmunguei.

— Algo relacionado a mim? – perguntou curioso.

— Talvez. – ri baixo para não chamar a atenção de outras pessoas que estavam no avião.

León inclinou a cabeça e beijou rapidamente os meus lábios, dando um sorriso em seguida. Passou o braço por cima dos meus ombros, e eu aconcheguei minha cabeça em seu peito, com um pouco de dificuldade, já que não estávamos em uma boa posição.

— Descansa. – murmurou.

— Te amo. – sussurrei sentindo o beijar o topo de minha cabeça.

— Eu também.

***

Finalmente em solo americano. Eu estava muito cansada, só queria chegar e deitar na minha cama e dormir até dizer chega, mas eu não posso, porque amanhã tenho aula, e tenho que recuperar a matéria perdida. Ou seja, não vou ter descanso algum, e sim um monte de deveres, sem contar as aulas de balé ou os treinos com as lideres de torcida.

Eu e o León estamos em um taxi. Sim, um taxi, eu ri quando soube que o León tinha pedido um, pois me lembrava o ocorrido com aquele taxista ridículo que disse coisas para mim que fizeram com que o León ficasse nervoso. Mas dessa vez o taxista era um gordinho careca que tinha cara de tédio, e parecia não estar ligando para nada.

León estava mexendo no celular, mandando mensagem para sua mãe, dizendo que nós havíamos chegado bem. Eu iria ligar para Angie quando chegasse ao colégio, já meu pai deve estar ocupado com os tratamentos e a fisioterapia, porque se não fizesse tudo adequadamente ele ficaria paraplégico para sempre.

— Ansiosa? – León perguntou e eu neguei prontamente, o mesmo riu.

— Eu nem queria ter voltado.

— Tem um lado positivo. – disse e eu o olhei nos olhos. – Vai ter Francesca novamente.

— O único lado positivo. – ri. –To com saudade dela, mesmo brigando comigo, ela me faz muita falta.

— Eu sei. – beijou minha testa. – O que acha de pegarmos as matérias e estudarmos juntos na biblioteca, com a Fran?

— Acho uma ótima ideia, quero recuperar o tempo perdido o mais rápido possível.

— Antes eu tenho que conversar com a diretora, sobre a minha viagem. E também procurar um bom professor particular, para terminar essas últimas matérias e terminar os estudos de uma vez. – suspirou.

— Você tem muita coisa pra resolver. – murmurei deitando minha cabeça em seu ombro. – Enquanto eu só tenho que me preocupar com as matérias que perdi, e ir a minhas aulas de balé.

— É muita coisa também. – riu.

— Claro que não.

— Cada um tem suas prioridades amor. – beijou minha testa. – E em algum dia, em meio a essa correria, nós vamos fazer um piquenique, antes de eu viajar.

— Espero que haja tempo.

— Vai sim.

***

— Violetta! – quando abri a porta fui surpreendida com um abraço de urso de Francesca. – Que saudade de você. – sussurrou me abraçando ainda mais forte, como se fosse possível. – Me desculpe por... – a interrompi.

— Eu também senti a sua falta Fran. – murmurei me afastando, lhe dando um sorriso.

— Ai amiga. – me abraçou de novo, só que mais rápido, e logo pulou nos braços de León que veio até meu dormitório, me ajudar com a minha mala. Apesar de amar os dois, ainda sinto certo incomodo pela proximidade deles, nada que eu goste de falar, mas sei lá né?

— Como foi à viagem? – perguntou Francesca depois dos abraços.

— Ótima. – León respondeu por nós dois.

— Hm... León, e aquele assunto lá. A Vilu já sabe?

— Já sim.

— Bom. – sussurrou. – Meus parabéns. – abraçou León – novamente. – Fiquei feliz quando soube. – disse com um sorriso enorme para ele.

— Eu vou beber uma água. – murmurei saindo até a cozinha.

Peguei um copo dentro do armário e água. Tinha uns biscoitos de chocolate por ali, e eu comi uns dois, nem me liguei de que meu estômago estava faminto. Fiquei por ali, comendo biscoito e tomando água, uma combinação bem estranha.

— Ficar com ciúme da melhor amiga não é boa coisa. – uma voz rouca falou no pé do meu ouvido, dando um beijo no meu pescoço em seguida, me dando um susto, quase me fazendo derrubar o copo com água, me virei para encará-lo. – Sorte sua que ela não percebeu. – riu.

— Não é ciúme. – desviei nossos olhares.

— É claro que não. – ironizou. – Só não gostou do que viu.

— Vocês são amigos não são? – perguntei irritada. – O que é que tem de mau então né?

— Você anda muito sensível. – riu agarrando a minha cintura com seus braços. – Mas eu te amo mesmo assim.

— Não quero que você vá embora. – sussurrei me jogando em seus braços acolhedores.

— Mas você sabe que eu preciso. – sussurrou de volta, me abraçando mais forte.

— Então vamos fazer um trato.

— Qual? – perguntou e eu me afastei.

— Sem mais brigas até você ir.

— Perfeito. – riu me puxando para ele novamente. – Agora eu quero fazer uma coisa, que não faço direito há alguns dias.

Seus lábios tocaram os meus e eu sorri retribuindo seu beijo que se ornou ardente em poucos segundos. Sua mão adentrou em minha blusa, fazendo um carinho em minhas costas, enquanto eu prendia meus dedos em seus cabelos bagunçados, colando nossos corpos como se pudéssemos nos tornar um só naquele momento.

— Ai! – escutei um grito e rapidamente afastei meus lábios dos de León. – Procurem um quarto! – era Francesca.

Comecei a rir com León, com nossas testas encostadas uma na outra. E é nesses momentos que você percebe o quanto uma pessoa pode te fazer enxergar o mundo de uma maneira tão mais colorida e feliz.

***