Desci as escadas escutando gritos de comemorações. Pude ver León abraçando as pessoas de sua família enquanto sua mãe ligava para os parentes dando a grande notícia, que eu realmente não esperava. Hollywood? É difícil de acreditar, sério, muito difícil. E eu queria muito ver esse e-mail do León.

Sentei no sofá, esperando aquela euforia toda passar. O pai de León sorria, enquanto organizava as partituras que estavam no grande piano branco. Ludmila secava lágrimas. E era a vez da empregada abraçar ao León.

Depois de todo o mundo saber, os pais de León começaram uma conversa entre si, enquanto Ludmila contava a novidade para a Naty no telefone, que certamente espalharia para os nossos amigos daqui, ou ex. amigos, colegas, eu não sei ao certo. León com um sorriso enorme se sentou ao meu lado.

— Quando iria me contar? – perguntei com a voz baixa, e seu sorriso diminuiu. Acho que ele percebeu que eu não estava muito contente com isso. – Pensei que sempre me contaria dos seus planos e decisões. E... – ele me interrompeu com um selinho.

— Eu ia te contar quando tivesse a resposta. – sorriu de lado. – Não queria ter falsas expectativas.

— Hollywood León? – murmurei com um pesar na voz. – Poderia ter ao menos dito que tinha planos para ir pra lá. E afinal, você vai fazer o que em Hollywood?

— Eles me mandaram um recado. – coçou a nuca. – Disseram que eu tinha muito potencial, e queriam me produzir.

— Te produzir? Mas eu achei que essas coisas levavam tempo para acontecer, e que iria ser uma pessoa a fazer isso, não Hollywood.

— É isso que acontece normalmente. – suspirou. – Meu professor tem um grande amigo lá dentro, um caça talento, e ele quis me testar, pra ver se eu tinha mesmo potencial, então... – o interrompi.

— Você tem. – praticamente murmurei e ele balançou a cabeça. – Eu sempre soube que você tinha. – não pude deixar de ficar orgulhosa, e ele me deu um dos seus mais bonitos sorrisos. – Mas isso não muda o fato de eu estar muito, muito mesmo, chateada com você. – suspirei. – Sério? A última, a saber? Até a Kate León... Eu sou sua namorada, não ela. Isso me machuca.

— Eu não contei a Kate, como você pensa que eu fiz. – segurou minha mão. – Apenas disse ao Ben, Erick, Marco e Francesca, meus amigos, e aos meus pais, é claro. Erick deve ter aberto o bico, ele faz qualquer coisa que ela manda.

— E só eu não. – bufei. – Por quê?

— Já falei, não queria te dar falsas expectativas. – desviou o olhar do meu, e aí eu senti que ele estava escondendo alguma coisa de mim.

— León... – apertei sua mão. – Não é só isso, eu sei. Pode me falar. – pedi calma.

— Vilu... – suspirou. – Tenho que ir para lá em duas semanas. – Uau, isso eu não esperava.

— Assim tão rápido? – perguntei e ele assentiu. – Mas você volta logo não é?

— Sobre isso... – olhou para os pés.

— Ah meu Deus. – murmurei como uma oração, e era mesmo. – Você não vai voltar? – perguntei sentindo os meus olhos marejarem.

— Vilu, não chora, eu não aguento. – me abraçou apertado beijando o topo de minha cabeça. – Eu jurava que não iriam se lembrar da minha existência.

— Ai León. – apertei-o contra mim. – Quando eu penso que está tudo certo... – e aí eu choro. – Por que tudo é tão difícil?

— Não chora. – beijava todo o meu rosto. – Você é minha Vilu, nunca se esqueça disso.

— Como vou esquecer? – solucei. – Você nunca mais vai voltar?

— Claro que eu vou. – sorriu se afastando, e pude ver seus olhos vermelhos, mas ele não chorava como a boba que eu sou. – Mas o contrato é de quatro anos.

— Quatro anos. – murmurei para mim mesma. – É muito tempo. – olhei em seus precisos olhos verdes.

— Eu sei, eu sei. – pegou minhas mãos. – Mas eu prometo voltar. Ficar com você.

— León. Não é só uma semana, ou seis meses. São quatro anos. Quatro insuportáveis anos. – falei um tanto dramática confesso, mas eu estava perdendo o meu namorado, eu tinha que dizer alguma coisa, e nada melhor do que dizer o que estou sentindo.

— Não é muito tempo.

— Como não? Eu estarei terminando a faculdade! – falei exaltada me levantando do sofá em um pulo.

— Violetta.

— León. – disse no mesmo tom se levantando também.

Ficamos nos encarando. Eu vendo sua íris esverdeada ficando escura, enquanto eu sentia o meu sangue fervendo de raiva. Mas de repente tudo ficou branco. Todos os últimos acontecimentos passaram como flashes em minha mente. Minha briga com o León; meus amigos me ignorando; o casamento da Mel; o casamento marcado do meu pai e da Angie; o acidente de meu pai; meu pai correndo perigo; e agora isso, meu namorado indo embora, o que eu fiz para merecer? E eu tenho certeza de que não vou a Hollywood com ele, como eu fui para os Estados Unidos.

— Eu preciso tanto de você. – ele murmurou. – Queria que ficasse feliz por mim.

Meu coração amolece, é claro que eu estou feliz com ele, mesmo o mesmo sendo impulsivo e escondendo as coisas de mim, mesmo sendo por “uma boa causa”. Mergulhei em seus braços, em um abraço apertado e caloroso.

— É claro que eu estou feliz. – murmurei me afastando depois de um tempo, lhe dando um sorriso pequeno em meio minhas lágrimas silenciosas. – Só queria ter você, sei lá, por mais tempo. É pedir demais?

— Acredite linda, eu também queria.

— Vou escrever cartas. – eu disse sorrindo com o coração apertado até o último. Cartas, uma coisa tão antiga, mas que eu gosto tanto.

— Vou ler todas. – beijou a ponta do meu nariz. – Mas você pode me mandar mensagem no celular. Mais pratico não?

— Quero dar uma de romântica, posso? – ele riu e me abraçou com mais força. – Já estou sentindo sua falta.

— Eu também – suspirou contra os meus cabelos. – Será que a gente pode dormir junto hoje? – perguntou e eu ri secando as lágrimas.

Sempre consegue tirar um sorriso meu em meio às situações.

***

Acordei sentindo algo fazendo cócegas em meu pescoço. Abri os olhos e demorei alguns segundos para me lembrar onde estava. Olhei para o criado-mudo, e lá tinha um mini violão, e logo me toquei que estava no quarto de León. Eu deveria ter ao menos avisado a Olga que dormiria por aqui, mas nem me lembrei.

As cócegas subiram até uma parte sensível de minha orelha, e pude constatar que eram beijos – suaves e delicados beijos –, sorri fechando os olhos novamente. León estava excessivamente carinhoso.

— Bom dia. – ele murmurou, parando com a carícia.

— Bom dia. – sussurrei, me virando para ele.

— Você é a coisa mais linda que eu já vi. – disse com seus olhinhos verdes brilhando para mim, e eu ri. – Ainda mais acordando.

— Claro, afinal, meu cabelo bagunçado, e minha cara amassada, são sinônimos de beleza. – ironizei.

— Seu humor está bem melhor do que ontem – suspirou me abraçado.

— Está, mas não pense você que eu esqueci tudo que rolou. – me afastei.

— Não vamos falar sobre isso então. – sorriu. – O que quer fazer hoje?

— Ir pra minha casa, e ter notícias do meu pai. – pensei mais um pouco. – E a gente podia pegar um cinema à noite.

— Prefiro ir ao boliche.

— Boliche? – perguntei sorrindo. – Faz muito tempo que não vou.

— Ótimo, então nós vamos.

— Certo – beijei seus lábios.

— E eu quero dormir pertinho de você de novo. – disse me abraçando e colocando o rosto entre o meu pescoço e ombro.

— Eu quero isso todo dia. – me aconcheguei mais nele.

— Então nossos desejos vão se realizar, um dia. – beijou minha bochecha.

— Vão sim. – sorri para ele.

Quanto mais tempos passarmos juntos melhor.

***