O despertador tocou, me tirando de qual seja o sonho que eu estava tendo. Me espreguicei, ocupando toda a cama, que era grande demais para meu corpo minusculo.

Bocejei e levantei, andei, ou me arrastei, até o banheiro. Joguei o pijama no cesto de roupas sujas e entrei em baixo da ducha quente, deixando ela levar qualquer sinal de horas de estudo durante a madrugada. Escovei meus dentes, passei um dos meus cremes importados, fornecidos por Maia.

Vesti uma roupa simples, joguei tudo dentro de uma bolsa creme, arrumei meu cabelo e a maquiagem e por fim desci as escadas até a cozinha.

–Bom dia, querida. - Maia me cumprimentou, enquanto eu sentava na mesa e devorava o cereal colorido. Maia era a minha madrasta, um anjo, literalmente. Ela é mais como uma tia do que uma mãe, mas não jogo isso na cara dela, a pobrezinha se esforça demais e eu não gostaria de estragar a alegria dela.

–Papai já saiu? - perguntei, olhando a cadeira vazia de meu pai. Ele era um veterinário, mas depois do incidente com a minha mãe, ele decidiu ser apenas um carpinteiro.

–Sim, ele queria abrir a loja mais cedo. - respondeu Maia com um sorriso, tanto ela como eu sabíamos, papai só abria a loja cedo quando pensava demais e se condenava por isso.

–Você já vai trabalhar?

–Precisa de carona até a escola? - indagou ela, já de prontidão para me levar.

–Não, não. Eu só achei que você iria ficar em casa, já que você vai viajar amanhã. - apressei-me respondendo. Maia era uma grande empresaria, viajava quase todo fim de semana, mas dessa vez ela teria que viajar durante uma semana inteira.

–Tudo bem, vai ir com a Heather?

–Sim, ela já deve estar chegando.

Terminei todo o meu café da manhã e no mesmo instante Heather buzinou para que eu entrasse no carro. Ela afundou os óculos escuros nas ondas castanhas de seu cabelo, os olhos amendoados eram lindos que as vezes eu os invejava, preferia que meus olhos fossem castanhos e quentes iguais aos dela do que azuis e frios como os meus.

–Tudo bem, baby? - perguntou ela, ligando o carro.

–Indo e você?

–Por que indo? Se for indo bom eu até aceito, mas um indo ruim, eu me recuso a aceitar.

–Um indo bom. - respondi rindo. Heather era cheia de energia, toda amiga e leal, era por isso que viramos melhores amigas desde o segundo que nos conhecemos.

–Adorei o vestido! - exclamou ela, apontando para o vestido jeans.

–Obrigada! Amei os seus sapatos.

–Quando vi eles na boutique, não resisti!

–Você nunca resisti. - respondi, revirando os olhos.

–Por que não contar uma mentirinha? - perguntou ela, indignada com a minha acusação.

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(Musica para esta parte: http://www.youtube.com/watch?v=O-zpOMYRi0w )

A minha escola era a unica na ridícula cidadezinha. Era grande, mas não tanto. A maioria dos professores te deixava com sono, poucos faziam com que você ficasse acordado e entretido durante a aula.

Heather estacionou na vaga de sempre, perto do carrinho de café. Descemos, compramos o nosso café e nos dirigimos até a entrada da escola.

Os corredores eram cheios, mas sempre tinha espaço para as populares. A maioria dos estudantes era formada por anjos. A maioria dos anjos caídos não frequentavam escolas, os poucos que se atreviam a isso eram temidos e acabavam desistindo por acharem aquilo tudo muito tedioso.

A multidão abriu um corredor para passarmos. Já estávamos acostumadas com isso, eramos as garotas mais populares, eu era. A filha do representante dos anjos, a filha do "todo poderoso". Todos me temiam do mesmo jeito que temiam meu pai. No começo das aulas falavam que eu era a filhinha do papai mimada, mas depois que me conheceram os boatos pararam, mas o medo de ficar no meu caminho era maior.

–Mais uma manhã normal. - cantarolou Heather.

–Estranha você quis dizer.

–Estranho é o nosso normal, baby. - corrigiu-me ela, as unhas pintadas de amarelo arrumando o top rosa.

–Isso mesmo. - respondi, fechando meu armário.

–Vamos fazer umas compras depois da escola?

–Claro, preciso comprar uma sapatilha para combinar com um top.

–Odeio sapatilhas, saltos são mais a minha cara. - respondeu ela com uma careta.

–Logico que são, te deixam mais alta do que já é. - falei revirando os olhos.

–Oh my god! Olha aquele deus grego! - Heather exclamou, apontando para um menino vestido completamente de preto. As pessoas passavam e o olhavam, se afastavam rapidamente. Algumas meninas até mandavam piscadinhas que não eram correspondidas.

(Musica para esta parte: http://www.youtube.com/watch?v=rQKMLmXc0xo )

O garoto tinha grandes e inexpressivos olhos verdes, como de um predador, vazios e violentos. Ele parecia estar entediado, como se estivesse sendo obrigado a estar ali.

–Quem é ele? – perguntei, intrigada com o garoto de olhos verdes.

–Acho que a pergunta certa é, o que ele é.

–Anjo caído. – sussurrei para mim mesma.

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Afastei-me junto com Heather o mais rápido que consegui do garoto. Quando paramos na sala de aula vazia, desabei na cadeira, meu coração parecia martelar o meu peito.

–Esta tudo bem, baby? - Heather perguntou, sentando ao meu lado. Ela sabia do incidente, eu precisa contar para alguém, Heather era a minha melhor amiga e a pessoa perfeita para isso.

–Acho que sim. - respondi, tentando acalmar a minha respiração.

–Quer que eu pegue um copo de água pra você? O meu café foi pro chão junto com o seu enquanto corríamos. - Heather perguntou, sempre tentando me animar.

–Desculpe pelo café, compenso hoje durante as compras.

–Sem problemas, baby. - respondeu ela, afagando as minhas costas.

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Varias aulas se passaram, junto com o monótono intervalo. Sentamos na mesa junto com mais alguns amigos, comemos e conversamos. Heather os advertiu que se tocassem no assunto sobre o aluno caído, ela iria chutar a bunda deles daqui até a china.

Na ultima aula, Maia me enviou uma mensagem e disse que demoraria um pouco para me buscar, para eu não me preocupar. Heather disse para nos encontrarmos no café de sempre.

Quando Heather relutantemente foi embora, eu sentei no banco ao lado da sala da diretora, já vazia, e ali fiquei esperando.

Aproveitei o tempo para adiantar o questionário de história, mas acabei rapidamente. Com o celular quase sem bateria, eu acabei ficando sem absolutamente nada para fazer.

–Esqueceram de você, borboleta? - uma voz irrompeu o silencio.

–O quê? - perguntei me virando, meu coração pareceu sair voando do meu peito. - Você...

–Logan Morgenstern. - ele disse, os grandes olhos verdes e analisavam de cima a baixo. - Acho que já nos conhecemos? Você é a garota que saiu correndo junto com a ruivinha.

–Ela não é ruiva. - protestei, falando a unica coisa que pensei.

–Claro que é! Como você não percebeu? - ele sentou ao meu lado e eu tive o instinto de me encolher ainda mais. - Qual o seu nome, borboleta?

–Não devo falar com você. - respondi, tentando soar firme.

–Quebre as regras, borboleta. – sussurrou ele.

–Não me chame de borboleta! – esbravejei de volta.

–Por que não? - rebateu ele, se divertindo com a situação.

–Porque eu não gosto!

–Bom, eu gosto e tenho certeza que no fundo você também gosta.

–Só nos seus sonhos. - respondi, irritada com a audácia daquele garoto. Levantei e comecei a caminhar em direção a saída. - Agora me de licença, tenho coisas melhores para fazer.

–Não tem não. Primeiro, a sua carona ainda não chegou, segundo, por que não usa as suas asas?

–Primeiro, eu não sou de quebrar as regras e segundo, pare de usar os seus "poderes de anjo caído" em mim! - gritei com ele, balançando os bracos no ar.

–Eu não estou usando os meu "poderes de anjo caído", borboleta. - ele respondeu, estendo o celular com a mensagem aberta.

–Me devolve! - gritei, caminhando em sua direção. Logan entrelaçou seus dedos no meu quando tentei pegar o celular de sua mão, fazendo com que eu fosse incapaz de me soltar. - Me solta!

–Primeiro, borboleta, aprenda que seguir as regras as vezes é um porre. - ele sussurrou, sua respiração quente batia em meu rosto. - Segundo, mesmo que eu tivesse esses poderes, eu seria incapaz de usar eles em você.

Então ele me soltou. Com raiva e surpresa, encarávamos um ao outro, quem aquele garoto pensava que era?! Ele não tinha nem o direito de dizer aquelas coisas, ele não tinha, mas disse e você deixou, pensei.

Acordando do meu espanto, enfiei meu celular na bolsa e decidi esperar Maia lá fora, deixando Logan sozinho.

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Quando cheguei, subi e e me tranquei no quarto. Liguei imediatamente para Heather cancelando as compras e contando-lhe sobre Logan.

–Ele é extremamente sexy! Como pode deixa-lo?

–O deixando, do mesmo jeito que fiz com a minha mãe.

Foram as nossas palavras. Depois disso eu só tomei banho e me enfiei de baixo das cobertas, não suportando a ideia de quando meu pai chegasse e me perguntasse sobre isso. Meu pai sempre ficava sabendo quando um anjo caído entrava para a escola, ele era o representando dos anjos, tinha que ficar sabendo. Ele perguntaria e eu teria que responder.

–Ariel! - Maia me chamou lá de baixo, durante a volta para casa eu só respondi que estava com muita dor de cabeça para que ela parasse com as perguntas.

–Ai meu deus! Você esta bem? - meu pai indagou, entrando como um raio no quarto.

–Estou bem, papai. - ele já estava sabendo sobre Logan.

–Você já sabe do anjo caído? - perguntou ele, acariciando meu rosto.

–Sim, o nome dele é Logan. - respondi, arrependendo-me na hora.

–Como você sabe o nome dele? - meu pai perguntou em um tom mais duro. A mão de Maia pousou em seu ombro, o acalmando.

–Eu falei com ele, na verdade, ele falou comigo.

–Como?! - meu pai gritou.

–Jordan, acalme-se. - pediu Maia.

–Não quero você perto daquele garoto.

–Não se preocupe, papai.

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Depois de me checar algumas milhões de vezes, papai decidiu pedir pizza, deixando-me a sós com Maia.

–Ele ficou assim por minha causa, é culpa minha. - lamentei, encolhendo-me mais no roupão roxo.

–Não se culpe pela sua mãe, o erro foi dela.

–Mas ela errou por mim, ela caiu por mim. – respondi, os olhos acumulando algumas lágrimas.

–Não fale isso, amor. - Maia me acolheu em seus braços.

–Não vou mentir, essa é a verdade, e você devia dize-la também.

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Depois do jantar, que foi um completo silencio, eu voltei pra cama. Enrolei-me no cobertor de flores, lembrando de como a mão de Logan tinha sido quente em contado com a minha pele, em como o halito de menta dele era de certa forma reconfortante.

Balancei a cabeça com esses pensamentos, agarrei-me mais ao travesseiro e sussurrei para mim mesma:

–Não vou cair, eu prometo.