Saga - The Alphas Pack escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 2
La Iglesia




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Ao abrir os olhos novamente, Rafa conseguiu identificar um brilho dourado vindo de algum lugar e um som incessante no ar, como um vap-vap-vap-vap, se aproximar cada vez mais dos seus ouvidos.

Ele sentia um cansaço enorme, mas quando mãos magras começaram a estapear sua cara de maneira nada gentil, ele logo piscou e se sentou rapidamente.

– Finalmente! – Andressa grunhiu de forma irritada. – Já não era sem tempo, Caubói!

Ignorando a garota por completo, ele levou a mão à cabeça que girava um pouco enquanto tentava focar sua visão embaçada para enxergar melhor. Ao seu lado se encontrava Andressa, o cabelo preto chegando até as costas, o rosto com uma leve sujeira preta no rosto.

Atrás dela ele viu Fernando, o cabelo loiro parecendo impecável, mas com uma camiseta azul, diferente da cinza que usava, e uma calça preta apertada diferente da de antes, esta com rabiscos em cada lado da coxa.

E então, deitado bem perto dele, ele viu Eduardo, ainda inconsciente e parecendo pálido.

– Ele... ele morreu? – a voz de Rafa falhou na última palavra.

Andressa seguiu seu olhar enquanto Fernando se virava para olhar para ele. Os olhos tinham voltado ao tom misto de azul e verde, a pele parecia com mais cor do que da última vez que ele se lembrava de tê-lo visto.

– Não! – Fernando enfim respondeu. – Só esta desacordado!

– E ferido – Andressa acrescentou, com a voz tremula e um olhar choroso. – Fernando, tem certeza que...

– Não foi uma mordida tão profunda – ele logo a tranquilizou. – O lobo passou com os dentes de raspão, vai ficar tudo bem com ele.

– Como pode ter tanta certeza? – ela guinchou de volta. – Ele não acorda desde ontem à noite!

– Noite? – Rafa repetiu para si mesmo e logo seus olhos notaram que era manhã mais uma vez. Ele tinha desmaiado depois de...

– Eu posso não ter, mas ela tem! – Fernando gritou apontando para cima e, ao seguir seu olhar, Rafa entendeu porque eles estavam gritando.

Um helicóptero verde-escuro irava no alto deles parecendo encontrar algum jeito de pousar no terraço, agora claro como a luz do dia, enquanto o vento começava a girar bem forte.

Mesmo tendo que apertar os olhos, Rafa conseguiu distinguir uma silhueta ruiva com fones de ouvido no lugar de onde deveria estar o piloto.

Quando enfim o helicóptero conseguiu pousar no lugar, lançando uma sombra neles, as hélices pararam de girar e um silêncio confortável foi assumindo o terraço enquanto alguém parecia abrir a porta do piloto.

– Vamos! – Fernando disse de repente e Andressa e ele começaram a carregar Eduardo, passando os braços dele pelo ombro.

No abdome musculoso Rafa conseguiu ver um corte vermelho-escuro e profundo revelar parte da pele danificada do Líder do Trio.

Eles começaram a arrastar ele para frente e Rafa os seguiu, se sentindo um pouco impotente.

Agora que a porta do piloto estava fechada, Rafa pode ver uma mulher de cabelo ruivo cacheado, com fones de ouvido brancos e enormes que usava uma camiseta preta e um short curto leve, ambos cobertos por um jaleco branco que ia até as botas no pé.

Seus olhos eram azuis e ela exibia uma postura confiante ao cruzar os braços e semicerrar os olhos para eles – mas ao ver Rafa ali, ela os abriu mais um pouco.

– Layane – Andressa acenou com a cabeça. – Precisamos de ajuda! – ela olhou para Eduardo, preocupada.

Layane se aproximou e mediu o corpo do garoto com os olhos grandes e azulados.

– Mordida de lobo – ela fungou. – Foi muito funda?

– Não foi exatamente uma mordida – Fernando pigarreou. – Ele apenas o arranhou.

Ela assentiu compreensiva e então os encarou e depois Rafa rapidamente.

– Apressem-se, precisamos ir.

– Mas e quanto ao Edu...?

– Foi só um arranhão – a mulher respondeu, já de costas. – Ele já vai acordar.

Depois de Fernando lançar um sorriso de eu-te-avisei, eles se arrastaram até a lateral do helicóptero enquanto Layane abria a porta enorme da cabine de trás com algum botão.

Eles colocaram Eduardo em um dos dois bancos verdes estufados em cada lado da cabine e Rafa subiu logo atrás, de repente sentindo um medo desconhecido de altura.

– Nós vamos mesmo voar? – ele reclamou, olhando para a janelinha onde Layane começava a mexer em alguns controles no painel, fazendo o helicóptero tremer.

Andressa o ignorou fechando a porta ao mesmo tempo em que Fernando terminava de checar se o amigo estava bem antes de se sentar em um banco do lado dele e o encarar intensamente.

Rafa começou a se remexer, nervoso com o olhar lindo dele o encarando de tal forma.

– O que foi?

– O que foi? – Fernando repetiu, em tom de escarnio. – Eu é que perguntou o que foi aquilo?

Rafa demorou um pouco de tempo para se recordar do que ele estava falando, mas então um olhar sugestivo de Fernando para suas mãos trouxeram a lembrança com um tapa.

– Ah! – ele arfou, se lembrando da névoa demoníaca e do lobo de cor preta e olhos dourados se colidindo na noite passada. – Aquilo!

– É – Andressa concordou em um tom irônico. – Aquilo!

Ele deu de ombros, afetado.

– Eu nem sei bem o que aquilo foi – ele desabafou.

– Você manipulou a névoa contra o lobo – Fernando o lembrou, em um tom atento. – E depois os dois explodiram depois que você fez isso.

– EU FIZ AQUILO? – ele repetiu, tentando assimilar aquilo. – COMO EU FIZ AQUILO?

– Boa pergunta – Andressa observou. – Nem sequer nos temos feito ela desde a noite passada... Que diabos foi aquilo, Rafa! Como você...

– Eunãosei! – ele respondeu bem rápido, em um tom arriscado.

– Como assim não sabe? – Fernando questionou. – Eu vi suas mãos erguidas no ar... você estava manipulando o demônio.

– Eu também vi – ele retrucou, encabulado. – Mas eu não sei como... quer dizer, num minuto eu estava vendo a névoa cobrindo você o lobo se preparando pra te abocanhar então eu... eu só reagi!

– Só reagiu?! – Andressa repetiu, estridente.

– Reagiu? Essa é a sua desculpa? – Fernando ergueu uma sobrancelha que deveria parecer irônica, mas estava mais para sexy.

– Uhum – Rafa comentou a meia voz. – Eu não faço ideia do que eu fiz, eu só reagi porque pensei que eles iam matar vocês.

Um olhar de surpresa cruzou o rosto de Fernando, mas Andressa balançou a cabeça, parecendo perdida em meio a pensamentos.

– Eu devia ter te ouvido antes – ela murmurou, parecendo perturbada. – Devia ter ouvido quando você nos avisou.

– O que eu avisei? – Rafa franziu a testa.

– Não você – ela bufou. – Você – ela olhou Fernando com seriedade. – Assim que ele abriu o Triscele você começou a dizer que ele não era normal por ter abrido ele... você disse que ele era alguma coisa.

– Acredita em mim agora? – Fernando riu sem nenhum humor. – Eu disse que ninguém comum ia conseguir abrir a caixa daquele jeito.

Rafa começou a sentir uma náusea com o tom de admiração dos dois.

– Olha, vocês estão enganados – ele balançou a cabeça. – Não é só porque eu fiz... o que quer que eu tenha feito noite passada, que isso significa que eu possa ter feito o mesmo com a caixa. Eu sou normal!

– Bom, eu duvido – Andressa comentou com maldade. – Você esta bem abaixo do padrão de normal.

Rafa grunhiu.

– Escuta aqui sua vaca, eu estou tão cheio de voc– ele começou a apontar um dedo, mas logo Fernando sacou uma arma.

– Vai com calma caubói – ele alertou, apontando. – Abaixe o dedo antes que qualquer um de nós se machuque.

– Não seja ridículo! – Rafa guinchou. – E não me chame de Caubói! Vocês vão parar já com essa palhaçada de que eu...

– Sabe, acho que devíamos dopá-lo – Andressa instruiu.

– Boa sugestão – Fernando elogiou em concordância.

Rafa apertou o punho de raiva.

– Vocês querem saber de uma coisa? Aqui estou eu e faz um dia que eu fui sequestrado por vocês! Meus amigos devem estar preocupados e meus pais devem estar surtando a essa hora, então...

– Acredita mesmo que eles estão surtando? – Andressa interrompeu.

– O que quer dizer com acredito? É logico que acredito.

– Desde que sumimos não captei um sinal de perseguição – ela deu de ombros. – Só estou dizendo, sabe.

– Isso não quer dizer nada! Vocês me sequestraram a tarde, enquanto eu voltava para a escola... – Rafa de repente se calou, percebendo algo. – Meu Deus... eles devem estar morrendo de preocupação, santo Deus... eles vão me matar!

– Vou te falar quem aqui pode matar quem – Fernando comentou, em provocação. – Não esquenta, Rafa, nós já vamos chegar na La Iglesia.

LA ONDE? – ele repetiu. – Eu não falo um maldito espanhol... e por que estamos indo lá? Achei que íamos ver a tal Anna...

– E vamos – Andressa soltou. – É lá onde ela esta.

– Dessa – Fernando a chamou de um jeito autoritário.

– Desculpa, escapou – ela deu um sorriso amarelo. Novamente nem parecendo uma sociopata com uma agulha gigante por perto.

– Onde fica esse lugar?! – Rafa questionou, não entendendo nada.

– Pois é – Andressa fez uma cara presunçosa. – É ai onde você vai estar desmaiado pra não saber.

– O que? Eu não...

Mas então Fernando bateu com a coronha da arma na nuca dele, tão rápido que Rafa nem teve tempo de absorver nada, porque já estava caindo enquanto o helicóptero alçava voo.

Enquanto isso em Vallywood, o jardim em frente da residência dos Capoci, o Senhor e a senhora Capoci olhavam com olhar de desaprovação o filho mais novo de quinze anos.

– Por favooooooor – Rogério implorava. – Eu posso por favor ficar com o quarto dele para mim?

A senhora Capoci revirou os olhos para o filho.

– Por favor, Roger, querido, pare de brincar – ela fungou, limpando a lagrima do rosto. – Seu irmão esta desaparecido há quase vinte horas, pare de fazer piada com isso!

Quem disse que eu estou brincando, Rogério revidou mentalmente, em um tom petulante. Sim, Rafael estava mesmo sumido há quase vinte horas e sim sua cama continuava desfeita e sim, Rogério estava usando o tênis favorito dele da Conserve... mas e daí? Quem se importava com isso?

Rogério nem tinha se dado o trabalho, dá ultima vez que ele tinha sumido daquele jeito, tinha sido no ano passado, em maio, e enquanto ele andava pela rua da escola, louco para encontrar o irmão mais velho, não pode ficar menos surpreso ao encontra-lo debaixo de uma árvore, se pegando com Rael Coelho.

Então por que seus pais perdiam tempo indo a delegacia relatar o sumiço se ele poderia estar em alguma boate ou em algum beco se pegando com algum novo namorado, ou “ficante” como agora diziam por aí?

– Nós não vamos demorar – o pai disse em um tom de aviso, o mesmo tom que ameaçava enviar Rogério para um colégio interno. – Por tanto fique e nos ligue caso seu irmão apareça ou algo do tipo.

– Claro, claro – ele murmurou, pensando em puxar o fio do telefone assim que eles dessem as costas. – Eu ligo sim.

– E atenda as visitas – a mãe lembrou enquanto ela e o pai entravam juntos no jipe.

Rogério ia assentir e mandar todos se foderem, mas então parou com meio pé no primeiro degrau da escada.

– Desculpa, o que disse?

– As visitas – sua mãe lembrou, em tom sério. – Várias pessoas ligaram para ele ontem a tarde no celular dele, estão todos o procurando por conta de algum problema na escola...

– Visitas? – Rogério bufou. – Acha mesmo que alguém vai vir visitar ele?

– Eu vi as mensagens no celular que ele sempre deixa em casa – a mãe assentiu, séria. – E eram muitas. Seu irmão é muito popular, sabia.

– Claro que é – Rogério assentiu, pensando que o irmão podia ser bem popular, por vários motivos errados.

– Nós voltamos logo – o pai avisou no mesmo tom de antes. – Se cuide, filho!

Rogério foi balançando a cabeça até subir toda a escada até a porta, se perguntando o quanto seus pais poderiam ser tão ingênuos e... como era mesmo que a professora nojenta de história dizia?... puritanos?

Mas assim que ele abriu a porta e a fechou de novo para passar a chave – com o pensamento bem concentrado no Pay per view da TV a cabo e dos filmes com preço baixo para alugar – uma batida tímida soou na porta.

Rogério ergueu os olhos para a sombra na porta e a abriu devagar. Um cara alto, loiro e magro com músculos sobre a camiseta vermelha o encarava com olhos verdes amistosos.

– Oi – ele sorriu. – O Rafa esta?

Rogério mediu bem o sujeito antes de começar a procurar seus pais na esquina com alguma câmera na mão, mas só encontrou um casal de lésbicas que dava aula em um jardim de infância no fim da rua.

– Não, não esta – ele respondeu, a contragosto. - Ele sumiu.

– Sumiu? – os olhos do garoto quase pularam das órbitas. – Como assim sumiu?

– Evaporou, desapareceu, deu chá de sumiço – o mais novo explicou, entediado. – Entendeu?

– Er... bem, sim – ele assentiu. – Mas, faz alguma ideia de quando ele volta?

– Lógico que não – ele bufou. – Por que a pergunta?

O mais velho o avaliou meio sem graça.

– Porque você é o irmão dele, não é?

Rogério semicerrou os olhos com ódio.

– Talvez eu seja – ele empinou o queixo. – E você, quem é?

– Eu sou Roberto – respondeu. – Sou um amigo do Rafa.

– Amigo? – Rogério repetiu, em tom cético.

– Sim, amigo – Roberto deu de ombros. – O que tem de mais?

Rogério cruzou os braços, longe de estar de bem humor.

– O último cara que o Rafa me apresentou como amigo costumava andar nu nessa casa. É esse tipo de amigo que você é?

Roberto estava com a boca entreaberta, o rosto mais do que vermelho.

– Ah, não – ele balançou a cabeça. – Somos só amigos, colegas de física.

– Então os opostos se atraem mesmo? – Rogério provocou. – Bom, abre aspas amigo fecha aspas, o Rafa esta desaparecido desde ontem e meus pais foram registrar seu sumiço, então...

– Espera, desde ontem? – Roberto franziu o cenho. – Ontem depois da escola?

– Eu acho que sim – não que eu pare pra realmente pensar, Rogério acrescentou. – Por quê?

– Por que ontem antes de... bem, depois da escola, aconteceu algo... Rafa meio que teve um incidente no anfiteatro.

Os olhos castanhos de Rogério brilhavam.

– Incidente? – ele riu. – Ele ficou nu na frente da escola toda?

– O que...? Não, ele mandou eles se foderem!

– Dá no mesmo.

– Não, ele... vem cá, vocês são mesmo irmãos?!

Rogério deu de ombros e lançou um olhar vago para dentro da casa.

– Segundo a genética, sim – ele respondeu. – Por quê? Acha que não somos parecidos? Por favor, diga que não acha que somos parecidos!

Roberto balançou a cabeça, muito perturbado.

– Olha, eu vim aqui ver o Rafa.

– E eu já disse que ele bateu as botas!

– Que ele sumiu!

– Que ele sumiu, o que mais você quer?

– Bom, eu posso entrar e esperar? – Roberto lançou um olhar para dentro da casa.

– Depende – Rogério falou, meio hesitante.

– Depende do quê?

– Vai ficar andando pra lá e pra cá nu?

Roberto arquejou de frustração. Sempre tinha achado que apenas um Capoci era difícil de lidar na vida, mas esse...

– Que seja – Rogério abriu a porta preguiçosamente. – Só por favor, não mexa no meu Pay per view.

– Rafa! Rafa, acorda! Rafa, por favor, acorda!

– Jura que quer acordar ele assim? Quem você acha que vai acordar desse jeito, o México inteiro?

– Rafa! Rafa, acorda! Rafa, por favor, acorda!

– Por que não diz a ele que você esta sem camisa?

– O que diabos quer dizer com isso?

Rafa de repente acordou num átimo, se sentando automaticamente. Ao perceber que estava desacordado antes fechou a cara – essa coisa de ficar desmaiar e acordar não estava o deixando mais agradável.

– Eu falei que funcionava – Andressa disse com um sorrisinho.

– Onde estamos? – Rafa piscou várias vezes.

– Chegamos em La Iglesia – Eduardo respondeu, parecendo completamente curado, mas com a camiseta ainda rasgada. – Na verdade pousando em La Iglesia, pra ser mais exato.

Andressa cutucou Fernando com o pé.

– Por que com ele você não faz nada?

Rafa lançou um olhar pela janela, nervoso por ainda não terem pousado.

– E o que vamos fazer agora?

– Encontrar Anna – Fernando deu de ombros.

Rafa suspirou de frustração.

– Faz mais de dez horas que vocês estão dizendo isso e a única coisa que eu encontro é o rosto tapado de vocês toda vez que eu acordo.

– Nossa – Andressa foi para trás como se tivesse levado um tapa. – Cuidado com a língua, caubói.

– Nós já vamos pousar – disse Layane, a voz confiante vindo da cabine da frente.

– Você tem que ser muito sortudo para Layane não vir até aqui e te dar uns tapas – Eduardo semicerrou os olhos escuros.

– Ou ela deve estar de bom humor – Fernando comentou. – Escuta, nós vamos passar ter que passar pelas ruas da cidade antes de chegar no templo...

– E pela creche também – Andressa acrescentou.

– E pela creche... ou seja, sugiro que você seja bastante... paciente.

– E por quê? – Rafa questionou, um pouco ofendido.

– Porque nós vamos passar pelas crianças e elas...

– Crianças?! – ele olhou do lado de fora e pode ver que lá embaixo pessoas mínimas andavam para lá e para cá, parecendo formigas daquela distância. – Vocês também sequestram crianças?!

Eduardo trocou um olhar demorado com Fernando.

– Quem diabos esse idiota pensa que somos?

Fernando apenas suspirou em resposta.

Depois de um momento, as hélices finalmente pararam de fazer barulho e logo todos estavam em movimento: Andressa parecia arrumar o cabelo selvagem, Eduardo se levantava com cuidado do banco, Fernando escondia as armas onde era possível esconder e parecia concentrado em não olhar nada além do chão.

Quando enfim pousaram, Andressa abriu a porta sem nenhum esforço e pulou para fora com simplicidade. Eduardo foi logo em seguida, indo com um pé e depois com o outro. Fernando estava prestes a pular, mas lançou um olhar rápido a Rafa antes de descer como um salto que fez um barulho quando ele pousou.

Cauteloso, Rafa tentou seguir o exemplo deles, tomando impulso dentro e saltando para fora, o ar sibilando nos ouvidos enquanto seus pés alcançavam o chão.

Ele cambaleou com a queda mas logo se recompôs, dando uma olhada onde estava pisado. Aquilo era...

– Não deve estar muito acostumado com essa coisa amarela, não é? – Andressa riu, apontando para a areia em seus pés.

– Rafa – Fernando a interrompeu, gesticulando para frente. – Bem-vindo a La Iglesia.

O garoto seguiu seu olhar e se viu de frente a uma civilização completamente estranha. Em vez de casa comuns, ele viu formas cinza e altas, com buracos que pareciam indicar janelas. Pessoas andavam pela rua que se seguia a frente, com roupas simples que Rafa nunca tinha visto antes – azuis e brancas, sem nenhuma marca – ,havia mais areia atrás das casas, praticamente rondando elas como se já fizessem parte dali há anos.

E muito, muito mais a frente, Rafa conseguiu ver um prédio ainda mais alto de cor azul acinzentada, bem mais alto que os outros e bem mais moderno, com três letras grandes em horizontal na frente.

Um T cursivo feito a ferro.

Um A encravado na estrutura, como se feito com garras.

E um P inclinado marcado de vermelho cor de sangue.

Rafa se arrepiou, TAP, ele podia ouvir a voz de Fernando citando: The Argent Corporation.

Depois de baixar o olhar admirado, ele viu que o trio já estava andando na frente, com Layane andando confiante na frente deles.

Ele correu para alcança-los, notando os olhares de cada morador que encaravam eles. Uma mulher com uma boina verde, um homem magro dentro do que parecia ser uma padaria e até mesmo uma criança loira de olhos verdes paranormais.

Aquilo fez ele se lembrar de Roberto.

Layane virou uma rua e o resto a seguiu fielmente. Rafa viu uma espécie de quadra enorme e ao ver brinquedos e uma casa na árvore logo supôs que aquela era a creche.

Mas aquela parecia ser uma creche errada.

Meninos de doze ou onze anos tentavam se chutar nas canelas, uma garota bem nova mirava um arco na direção deles, dois adolescentes da idade dele apontavam lanças na direção de outro que agora desviava delas e derrubava um de cada vez.

Ele riu ao fazer isso e seus olhos encontraram o de Rafa rapidamente. Era loiro, mas um loiro menos claro que o de Fernando, e parecia usar a mesma camiseta cinza que Fernando vestia até noite passada.

Onde ela tinha ido parar...?

– Olha só – o garoto convergiu até eles. – Conseguiram mesmo voltar, hein? – disse, com um tom muito infeliz.

– Felipe! – Andressa de repente correu para frente para abraçar o garoto.

Enquanto ele correspondia o abraço, Eduardo suspirava e Fernando revirava os olhos e mexia no cabelo automaticamente, fazendo Rafa suspirar de admiração.

– Felipe – ele disse num tom desagradável. – Que surpresa te ver por aqui.

– Surpresa mesmo – Eduardo cuspiu. – Você não estava em uma missão de treinamento? Caçando Vampiros da Turquia?

Felipe se virou para os dois, se desvencilhando de Andressa.

– Eu estava – ele empinou o queixo e sorriu arrogantemente. – Mas já terminei minha missão.

– Terminou? – Andressa guinchou. – Mas você foi ontem!

– É exatamente o que eu estou dizendo – ele respondeu a ela com outro sorriso, mais brilhante. – Foi muito... fácil.

– Fácil por que era uma missão treinamento ou fácil porque Giulia foi com você? – Fernando retrucou.

Os olhos de Felipe escureceram.

– Não tem nada a ver – ele falou sem sorrir dessa vez. – Eu teria conseguido mesmo sem ela.

– Sem uma arqueira de quase cem anos? – Eduardo comentou, parecendo zombeteiro. – Duvido muito.

Mesmo se sentindo como um peixinho fora D’agua, Rafa logo pode notar uma espécie de tensão e era obvio que Fernando e Eduardo tinham alguma rivalidade com Felipe – que se parecia muito com Fernando, em termos de roupas e cabelo, apenas. Os olhos eram castanhos claros.

– Meninos – Layane de repente pigarreou, parecendo querer atenção. – Vamos logo, Anna espera por vocês.

– Na verdade, Lay, - Andressa bocejou. – Será que você não poderia agendar para mais tarde? Eu estou morrendo de sono e preciso definitivamente de um banho, então...

– Não comece – a mais velha a encarou com os olhos azuis lindos e severos. – Eu tive que praticamente implorar para agendar essa reunião para vocês... E vocês vão!

– Mas...

– E sem falar que se ficar tarde... – Eduardo parecia dizer algo, mas se interrompeu quando Fernando o encarou. – Digo, precisamos de todos aqui.

– Vão se trocar – Layane ordenou, girando as botas na direção do prédio mais alto. – A reunião é em uma hora.

Os três começaram a convergir para outra rua enquanto Felipe virava o rosto de lado para olhar Rafa com atenção.

– E você, quem é? – ele perguntou, o tom amistoso e interessado.

– Ahm, Rafael – ele respondeu, intimidado.

– E de onde veio?

– Eu vim com eles – ele apontou para o trio.

– Então você é um atirador? – Felipe questionou.

– O que? Não eu... não, eu não sou – aquele garoto se parecia muito com Fernando... mas não era ele mesmo.

– Então o que você é? – Felipe se inclinou avaliando Rafa lentamente.

Rafa estava prestes a responder, mas uma mão puxou a sua.

– Se ele quisesse te dizer, já teria dito – Fernando respondeu no lugar dele com acidez.

– Nossa – Felipe levantou os braços em sinal de rendição. – Eu só estava perguntando.

– E eu respondendo – Fernando cuspiu. – Agora se me permite...

E então ele puxou Rafa com ele, não ligando quando ele tropeçou nos próprios pés.

– Você pode fazer o que quiser – Fernando disse sem olha-lo nos olhos. – Mas não fale com Felipe, entendeu?

– Claro, claro – Rafa respondeu, ainda olhando a mão dele sendo segurada por ele, ignorando o tom autoritário completamente. – Como quiser.

Fernando pareceu ter percebido isso, porque assim que ele e Rafa entraram em uma das casas de construção esburacada, ele a soltou ligeiramente, deixando a mão de Rafa formigar.

Andressa e Eduardo pareciam à beira de alguma discussão.

– Sem essa – ela retrucava. – A ferida mal se fechou, nós temos que cuidar dela!

– Eu já disse que estou bem, Dessa – ele implorava, o rosto retorcido de agonia.

– E eu custo acreditar nisso – ela se lançou para frente, tocando o cinto da calça dele com força. – Vamos, antes que a reunião comece.

Fernando e Rafa ficaram imóveis enquanto ela levava um Eduardo sem camisa e prestes a desmaiar para outro cômodo da casa. Fernando começou a se mover pela casa.

– Tem dois banheiros ali – ele apontou para a área leste enquanto pegava algo de um armário. – Pode usar essas roupas.

Rafa pegou quando ele as jogou para ele. Uma camiseta preta e um short preto e branco de tecido leve. E uma cueca branca cheia de letras A’s.

– São suas? – ele não conseguiu deixar de perguntar.

Fernando franziu o rosto lindo enquanto o encarava de volta, os olhos confusos por um momento.

– Faz diferença?

Ele deu as costas a Rafa e entrou no que parecia ser um dos banheiros, fechando a porta de persianas ruidosamente.

Desencorajado e com a cabeça girando ele se recostou na parede, não acreditando na situação em que se encontrava. Tudo passou pela sua cabeça rapidamente: a caixa, o sequestro, o Wendigo com os dentes amostra, o posto, o depósito abandonado, o lobo se inclinando para atacar, a névoa demoníaca perigosa, o helicóptero chegando e... agora aquele lugar estranho.

Enquanto se concentrava para não pirar, ele ouviu o barulho do chuveiro do banheiro sendo ligado e olhou por onde Fernando tinha acabado de entrar. A porta de persiana não estava exatamente fechada.

E lá estava Fernando, tirando o cinto e o deixando cair no chão com a calça e a cueca. Rafa corou. É lógico que ele já tinha visto Rael nu milhares de vezes, mas Fernando... a pele das costas nuas dele, o dorso musculoso visível daquela forma, e mais para baixo...

Antes que pudesse desviar os olhos, Andressa apareceu pela abertura que tinha saído antes, parecendo ainda mais corada do que o próprio Rafa.

Ela o encarou e ele tentou disfarçar piscando.

– Precisa de algo? – ela olhou para as roupas em suas mãos.

– Ah, banheiro? – ele perguntou.

– Esse Fernando – ela revirou os olhos. – Fica ali – ela apontou.

Dando as costas a ela, Rafa nunca se sentiu tão ousado ao deixar um sorriso levado escapar.

Rogério se ajeitou no sofá enquanto Roberto olhava distraído para a televisão. Eles tinham deixado em um canal de vendas de joias chato onde uma mulher de cabelo loiro curto anunciava um colar de prata com preço um preço de vários dígitos.

Entediado, Rogério se levantou do sofá e pensou em fazer algo de muita importância – para ele.

– Olha, eu vou comer algo – ele disse. – Quer alguma coisa? Água, café, suco de uva?

Roberto fez um barulho estranho com a boca, pensando.

– Suco de maçã, se tiver, é claro.

– Eu disse suco de uva – Rogério retrucou. – Quem diabos bebe suco de maçã?

Roberto franziu a testa.

– TODO MUNDO?

Rogério balançou a cabeça.

– Eu me conformo com suco de uva e apenas de uva.

– Então eu recuso – Roberto responde.

– Então vai morrer de sede!

De repente a campainha tocou, fazendo os dois olharem para a porta da frente.

– Não mexa no meu Pay per view – Rogério lembrou, indo até a porta.

Quando a abriu dois garotos o encararam da varanda.

– Ah, você – Rogério cuspiu.

– Não, não, eu digo Ah, você – Lucas Henrique o encarou de volta.

– Viemos ver o Rafa – João Reis, um garoto meio corpulento com toca preta e óculos cruzou os braços. – Onde ele esta, Roger?

– Roger é para os íntimos – o menino rebateu. – Coisa que nenhum de vocês é.

– Mas somos íntimos do seu irmão – Lucas retrucou. – Que a propósito... onde esta?

– O íntimo de vocês esta sumido desde ontem à tarde – ele anunciou com um sorrisinho de escarnio. – Ou seja, não tem ninguém para vocês verem aqui.

João e Lucas trocaram um olhar apavorado, mas logo Lucas se recompôs.

– Não? Quem esta na sala?

– Não te interessa.

– Agora interessa – João foi logo adentrando a casa, empurrando o garoto com o ombro.

– Eu posso chamar a policia, sabia?

– Já foi? – Lucas retrucou parando na sala. – Roberto? O que esta fazendo aqui?

– Pelo visto o mesmo que você – ele sorriu meio corado. – O Rafa sumiu ontem.

– É, ouvimos isso – João revirou os olhos.

– Você tem ideia de quando ele pode voltar? – Lucas perguntou.

– Meus pais devem ter – Rogério entrou na sala. – Já que foram até a delegacia registrar o sumiço dele.

– Mas como assim ele desaparece assim? Do nada? – João franziu o cenho.

Lucas baixou o olhar, parecendo perturbado.

– Talvez não tão assim do nada – ele se sentou no sofá.

– Como assim? – Roberto questionou.

– Ontem, depois da escola. Nós estávamos indo embora até que apareceu essa garota Super estranha e muito gostosa... e começou a falar que conhecia o Rafa e que eles tinham se conhecido num motel?

– Uma garota?– Rogério repetiu, cético.

– Foi isso que eu pensei – Lucas observou. – Mas aí ela disse que eles tinham combinado de sair e praticamente o empurrou até um Eco Sport.

Oh – João estremeceu. – Tinha mais alguém no carro?

Lucas apertou os olhos, concentrado.

– Eu acho que tinha mais alguém dirigindo, mas não consegui ver quem era.

– Eu vou ligar para os meus pais – Rogério foi num salto até o telefone.

– Como era essa garota? – Roberto perguntou, parecendo incomodado.

– Gostosa – Lucas foi logo dizendo.

– Er, Lucas, eu acho que ele quis dizer em detalhes específicos.

– Bem, gostosa – ele deu de ombros. – Tinha cabelo preto grande e olhos verdes de gato, usava umas roupas escuras e tinha um corpo bem... sexy.

Roberto revirou os olhos.

– Quantos anos parecia ter?

– A nossa idade, acho.

Roberto passou a mão no rosto, parecendo pensar sobre aquilo.

– Por que eu tenho a sensação que isso tudo não é uma coisa boa? – João perguntou.

– Seria uma coisa comum se fosse um cara – Lucas respondeu. – Mas não foi. E eu não consigo pensar no nome daquela garota.

– Qual era?

– Yanca – ele respondeu escurecendo os olhos. – O nome da loja de doces que tinha mais para a frente.

Os três se encararam, chegando a uma conclusão.

– Alguém pode me dizer algo sobre essa Anna?

Layane, Andressa, Eduardo, Fernando e Rafa, vestido nas roupas de Fernando que couberam perfeitamente, a não ser a blusa, que ficou um pouco larga em seu corpo magro.

Não que ele fosse reclamar.

– O que você precisa saber, novato? – Andressa pulou para o seu lado. – Se ela é velha, tem duzentos anos ou usa um avental?

Rafa balançou a cabeça, mas então a olhou com atenção.

– Ela é mesmo assim?

Andressa riu enquanto eles adentravam o prédio, com Layane marchando obediente na frente. A primeira coisa que Rafa notou foi a clareza daquele corredor, todo cor de areia e brilhante com piso de linóleo.

Mais para frente, Layane tocava duas enormes portas com o mesmo símbolo do lado de fora. TAP, escrito das três maneiras que ele tinha visto.

– De novo – Rafa se ouviu falar em voz alta.

– Fala dos símbolos? – Eduardo se virou.

– Hum, é só que eu vi eles do lado de fora também.

Eduardo assentiu.

– Foram feitos por cada fundador da The Argent Corporation.

Rafa assentiu, olhando Fernando de lado.

– Me disseram isso.

Fernando estava quieto por todo o caminho e Rafa se perguntou por um segundo se ele tinha como saber o que Rafa tinha visto mais cedo.

A lembrança divina daquele garoto nu estava prestes a invadir sua mente, até que as portas enormes se abriram, fazendo o A se partir ao meio enquanto as portas se abriam para um enorme salão com paredes de vidro e um teto iluminado. Rafa nunca acho que tinha visto tantos livros na vida, pra onde quer que virasse as prateleiras cercavam a sala, menos a área onde a tal Anna se encontrava.

– Ei, Chefa! – Fernando cumprimentou, zombeteiro. – Quantos livros leu por hoje?!

Anna estava atrás de uma enorme mesa, de costas com um livro de capa marrom nas mãos. O cabelo marrom grande caía no meio das costas, sedoso e jovem. Quando ela se virou, Rafa quase sentiu uma pontada de inveja ao olhar seu rosto.

A pele era branca como uma asa de pomba branca, os olhos atrás dos óculos charmosos eram de um castanho bem claro e seus lábios rosa eram carnudos.

– Eu já disse para parar de me chamar de Chefa, senhor Fernando – ela respondeu, num tom autoritário ao fechar o livro na sua frente. – E só informo os títulos dos meus livros pra quem realmente gosta de ler.

Seus olhos encontraram o rosto de Rafa e ele logo se intimidou, sentindo o estomago embrulhar.

– Oh, quem é esse? – não foi Anna quem perguntou, mas sim uma garota que estava parada no canto da sala com um dos livros na mão.

– Rafael – Fernando respondeu, olhando Anna. – Anna este é o Rafael.

– Sim, sim – Anna saiu detrás da mesa, revelando uma calça jeans branca. – Layane me deu conhecimento disso.

Layane, por sua vez, pareceu corar por um segundo ao se dirigir para um banquinho abandonado no outro canto do salão.

– É um prazer, Rafael – ela se aproximou, sorrindo de jeito acolhedor. – Meu nome é Anna.

– Eu sei – ele respondeu, debilmente.

Anna sorriu ainda mais e lançou um olhar para a garota loira no canto da sala. Ela largou o livro que lia na prateleira e ficou sentada na mesa de Anna, com as pernas cruzadas.

– Então – Anna passou os olhos pelos outros. – Quem vai me explicar essa situação toda dessa vez?

– Senhorita Anna – Eduardo se colocou na frente. – Permita-me.

Ela gesticulou para que ele continuasse enquanto andava de volta a mesa e se sentava bem perto da garota loira – esta que por sua vez colocou a cabeça no ombro dela.

– Nós estávamos seguindo os Atiradores, – Eduardo começou, em um tom nervoso. – Conseguimos pegar a caixa deles depois de um tempo.

– O Triscele – Fernando corrigiu, ao seu lado.

– Isso, o Triscele – ele assentiu. – Mas um Wendigo, ou melhor, um outro Wendigo, apareceu e o Triscele rolou por um moinho, até cair no estacionamento dessa tal escola.

– Certo – Anna assentiu.

– E foi lá onde eu achei Rafael – Fernando disse seu nome e Rafa estremeceu com isso. – Ele estava com as caixas na mão e ela estava... aberta.

– Ele a abriu, você quis dizer – Anna observou.

– Isso – Fernando olhou de lado para ele. – Ele a abriu.

– Não sei como alguém normal conseguiu fazer isso... – Andressa comentou. – Mas ele abriu. E então decidimos trazer ele até aqui.

Anna levou um dos dedos à boca, de um jeito impiedoso.

– Decidiram? E com que ordem?

– Bem... – Eduardo corou.

– Com a minha, senhora – Layane interrompeu de seu canto, os olhos azuis gentis. – Eduardo ligou para mim perguntando o que fazer a respeito do garoto e eu disse para trazê-lo até aqui.

– E por que fez isso mesmo? – Anna questionou a olhando de lado.

– Porque você sempre diz...

Você?

– Porque a senhora sempre diz para não matarmos um humano que descubra sobre nós – ela engoliu em seco. – A senhora nos diz para trazer eles até a senhora.

– Então estava seguindo minhas ordens?

– Sim, senhora.

– E Eduardo e seu Pack também? – ela gesticulou, sem olha-los.

– Sim – ela a olhou de volta.

Anna saiu da mesa e a garota loira quase bateu a cabeça na mesa.

– Giulia – ela se dirigiu a ela. – Preciso que você vá até sua casa e prepare suas malas, vou te dar uma missão mais tarde.

– Sim, senhora.

Giulia, Rafa repetiu mentalmente observando a garota loira pegar o que parecia ser um arco e flecha e sair do salão pela porta da frente, sem olhar nenhuma vez para trás.

Anna bateu as palmas uma vez e se virou para eles.

– Ok – ela olhou a todos. – Ao que parece vocês conseguiram passar pelos atiradores e pegar a caixa. Onde ela esta?

– Senhora – Layane tirou algo de um dos bolsos do seu jaleco e andou para entregar a ela.

– Muito bem – Anna sorriu e Rafa percebeu sua bipolaridade oscilar. – Vocês conseguiram a caixa, meus parabéns, missão concluída.

– Chefa, espera! – Fernando se colocou para frente. – E o que vamos fazer com Rafa?

– Rafa? – Anna se virou para ele. – Ué, matem ele – ela balançou a cabeça para Eduardo, que permaneceu imóvel.

– Senhora Anna, espere – Andressa se moveu para pegar o braço do amigo. – Não podemos mata-lo!

– Como não? – ela franziu o cenho. – Não conseguem? É isso? – ela mediu Rafa. – Então deixe que eu cuide disso, Laya...

– Não, não, Chefa – Fernando interrompeu. – Ela quis dizer que não podemos! – ele guinchou. – Não podemos salva-lo, ele nos salvou!

– O que quer dizer com isso?

– Bem – Fernando se recompôs, olhando-a com respeito. – Enquanto esperávamos Layane chegar com seu helicóptero...

– Meu helicóptero – Anna corrigiu, astuta.

– Isso, o seu – ele assentiu. – Enquanto esperávamos, fomos atacados por um demônio e um lobo. Eles nos derrubaram por completo e o lobo estava prestes a me matar, até que Rafa... simplesmente jogou um no outro.

– Jogou um no outro?

– É, ele tipo jogou a névoa e o lobo um no outro e eles explodiram!

– Explodiram? – ela piscou. – Você espera mesmo que eu acredite...

– Eu estou de testemunha – Andressa interrompeu. – Eu vi tudo, Rafa moveu as mãos para frente e eles explodiram por todo o terraço!

Um segundo louco e insano se passou enquanto Rafa começava a ser encarado por todos, principalmente por Anna, e sentiu como se estivesse de novo no anfiteatro, esperando por uma bolinha de papel aleatória.

– Interessante – Anna finalmente sorriu de novo, olhando Rafa. – Parece que temos um mistério nas mãos! – ela riu, olhando as próprias.

Rafa a olhou como se fosse louca, mas logo Fernando chamou sua atenção, girando o dedo pela orelha, indicando que ela era louca.

– Eu vi isso Fernando – Anna disse sem se virar. – Mas é realmente um mistério – ela avançou em Rafa, tocando suas mãos como se fosse intima dele. – Você primeiro abre uma caixa que nem a própria Layane consegue abrir... depois salva a vida dos meus Caçadores? Quem é você Rafa Capoci?

– Er... Só o presidente do grêmio de lixo da minha escola? – ele respondeu rouco e incerto, percebendo não tinha falado quase nada.

Ela riu e apertou suas mãos antes de soltar.

– Você é engraçado!

– E você gosta de desviar de assunto – Fernando rebateu. – O que vamos fazer com ele agora, Anna?

– Eu honestamente não sei – ela disse com sinceridade. – Mas é por isso que serve o Livro das Sombras, não é? – ela foi até a mesa. – Layane, coloque todos para fora, preciso de um segundo para digerir tudo isso.

Layane se levantou com um suspiro do banco e indicou as portas enormes com a mão.

Andressa puxou Rafa com tudo e Eduardo e Fernando os seguiram de volta ao corredor. Com um último olhar para dentro do grande salão, Rafa viu Anna levantar os olhos de um livro pesado para encará-lo antes que o A do TAP se fechasse entre eles.

– Eu vim ver o meu amigo! – Vick Melo guinchou para o seu namorado, Diogo Barros (aff) na frente da casa dos Capoci.

– E você veio com o meu carro! – Diogo grunhiu de volta, batendo o pé feito uma garotinha.

– Eu não acredito que eles vão discutir – Camila Alves bocejou.

– Eu não acredito que eles vão discutir de novo! – Camilla Polli acrescentou.

– Eu não precisava do seu estupido carro, eu poderia ter vido a pé! – Vick rebateu.

– Então por que não veio droga? – ele questionou.

Vick estava prestes a dizer algo de volta, mas Camilla levantou uma das mãos.

– Porque nós odiamos andar duas quadras.

– E porque esses sapatos não são de andar – Camila concordou, olhando os seus da coleção de primavera que tinham chegado ontem mesmo.

– Isso é problema de vocês – Diogo bufou. – Eu não vou ficar aqui na casa do seu amiguinho, vendo você e suas amiguinhas ficarem batendo papinho!

– Para de ficar falando tudo no diminutivo – Vick se irritou. – Você sabe que eu odeio quando você fica falando as coisas no diminutivo!

As Camillas reviraram os olhos, se preparando para mais uma rodada de discussões inúteis.

– E se quer saber, ninguém esta pedindo para você ficar!

Com essas os olhos de Diogo escureceram de ódio.

– Ah, não? Tudo bem – ele andou até seu Voyage. – Eu espero mesmo que arrume uma boa carona para você e suas amigas!

O garoto moreno andou até seu carro e abriu a porta do carona com tudo antes de fechar e fazer um barulho alto que fez com que uma das Camillas pulasse de susto. E então deu partida.

– Amiga – Camilla a olhou, com preocupação.

– Esta tudo bem – Vick Melo suspirou. – Eu vou arrumar uma carona pra vocês.

– Não é isso – a outra Camila falou.

Vick olhou as duas com cansaço.

– Não é a primeira vez que brigamos – ela respondeu. – E não vai ser a última.

– Ah, nós sabemos disso – Camila falou, um pouco brincalhona. – Mas é que você...

– Por que ainda esta com o Diogo? – a outra Camilla falou. – Vocês brigam toda hora!

Vick lançou um olhar para o carro do namorado que virava a esquina da rua e depois para a casa dos Capoci.

– Eu preciso dele – ela disse monótona. – Eu preciso dele muito.

As duas Camillas se entreolharam e antes que pudessem questionar, a porta da frente da casa dos Capoci abriu ruidosamente e um garoto mais novo de cabelo loiro escuro apareceu e as olhou com admiração.

– Então tipo assim, eu não sei qual de vocês garotas estão discutindo – ele se apoiou no batente, parecendo admirado. – Mas continuem, por favor.

– Não estamos discutindo – Vick subiu até a varanda. – O Rafa esta?

Rogério revirou os olhos.

– Não – ele respondeu com cansaço. – Ele sumiu?

– Sumiu?! – Vick guinchou. – Como assim sumiu?!

Rogério apenas abriu mais a porta.

– Eu gostaria de saber mais que vocês, agora se juntem ao time!

As garotas entraram depois dele logo viram Lucas, João e Roberto sentados no sofá, assistindo a um pornô ridículo com duas mulheres vestindo chapéus de braço de papel e peitos amostra.

Lucas e João pularam de susto, Roberto apenas virou a cara confusa, parecendo levemente entediado.

– Lucas?! – Vick olhou o garoto com atenção.

– Vick, o que esta fazendo aqui?

– Viemos procurar o Rafa... – disse Camilla.

–... Até descobrirmos que ele sumiu – completou a outra.

João desligou a televisão com o controle remoto.

– Nós descobrimos agora pouco, estamos esperando o senhor e a senhora Capoci voltarem com informações – ele falou tudo isso bem rápido.

– Jeito legal de esperar – comentou Camilla erguendo uma sobrancelha.

– Eu estava entediado com esses bocós falando – Rogério respondeu, se sentando no sofá.

– Então Rafa não apareceu – Vick repetiu dando de ombros. – Grande coisa, talvez ele tenha encontrado um cara e...

– Uma garota entrou com ele dentro de um carro escuro depois da escola – Lucas foi logo dizendo.

– UMA GAROTA?! – ela guinchou jogando o cabelo preto com mechas rosa para trás. – QUE DIABOS?!

– Pois é – Roberto comentou. – E não voltou pra casa desde então.

– E estamos pensando que ele talvez tenha sido sequestrado – João disse.

– E outros torcendo para que seja isso – Rogério acrescentou.

– Meu Deus – Vick passou a mão no cabelo louco. – O que alguém iria querer com Rafa? Ele fez alguma coisa? Quem poderia...?

– Bom, conhecemos uma pessoa que não gosta dele – Camilla logo começou.

– E mais de duas – a outra Camila disse.

– Gente – Vick arfou de pavor. – Rafa não esta desaparecido... ele foi sequestrado!

– Ele deve estar sofrendo – Roberto lamentou com um olhar para a janela.

Rafa se recostou em um muro do lado de fora do escritório de Anna, cansado demais enquanto esperava que Anna os chamasse mais uma vez. Layane tinha saído uma vez e dito que Anna iria falar com eles em breve, para saber o que iriam fazer a respeito dele.

E era realmente uma droga essa coisa de ficar esperando as pessoas decidirem algo por ele. Por que Rafa não podia, sei lá, simplesmente decidir o que fazer? Por que tinham que ficar levando ele para um monte de lugares que ele desconhecia?

Enquanto pensava nisso, Rafa levou um susto quando um garotinho apareceu, dando um susto nele ao aparecer com sua cabeça loira.

– Desculpa moço – a criança sorriu com caninos enormes.

Rafa tentou manter a respiração estável, olhando por sobre muro para ver se alguém tinha visto algo.

– Esta tudo bem – ele suspirou. – Como você se chama?

– Balu – ele sorriu de novo, com os dentes amostra.

– Seus pais sabem que você anda brincando de vampiro por aí? – Rafa perguntou gentilmente, perdendo a raiva anterior.

– Ah, não é Vampiro não – Balu respondeu. – Eu sou um Lobisomem.

Rafa estava chocado demais, mas tentou dar um meio sorriso. Tudo bem, só mais um Lobisomem, algo que qualquer um vê todos os dias.

– Ah, sim – ele pigarreou. – Seus pais também são Lobisomens?

– Meus pais morreram – Balu parecia encabulado. – E minha tia é do Conselho, então ela não tem tempo pra saber o que eu me tornei.

Rafa não ficaria mais surpreso se um passarinho saísse voando de dentro de sua calça – passarinho no sentido bom, tá? – e começasse a cantar uma versão nova de Magic do Coldplay.

Não existia nada de normal naquele mundo?

De repente Fernando apareceu trotando.

– Rafa, será que podemos conversar sobre o que você estava olhando... – ele parou avaliando que ele não estava sozinho. – Oh, oi Balu, o que faz aqui guri?

– Só assustando o moço sem querer – ele deu de ombros. – Desculpa de novo moço.

– Eu estou bem – Rafa balançou a cabeça.

O garoto saiu saltitando dali enquanto eles trocavam um olhar engraçado enquanto Fernando se recostava ao lado dele no muro.

– Balu é uma graça, não? – ele comentou, olhando o garoto que se afastava.

– Sim, é sim – Rafa assentiu. – Só estou tentando me acostumar com o fato.

– De que ele é um Lobisomem? – Fernando questionou. – Com o tempo você vai se acostumar, ninguém aqui nessa vila é normal.

– Eu não quero me acostumar – Rafa falou, decido a trazer a raiva de volta. – Eu quero ir pra minha casa, meus pais devem estar surtando!

– Eu sei que quer – Fernando assentiu. – Mas escuta a Anna já avisou a Giulia para manter todos os arqueiros do lado de fora... eles não vão te deixar sair tão cedo.

Rafa sentiu o lábio inferior tremer, lembrando de Anna e Giulia bem próximas na mesa dela.

– Filha da... – ele mordeu o lábio. – Você quer saber? Eu não consigo mais me surpreender.

Fernando deu uma risadinha contida.

– Tenho certeza que não – ele murmurou, mas então falou mais intenso: – Mas olha, com tudo que vem acontecendo eu nem tive a oportunidade de agradecer.

Rafa levantou o olhar.

– Agradecer? Agradecer a quem?

– Agradecer a você – ele confessou, os olhos brilhantes. – Você nos salvou ontem à noite... Eu... Eu te devo uma.

Rafa enrubesceu.

– Olha, aquilo não foi nada – ele balançou a cabeça. – Eu nem sei como fiz aquilo.

– Mas você fez – Fernando insistiu. – E se você não tivesse feito eles teriam acabado comigo e com os outros.

– A Andressa já estava acordando – ele apontou.

– É, mas ela não ia chegar a tempo – ele se inclinou, parecendo intenso. – Rafa é sério, você salvou nossa pele hoje, eu te devo uma. Nós te devemos uma. E eu não vou deixar que Anna faça algo depois de você ter feito isso.

Rafa sentiu o coração começar a cavalgar loucamente naquele instante. Fernando estava próximo demais, os olhos nos dele, o corpo perto do dele... ele respirava o mesmo ar que ele.

– O que você queria falar mais cedo? – ele perguntou para afastar aquela intensidade debaixo da própria calça.

– Hein? – Fernando parecia ter acordado de um transe. – Do que esta falando?

– Sobre algo que eu vi mais cedo?

Os dois ficaram vermelhos com aquilo e Rafa queria ter tido tempo de ter rido daquilo... Mas não teve.

De repente duas latas de aparência estranha caíram na frente dos dois, com pequenas fumaças saindo de cada uma e se espelhando pelo ar.

– Mas o que? – Rafa se remexeu, assustado.

Fernando segurou sua mão.

– Rafa, fique atrás de mim – ele falou tenso enquanto a fumaça tomava ainda mais conta de tudo. – Não saia de perto, ouviu? – ele sacou a adaga de antes enquanto formas escuras começavam a aparecer no meio da fumaça.

Taffara Kauane apertou a campainha da residência dos Capoci, os ombros erguidos de orgulho e o olhar mais do que malicioso – estava mais para acusatório. Seu reflexo na porta só mostrava o que ela sempre via: uma garota perfeita e má que não tinha nenhum pudor em passar por cima de alguém para conseguir o que queria.

Mas era só isso que ela era? Não.

Todo mundo tinha ouvido o lado da história de Rafa por meses e todos achavam que ela era o monstro, ela era a errada da história toda enquanto Rafa era só mais uma vitima. Parecia ser apenas isso não é?

Só os que sabiam da verdade realmente sabiam que não era bem assim. Rafa achava mesmo que podia ignorar ela pra sempre? Henrique realmente achava que sair do país o faria menos culpado?

Nada disso. Eles podiam se fazer de tolos o quanto queriam, mas Taffara sabia da verdade e não ia deixar de cumprir, a cada dia, seu papel essencial na vida de Rafa Capoci.

A porta se abriu de repente, tirando Taffara de seus pensamentos rapidamente. Uma versão mais nova com uma ou duas espinhas de Rafa apareceu, dando a ela um olhar maravilhado.

– Nossa – ele sorriu abobado. – A que devo a honra?

– Rogério, eu devo presumir – ela sorriu de volta. – Você é o irmão do Rafael, não é mesmo?

Ele assentiu enquanto a avaliava.

– Não deixe a vizinhança saber disso. Deseja alguma coisa?

– No momento? Eu preciso que você me diga onde o Rafa esta – ela admitiu ciente do poder que sua beleza era exercida sobre aquela criança.

– Ele sumiu – Rogério declarou soando infelicidade.

– Oh – Taffara levou a mão à boca. – De jeito nenhum.

– Sim, sim – ele esfregou os dedos nos olhos. – Ele não voltou da escola pra casa, meus pais foram até a delegacia registrar o desaparecimento dele.

– Sinto muito – o tom de Taffara era tingido de horror falso. – Você esta bem com isso?

– Não muito – ele parecia encabulado. – Você quer entrar e me fazer companhia?

Taffara estava prestes a recusar com uma boa e falsa mentira, mas ouviu alguém guinchar do lado de dentro:

– Não conte a ele o que aconteceu! Nós prometemos não contar para ninguém! Não consegue manter a boca fechada, Vick?

Aquela era a voz de Lucas Henrique? Taffara pensou por um momento. E Vick? Vick Melo estava ali?

– Quer saber? – ela se dirigiu a Rogério com um sorriso brilhante. – Eu quero muito te fazer companhia.

Rogério sorriu de volta, parecendo em transe ao quase escorregar da porta para o chão. Taffara o segurou levemente pelo braço e o garoto parecia que ia perder o ar.

Os dois andaram lado a lado no corredor, enquanto Taffara tentava escutar algo.

– Eu não ia contar nada para ele! – Vick gritava de volta. – Eu só estou contestando um fato, olhe você mesmo Lucas! Você encontrou a mochila do Rafa jogada no meio da calçada, quer que eu pense que vai ficar tudo bem? Eu só estou tentando proteger o meu amigo...

– Nosso amigo! – Lucas a corrigia. – E se quer tanto proteger o Rafa, por que esta sugerindo que contemos a todos sobre o que aconteceu...

– Eu não estou sugerindo que contemos a todos...

Eles pareciam dispostos a continuar a discussão por mais um tempo, mas então notaram Taffara parada na porta e ela se viu encarada por seis pares de olhos conhecidos.

Vick, Lucas e Roberto estavam de pé, parecendo ser o centro de toda a discussão. João estava sentado na escada que dava para os quartos, com uma expressão de revolta. As duas Camillas estavam no sofá, Camila Alves parecendo amuada, como se não quisesse estar ali, enquanto Camilla Polli olhava para o chão, imersa em pensamentos.

Mas todos, inclusive ela olharam para Taffara e logo ela pode ver o quanto sua fama na escola era palpável, o quanto sua fama representava maldade e... Perigo.

– Ora, ora – ela sorriu com deleite passando os olhos por cada um. – Não é que temos uma velha e boa reunião de amigos hoje?

– Talvez tenhamos – Lucas retrucou, deixando veias aparecerem na testa, pulsando de raiva. – Mas você certamente não foi convidada.

– Na verdade fui sim – ela se virou para o lado. – Não é meu querido?

Todos olharam para Rogério, mas ele assentiu concordando com ela, os olhos muito mais do que colados ou fixos na garota mais odiada da sala.

– Ela não gosta do Rafa! – Camila se levantou os punhos apertados ao lado do corpo. – Manda ela embora!

– Então já temos algo em comum – ele caçoou. – Pode ficar o tempo que quiser minha linda.

Taffara coçou a cabeça dele com os dedos magros, vomitando secretamente por dentro ao perceber o quanto ele lembrava Rafa.

– O que pensa que esta fazendo aqui? – Vick perguntou impassível ao cruzar os braços.

– Oh, eu vim prestar minha ajuda – ela colocou as duas mãos magras no peito. – Fiquei sabendo que Rafael sumiu depois da escola ontem.

João quase engasgou no canto.

– Como se você se importasse com isso! – ele cuspiu.

– É claro que eu me importo pequeno Jo-jo. E, ao contrário do que a Camila disse, eu gosto sim do Rafa.

A outra Camilla começou a rir histericamente, mas seus olhos não acompanhava a risada e quando Taffara a olhou com a sobrancelha levantada ela parou de rir e mexeu os lábios: “Vaca”.

– Ei! – Rogério foi logo se metendo. – Se disser isso de novo quem vai acabar saindo daqui é você!

– Não gaste o folego, lindinho – Taffara aconselhou com falsa gentileza. – Essa morde.

– Eu que não entendo por que você esta gastando seu tempo aqui – Vick voltou a falar, dando um passo na direção dela. – Você já arruinou a vida do Rafa mais cedo hoje, o que mais pretende fazer?

Taffara arregalou os olhos.

– Eu estraguei a vida dele? – ela repetiu ofendida. – Desculpa, fui eu que subi no palco e mandei todo mundo se foder? Inclusive o Treinador Miguel?

– Você sabe do que ela esta falando! – Lucas acusou seus olhos vermelhos de raiva.

Taffara estava prestes a se defender, mas então notou o duplo sentido da frase e avaliou a expressão dos dois.

– Ah – ela sorriu, avaliando todos. – E não é que isso parece engraçado? Estamos quase todos aqui - ela se dirigiu a Lucas e Vick com um olhar malicioso. – Só que dessa vez foi o Rafa quem desapareceu, e não é nem natal.

– Pare de falar disso! – Vick crispou as unhas do lado do corpo. – Pelo amor de Deus, pare de falar disso!

– Parar? – Taffara questionou. – Parar por quê? Não gosta de ouvir essa história? Que estranho, achei que como você e Rafa são tão próximos... Sei lá, não é estranho que Rael não esteja nem aqui pra ver isso?

– E nem o Henrique – Lucas acrescentou com escarnio. – E acho que isso te deixa bem puta, não é?

Taffara tentou esconder a bile que descia pela sua garganta ao ouvir um deles falar aquele nome. Por um momento, sua estrutura perfeita se abalou e suas mãos tremeram.

– Não fale do Henrique – ela disse, em voz baixa. – Não fale do Henrique, seu filho da puta.

– Opa – Camila alertou. - Do que ela esta falando? Quem é Henrique?

– O ex-namorado de Taffara – Vick anunciou, sem tirar os olhos da garota má. – Um ex-namorado com um passado bem interessante.

Taffara tinha os olhos vazios, mas seu tom era controlado.

– Não falemos de namoro Vick, o seu não é exatamente um exemplo.

Uma tensão se passou por um segundo e de repente Lucas se jogou na frente de Vick quando ela deu um passo na direção de Taffara, a mão erguida.

– Vick, calma – ele pediu. – É isso que ela quer, é isso que ela quer.

– Eu vou matar essa vagabunda! – ela cerrou os dentes. – Eu vou matar essa vagabunda!

– Não, não vai – Taffara sorriu deliciada. – Você vai estar muito ocupada namorando mais algum cara que saiba do segredo do seu amigo.

Vick se lançou mais para frente, enquanto João, Roberto e as Camillas se entreolhavam, confusos.

– Do que eles estão falando? – Roberto perguntou. – Do Rafa?

– Eu não sei – João admitiu, se sentindo traído um pouco por não fazer ideia do que estava acontecendo. – Eu não sei.

– O Rafa foi o único correto nisso tudo!

– Nossa, e como – Taffara riu ironicamente. – Se isso é ser correto eu bem que poderia dizer que o Ex-namorado dele também é muito mais.

Com essa não deu pra aguentar.

Vick se soltou dos braços de Lucas e bateu com a mão no rosto de Taffara, que recuou com a agressão ao colocar a mão no próprio rosto.

Um segundo se passou enquanto todos olhavam em choque, até que Taffara se mexe pegou Vick pelo cabelo, revidando tapa com muito mais força.

Vick recuou para os braços de Lucas, parecendo surpresa enquanto Taffara arfava de raiva.

E então as duas se atiraram uma na outra ao mesmo tempo. Vick com as mãos no pescoço da mais alta, Taffara cravando as unhas no cabelo da outra. Lucas e Roberto rapidamente se moveram para separar as duas, puxando ambas pela cintura, enquanto Rogério apenas permanecia parado no corredor, parecendo absorver a cena.

– Eu te odeio! – Vick gritava e lutava contra os braços de Lucas. – Todo mundo te odeia! Vá embora daqui! Todo mundo te odeia!

– Você pensa que eu não sei disso?! – Taffara gritava de volta, os olhos em foco. – Você pensa que eu me importo com o que qualquer um de vocês pense?! Eu não me importo! Eu vou acabar com a vida do Rafa! Eu vou acabar com a vida de vocês também!

Ao dizer isso, ela sentiu Roberto a soltar, deixando claro que o comentário dela não o agradava. Mas não foi ele que falou:

– Você deveria ir – Rogério abriu o caminho, a expressão indecifrável enquanto ele a olhava.

Sem se intimidar por ter ganhado outro fã, Taffara passou sorrindo por ele, batendo seu ombro com o dele ao passar.

– Eu vou acabar com vocês! – ela prometeu aos gritos antes de passar pela porta. – Eu vou acabar com todos vocês!

As sombras começaram a se aproximar mais e, na medida em que chegavam bem perto, Rafa podia ver que eram homens portando armas e apontando na direção deles. Ele bem que quis dizer aquilo a Fernando, mas não teve tempo quando este o puxou com tudo para trás do muro.

– Fica quieto – ele sussurrou para ele, os olhos perdidos. – Eles estão em maioria e se souberem que estamos aqui, acabou ouviu?

– O que eles são? – Rafa perguntou, fazendo de tudo para não falar alto, e a resposta para a pergunta dele foram três tiros que soaram pelo ar. – Atiradores?

Fernando assentiu, os olhos azuis escurecendo.

– Eu achei que tínhamos matado todos eles – ele respondeu. – Mas estou começando a pensar que aqueles não eram nem a metade do bando.

Rafa queria perguntar o que ele estava querendo dizer com aquilo, mas o som dos passos que se aproximavam o deixou em êxtase ao pensar nas armas que tinha visto.

– O que vamos fazer? – ele olhou para a adaga na mão de Fernando. – Isso não vai parar nenhum deles!

– Não vai parar nem um – Fernando disse. – Eles são todos atiradores de elite!

– De elite? – Rafa repetiu, arfando. – Isso significa que eles são bons em atirar?

– Significa que não erramos – falou bem alto uma voz feminina.

Os dois se viraram para olhar e Rafa viu uma silhueta sair da neblina que a bomba tinha lançado por todo o local. No começo era só uma forma, mas a cada passo que a mulher dava ele conseguiu ver um cabelo escuro grande, com uma franja atirada na frente, botas de cano alto, calças de camuflagem e uma jaqueta preta.

Ela era bonita o suficiente para ser uma modelo, mas a arma enorme que ela apontava para eles, com seus braços graciosos, estragava toda a visão.

– Carolina – Fernando disse num tom que podia ter sido dito puta que pariu. – A Chefe dos Atiradores – ele riu sem humor. – Eu bem que senti sua falta quando...

– Quando matou duas dúzias dos meus homens? – ela perguntou com uma voz fria. – Você e seus amigos desgraçados, hein?

Fernando queria dizer algo, mas os sons de disparos não muito longe fizeram com que ele hesitasse. Rafa olhou para ele morrendo de medo, mas Fernando continuava ali, vivo.

– Bom, eles são meus amigos – Fernando assentiu. – Só não sei se são desgraçados.

– Corte o papo furado, isso não vai te salvar – ela apontou a arma para Rafa. – Onde esta o Triscele?

– Por que você quer saber? – Fernando questionou, segurando a adaga. – Você é uma atiradora, não deveria mexer com isso.

– Chefa dos atiradores – ela corrigiu com um suspiro. – Agora ande, me diga com quem esta.

– Me diga por que você a quer, então – Fernando rebateu.

– Você quer mesmo fazer joguinhos agora? – Carolina se moveu mais para frente, a arma visivelmente apontada para o peito de Rafa. – Eu poderia matar o seu amigo agora mesmo.

Os olhos de Fernando escureceram, mas ele não respondeu.

– Na verdade – ela sorriu maliciosamente. – Eu poderia matar mais de um amigo seu, aliás.

– O que quer dizer com isso? – Rafa questionou nervoso.

Carolina sorriu e disparou um tiro acima da cabeça de Rafa, fazendo com que ele pulasse de susto.

– Minha mão esta cansando – ela sussurrou mortalmente. – Vamos, Fernando, com quem esta? Esta com a Anna? – algo passou pela expressão dela. – Eu adoraria ver a Anna de novo.

– Mate a mim – Fernando implorou, parecendo focado.

– Desculpa, o que? – Carolina piscou, levando a mão livre até a parte detrás da orelha. – Eu não consegui ouvir, pode repetir?

Fernando engoliu em seco duramente enquanto o coração de Rafa congelava.

– Me mata – ele sussurrou. – Não foi ele que matou seus atiradores, fui eu. Pode me matar.

Carolina riu e Rafa balançou a cabeça.

– Fernando, não... Ela vai, de qualquer jeito... Fernando, não...

– Seu amigo está certo – ela levou a arma para o peito de Fernando com habilidade. – O que garante que depois que eu te matar eu não o mate também?

Rafa pensou em aproveitar a deixa. Ele podia se jogar nela, mas então se lembrou de que ela era atiradora de elite. Um movimento e o disparo seria em Fernando.

Ele entrou em pavor, mas então se lembrou do telhado na noite passada. Fernando prestes a ser morto até ele erguer a mão e jogar a neblina no lobo, fazendo os dois colidirem.

Rafa olhou fixamente a arma.

– O tempo esta se esgotando – Carolina avisou com frieza.

Fernando riu e a olhou nos olhos.

– Então deixa esgotar.

Ela destravou a arma e apontou para Rafa, que sentiu sua consciência fugir naquele instante.

Três coisas aconteceram ao mesmo tempo – Uma coisa rápida passou zunindo, Carolina arfou de dor e Fernando se atirou nela, derrubando-a com um soco.

Carolina caiu de costas na areia, a arma enorme caindo ao seu lado enquanto Fernando pressionava a adaga no pescoço dela.

– Muito obrigado – ele agradeceu aliviado e por um minuto Rafa pensou que ele estava falando com ele, até que Giulia pulou do muro e pousou com habilidade na areia.

– De nada – ela respondeu e olhou para Carolina.

Rafa notou com horror que uma flecha tinha atravessado a mão de Carolina. Giulia parecia orgulhosa ao sacar mais outra e apontar na direção do rosto de Carolina.

– Vão – ela disse a Fernando e Rafa. – Eu cuido dela.

Na hora em que ela disse isso, mais passos começaram a vir da névoa branca que se arrastava na frente deles. Fernando a olhou com pavor.

– Eles são muitos...

– Vão! – Giulia repetiu. – Eu não vou poder proteger vocês dois ao mesmo tempo!

Fernando pareceu assentir e se afastou um pouco.

– Muito obrigado, mesmo.

Giulia levantou a cabeça para ele.

– Eu sou sua Ancora – ela respondeu. – É o meu dever. Agora vá logo, e leve o garoto com você.

Fernando se moveu rapidamente para ajudar Rafa a se levantar e o olhou por um momento nos olhos.

– Eu não sairia sem ele.

E então os dois entraram encararam a névoa branca enquanto Giulia apontava com seu arco pra frente.

– O que ela estava fazendo aqui? – Camilla perguntou. – Ela nem sequer gosta do Rafa.

– Eu quem diga – Lucas se ajeitou no sofá, trocando um olhar com Vick.

João avaliou os dois, fulminando eles com os olhos.

– Isso de novo – ele comentou, a voz cheia de magoa. – O que vocês dois não estão nos contando?

Vick pigarreou.

– Não podemos falar disso – ela respondeu. – Prometemos ao Rafa que não íamos mais falar disso.

– Isso não te impediu de gritar na cara da Taffara – Camila disse. – E de a chamar de vaca, e de vagabunda e...

– Não podemos falar – Lucas suspirou. – Eu bem que poderia falar se isso não envolvesse outras pessoas, mas envolve.

– Quem é Henrique? – Roberto perguntou. – Ao menos disso vocês podem falar?

– Ele é o ex-namorado da Taffara – Camilla que respondeu. – Me lembro de ter ficado na mesma sala de Inglês que ele no ano passado.

– Você parece se lembrar bem dele – a outra Camila cutucou, provocativa.

– Não é nada disso, bicha – ela fungou. – Eu me lembro bem dos dois juntos, só não me lembro bem quem terminou com quem.

– Ninguém terminou com ninguém – Vick suspirou. – Uma coisa aconteceu... E eles tinham que terminar, foi só isso.

– Só isso? – João repetiu. – O que foi que aconteceu pra eles terminarem assim tão rápido?

– Não importa o que aconteceu – Lucas respondeu. – Eles terminaram e Henrique foi embora, e agora não estão mais juntos.

– Isso deu pra entender, mas o que o Rafa tem a ver com isso? Onde ele se encaixa nessa história toda?

– Ele não se encaixa – Vick disse. – Não foi culpa dele, nada disso foi culpa dele.

– Espera um pouco... – Rogério que estava quieto até agora começou a andar pela sala, parecendo pensativo. – Me corrijam se eu estiver errado... Rafa teve um caso com o namorado da Taffara?

Tanto Lucas quanto Vick enrubesceram e trocaram um olhar conspiratório um com o outro, as lembranças do que tinha acontecido no Natal do ano passado rodando apenas a mente dos dois que sabiam o segredo que tiveram que guardar.

Lucas ficou pensando no grito que ecoava em seu ouvido e Vick teve que respirar fundo para afastar a memória de Taffara chorando de sua mente.

Mas mesmo assim eles não falaram nada. Eles tinham prometido guardar segredo. Vick olhou a todos na sala enquanto falava.

– Rafa não esta aqui. Nós poderíamos contar toda a história... Toda essa confusa e complicada história... E eu sei que estão todos aqui estão muito confusos e curiosos... Mas contar o que aconteceu faria com que vocês talvez ficassem com raiva do Rafa, por motivos errados, e ele não esta aqui para se defender, então...

– Vai se foder – Rogério balançou a cabeça. – Eu te deixo entrar na minha casa, deixo você e duas garotas se pegarem no tapa e você ainda sim não conta nada sobre um segredo que meu irmão desaparecido vem escondendo. Que pode ser o motivo pra uma garota bem popular odiar ele. Vai se foder.

Vick se levantou, nem um pouco afetada pelas palavras dele.

– Já pensou na possibilidade de que talvez a garota popular saiba onde ele esta? Que ela tenha sumido com ele?

Todos na sala congelaram, até mesmo Vick, ficando chocados onde aquilo estava indo parar. Se Taffara tinha feito Rafa sumir...

A campainha tocou e todos pularam.

– Será que são os seus pais? – Lucas perguntou, nervoso.

– Eles não apertariam a campainha – Rogério respondeu, paciente.

– Será que é o Rafa? – Roberto perguntou, todo esperançoso.

Ele com certeza não apertaria a campainha – ele riu enquanto ia até a porta.

Com a mão já ficando cansada, ele abriu a porta e se preparou para receber mais um ilustre colega de Rafa... Mas não foi bem isso que apareceu na frente dele.

A garota na sua frente era bem jovem, jovem mesmo. Se não tinha 19, provavelmente podia ter 17 e parecia tanto com uma daquelas assistentes de palco lindas que Rogério às vezes notava mais que o próprio programa.

O cabelo castanho era lindo e impecável, mas o blazer que usava por cima de uma camiseta branca e o distintivo preso em uma corrente que ia até o peito a deixava perigoso.

– Boa tarde – ela começou a falar, ajeitando os óculos na frente do rosto para que ele pudesse ver seus olhos escuros. – Seus pais estão?

– Não – ele olhou bem o distintivo dela... o distintivo apenas. – Eles foram até a delegacia, na verdade.

– Eu sei – ela respondeu em um tom frio enquanto pegava uma caderneta do bolso. – Eu acabo de vir de lá e queria começar logo.

Rogério franziu o cenho.

– Começar? Começar com o que?

– Eu sou a detetive encarregada do desaparecimento do seu irmão – ela respondeu. – Então vou começar a investigar hoje.

Rogério não era da policia... Mas geralmente não se deveria esperar 48 horas para esse tipo de coisa?

– Eu não sou uma detetive comum, Sr. Capoci – ela respondeu aos seus pensamentos. – Quando me encarrego de algo, procuro ao menos sair com sucesso.

– Tá, mas ele sumiu ontem...

– E pode estar sendo torturado enquanto nos falamos aqui – ela começou a destampar uma caneta. – Então, pode me dizer se alguém odiava seu irmão?

Rogério a encarou meio segundo, quase não acreditando no quão sério ela parecia falar.

– Você nem faz ideia.

– Consegue ver alguma coisa? – Rafa apertava os olhos para enxergar através da névoa. – Porque eu estou longe de conseguir.

Fernando balançou a cabeça.

– Eu só estou escutando – ele sussurrou.

– Escutando o que? – Rafa perguntou aguçando os ouvidos.

Mas Fernando começou a se mover para frente, andando com cautela.

– Aonde você vai? – Rafa o seguiu, impotente. – Não vamos ganhar nada saindo assim!

– Com certeza não vamos ganhar nada ficando aqui – Fernando retrucou, continuando a andar. – Se pra lá fica o escritório da Anna – ele apontou, pensativo. – Então pra lá deve ser...

– E se eles machucaram mais alguém? – Rafa perguntou.

– Estou mais preocupado com meus amigos machucando mais alguém – Fernando respondeu. – Andressa já deve ter percebido a chegada deles e, como esta com o Eduardo, eu presumo que já devem ter matado uns dez atiradores.

– Como assim a Andressa sabe? – Rafa questionou. – Esta dizendo que além de saber lutar bem e ficar invisível ela pode sentir a presença dos outros?

– Basicamente – ele assentiu. – Ela consegue farejar o perigo de longe.

– Por que ela tem tantos dons e você não tem?

– Ela nasceu aqui – Fernando respondeu. – E quem disse que eu não tenho dons?

– Bom, você não disse que tinha – Rafa rebateu. – Algum deles via nos ajudar a sair dessa?

Antes que Fernando pudesse responder, os dois finalmente começaram a ver as casas e os escombros espelhados de La Iglesia, o escritório de Anna ao longe.

– E agora? O que fazemos?

Homens vestidos de fardas que não pareciam ter a ver com a policia surgiram do nada, cercando os dois. Rafa não conseguia ver seus rostos porque todos usavam mascaras do tipo que cobriam todo o rosto.

– Eu estou começando a pegar ódio de armas – Fernando grunhiu, aflito.

Rafa começou a entrar em pânico, pensando que talvez a mesma sorte que ele e Fernando tinham conseguido mais cedo provavelmente não iam conseguir agora.

E então ele teve um plano.

– Peguem a mim! – ele se jogou na frente deles. – Eu tenho o Triscele, peguem a mim!

– Que merda você esta fazendo? – Fernando guinchou, sacando a adaga. – Ficou maluco?!

– Podem me levar – ele olhou para os olhos vazios. – Podem me levar.

Um dos atiradores abaixou um pouco a arma.

– E onde esta a caixa então? – ele perguntou ceticamente.

Rafa se virou para Fernando com uma expressão de “puta que pariu” e outro apenas revirou os olhos.

– É...

De repente, uma bola de fogo acertou um dos atiradores e os outros reagiram atirando em Rafa – que pensou estar morto na mesma hora – até que a bala continuou caindo no chão.

Os outros Atiradores dispararam na mesma hora, todos ao mesmo tempo, mas nada atingia Fernando e Rafa, as balas continuavam caindo ao redor deles.

– O que você esta fazendo? – Fernando questionou, de repente.

Rafa estava prestes a protestar, mas então seguiu seu olhar e viu que a palma de sua mão estava levantada, como se erguida para proteger os dois.

E então ele olhou para os Atiradores e a maioria deles estavam no chão, um ou dois deles perdidos, não entendo como podiam estar perdendo.

– Da próxima vez que dominar um elemento, Edu – Andressa apareceu do lado de um Atirador e o derrubou com um soco no pescoço. – Por favor, me avise.

Eduardo apareceu atrás de um Atirador que agora caia no chão, os olhos girando nas órbitas enquanto ele se dobrava no chão com a arma caindo ao seu lado.

– Eu não fiz nada – ele arfou de cansaço. – Ele fez – ele apontou para Rafa.

Os quatro se viraram para os dois atiradores que sobraram e eles correram por onde tinham vindo. Andressa parecia comemorar com aquilo, mas viu algo ao baixar o olhar e seu rosto ficou branco.

– O que foi? – Eduardo tocou no ombro dela.

Fernando seguiu o olhar da garota e ficou branco também, mas virou o rosto de lado e olhou para Rafa.

– Não olhe – ele pediu.

Mas Rafa não ia aceitar ordem de alguém justo naquele momento, justo depois de os dois quase serem mortos por Atiradores. Ele olhou e seu ar parou.

Uma pessoa pequena estava imóvel no chão, os braços atirados e jogados como um boneco de pano. Rafa olhou para a boca um pouco entreaberta e reconheceu os caninos enormes.

Balu estava com os olhos fixos para o alto, com uma mancha de sangue no peito.


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