Amor Contratado escrita por Julia


Capítulo 8
Conhecendo a família - Parte II


Notas iniciais do capítulo

UAHSIUDSHIUAHFIUSDF UMA RECOMENDAÇÃO! AI MEU DEUS! OBRIGADA OBRIGADA SUA LINDA, MARAVILHOSA, CHEROSA AHHHHH Esse capitulo é pra você flor!

Sim, eu não morri. Não abandonei vocês ou essa fic. Nunca vou fazer isso.

Cara, eu nem tenho o que dizer. Demorei por preguiça, gordice, sedentarismo e séries. Eu sei que muitos devem ter abandonado a fic por conta dessa demora [não os culpo] e aos que continuam aqui, cara vocês são os melhores, sério.

Obrigada por não me abandorem e não me odiarem hã...muito.

Enfim, junto com as minhas milhões de desculpas, eu trago cenas surtantes, 7000 palavras e um final lacrador. Espero que gostem!

Me desculpem com todo o meu coração. Não posso prometer nada mas, pela minha dignidade, vergonha na cara e amor que tenho por vocês vou tentar ser mais rápida.

PS: Aos que não gostam de capítulos grandes, bem, me desculpem de novo, mas eu não queria dividir esse capitulo em dois.

Enjoy!



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Já estávamos encarando aquela enorme cama de dossel a uma meia hora e ninguém parecia realmente disposto a falar alguma coisa ou mexer um músculo.

Eu evitava olhar para Kyle, mas sabia que ele estava tão envergonhado que poderia ter um enfarte ali no meio do luxuoso quarto agora mesmo.

Aquilo não poderia estar acontecendo. Finnigan e eu dormindo no mesmo lugar? Não iria funcionar.

Se fosse outra garota - uma que claramente não conhecia Kyle- ficaria com medo de dormir no mesmo quarto com um cara daquele tamanho e ser atacada no meio da noite. Já eu me preocupava se teria o autocontrole suficiente para não atacar ele no meio da noite.

Era complicado.

Finalmente tentei falar alguma coisa e percebi que estava trancando o ar até aquele momento.

K.F

__Bem, não tem muito o que podemos fazer não é? – Kate largou a mala de qualquer jeito em cima da cama e se jogou pesadamente sobre ela, respirando fundo e fechando os olhos cansada.

Ouvir a voz dela, depois das cenas constrangedoras com a minha família o dia inteiro, era tudo o que eu não precisava.

Não pude evitar parar de respirar diante daquelas palavras. Ela não parecia contente com a situação, mas estava concordando. Não estava realmente incomodada com o fato de que dividiríamos o mesmo quarto. No entanto, eu suava frio.

Tive inveja por um momento.

Não dava para negar, Katherine nunca seria menos que destemida. Eu conseguia fingir muito bem que não ligava para nada, que não me importava com as ofensas e comentários maldosos as minhas costas. Mas era sempre assim, fingindo; Kate só havia dado um jeito de toda essa encenação virar ao meu favor. Ser um bad boy, sorriso de canto, ombros relaxados. Era quase um mantra que vinha em minha cabeça, recitando várias vezes apenas para não desmoronar.

Heed no entanto, não fingia, ela era alguém que não ligava para o que diziam.

Eu não estava preparado para lidar com todos como tinha achado e, quando chegou a hora de rever minha família e todos aqueles olhares, entrei em pânico. Mentir para todos era difícil, mas ter que fingir ser outra pessoa enquanto mentia para todos era impossível.

Bem, era impossível até ouvir o que Kate tinha dito.

“Você vai se transformar no cara que bateu na minha porta hoje cedo, vai falar do jeito mais sexy e hétero humanamente possível, vai me apresentar como sua namorada e tudo vai dar certo. Entendeu?”

Achei graça, no começo. Ela parecia corajosa, sem medo de nada, quase impaciente. Mas o que me deixou mais surpreso e me fez tomar a decisão de continuar com aquilo, foi perceber o que eu não tinha percebido até o momento.

Seus olhos mostravam o medo que todo o resto tentava esconder.

Ela era humana, afinal; não poderia simplesmente desligar suas emoções. Apenas talvez, disfarça-las.

Então se a maluca que vinha me incomodando, estava com medo e mesmo assim me encorajava e me dava forças, porque eu não conseguiria?

É claro que me passou pela cabeça que tudo era pelo dinheiro, mas percebi que não ligava. Ela tinha enfrentado minhas tias malucas, minha mãe e meu irmão. Havia suportado mais que muita gente se quer mesmo saber.

Cá entre nós, ficava até feliz que estivesse sendo motivada por isso já que no dia seguinte, talvez ela desistisse de tudo. Kate havia travado uma guerra idiota com Matthew, mas não fazia ideia do quanto ele jogava sujo.

Olhei de esguelha para a rosada, que tinha os braços esticados sobre a cama, os pés pendendo para fora e o rosto virado, a boca aberta e o cabelo espalhado por todo o colchão.

Ela tinha dormido.

__Hm, é. Acho que vamos ter que ficar aqui. Juntos.

Como não houve sinal de vida por parte do corpo jogado na cama, me inclinei para pegar as malas e pendurar as roupas no armário. Sabia que se deixasse que Kate arrumasse as coisas, quando eu voltasse ainda estaria tudo no mesmo lugar e ela provavelmente não teria saído daquela posição.

Depois de tudo pronto, peguei uma toalha, uma calça de moletom e uma blusa folgada, indo para o banheiro logo em seguida já que tinha suado bastante depois do nervosismo com meus parentes. Não me incomodei em avisar Heed, que estava em seu décimo sono e com certeza não acordaria antes do jantar.

Bem, era o que eu pensava.

K.H

Meu corpo se levantou num rompante. Podia sentir minha pulsação acelerada nos ouvidos e minha boca estava aberta, tomando grandes golfadas de ar.

Respirei fundo para me acalmar, sabendo que tinha sido apenas um pesadelo. O mesmo pesadelo de todas as noites.

Minhas mãos tremiam e as sacudi para espantar aquele pensamento. Tentei me focar no que estava acontecendo a minha volta e notei que todas as malas estavam vazias, as roupas penduradas e dobradas impecavelmente dentro do armário ainda aberto.

Sorri fraco e me levantei, indo em direção ao banheiro para jogar uma água no rosto e espantar a cara de sono.

No momento em que segurei a maçaneta, a porta se abriu e consequentemente me levou junto, fazendo com que eu tropeçasse pelo movimento inesperado.

Já estava começando a rezar para que uma plástica de nariz não fosse tão cara quando senti meus ombros serem segurados e meu rosto bateu em algo firme e muito cheiroso.

__Opa.

Ah. Que grande droga.

Fechei os olhos com a testa ainda encostada no peito nu de Kyle e me perguntei internamente qual era o problema que o mundo tinha com a minha cara.

__Você está bem?

Levantei a cabeça ao ouvir aquela voz rouca e me deparei com seu rosto perfeito perto demais. Me afastei demonstrando uma calma que eu não tinha e analisei a visão a minha frente. Finnigan, com apenas uma calça de moletom e uma toalha no pescoço.

Sem camisa.

__É claro. Estou bem Finnigan. Obrigada.

Ele acenou com a cabeça e secou o cabelo na toalha, deixando alguns fios arrepiados. Seu peitoral definido ainda possuía algumas gotas de água, que escorriam até a barra da calça e sumiam logo depois.

Prendi a respiração com a cena. Kyle andou mais alguns passos em direção a cama e não parecia ter se importado com o que tinha acabado de acontecer; não estava corado e fingia não perceber o olhar que eu dirigia para o seu corpo.

Quem diabos era aquele Kyle Finnigan?

Estávamos sozinhos, mas o fato de não ter corado com aquele gesto foi a coisa mais sexy que meus olhos já viram durante a minha curta vida. Ele estava relaxado, tranquilo, misterioso.

Finnigan normalmente não era assim, pelo menos não quando estávamos sozinhos, sem ninguém observando. Então porque eu estava tendo um mini enfarte com aquela cena?

Senti meu corpo tremer de animação quando um pensamento surgiu em minha mente. Era pouco provável, mas não impossível.

Ele poderia estar fazendo aquilo sem perceber?

Alguma coisa na sua personalidade estava mudando, isso era óbvio. Fingindo ser um cara despreocupado, que não tem vergonha de cada coisa que dizem, que é gentil apenas quando o necessário e fingindo saber que era gostoso o bastante para conquistar qualquer pessoa, estava despertando o lado mais hétero de Kyle Finnigan. O lado que era perigoso conviver.

Pouco provável, não impossível. Soltei uma risada um tanto histérica com o pensamento e olhando para aquelas costas largas, os músculos evidentes e duas covinhas que chegavam perto da barra da calça, por pouco não me fizeram perder a linha de raciocínio.

Suspirei de forma dramática.

__Bem, é até estranho você não ter dado um piti com o que aconteceu. Não que eu esteja reclamando, é claro. Só achei engraçado o seu rosto não ficar vermelho feito uma placa de trânsito – Comentei casualmente, soltando um riso forçado pelo nariz e andando até o banheiro, colocando a escova de dentes na boca enquanto analisava suas reações.

Através do espelho, vi os músculos de Kyle retesarem, como se ele só tivesse percebido o que havia acontecido naquele momento.

Comecei a escovar os dentes freneticamente, tentando esconder o sorriso que nascia em meu rosto. Meu Deus! Ele tinha feito aquilo sem perceber! Eu estava conseguindo transformar o cara envergonhado em um lindo e maravilhoso homem com atitude.

Aplausos, por favor. Eu deveria receber um Nobel.

Olhei para o lado e de relance, vi algo que seria útil naquele momento para, de uma vez por todas, saber as preferências sexuais do meu falso namorado.

Fechei a porta com o pé, enquanto Kyle ainda não sabia exatamente como agir depois do meu comentário. Comecei a me preparar para minha ‘missão’ e meu reflexo no espelho mostrava uma expressão de puro divertimento e malícia.

Depois de pronta, treinei um sorriso inocente e abri a porta me deparando com Kyle deitado na cama, os braços atrás da nuca, expondo totalmente seu peitoral definindo e seus bíceps. Expressão pensativa, olhos fechados.

Tive que respirar três vezes para me recuperar daquela cena antes que pudesse entrar em ação.

K.F

__Pode esquecer Finnigan – Ouvi a voz de Kate e nem me preocupei em abrir os olhos, já sabendo o que viria a seguir – Essa cama é minha.

Eu ri.

__Devo supor que segundo essa sua sentença, eu vá dormir no chão – Sorri irônico. Não era o que eu costumava fazer mas por algum motivo, Kate paralisava por alguns segundos quando eu sorria daquele jeito.

Não ouvi reação imediata e tentei não gargalhar. Aquela garota era tão estranha.

__Hã... é claro que vai! O chão não é tão ruim assim e com todos esses músculos, você nem vai sentir.

Rolei os olhos mentalmente com o comentário. Kate sempre estava evidenciando meus músculos, era tão natural que eu não conseguia mais corar como antes. Sentia meu rosto esquentar, mas sabia que não era o suficiente para avermelhar.

Não podia deixar de comparar já que com Mackenzie era diferente. Quando ela falava aquilo parecia vulgar demais para mim, desejoso demais. Heed apenas fazia parecer um comentário, um fato e sem nenhuma intenção por trás disso.

Ouvi seu suspiro irritado.

__Levanta essa bunda gorda daí Kyle! Eu quero dormir!

Sorri com a voz de criança birrenta e abri os olhos, o sarcasmo que ela tanto usava quase saindo da minha boca, se não fosse por um pequeno detalhe que me impediu.

Katherine Heed estava usando a minha camisa como pijama.

O que passou pela minha cabeça quando paralisei com a cena foi o oposto do que eu achava que iria pensar. Eu deveria estar imaginando em como ela devia estar com frio, em qual era o problema dela ao fazer aquelas coisas para me envergonhar, em me jogar da janela de tanta vergonha por estarmos naquela situação... diabos! eu deveria estar pensando em sair daquele quarto imediatamente.

No entanto, o problema era que meus pensamentos estavam bem diferentes daquilo. Tão diferentes que pareciam ser de outra pessoa, alguém de quem Katherine tanto falava.

Na verdade, os pensamentos que me passaram pela cabeça quando olhei para aquela cena foram tais como:

“Ela tem pernas bonitas. O cabelo dela parece mais selvagem agora. Uau, ela fica realmente bem com a minha camisa. Por que o sorriso dela está tão sexy? Pare de morder o lábio Heed, é sério. Por que ela está corando? Ela nunca cora. Cara, como ela fica linda corando. Seus olhos estão realmente brilhantes. Porque tem que parecer uma criancinha de cabelos rosa com essa camisa enorme? É tão...tentador.

Porra! Ela fica muito bem mesmo com a minha camisa.”

Como eu disse, nada do que eu achava que pensaria.

A rosada se encolheu um pouco com o meu olhar avaliativo e torceu as mãos uma na outra, nervosa.

__K-Kyle? Por que você está me olhando assim?

Meu corpo não reagia, queria responder, pedir para ela tirar aquela camisa, por um pijama normal e parar de me deixar confuso e nervoso. Porém, não consegui dizer uma só palavra e algo que eu não queria ter feito, algo que eu nunca havia feito com nenhuma namorada antes, algo que não estava sob o meu controle surgiu de repente e fez Kate cambalear para trás surpresa.

Um sorriso preguiçoso, cheio de malicia, surgiu em meu rosto.

K.H

Esperem. Acho que eu... buguei.

Estou mesmo vendo um sorriso cafajeste e malicioso no rosto de Kyle? O Kyle? O Apolo dos reles mortais? Algo assim não poderia estar em um rosto como aquele, não é certo, é demais para garotas com imaginação fértil. Imaginações parecidas com a minha.

Bem, de fato não era aquele sorriso malicioso do tipo repugnante que faz você sentir vontade de sair correndo gritando por socorro. Estava mais para um sorriso perigoso, convidativo, quase carinhoso de uma forma sexy, parecendo admirar todos os meus movimentos com certa fascinação.

Pelo menos uma coisa tinha sido esclarecida: Kyle era hétero.

Sim, com um enorme ponto final e sem espaço para opções. Não que eu realmente acreditasse que ele fosse gay, mas conseguiu provar completamente seu argumento apenas com um sorriso torto e um olhar que parecia analisar minha alma.

Se ainda restassem dúvidas de que algo “adormecido” poderia surgir caso Finnigan fosse pressionado – ou, no caso, ter aulas de atitude -, todas acabaram naquele instante quando seus olhos queimaram como brasas em minha direção, revelando uma outra face além da inocente e ingênua, aquela que combinava com seu físico e que todos achavam que não existia. Aquela que eu sabia que devia afastar antes que fosse tarde demais.

__Porque você está vestindo a minha camisa Heed?

Não consegui achar as palavras ao ver Kyle se aproximando devagar, com um sorriso torto nos lábios, os cabelos revirados para todos os lados, seu peito nu e largo subindo e descendo com força e uma voz rouca como o inferno.

Eu realmente devo ter salvo o país em uma vida passada.

__E-Eu esqueci m-meu pijama e a u-única c-coisa que tinha era a s-sua camisa.

Por que eu estava gaguejando, droga?! Só porque Finnigan estava se aproximando cada vez mais, me olhando de uma forma totalmente diferente do normal? Só porque ele estava se divertindo ao me ver sem graça e ficava muito sexy com aquela merda de sorriso debochado? Só porque eu não conseguia parar de olhar para seu peitoral cheio de gominhos? Só porque ele estava parecendo outra pessoa?

Só porque eu estava gostando muito daquilo?

__Ah. Entendi – Kyle estava a centímetros do meu corpo agora, exalava confiança e sua altura comparada a minha fazia eu me sentir como uma criancinha sendo repreendida por roubar alguns biscoitos – Ficou bem em você. A camisa, quero dizer.

Limpei minha garganta antes de falar alguma coisa. Não iria ser uma menininha indefesa e ingênua. Tinha 25 anos porra! Eu era praticamente o cara da relação a algumas horas atrás.

Tudo bem, eu não me orgulhava muito disso mas de qualquer forma, não iria deixar que todos esses anos sendo o oposto do que todos esperavam, a negação dos pais conservadores, “a rebelde sem causa” –algo totalmente criado por colegas de faculdade, com licença, eu não era tão ruim assim – e todas as outras reputações fossem arruinadas por esse deus grego que era supostamente meu namorado.

__Obrigada Finnigan. Não que eu já não soubesse que eu fico bem em tudo mas mesmo assim, inflar o ego sempre é bom. Ficou gigante em mim, mas deu uma bela camisola não acha?

Puxei a barra da camisa para baixo e Kyle olhou para as minhas pernas antes de soltar um riso sem graça, balançar a cabeça e se afastar transtornado.

__Vamos logo dormir Heed – Ele andou até o armário e puxou alguns cobertores, estendendo no chão e logo depois deitando no travesseiro macio com o rosto virado para o outro lado.

Fui até a cama – que parecia grande demais com todos aquelas almofadas - e antes de apagar a luz e desejar um ‘boa noite’ que não teria resposta, pude ver a mandíbula de Kyle trincar e ele soltar um resmungo entre dentes.

Alguma coisa como “uma ótima camisola”.

[...]

Acordei com batidas na porta e a voz de alguém que parecia já estar impaciente. Cocei os olhos preguiçosamente e apurei os ouvidos tentando me situar sobre o que estava acontecendo.

__Kyle! Kate! Vocês estão aí? Já é hora de acordar queridos, toda a família já está lá embaixo!

Arregalei os olhos e me levantei subitamente acordada ao ouvir a voz abafada de Pam por trás da porta.

__Vocês estão aí? Estou ficando preocupada! Vou entrar!

__NÃO! ESPERA! – Com o meu grito desesperado, o barulho da chave sendo colocada no trinco parou – Desculpe Pam! Só nos dê um minutinho!

Comecei a arrumar meu cabelo furiosamente e tentei deixar minha cara mais apresentável possível enquanto Finnigan ainda babava no travesseiro.

Ah que droga! Kyle!

Arregalei os olhos ao perceber o que Pam veria se abrisse aquela porta. Eu na cama e seu filho no chão como um cachorrinho. Na melhor das opções ela pensaria que tínhamos brigado. Não era uma boa ideia.

__Kyle! – Sussurrei desesperada e o homem semimorto no chão apenas soltou um resmungo e virou para o outro lado, voltando a dormir.

As chaves voltaram a fazer barulho com a minha demora e gemi, olhando em volta e pegando um travesseiro jogado ao meu lado.

__Kyle seu inútil, acorda! – Mirei o travesseiro de penas com toda a minha força em sua cara e ele se levantou assustado, olhando com fúria para o meu rosto – que deveria estar maravilhoso com um ninho de rato na cabeça e cara inchada de sono – enquanto eu fazia sinais alucinados em direção a porta.

As palavras que eu soltei aleatoriamente como “sua mãe”, “entrar no quarto” e “namorados” fizeram o efeito desejado e segundos depois Finnigan jogava as coisas do chão para a cama e pulava ao meu lado, puxando meu corpo para o seu e recostando minha cabeça em seu peito na mesma hora que a porta era aberta, surgindo de lá uma Sra. Finnigan sorridente.

__Olá pombinhos! Bom dia! – Se ela notou que Kyle estava sem camisa e a cama completamente revirada, não disse uma só palavra a respeito, mas seu sorriso enorme denunciava seus pensamentos – Desculpem acordar vocês assim tão de repente, mas toda a família já estava de pé e fiquei preocupada porque não estavam respondendo. Bem, assim que estiverem prontos podem sair e se juntar a nós para o café! Você vai adorar os doces da Madalena, Kate querida! Eu tenho certeza.

Antes de sair agitada, ela olhou mais uma vez para nossa posição e sorriu satisfeita.

O sorriso que eu sustentava até então, se desmoronou quando a porta foi fechada e Kyle tremeu abaixo de mim antes de sair da cama num pulo e ir até o banheiro.

Rolei os olhos, lembrando da sensação do seu corpo quente e braços fortes em torno de mim a segundos atrás e me espreguicei, dando algumas batidinhas no rosto para tirar o torpor e conforto que aquilo trazia. O cheiro almiscarado em sua camisa invadia meus sentidos e me deixava com uma sensação esquisita no peito, algo que havia acontecido raras vezes e que eu certamente odiava. Como tudo quando se tratava desse Kyle com atitude, era uma coisa perigosa.

Finnigan saiu do banheiro vestindo uma camisa preta do Pink Floyd, jeans escuro, uma camisa de flanela xadrez azul amarrada na cintura e All Stars também pretos. Como sempre, estava maravilhoso.

Soltei um riso pelo nariz.

__Qual o seu vício com All Stars?

Ele sorriu de canto e uma covinha apareceu ali.

__Servem pra qualquer coisa. Eles são demais!

Arqueei a sobrancelha ao notar seu tom casual. Bem, se ele iria fingir que nada de anormal aconteceu ontem à noite e até mesmo a alguns minutos atrás, quem era eu para discordar?

Dei de ombros e sorri também.

__Sabe que parece uma criancinha falando assim não é? – Ele riu, evitando olhar para mim enquanto eu me levantava e pegava algumas roupas na mala, fazendo o mesmo trajeto em direção ao banheiro.

Estava prestes a fechar a porta quando seu comentário bem humorado e risonho me fez congelar no lugar e um palavrão ameaçou escapar da minha boca.

__Bem, eu deixo essa parte para meu irmão, mas All Stars realmente despertam a criança em mim.

Ah. Que droga.

O irmão de Kyle. O pirralho demoníaco. Meu inimigo de guerra. Eu tinha esquecido completamente.

Fechei a porta e pus meus shorts jeans, o cropped cinza e os coturnos pretos numa velocidade assustadora, escovando os dentes e amarrando os cabelos rosa em um rabo de cavalo desleixado ao mesmo tempo. Chutei a porta, assustando Finnigan que estava me esperando e sem entender nada, me viu correr até a mala e abrir um compartimento cheio de coisas feitas para pirralhos pestinhas. Eu fui bastante zoada durante a escola e possuía a fama de ser um pouco... vingativa entre os coleguinhas.

Pois é. Meu passado era sombrio.

Bem, na verdade era sombrio para as pessoas que tentavam me enfrentar. Eu era realmente muito boa com pegadinhas, e sabia muito bem quando tentavam fazer alguma comigo. Matthew podia ser bom, mas ele não fazia ideia de que eu era a melhor.

__Tuudo bem Heed. Acho que você precisa comer um pouco. Vamos lá, acho que vai te fazer bem – Kyle segurou meus ombros devagar, me olhando de forma esquisita enquanto eu possuía uma expressão maligna e soltava uma gargalhada de vilã das trevas (?).

[...]

Quando descemos as escadas em direção a enorme mesa de jantar -que tinha tanta comida que poderia alimentar metade de uma cidade- pude ver o pirralho sentado angelicalmente na cadeira, sendo paparicado pelos tios.

Fiz questão de me sentar em sua frente, ignorando os olhares de asco que a tia obesa enviava para o meu cabelo mal arrumado. Os olhos castanhos iguais aos do Finnigan-maior se estreitaram ao ver meu olhar desafiador, mas ele disfarçou e sorriu de forma meiga, se ajeitando melhor na cadeira.

Quase ri daquilo, ele encenava bem, porém os meus anos de pratica fizeram o trabalho de notar as pistas que o garoto deixava. Para uma daquelas namoradas sem cérebro que Kyle já tinha levado para casa, Matthew era um anjinho querendo se desculpar pelo chute que tinha dado na noite passada. Infelizmente para ele, eu percebia seu sorriso tenso, o olhar que lançava a cada cinco minutos para a minha bebida e a forma impaciente que ele se mexia na cadeira.

Olhei para o saboroso suco de laranja a minha frente e vi algo estranho no fundo, quase invisível, quase sumindo com o líquido. Torci o nariz e como a ótima atriz que sou, olhei para o suco com desgosto.

__Kyle, amor, você sabe que eu não gosto de laranja- Kyle entortou a cabeça quando ouviu minha voz enjoada. Estava confuso já que sabia muito bem que aquilo era mentira quando tinha me visto esvaziar uma jarra em alguns minutos numa outra época.

__Ora vejam só! A empregada faz um suco especialmente para a nossa convidada e ela está reclamando! Porque não estou surpresa com esses modos?

Fuzilei aquela tia gorda com meu mais puro ódio e sorri maquiavélica -coisa que eu estava fazendo muito ultimamente -.

__Você tem toda a razão, eu não deveria desperdiçar assim, mas realmente não gosto de laranja. Estou vendo que não tem nada ainda no seu copo, não gostaria de me mostrar quais são esses modos?

A minha voz era mansa mas todos na mesa ficaram em silêncio esperando o desfecho daquilo. A obesa empinou seu nariz em desafio, não iria deixar que uma 'rebeldezinha' dissesse o que tinha que fazer. O suco foi tomado de minha mão com violência e, para desespero do garoto que olhava para a cena com os olhos arregalados, acabou em questão de segundos.

Me segurei para não gargalhar do rosto orgulhoso e superior que ela ostentava, enquanto Matthew desabava na cadeira arrasado com o que estava acontecendo. Eu estava louca para descobrir o que tinha sido colocado naquele suco -apesar de já ter uma ideia do que seria- pois o efeito teria que ser rápido se o pirralho realmente quisesse que eu me humilhasse na frente da família.

Se passaram alguns minutos de calma e conversas alheias, até o momento em que todos ouviram um barulho de talheres caindo.

__Irina! Oh céus, você está bem? – O marido da vadia e todos os outros presentes na mesa olhavam assustados para a mulher que se retorcia e tinha o rosto vermelho e agoniado. No mesmo instante em que ela tentou se levantar discretamente, um barulho alto se fez presente e o lugar caiu em um silencio sepulcral, muitos tentando não explodir em uma gargalhada estrondosa.

Se eu não tivesse que ser meiga e delicada, rolar de rir não iria ser o suficiente para demonstrar o quanto eu havia achado incrível o rosto daquela víbora estar vermelho vivo por ter peidado na frente de todos.

Os únicos que não pareciam chocados com a cena que estava se desenrolando – Irina peidando descontroladamente enquanto tentava fugir para o banheiro – eram Matthew, eu e por incrível que pareça, Kyle.

__Não acredito que meu irmão colocou laxante na sua bebida – Ele olhava para mim de olhos arregalados.

__Ah sem problemas, eu já tinha desconfiado.

Um grito de fúria chamou minha atenção e vi Pam tentando conter a mulher obesa de vir arrancar meus olhos com um garfo.

__Você! – Ela tentou apontar o dedo em minha direção mas fez uma cara de dor logo depois – A culpa é s-sua!

Fingi uma cara inocente.

__Minha?! Como eu teria feito isso? Acabei de acordar! Além disso, eu não sei o que tinha nesse suco, mas ele era para mim. Quem dirá que não foi você mesma que armou tudo isso?

__Como ousa?! – Novamente tentou se levantar e mais um barulho alto foi ouvido, seu rosto atingindo uma forte tonalidade de vermelho – Eu bebi isso! Certamente que foi você!

Ela começou a soltar palavrões incompreensíveis, mas minha parte já tinha sido feita. Tinha conseguido humilhar a baleia orca o bastante para que não implicasse comigo de novo.

Matthew me olhava com raiva brilhando nos olhos e na mesma hora, mostrei a língua para ele como a pessoa madura que eu sou. Ele tentou esconder revirando os olhos e virando o rosto para a confusão que estava acontecendo, mas pude ver que suas bochechas tinham ficado vermelhas.

O garoto me olhou com ódio uma última vez antes de sair correndo da mesa e quase pude ouvir ele rindo da minha cara enquanto tentava me matar no meio da noite. Sério, eu tinha que tomar cuidado onde andava a partir de agora.

__Você está bem com essa coisa toda? Algumas das minhas antigas namoradas meio que surtaram com isso - Kyle franziu as sobrancelhas, seu olhar estava preocupado. Bem que era possível aquelas garotas fugirem com uma coisa dessas, felizmente para ele eu era... Bem, eu – Se bem que poucas conseguiram passar daqui. Deveria ter adivinhado que ele colocaria laxante no seu suco.

Quase ri de sua voz perturbada. Kyle era gentil demais e isso me deixava quase culpada por não contar que eu faria coisas bem piores com o seu irmão -nada que ferisse gravemente, é claro. Não sou tão cruel assim -.

Estalei a língua e dei um soquinho em seu braço.

__Sabe que eu sou incrível Finnigan. E bem, vou ter que aumentar o preço da coisa toda. Entende não é? São os negócios.

Ele nem piscou ao concordar com a minha condição. Pessoas ricas, como eu adoro vocês.

[...]

Algum tempo depois, Irina se trancou no banheiro e os tios de Kyle vieram pedir ajuda para ele arrumar a Brigitte -o que quer que isso signifique- então fiquei sozinha na sala depois de manda-lo ir gentilmente.

“__É melhor ir logo capeta. Sabe que vai ser bom já que eu estou enjoando dessa sua cara de tapado.”

Parando para pensar, aquilo foi totalmente mentira já que, para enjoar do rosto de Kyle eu teria que ter problemas mentais. Coisa que eu não tenho, obrigada.

Naquele tempo em que fiquei vegetando no sofá luxuoso -que muito provavelmente custava mais da metade do meu apartamento- fechei os olhos e comecei a ouvir as coisas ao meu redor. A mãe de Kyle cantarolando, a velha gorda que provavelmente ainda estava me amaldiçoando, tios resmungando, panelas batendo, o som de um motor pifando e algo quase inaudível, feito com muito cuidado para não ser detectado.

Na mesma hora em que senti o menor puxão em meu cabelo, abri os olhos e minhas mãos voaram para o que quer que estivesse atrás de mim. Agarrei alguma coisa que chegava perto do meu tufo rosa -um pulso, percebi depois- e um grito agudo preencheu a sala. Inclinei minha cabeça para trás e encontrei pequenos e familiares olhos castanhos arregalados de medo e peito arfante.

__Pensei que estivesse dormindo! - Ele me acusou como se eu fosse a culpada pelo seu plano não ter dado certo.

Eu ri e me sentei corretamente no sofá, podendo ver o que ele tinha nas mãos. Ia ser um estrago feio caso desse certo.

__Desculpe estragar sua tentativa de colar esse bolo enorme de chiclete no meu cabelo, pirralho.

__Como se fosse fazer diferença. Seu cabelo é da mesma cor, sua feiosa! – Ele me mostrou a língua da mesma forma que eu tinha feito e saiu correndo em disparada pelos corredores.

__Não sei de quem o Kyle puxou o temperamento calmo dele. Jesus – Murmurei comigo mesma.

Me levantei e sai andando pelo lugar, a procura de algo que eu pudesse fazer enquanto meu falso namorado estivesse longe. Não que eu me sentisse solitária como aquelas namoradas grudentas, mas era divertido implicar com Kyle e eu não tinha com quem conversar.

Analisei os porta-retratos em cima da lareira e sorri ao ver Finnigan quando menor gargalhando de alguma coisa sentado no colo de Pam. Já em outra foto, ele estava maior – devia ter uns 17 anos- e possuía um sorriso de orgulho, segurando em uma das mãos um troféu de natação enquanto alguns de seus amigos o abraçavam de lado.

__Ele sempre foi muito competidor, mesmo que não pareça agora – Levei um susto com a voz da mulher atrás de mim e me virei, enquanto ela olhava para a foto com certa nostalgia.

__Realmente – Sorri olhando para a foto mais uma vez – Ele não é muito competidor.

__Ah pode apostar, ele era. Meu menino sempre teve jeito com esportes e sua paixão era a natação. Não perdia uma aula e sempre vinha cheio de troféus pra casa. Ele era tão mais alegre naquela época!

Ela soltou um suspiro cansado.

__Kyle nem sempre foi assim tão responsável e fechado para o mundo. Ele era uma peste na verdade, sempre correndo pela casa e nunca querendo tomar banho mesmo adorando a água mais que tudo na vida.

Eu ri, tentando imaginar um Finnigan pirracento e arteiro. Era difícil, mas uma cena que eu gostaria de ter visto.

__O que aconteceu?

Pam olhou novamente para a foto.

__Ah, era para ser um dia feliz. Era uma competição mista de natação, ele estava quase vencendo quando...- Ela respirou fundo antes de continuar – Kyle sofreu uma fratura no ombro esquerdo. Os médicos disseram que ele nunca mais nadaria e desde aquele dia ele se fechou. Não ficou depressivo ou coisa parecida mas todos viam que não era mais o mesmo.

Não consegui dizer nada por um tempo. Tentei olhar para aquele sorriso radiante da foto e lembrar se, no pequeno tempo em que estive com Finnigan ele já tinha sorrido daquele jeito. Nada apareceu.

__Hm, isso por acaso, tem alguma coisa a ver com o pequeno problema que ele tem com as mulheres?

Um dos cantos da boca de Pam se elevaram e ela olhou para mim com diversão.

__Você é a primeira garota que me pergunta isso sem medo de receber uma bronca.

Me encolhi um pouco envergonhada, porém o sorriso que nasceu no rosto dela me fez relaxar.

__Não, isso não tem nada a ver. Bem, na verdade, talvez tenha já que por um tempo Kyle ficou preso na época em que ele ainda nadava e não saiu mais de casa. Acho que se isolou por uns anos antes de voltar a vida real e isso deve ter atrapalhado um pouco – Ela gargalhou e olhou para mim – Fico feliz que ele tenha achado alguém com quem pode contar.

Novamente, a vergonha que nem sabia que tinha voltou com tudo e tive que desviar os olhos pela culpa que estava estampada em meu rosto.

Enquanto a Sra. Finnigan falava sobre os gloriosos tempos de natação de Kyle, pude notar uma sombra no duto de ventilação. Não me perguntem como, muitos anos de prática, eu acho.

__Hã, Sra. Finnigan... Digo, Pam. Você saberia me dizer para onde vai o duto de ventilação da casa?

A mulher olhou para mim com curiosidade, escrutinando meu rosto e um novo sorriso surgindo em seus lábios.

__Estou surpresa que você tenha notado todas as artimanhas do Matthew até agora – Percebendo o meu olhar de “você sabia?!” ela gargalhou – Com todas as namoradas de Kyle foi assim, mas devo dizer que com você está demorando bem mais que o esperado.

Arqueei a sobrancelha. Eu não sabia o que aquilo queria dizer. Pam parecia estar do meu lado mas a forma misteriosa como ela falou me deixou confusa por um momento.

__Ele vai gostar de você Kate, assim como eu também gostei. Você é diferente das outras garotas e o meu pestinha vai perceber isso. Matthew quer alguém que goste de verdade da família dele e que dê a atenção para o irmão como ele sabe que Kyle merece. É um teste e você sabe disso não é?

Minha cabeça rodava mas assenti do mesmo jeito. Sim, eu sabia que o pirralho estava me avaliando, porém o resto do que a mulher a minha frente estava dizendo era uma incógnita.

Ela riu do meu rosto confuso.

__Não se preocupe. Apenas tome cuidado com portas e escadas. Ah, sim, ele usa os dutos de ventilação para se locomover pela casa e não ser notado. Eu nunca disse nada para as outras porque não valia a pena e era divertido ver aquela gosma no cabelo delas, mas acho que verde não combina muito com o seu cabelo. Ele já tem bastante cor se quer minha opinião.

Ela piscou para mim uma última vez antes de seguir pelos corredores rindo e me deixando com cara de idiota. A mãe de Kyle Finnigan confiava em mim o suficiente para me avisar sobre os perigos das pegadinhas de Matthew e aquilo me deixava com uma sensação de culpa que eu não pretendia ter quando aceitei toda essa farsa. Bem, não que fosse necessário o aviso gentil da mulher; eu conhecia todos esses truques. Tinta presa em um balde na porta? Totalmente clichê.

Fui até o quarto esperando descansar antes que ficasse maluca com tudo o que acontecia, porém antes que eu pudesse sequer abrir a porta, alguma coisa no final do corredor chamou minha atenção. Caminhei até a porta azul em passos calculados, esperando fazer silêncio enquanto a abria e meus olhos se arregalavam de surpresa.

O quarto devia ser duas vezes o tamanho do meu apartamento - tudo bem, talvez nem tanto, mas chegava perto - todo decorado em cores escuras e masculinas, com peças de lego espalhadas pelo chão e caças em miniatura enfeitando as prateleiras. Um tipico quarto de criança rica. Como se não bastasse a enorme cama em forma de avião, acoplado a parede se encontrava uma gigante tv de plasma. A tela estava dividida em quatro imagens mostrando o que acontecia na casa e suspeitava que Matthew sabia cada passo que a família dava.

Ou nesse caso, meus passos.

Estremeci com aquilo, o garoto era um gênio do mal.

__”Ele vai gostar de você Kate” É claro que vai Pam, já estou sentindo o amor – Bufei irônica e no minuto seguinte senti minhas costas pesarem com algo se jogando em cima delas e mãozinhas pequenas puxarem meu cabelo.

__NÃO ENTRE NO MEU QUARTO DESSE JEITO SUA IDIOTA!

Soltei arquejo de indignação e dor. Quem era essa criatura possuída?!

__SOLTA O MEU CABELO PIRRALHO DOS INFERNOS! AHHHH!

Com um movimento, consegui segurar suas mãos e dar um impulso jogando seu corpo para frente e o fazendo cair na cama.

__Você é maluco! – Eu arfava cansada enquanto ele me olhava com raiva.

__Eu não gosto de você! Entrou no meu quarto sem permissão e está mentindo pro meu irmão. Só quer o dinheiro dele! Não vou deixar você fazer isso!

Não pude deixar de bufar com aquilo. Eu estava surpresa com o ato altruísta vindo de uma criança aparentemente assassina de seis anos.

__Você acha que é o super-homem por acaso? – O encarei entediada - Olha aqui pirralho, se quer me ferrar faça isso direito. Essas suas pegadinhas são óbvias e sem graça, eu nunca vou cair nelas. Você consegue entrar no duto de ventilação, pelo amor de Deus! Use isso ao seu favor!

Ele me olhou confuso e quase ri de sua cara.

__Entrei no seu quarto porque a porta estava aberta. E eu não quero o dinheiro do seu irmão! – Franzi as sobrancelhas – Até porque aquele otário não me contou nada sobre isso.

__Mas... Mas...

Revirei os olhos e um sorriso se abriu em meu rosto.

__Escuta, você pode continuar fazendo as pegadinhas. Eu realmente não me importo, acho até legal isso. Lembra os tempos da escola – Dei de ombros e encarei uma última vez o garotinho sentado na cama com um olhar perdido, antes de sair – Mas se quer a minha opinião, não acho que precise fazer isso. Pode não parecer, mas Finnigan é muito inteligente e não é tão ingênuo como todos pensam. Ele sempre soube dessas garotas que queriam seu dinheiro.

Matthew revirou os olhos irônico.

__E porque você não seria uma delas?

Meu sorriso se alargou.

__Ah, eu quero sim o dinheiro dele, só que é um pouco... diferente. E aquele Hulk sabe disso.

Seus olhos castanhos examinaram minha expressão divertida por um tempo e sua cabeça tombou para cima, um pequeno sorriso nascendo em seus lábios que ele tentava disfarçar.

__Você é estranha.

Soltei uma gargalhada.

__Disso eu não posso discordar - Comecei a andar até a saída, mas ele me chamou, quase sussurrando.

__Se está procurando meu irmão... Ele está na garagem.

Meus olhos se arregalaram enquanto eu me virava surpresa.

__Hã... Obrigada?

O castanho soltou um resmungo.

__Ainda não gosto de você.

[...]

Demorou um tempo até achar a porcaria da garagem. Aquela casa era enorme e cheia de portas e escadas malditas. Me perdi umas quinhentas vezes até finalmente achar um das empregadas e perguntar onde ficava aquela joça.

Seguindo todos os passos que ela tinha me dito – direita, esquerda, direita, desça as escadas, vire à esquerda e entre na porta prata – pude ouvir o som de metal e falação perto da porta prateada e deduzi que finalmente tinha encontrado a garagem.

Quando a abri, tive que tapar os olhos por um momento com a claridade do sol que me atingiu. Percebi que a porta levava para fora da casa e assim que me adaptei com a luz olhei para a cena a minha frente.

Os tios de Kyle estavam rindo, todos sujos de graxa em volta de um fusca azul petróleo que brilhava com a luz do dia.

__Você vai acabar estragando essa menina Paul – Um dos homens disse, dando leves batidinhas no capo do fusca enquanto o outro de bigode gargalhava com o comentário. Por um momento pensei que estivessem falando de mim, até perceber que era sobre o carro.

__Brigitte andou por muitas estradas George, é óbvio ela estar difícil de se concertar. Mas é uma relíquia e mesmo que aqueles malditos colecionadores encham baldes de dinheiro eu não vendo. Minha garota é insubstituível.

O tal Paul deu uma daquelas risadas que os velhinhos dão, como se relembrasse de um tempo passado.

__Como se você precisasse de mais algum dinheiro – Ele pegou duas garrafas de cerveja de um engradado que eu não tinha notado ainda e se curvou para alguém que estava debaixo do carro – E nem precisamos pagar mecânicos! Vai uma cerveja aí Kyle?

Meu pulso acelerou de uma forma incompreensível quando ouvi aquele nome. Uma risada familiar surgiu e no minuto seguinte Finnigan saia debaixo do fusca. Ele usava apenas uma calça jeans e seu peito nu estava molhado de suor que era evidenciado pelo sol.

Seu sorriso brilhava quando pegou um pano já cheio de graxa para tentar limpar o rosto e segurou a garrafa de cerveja estendida, sorvendo um longo gole em seguida.

Eu não podia acreditar que aquela cena estava acontecendo bem na frente dos meus olhos. Ou que Kyle fosse real. Ou que eu tivesse tanta sorte.

Aquele Hulk maldito estava parecendo um modelo de cuecas da Calvin Klein com aquele jeans solto na cintura e o peitoral malhado. Era a segunda vez que eu o via sem camisa e acabei constatando que nunca me acostumaria a aquilo não importasse quantas vezes eu visse. Não estava nem um pouco preocupada.

Minha boca deveria estar bastante aberta quando ele notou minha presença.

__Kate! – Oh Deus! Pare de sorrir desse jeito! – Há quanto tempo você estava ai? Deveria ter avisado.

__E-Eu cheguei a pouco tempo.

__Hm, tudo bem. Desculpe te deixar sozinha antes, mas sabe como são meus tios...

Ele soltou uma risada anasalada e coçou a nuca envergonhado.

Antes que eu pudesse falar alguma coisa – não que eu conseguisse, mas era sempre bom tentar – ouvi a voz animada de Pam as minhas costas.

__Achei vocês! Que bom que estão juntos! Kyle querido eu trouxe suco, mas já vi que seus tios se encarregaram disso – Ela lançou um olhar severo para aqueles dois que apenas riram nem um pouco envergonhados e levantaram a cerveja em saudação.

Eu ri e Kyle começou a corar até que a catástrofe aconteceu.

Pam falou alguma coisa engraçada e Finnigan tinha concordado, comentando algo sobre aquilo mas eu não pude acompanhar a conversa pois ouvi algo acima da minha cabeça e consegui olhar antes que tudo ocorresse.

Matthew segurava um balde apoiado na janela e assim que notou que eu olhava, sorriu e mostrou a língua.

“Ainda não gosto de você”. É, eu tinha notado.

Fechei os olhos, tranquei a respiração e então.... Gelado. Muito gelado.

Um grito fino de Pam e um arquejo de susto de Kyle, além dos resmungos altos dos homens atrás de nós foram ouvidos. Eu ainda não conseguia respirar.

__Oh meu deus! Eu... MATTHEW FINNIGAN VENHA AQUI AGORA MESMO!

A gargalhada do capetinha envolveu minha mente e, junto com a água gelada que congelava meus ossos – sim, incrivelmente era água e não alguma gosma verde – a raiva começou a fervilhar em mim. Eu sabia como ficava quando tinha raiva e ela era seguida de uma longa lista de palavrões que fariam a até a alma de Matthew tremer de medo e Pam me odiar para sempre.

E Kyle sabia disso também.

Ele grunhiu de raiva, bufando inconformado.

__Por que você nunca consegue fazer o que eu peço Heed?

No momento em que eu me preparava para gritar frases nem um pouco educadas para qualquer um ali, uma das mãos de Kyle envolveu minha cintura com força – cara, que pegada! – e a outra segurou firme minha nuca gelada.

Ele olhou bem nos meus olhos e aquele castanho maravilhoso estava mais escuro do que eu jamais tinha visto. Fúria, irritação, diversão e desejo brilhavam intensamente em sua íris antes que ele suspirasse conformado outra vez. Percebi o que ele iria fazer antes que acontecesse. Eu estava furiosa, se começasse a falar palavrões, toda a fachada meiga e querida que eu tinha criado iria pelo ralo; a unica coisa que Kyle podia fazer para impedir que eu falasse alguma coisa era...

Senti um puxão forte e bati de encontro ao seu corpo. Ergui a cabeça de olhos arregalados e ele abriu um sorriso sexy. Seu rosto se aproximou do meu e pude sentir aquele perfume amadeirado inconfundível, me deixando inebriada por alguns segundos para logo depois, seus lábios quentes estarem sobre os meus.

Kyle Finnigan tinha me beijado.


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Notas finais do capítulo

Sim, vocês não leram errado! kkkkkk

Ok, antes de tudo eu quero dizer que sim, eu sei que no fundo dos coraçõezinhos de vocês estão se perguntando "COMO ASSIM UM BEIJO NO INCIO DA FIC?!". Então quero esclarecer que: Gente, eles já são adultos, tem 27 e 25 anos! Além de que principalmente o primeiro beijo que eles vão ter [no caso, esse] não vai ser uma coisa cheia de magia e floreios por conta de que eles estão fingindo serem namorados e a situação não foi "propicia" no momento.

Então sim, vai ter mais beijos durante a fic. E aos românticos incorrigíveis [eu incluida] vai ter beijos fofos sim! Yay!

Muitas cenas surtantes né? Amei escrever esse capitulo!

That's it! Espero que não me odeiem muito.

GOSTARAM? ODIARAM? DEIXEM REVIEWS! [mesmo que sejam reviews de raiva e ódio, eu vou aceitar kkk]

Beijinhos!



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