P.O.V. Steve

5 Anos Depois.

— Clementine, você precisa comer nem que seja uma migalha disso. — insisto. — É sério.

— Já faz cinco anos, Steve. — ela diz — Cinco anos comigo trancada aqui. O filho da Natasha tem cinco anos. O filho da Skyler tem quase cinco. Eu lá vou saber quando eu fiz vinte anos. O tempo passa e eu aqui.

— Você sabe que eu tento tudo o que eu posso, Clem. — digo — Pelo menos come alguma coisa, meu Deus.

Ela enfia um pedaço de presunto guela abaixo. Dá pra sentir que estava com fome, mas não estava com vontade de mais nada. Eu estava. Com vontade de tirá-la dali.

— Olha, eu vou tentar mais alguma coisa. — digo. — Me espere aqui.

— E eu tenho outra escolha?

Sorrio ironicamente e deixo o quarto. Provavelmente ainda estão todos na cozinha, então me dirigo até lá. Vejo que estou certo, menos por Matthew, Jesse e Dave, mas não é com eles que quero falar. Me dirijo a Skyler, que grita alguma coisa à criança enquanto conversa com Hayley e Bob.

— Ashton, pelo amor de Deus, sanduíches são pra comer — diz ela — Nossa, eu falo como se eu nunca tivesse feito isso.

— Você brincava com sanduíches? — pergunta Hayley.

— Skyler — interrompo. — Hayley, Bob, eu posso falar com vocês?

— O que foi? — perguntam eles, em uníssono.

— A gente não pode soltar a Clementine agora? — pergunto. Eles me encaram como se eu tivesse sugerido suicídio.

— Você está sugerindo suicídio. — só me faltava essa. — Concordamos em manter ela trancada e você e o Ben são os únicos que têm a chave.

— Mas ela está bem, eu sei disso. — digo — Olha, por um dia. Só um.

— Não acho boa ideia, Steve. — diz Hayley — Sério. Acho que ela tem PMD.

— Mas você não tem certeza. — digo

— Steve, eu convivi sete anos com pessoas que têm PMD. — diz Skyler — Confie em mim, é melhor prevenir.

— 'Tá. — digo e me sento em uma mesa ali perto. Clem vai conseguir sair daquele quarto, nem que seja a última coisa que eu faça.

+++

— Você não conseguiu, eu disse. — Clem diz, com tom de indiferença.

— Mas você vai sair daqui. — digo.

— Como?

— Eu tenho a chave. — digo — Se eu conseguir que todo mundo fique lá em cima eu posso te tirar daqui por um tempo.

— Mas o que eu vou fazer lá fora sozinha? — pergunta ela.

— Você vai estar comigo — digo.

— Tá, o que eu vou fazer lá fora com você? — reformula ela.

— Comer, varrer o chão, limpar o chão, sei lá... — digo.

— Limpar o chão parece uma boa. — ela diz, revirando os olhos.

— Certo, eu vou tirar você daqui, tá bem? Só espera. — diz ele.

Saio a passos pesados do quarto. O pessoal já tinha saído da cozinha, com exceção de Ashton e Stanley, que brincavam perto da cozinha. Me encaminho para perto deles, colocando o sorriso mais bonito que consigo no rosto.

— Ash, Stan? — chamo.

— O que foi, tio Steve? — pergunta Ashton, tirando os cabelos loiros da frente do rosto.

— Eu estava conversando com as mães de vocês e... — começo — Elas nunca viram as apresentações que vocês fazem.

— De mágica? — pergunta Stanley. — Verdade, nunca viram.

— O que vocês acham de fazer uma lá em cima hoje? Todo mundo vai ver. — digo, sorrindo um pouco menos forçado.

— É uma boa ideia — Ashton sorri. — Vamos começar a preparar as coisas, talvez a mamãe esqueça que eu quebrei uma das flechas dela.

— Você que...Ish garoto, você 'tá ferrado. — digo. — Enfim.

— Mas meu pai vai buscar suprimentos, e o tio Bob também. — diz o loirinho.

— Eu faço o Ben e o Bob ficarem. Quem sabe a Pandora e a Tris vão nos lugares deles. — digo. — Agora vão preparar as mágicas de vocês.

Saio dali ouvindo os gritos de felicidade dos dois garotos. Tris e Will estão do lado de fora da cerca, matando alguns walkers, enquanto Pandora mata alguns que estão do lado direito de lá. Corro até eles, primeiramente até Pandora.

— O que você quer, pastel de flango? — pergunta a garota.

— Ashton e Stanley vão fazer uma apresentação de mágica e querem que o Ben e o Bob fiquem pra ver — digo — Você e a Tris poderiam...

— Disseram meu nome? — pergunta Tris, se aproximando.

— Claro. — sorri Pandora — Tris, a gente vai buscar suprimentos no lugar do Ben e do Bob.

— Ahn....Certo. — Tris dá de ombros e volta para o outro extremo da cerca.

Murmuro um "isso" mentalmente e sigo em frente para falar com Ben e Bob, mas vejo que Stan e Ash já falaram com todo mundo, então passo direto para dar a notícia à Clementine. Destranco rápido o quarto e vejo a garota dormindo, com os olhos verdes fechados, então apenas me sento ali no canto. Esperando a hora chegar.

+++

— Steve? — chamava Clementine, de longe. — Steve, acorda!

— Oi? — abro os olhos em um impulso. — Ai, que horas são?

— Não sei, só sei que ouvi Pandora e Tris sairem do portão conversando sobre um show de mágica faz dez minutos. — diz a garota.

— Ai, tudo bem, vamos tirar você daqui. — digo, pegando a chave das algemas que achamos no compartimento dos guardas e a retirando de suas mãos. A garota passa os dedos pelos pulsos, colocando um sorriso imenso no rosto e passando os braços pelo meu pescoço. Sorrio, devolvendo o abraço.

— Obrigada, Steve! — ela diz, chorando de felicidade. — Agora — ela limpa as lágrimas — Vamos limpar esse chão.

Ela sai correndo dali, com sorte todos já estão lá em cima. Ela corre até o quarto onde guardam os produtos de limpeza que quase nunca usam - afinal, aquele lugar está pra virar um lixão - E pega um galão de alguma coisa, começando a jogar no chão.

— Clementine, o que você está... — pergunto — O que você está fazendo?

— Eu vou dar a limpeza que esse lugar precisa. — responde a garota, com a língua entre os dentes.

— Clem, o que é isso? — pergunto, de novo — O que você está jogando no chão...Todo?

— Você vai ver, Steve. — diz ela — Tudo vai ficar melhor pra gente.

— Clementine, me responde antes que eu me arrependa — digo.

— Se arrepender de me soltar? — diz a garota, acabando de jogar aquilo por todo o chão e começando a despejar nas paredes. — Por que se arrependeria?

— Você está estranha, Clementine. — digo, preocupado. — O que você vai fazer?

Ela corre até o depósito novamente e pega uma caixa pequena. Antes de eu conseguir identificá-la de longe, ouço vários passos desesperados pela escada. Todos estão onde estamos, e várias vozes furiosas percorrem o ar.

— O que ela está fazendo solta, Steve? — pergunta Hayley, rosnando.

— E aquilo é uma caixa de fósforos e... — começa Ben.

— O chão está molhado com gasolina. — conclui Skyler.

— Eu quero sair daqui — diz Clementine. — Mas se eu queimar, vocês queimam comigo.

A garota acende e solta o fósforo, fazendo uma corrente de chamas se alastrar pelo chão e paredes. Com certeza ela foi carbonizada, mas nós ainda temos chance. Natasha e Will pegam as crianças, enquanto Skyler e Bob cuidam para que possam passar em meio aos errantes. O resto tenta passar em meio às chamas pegando o que podem nas partes de cima. Eu me esgueiro para fora, ajudando a afastar os errantes da cerca para Natasha e Will poderem passar. Lágrimas evaporam do meu rosto. Briarcliff se consome em chamas. Acabamos com a horda, e corremos para o outro lado do asfalto. Natasha e Will passam com as crianças no colo, e eu, Skyler, Bob e Ben, que também estava ajudando, vamos atrás. Logo depois Skyler dá alguns passos pra frente para ajudar a salvar os outros a saírem do meio do fogo, quando o teto do lugar desaba em cima do que restou. Skyler interrompe seus passos. Ashton observa tudo do colo de Will, enquanto Stanley desaba no choro em cima do ombro de Natasha.

— Por que soltou ela? — rosna Skyler — Viu o que você fez? Hayley, Jesse, Matthew, Dave, Lincoln, Zoe, inclusive a sua Clementine, todos mortos!

— Eu não queria... — começo.

— Por que você fez isso, Steve? — pergunta ela mais uma vez.

— Skyler, calma. — Ben coloca as mãos nos ombros dela. — Ele não fez por...

— Eu avisei a ele. — interrompe Skyler. — Eu te avisei pra não soltá-la!

— Skyler, eu não queria ninguém morto! — grito.

— O que aconteceu aqui? — Tris corre, gritando de longe. — O que...

— O que houve? — pergunta Pandora.

— Briarcliff caiu — diz Skyler — Por que eu não estou surpresa?