Avatar: A Lenda de Yan escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 4
As Confissões da Rainha


Notas iniciais do capítulo

"─ Yan, querido, quer um biscoito?"



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A única coisa que eu consigo ouvir são os flashs poderosos das câmeras e aparelhos eletrônicos de mão. Todos os rostos me fitam, atônitos, alguns ostentando o respeito merecido de um Avatar... E de lembrar da existência dessa palavra, eu me sinto encolhendo, amedrontado. Sinto o toque gentil da rainha, me conduzindo pela ponte de madeira branca, me conduzindo para fora do jardim. A passagem é tomada por jornalistas, câmeras e pessoas ansiosas por informações. Mesmo com a Rainha Loma pedindo passagem, eles insistem em me chamar pelo nome, insistem em dizer nomes de pessoas do mundo, que eu sequer havia ouvido antes. Penso na Kyoshi, minha grande dominadora de terra inspiradora e tremo. Tropeço numa pedra e quase caio. Meu pai está vindo correndo na minha direção, parecendo bravo.

─ Afastem-se! ─ branda ele, empurrando uma câmera, com seu estilo mordaz. ─ Deixem o meu filho em paz!

Eu vou agradecê-lo, quando alguém grita:

─ Avatar Yan! ─ berra um repórter de óculos de armação vermelha. Ele aponta um dedo questionador, que segura uma caneta, enquanto empurra outros repórteres. ─ Como você resolverá o problema de Jaya, no norte?

Papai empurra o repórter para o lado e berra:

─ Ele é só um menino!

Sinto mais medo. Que tipo de pergunta era aquela?

Os jovens dobradores de terra, meus companheiros por anos, se erguem vorazes na minha direção, como se quisessem arrancar um pedaço de mim. Meus vizinhos e conhecidos de vista, agora estão animados, apontando para mim, como se eu fosse algum espetáculo no zoológico. Os berros direcionados para mim são intensos demais. Quero chegar na saída, quero sair desse lugar mais do que tudo e quero poder me encolher na minha cama, até que esse sonho ruim passasse. Eu não quero ser o Avatar.

Fecho meus olhos, querendo poder parar esses flashs e deixo-me ser guiado por meu pai e pela Rainha Loma. Quando conseguimos ultrapassar a multidão que anseia por um momento comigo, os Mestres de Terra montam guarda ao nosso redor, todos eles marchando direção à sala do trono.

Eu reconheço o caminho, pois já viera algumas vezes antes para o palácio, afinal de contas, meu pai é o general.

Passamos por um corredor central e largo, onde se estende um tapete verde muito bonito. Olhá-lo me mantém relaxado o suficiente. As bordas do tapete são fios dourados. Uma coisa que mais tinha no Reino da Terra, além da terra, eram roupas e tecidos verdes e dourados. Isso acabou me influenciando em escolher o verde como minha cor favorita.

E eu gosto dos palácios reais do reino, pelo fato de sempre estarem com as luzes em tons verdes, o que faz as sombras nos cantos mais escondidos, causadas pelas grossas pilastras que seguram o teto alto, que se perde lá em cima. Quando olho para trás, noto que alguns guardas ficam, para dispersar a multidão, que se aglomera. Os flashs continuam me captando, enquanto a rainha agora nos conduz para seu salão. Olho para as colunas e tento apreciar os desenhos entalhados e pintados. A grande porta se aproxima. A madeira é nobre, bem entalhada, com desenhos simples pela superfície que contam a história da cidade. Sorrio suavemente, abobalhado com a situação. É mentira!

A Rainha Loma empurra as portas duplas e elas se escancaram com o habitual barulho das dobradiças. Prendo a respiração, como sempre. O trono está no fundo do salão. É simples, mas de uma beleza interessante. De pedra polida, adornado com cristais lilases e verdes, assim como o palácio. Atrás, ergue-se um cristal único, verde. As cores vão se alternando, enquanto os cristais vão diminuindo, causando um efeito de diminuição. As luminárias emitem luzes verdes e amarelas e a luz ultrapassa os tecidos que pendem do teto. O cheiro de incenso invade minhas narinas. Relaxo de imediato, mesmo vendo os ratos do campo correndo de um lado ao outro. As mascotes da rainha.

─ Ie, providencie almofadas! ─ manda a rainha, sua voz suave. ─ Yatros, acalme-se, homem! Dê o exemplo.

A rainha estreita os olhos, ao mesmo tempo que aponta a cabeça para mim. Meu pai me olha, e os olhos dele expressam medo. Eu nunca vi meu pai com medo, como estou vendo agora. Estendo minha mão para ele e ele a pega.

─ Oh, meu filho, me desculpe. ─ diz ele. Mas ele não tem culpa. ─ Como você está?

Meu mestre escancara a porta do salão do trono e entra correndo. Está sério, olhando-me com certo receio, que me incomoda. Eu corro até Saofu e o abraço fortemente. Posso ouvir seu coração disparado. Ele me abraça.

─ Rainha, conseguimos dispersar a multidão. Mas creio que Yan deverá dormir no palácio hoje. ─ a voz de meu mestre está grave. Ele respira profundamente, como sempre faz após dobrar a terra.

─ Obrigada, Saofu, querido. ─ a rainha olha Ie entrar com alguns guardas, carregando almofadas de veludo verde. ─ Obrigada, Ie, querido.

Ie dispõe as almofadas em uma meia-lua, o que nos obriga a sentar de frente para a rainha, que agora ocupa seu trono, o cotovelo apoiado no braço do objeto e o punho no queixo. A rainha Loma é uma das rainhas mais novas que tomaram posse do trono de Omashu e sua beleza é estonteante. Fico fitando seus olhos quase dourados, apaixonado. Ela me encara de volta e eu não desvio o olhar. Firme como a terra, ecoa a voz de meu mestre na cabeça. E lembrar de Saofu, faz-me lembrar da manhã de treinamento, fazendo-me lembrar da cerimônia na qual os Mestres da Terra me disseram que eu era o novo Avatar. A informação é estranha. A palavra “Avatar” nunca me fora tão estranha, quanto agora. Meu pai toca meu ombro, suave.

─ Yan, querido, quer um biscoito? ─ pergunta a rainha, pegando um pedaço do doce de uma bandeja, servida por Ie. ─ Aceite. Vai lhe fazer melhor.

Ie desce os degraus que nos separa da rainha e estende a bandeja de prata para mim. Pego três biscoitos e os enfio na boca. Meu pai não se serve. Saofu me copia. Tento sorrir para ele e faço uma anotação mental: agradecê-lo depois. Mesmo nessa situação, ele tenta me fazer rir. Respiro fundo. A rainha vai falar a qualquer instante. Preciso formular as perguntas certas, se eu quiser as respostas certas. Não posso mais caminhar no escuro.

─ Yan, o que você sabe sobre o Avatar? ─ pergunta a rainha, com calma e gentileza, logo após terminar seu último biscoito.

Fico em silêncio. Olho para meu pai, ao meu lado esquerdo. Ele baixa a cabeça e fecha os olhos.

─ Bem, eu... Eu estudei na escola, que Avatar é um ser que nasce em todas as nações, reencarnando diversas vidas, e é o único capaz de dominar... ─ paro para me ouvir. Completo a sentença em minha cabeça antes de falá-la e fico assombrado. ─ ...os quatro elementos. Ele é a ponte do mundo físico e espiritual, além de ser o mediador do equilíbrio da natureza, dos homens e de todo o universo. Eu...

A rainha ergue a mão satisfeita, com um sorriso lindo nos lábios.

─ Muito bom. ─ a rainha escolhe a melhor posição no trono e continua: ─ A última Avatar, a Avatar Korra nasceu na tribo da Água do Sul. O ciclo Avatar segue a sequência de nações à risca, nunca pulando um ou outra. Antes dela, você sabe quem veio?

─ Aang. ─ respondo ágil.

─ E antes? ─ torna a rainha, de modo desafiador.

─ Roku...

─ E...

─ Kyoshi. ─ respondo antes mesmo da pergunta surgir. Aquilo enche meu peito. Kyoshi.

─ Sim, a fundadora da Ilha Kyoshi, um dos nossos maiores pólos econômicos. Excelente, Yan! ─ parabeniza-me a rainha, dando palminhas. ─ O ciclo Avatar voltou a nos abençoar com um novo Avatar no Reino da Terra. Você. Certamente que os mais sábios nos aconselham a apenas a contar a vocês, quando vocês completam dezesseis anos, mas o mundo precisa do Avatar, hoje, mais do que nunca.

─ Loma! ─ interveio meu pai, assustando-me. Seu silêncio havia feito com que eu me esquecesse dele ali. ─ Seja cuidadosa com o que conta ao menino! Ele só tem treze anos!

─ Farei catorze em breve! ─ falo, mas me sinto tolo. É irrelevante. Mas já foi.

─ Yan! ─ fala meu pai, repreendendo-me.

─ Yatros! ─ copia a rainha, brincalhona, fingindo estar severa.

─ Saofu! ─ berra meu mestre, rindo da coisa toda.

Meu pai relaxa e olha para o chão, apoiado nos joelhos em cima da almofada. Será que está sendo difícil para ele? Olho para minhas mãos, incrédulo de que elas serão capazes de dominar os elementos da natureza e trazer paz ao mundo. Não tenho dezesseis anos ainda, e isso me leva a pensar o motivo pelo qual precisaram me contar antes da hora, a grande novidade. Puxo em minha mente todos os detalhes sobre Korra, Aang, Roku. Tão formidáveis. E eu um relés dobrador de terra.

─ Yatros, eu preciso ser sincera com ele e serei até onde o Rei Marlok me permitiu ser. ─ Marlok era o rei da Terra. Era tão gentil quanto a rainha Loma, era poderoso e respeitado. ─ Portanto, acalme-se, general.

Meu pai suspira.

─ Logo quando a Avatar Korra morreu, a tribo da Água do Norte comemorava o quinto aniversário de chefia de Jaya. Conhece? ─ assinto com a cabeça. ─ Jaya é filho de Urlakk, o bondoso. De qualquer modo, quando Korra morreu, Jaya lançou-se contra o mundo, numa empreitada imperialista. Lançou seu exército sobre o nosso continente e tomou parte da Cauda do Texugo. Veja... Ie, a Mesa Holográfica.

Ie estende o braço, lançando um disco metálico na frente da rainha. Ela se levanta do trono e ocupa o lugar ao meu lado, ainda em pé. Ela move a mão para frente em punho e depois estende os dedos e o eletrônico liga: as luzes brilham vermelhas nas laterais do prato metálico e depois um mapa-múndi é projetado na parte de cima. A projeção paira no ar, mostrando as terras e ilhas da Nação do Fogo a oeste, o Reino da Terra poderoso e gigante a leste. Ao norte e ao sul estão as Tribos da Água. Os Templos do Ar, posso localizar facilmente em diversos pontos do globo. A Cidade da República está no seio do meu continente, brilhante.

─ Jaya lançou-se contra a Cauda de Texugo ao oeste do continente da Terra, na ponta mais próxima do Tribo dele e dominou o continente. Os Acordos Internacionais de Paz e Moral ditam isso, como uma atitude criminosa, que perturba o equilíbrio entre as nações. ─ a rainha está séria. ─ Com um pequeno número de soldados, Jaya ainda conquistou nossas terras no oeste, assim como atacou o arquipélago de Azulon ao leste da Nação do Fogo.

A rainha move os braços e o disco projetor emite um som. A cor que tinge o que representa a Tribo da Água do Norte se espalha pelos locais os quais a rainha citou como conquistados por Jaya. O crescimento do território de Jaya só para quando o tamanho supera a Nação do Fogo. A rainha suspira.

─ Jaya intitula seu grande império como Reino Livre de Jaya. ─ finaliza a rainha.

Eu não sei o que mais me motiva agora. Eu odeio injustiça, ainda mais, quando é infligida sobre o meu povo.

─ E por qual motivo ele atacou? ─ pergunto, a voz esganiçada.

─ Marlok pretende ter essa conversa com você, ele mesmo. ─ a rainha suspira mais uma vez. Ela move a mão com sutileza e o disco holográfico se apaga e flutua para longe do trono. Ela sobe os degraus e acomoda-se no assento.

Bufo. Fico levemente bravo, por essa falta de informação. Mas qualquer raiva que tenha nascido, some no instante que a rainha sorri. Quem me vê olhando para ela, nesses momentos, pode pensar que nutro uma paixão. Certo, a rainha é linda, a beleza inspiradora. Mas não. A rainha não faz meu tipo. E aparentemente, eu não faço o tipo de nenhuma garota nessa cidade. As meninas de Omashu são... brutas.

─ Yan. Você precisa arrumar suas coisas o quanto antes. Pelo Avatar estar entre os novos mestres de dobra de terra, adiantamos a cerimônia na capital. Você precisa conversar com Marlok e deverá partir, para ver seus mestres das outras dobras. Vocês partirão em dois dias, filho.

Ouço a rainha. Primeiramente, sinto um vazio dentro do meu peito. Uma voz em minha mente diz: A jornada Avatar é solitária. E o medo de mais cedo retorna avassalador contra a minha sanidade. Olho para meu pai e acho que eu entendo o motivo pelo qual ele está tão triste. Ele não quer que eu me distancie mais do que ele já é distante. É doloroso sofrer por antecipação. Eu tenho mais alguns dias com meu pai, logo posso mostrar para ele que as coisas podem ser diferentes. Minha mente ainda não aceita o fato de que eu sou o Avatar, mas se eu aceitar mais cedo, talvez doa menos. Dessa vez, eu toco o ombro do meu pai e ele me olha receoso. E me abraça.

─ Yan, meu filho. ─ ele começa a chorar. Fico imóvel, assustado. ─ Você é nosso maior orgulho, Yan, meu pequeno pedaço de rocha! Eu te amo, meu filho! Eu te amo, e sei que você vai ser o melhor Avatar! Vai orgulhar nosso país!

Quente. Meus olhos ficam quentes, conforme meu pai fala e soluça em cima de meu ombro. Qual é o sentido daquilo tudo? Meu pai não chora. Meu pai é forte, poderoso, o melhor soldado do Reino da Terra. A rainha engole um soluço, deparando-se com a cena e eu posso ver dali, os guardas reais ocultos nas sombras. Não sei o que fazer. Toco meu pai. Eu poderia falar que tudo iria ficar bem, mas eu não estaria sendo sincero. Até agora, eu detinha convicções firmes a respeito de tudo, mas vendo pai chorar de emoção, ali comigo, sem se envergonhar, faz com que eu queira refletir a respeito de cada certeza que eu tinha até aquele ponto.

Eu era ordinário. Agora sou Avatar.

Meu pai me larga do abraço quente e forte dele e se ergue imponente e alto, andando rápido na direção das portas. As dobradiças gemem, olho para trás, a tempo de ver o calcanhar dele sumindo.

─ Pai. ─ minha voz sai esganiçada.

─ Chega de informação nova agora. Yan, Ie irá lhe levar a um dos quartos de hóspedes. Saofu, seu mestre dormirá aqui essa noite. Ele irá lhe orientar. Obrigado por compreender nossa situação, querido. ─ a rainha se ergue e caminha lentamente na minha direção. Ela movimenta a mão, pedindo para que meu mestre e eu nos ergamos.

Levanto-me, incerto. Minhas pernas perderam a sensibilidade. Os olhos da rainha brilham na direção de Saofu, meu mestre, como as joias dela brilham. Engulo em seco, quando vejo meu mestre reverenciando a rainha com profundo respeito. Faço menção de reverenciá-la, mas ela me detém, segurando firmemente o meu punho e parando-me no meio do movimento. Ela me olha de cima, com seus olhos bonitos. Sorri suavemente.

─ Um Avatar não me reverencia. Eu reverencio um Avatar. ─ e dito isso, a rainha Loma, com toda sua beleza, tez negra e olhos quase dourados, me reverencia. Arrepio-me.

Eu sou o Avatar Yan, do Reino da Terra, da mui grandiosa cidade de Omashu.

O quarto de hóspedes segue o mesmo padrão de ambiente, que a sala do trono. Lustres com luzes amarelas e verdes, tecidos nobres pendendo do alto do teto, paredes com mosaicos complexos desenhados. As camas estão no centro do lugar, as cabeceiras se encostando e deixando-as automaticamente uma de costas para a outra, de modo que se eu me deitasse agora, não poderia ver meu mestre nos olhos, como estou fazendo. Há uma mesa repleta de comida para que possamos nos servir. Mas não sinto fome ainda. Preciso conversar com ele, saber que ele estará comigo até amanhã, me protegendo. Meu mestre...

Estou andando ao redor das nossas camas, sabendo que isso deixa meu mestre nervoso e ansioso. Talvez ele estivesse obedecendo ordens, mas eu precisava de muita informação. Eu ia acabar surtando. Eu queria ser estável como uma rocha, mas a verdade vinha como um terremoto e me rachava por inteiro.

─ Sifu!

─ O que foi, Yan? ─ disse ele, deitado. Estava com as mãos atrás das cabeças, olhando o teto.

─ Como será a partir de agora? ─ pergunto, sério.

Ele suspira e inclina a cabeça para me olhar. Seus olhos negros, como a mais cálida jabuticaba, parecem conseguir me ler.

─ Você precisa aprender os elementos. Como seu elemento natural é a terra, você precisa aprender fogo. Depois ar e ai água. Talvez, o rei da Terra consiga os melhores mestres para você, para encurtar o tempo de aprendizado. Precisamos agir contra Jaya, o quanto antes!

─ Qual o motivo, que o motivo...

─ Não! Não, não e não! Marlok me mata se eu te conto antes da hora, Avatar Yan! ─ zomba ele, inocentemente.

Mas aquelas palavras pesam mais do que o normal. Encolho-me e saio andando para o lado oposto. Então eu não estava sonhado... Claro que se estivesse, nessa altura do jogo eu já estaria acordado. Mas cá estou ainda, no mesmo aposento que meu mestre, enquanto ele cantarola uma canção tola e típica de Omashu, sobre dois amantes, moldando um pedaço de terra que trouxera de fora. Cá estou eu ainda, pendente em três elementos, o Avatar de toda uma nova geração. Como será que foi para os outros? Será que se sentiram como eu? Impotentes?

E penso em Jaya. O que será que o motivara a fazer tudo aquilo? Ele deve estar tomando cidade livres, enquanto estou preso nesse quarto, que a cada segundo se torna mais claustrofóbico. Eu quero poder sentir o pó da terra entre meus dedos dos pés, as vibrações do solo, poder tocar a terra, senti-la. Olho com cobiça para a pequena rocha que meu mestre faz pairar próximo do rosto. Sorrio, vendo que meu mestre continua o mesmo tolo de sempre, que consegue a proeza de me acalmar. Corro até a janela e estico a mão. A terra está tão longe, que nada vem ao meu encontro. Apenas sinto o meu braço leve, sem nenhuma resposta da minha tão amada terra.

─ O que devo levar? Digo, para essa viagem de Avatar? ─ pergunto de repente, acordando meu mestre de seu devaneio.

Ele fica em silêncio, o que me incomoda. A mente dele parece trabalhar com as possibilidades: ele pondera se deve ou não me contar.

─ Bem, Yan. ─ eu sei que a coisa está ruim, quando ele começa a falar sério. Não existe aquele meio-sorriso habitual, que sempre denota que ele soltará alguma brincadeira a respeito da situação. Saofu, pela primeira vez em muito tempo me olha sério. ─ A jornada Avatar é intensa, cansativa. Não é recomendado levar seus pertences mundanos. É algo... solitário. Você não vai se prender a um só lugar. Tudo indica, que em alguns dias, no máximo duas semanas, você estará sob os cuidados de um mestre do fogo. Sim... Você vai para a Nação do Fogo. Mas antes, precisaremos ir até a Cidade da República. De lá, avião até Ba Sing Se. Sinto muito, filho.

Claro que ele sente. Ele viu como fico abalado, ao ouvir a resposta e abaixo a cabeça. Eu sei que não tenho muitos amigos aqui, já que passo a maior parte do meu tempo com minha mãe e meu mestre, mas e o que eu farei, quando sentir falta do céu, que eu sei que só existe aqui? E se eu acabar esquecendo como que se dobra a terra? Eu não quero perder minha identidade, não quero perder a solidez das pedras, nem me sentir um peixe fora d’água. Sei que vou sentir falta de minha mãe, mesmo ela sendo terrivelmente severa. E agora, a distância entre meu pai e eu será além do que alguns quilômetros que separam Omashu e Ba Sing Se. Haverão oceanos, ilhas, terras, um espaço quase infinito. Papai estará mais longe.

Sinto os olhos arderem e encaro a lua cheia. Rezo para que ela saiba guardar segredos, pois não quero que meu mestre perceba que estou chorando. Afinal de contas, ele é meu mestre e me ensinou que devo ter emocional de uma pedra.


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Notas finais do capítulo

Mapa do Reino Livre de Jaya aqui: http://migre.me/lSy96

Os números de views me alegraram, logo, quando estou alegre, eu posto mais história, eu posto mais de Yan para vocês, meus leitores queridos...
Querem um biscoito? Não é da Rainha Loma, mas é tão gostoso quanto. ^^