Avatar: A Lenda de Yan escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 13
Ilha Kyoshi


Notas iniciais do capítulo

Hora linda, maravilhosa, seja bem vinda!



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As lágrimas rolam pelo meu rosto e se desprendem já frias, caindo os metros que me separam do chão. Os incêndios e as explosões ocorriam poderosos, mas os sons já estavam abafados, pela distância na qual a gente se encontrava. Olhei para o lado e encontrei Kyle preso às patas de alguma criatura voadora, o corpo estava mole, deveras, lutara tanto contra as garras do animal, que as forças se esvaíram rapidamente. Azsa estava na cela do bisão voador. Ela liberou as cordas e estendeu as mãos para mim. O rosto dela estava manchado. Ela estava chorando e as roupas estavam chamuscadas. Quando subi pela lateral do bisão de pelos macios, eu a abracei. Forte. E chorei no ombro dela.

─ Amor. Tem alguém aqui, querendo ver você. ─ ela fala baixo no meu ouvido. Ergo meu olhos.

Ele ainda mantém a trança nas costas, sua marca registrada. A expressão ─ parece que ele sempre vai zombar de você ─ era a mesma, mas ele parecia abalado demais. Os olhos escuros prendem os meus, e meus olhos verdes ardem mais ainda. As tatuagens nos braços fortes e firmes, as vestes verdes, amassadas... O mesmo cheiro de terra, que eu senti falta, nesses últimos três anos. As lágrimas rolam. Estendo meus braços e ele estende os dele e nos abraçamos.

─ Sifu Saofu! ─ eu o abraço com firmeza e enterro minha cabeça no seu peito. Ele me aperta contra ele.

Saofu nos conta posteriormente, logo após nos ajudar a içar Kyle para cima do bisão voador, que viera até a Cidade da República escondido, a mando da rainha Loma. Ele conta que Jaya havia lançado um comunicado oficial na televisão, na qual ele dá um discurso duro, sobre as ações dele e os motivos que o levaram a cometer todos os crimes. A rainha se preocupou comigo e pediu para que meu mestre viesse ao meu resgate. Ele havia chegado algumas horas antes e todos estavam preparando uma pequena festa surpresa para a chegada dele. Nisso, o ataque começou. E como Meelo já previa algo do gênero, sempre manteve um bisão pronto, com suprimentos, para que pudêssemos fugir.

E cá estamos.

O mar é uma banheira gigante, azul e molhada. Mesmo me pendurando pela borda da cela do bisão voador, não consigo enxergar nosso reflexo nas águas calmas e salinas. As nuvens ao nosso redor são brancas e fofas, tão redondas e aparentemente fofas, que parecem chumaços de algodão que pairam sob nossos pés. Há um momento no qual eu sinto vontade de pular da cela e mergulhar profundamente.

Kyle está com os olhos inchados, fitando o nada, transtornado demais, para qualquer coisa. Azsa parece em choque. Há um pequeno arranhão no rosto de minha namorada, mas nada tão notável, que manchasse sua beleza. Os olhos dela brilham com vivacidade. Saofu, meu antigo mestre de dobra de terra, está olhando o horizonte, os cabelos ao vento. Está tão magro, o meu mestre, que parece frágil como um montículo de poeira, parcamente erguido. Quero abraçá-lo, mas preciso de um tempo com Azsa.

Ela me conta o quão difícil foi as lutas travadas. Contou como ganhou o machucado numa das bochechas, quando um dobrador de água lançou estacas de gelo contra ela. Azsa é uma dobradora poderosa de fogo, chegando a níveis máximos da dobra do fogo azul, o fogo mais quente. Ela domina o raio e é capaz de lutar sem as dobras. Não me preocupo com a segurança dela, sei que ela é capaz. E afinal de contas, ela é minha mestre na dobra de fogo. Olho para Kyle e Saofu. Três mestres no mesmo bisão voador. Sorrio.

─ Estou feliz de ter vocês comigo. Não haveriam pessoas melhores, para se compartilhar um bisão voador que eu não sei controlar. ─ movo-me com cuidado para não cair, na direção de Kyle.

Estendo meus braços e Azsa e Saofu vem ao meu encontro. Nos abraçamos, muitos metros acima do mar, enquanto o vento frio do céu açoita nossos corpos, arrepiando-me. Olho por cima do ombro de Kyle e tenho o último vislumbre do continente. O Reino da Terra some de vista, ao passo que o bisão voador de Meelo continua seu voo.

─ Se continuarmos nessa direção, iremos acabar em casa! ─ fala Azsa, olhando o outro lado. ─ Acho que papai já mobilizou um contingente, para recuperar a Cidade da República. Acho que...

─ Ele não pode! ─ falo, pensativo. Olho para minhas mãos. ─ Se movermos um exército para marchar e recuperar a cidade, só vai ser mais uma investida ruim. Precisamos nos organizar. Precisamos proteger o Reino da Terra, sim, impedir Jaya, sim, mas precisamos pensar num movimento. Eu preciso treinar dobra de água e dobra de ar. Não serei eficiente ajudando vocês, sem dobrar os outros elementos. E eu sinto...

Toco meu peito.

“Sinto em meu coração, as trevas de Jaya. Elas se debatem intensamente, desde o momento em que vi os olhos dele. E sei que ele vai agir logo. Ele vai destruir o Reino da Terra e seriamos tolos, em pensar, que ele parará por lá.

─ Você não estará sozinho, Yan, filho! ─ Saofu se ergueu, estufando o peito. Ele tinha equilíbrio o suficiente, para manter-se em pé, mesmo naquele bisão voando.

─ Acampemos hoje num lago ou numa praia. Suas aulas de dobra de água não podem esperar mais.

Olho na direção na qual a Cidade da República ficou.

─ E meu teste na dobra de fogo... Nunca mais será feito com os mestres... ─ digo, olhando a minhas mãos.

─ Não me restam duvidas, você é mestre em dobra do fogo. Eu assisti você crescer, Yan. Assisti você evoluindo, assim como o fogo toma conta da madeira. Você é poderoso. ─ Azsa toca meu ombro e me abraça. Nos beijamos.

─ Ahh, pode parar! ─ Kyle coloca a mão entre nossos rostos e nos afasta, sem delicadeza. ─ Sem essa, pombinhos. Acho que Saofu e eu não formamos um outro casal bonitinho que nem vocês.

Saofu ergue uma sobrancelha, incrédulo.

─ Poxa Kyle, eu pensei em tentarmos algo.

E rimos.

Estou sentado na ponta da cela, numa espécie de borda, que fica presa no lombo do animal. Sat é o nome do bisão voador. Estou encarado o pôr do sol, recordando-me dos tempos no quais eu fazia isso com meu pai, num dos montes próximos de Omashu, o Monte Appa. Lembro-me do meu pai contando a história daquele monte, o nome dado pelo Rei Bumi ao monte, no qual o Avatar Aang escondeu seu bisão voador, quase cento e cinquenta anos atrás. A voz de meu pai ecoa em minha mente lentamente. Dele, sempre me recordo do timbre da voz, tão grave e poderoso, soava como um trovão. Da minha mãe, eu não lembro muito. Apenas do sorriso e do cheiro. A saudade deles me faz abraçar meus joelhos, um momento no qual apenas eu posso me consolar.

Minha trança voa atrás da minha cabeça, conforme o vento sopra contra nós, frio e implacável. Ali do alto, consigo ver o sol de pondo no oeste, iluminando em dourado a abóbada celeste. A lua está emergindo do outro lado, cheia, poderosa e prata. A dualidade dos dois no céu é linda. Olho para baixo e noto que o bisão está indo para o sul. Kyle está nas rédeas.

─ Passaremos a noite nas proximidades da Ilha Kyoshi. Não estamos muito longe. E tentaremos ao máximo não chamar atenção. Aproveitaremos que a lua está cheia, para dar um certo... impulso na sua dobra. Pelos meus planos, quero que você domine as técnicas intermediárias em duas semanas e depois...

─ Espere. ─ falo, voltando para dentro da cela e sentando-me de pernas cruzadas. Azsa que mexia nos suprimentos parou e se aconchegou próxima de mim. Saofu olhou-me curioso. ─ Digamos que eu tenho uma confissão a fazer...

Kyle sussurrou algo nas orelhas do bisão voador, que grunhiu feliz. Ele saltou da cabeça do animal para dentro da cela e por fim se pôs a me ouvir.

─ No dia do meu aniversário, eu resolvi por conta própria ir embora. Eu estava próximo de conseguir um meio de ir, quando eu recebi a visita de alguns Avatares. ─ olho minhas mãos com vergonha. ─ Eu estava temendo um ataque de Jaya contra quem eu amo. ─ coloco a mão no bolso e retiro um papel dobrado. Uma foto. A nossa foto. Exibo-a. ─ Eu não sei o que pode estar acontecendo com Meelo nesse instante. É minha culpa, ele ter ficado para trás.

─ Não é não... ─ começou Azsa. Ergui a mão.

─ Espere, amor... De qualquer modo, quando eu estava perto de ir embora, recebi a visita de Korra.

Os olhos de Kyle brilharam com intensidade. O espanto na face de Azsa e Saofu me fizeram sorrir.

─ Korra me deu um impulso. Quero dizer... Consigo dobrar o básico da água. O Avatar Wan me permitiu entrar no Estado Avatar, sem que eu perca o controle e a consciência de meus atos. Além disso Roku, Kyoshi, Kuruk, Yangchen e até mesmo Aang me passaram ensinamentos valorosos. Acho que eu posso começar a dobrar a água de um nível além do planejado, Kyle... E achei esplendida a sua ideia de pararmos na Ilha Kyoshi. Lá, poderei me conectar facilmente com ela...

Kyle me olhava com atenção, sem piscar nem me interromper. Por fim, sorri levemente.

Sat grunhiu, como se estivesse avisando a respeito da nossa chegada na Ilha Kyoshi. A visão me deixou estonteado. Eu poderia ver aquela paisagem, mas eu sempre ficaria bobo com tudo.

O aglomerado das Ilhas Kyoshi surgiu como um emaranhado de luzes indistinto no meio do oceano. Os maiores prédios da ilha se erguiam imponentes, algumas luzes apagadas, outras acesas. As ruas estavam apinhadas de gente, que não pôde nos ver descendo. Não haviam muitos veículos. Mas em compensação, o porto estava apinhado de barcos e lanchas. Sat, conduzido por Saofu, desceu na praia, grunhindo baixinho. O cheiro do mar me deixou tonto. Eu amo o mar. Salto para fora da cela e deslizo pela lateral do bisão, segurando suavemente em seus pelos macios. Sat me olha de lado e ele parece sorrir. Acaricio a face dele, que é quatro vezes maior do que eu. Ele grunhe com carinho e me lambe. Rio.

─ Eu não sabia que meu amor tinha jeito com animais... ─ Azsa me abraça por trás. ─ Preparado para ver os dragões do papai?

Engulo em seco.

Azsa não vê o pai faz quase três anos. Para ser mais preciso, o Senhor do Fogo Iroh III não vem à Cidade da República desde minha chegada lá. Kyle conseguiu Azsa para ser minha professora em dobra do fogo, afinal de contas, a Princesa Azul é mestre na dobra desde os quatorze anos, o que tornava-a mais do que eficaz para ser minha professora. Desde então, Azsa só tem falado com o pai dela por intermédio de um sistema, que envia as imagens de modo simultâneo, mesmo eles tendo um oceano os separando. E ela nunca admitiu nada para ele. Queria que fosse pessoalmente. E desde então, eu nutro um medo terrível pelo pai da minha namorada. E agora, estou adicionando à lista: medo dos dragões dele. Sorrio levemente, enquanto olho para Sat.

Azsa aperta meus ombros com suavidade e beija meu pescoço. E se afasta. Quando penso em virar para olhar o resto da ilha, sou atingido por uma coluna maciça de areia, que me joga contra o bisão. Minhas costas se chocam e a luz abandona meus olhos, enquanto a areia cai ao meu redor, silenciosa. Que diabos é isso? Ergo-me e olho. Filho da mãe! Saofu está com a areia rodopiando ao redor dele, como se não existisse gravidade. Os montes de areia pairavam ao redor dele, de modo perigoso, enquanto ele ostentava um sorriso zombeteiro na face. Eu sorri de volta, enquanto me erguia com auxílio dos joelhos, para devolver o golpe.

Saofu torceu os pés e a areia os engoliu, para mantê-lo estável. Kyle gesticulava a cabeça em negativa, enquanto sorria. Azsa apenas nos assistia, fascinada.

─ Acho que você tá enferrujado, velhote! ─ falo sorrindo.

─ É o que vamos ver, Yan...

Entro no Estado Avatar.

─ Ei! ─ protesta Saofu, deixando a areia cair ao redor dele. ─ Não é justo, senhor todo poderoso.

Ele bufa como criança e dá as costas. Sorrio.

─ Bom mesmo. Vou treinar dobra de água!

─ Vai lá!, Brincar na água! ─ Saofu finge estar bravo, mas gargalha. ─ Menina Azsa, me ajuda com os nossos suprimentos. Deixa esses dois pra lá.

─ Esperem. ─ Azsa está olhando cautelosa para um embrulho nos nossos suprimentos.

A terra se move e me impulsiona para cima da cela. O embrulho se move de modo singelo. Percebo. Toco com a mão e o embrulho se encolhe e treme. Olho para Azsa e ela retribui o olhar intrigada. Toco novamente o embrulho e ele se desenrola, lançando para fora uma criatura pequena.

De pelos brancos e com rajadas douradas, o pequeno animal solta um silvo baixo, enquanto treme amedrontado. As orelhas pontudas captam os sonhos ao redor, girando e procurando possíveis ataques. Os olhos se abrem, azuis desbotados e me focalizam. Ele mia. O rabo cotoco de coelho balança, enquanto o gato-coelho fareja o ar. Quando percebe que tudo está quieto, a não ser pelo som calmo do mar, o animalzinho desliza pelos meus pés e esfrega a cabeça em mim. Ele nota Azsa e faz o mesmo com ela. Pego-o no colo.

─ É só um gato-coelho!

Azsa ri.

─ Me dá aqui. Vá treinar. Aproveite a lua.

A lua estava no alto do mar, refletida nas águas calmas e cristalinas. O silêncio era absurdo na Ilha Kyoshi. A cidade já havia se desligado, totalmente diferente da Cidade da República, que jamais adormecia. Eu estava sem nenhuma das minhas vestes acima da cintura. Meu cabelo estava solto, ao redor da minha cabeça, enquanto o vento quente do mar me agraciava com uma sensação deliciosa. Meus pés estavam sendo lavados pelas águas mornas do mar. Kyle estava da mesma maneira, mas os cabelos ─ meticulosamente aparados ─ estavam presos no habitual coque. Olhei para ele.

─ Mostre-me o que minha mãe deu a você. ─ pede ele, enquanto estala as juntas dos dedos.

Permito que a sensação de fluidez tome conta de meu corpo. Sei o que devo fazer, sem nunca ter feito antes. A água é um elemento de versatilidade, leve e suave, que está apto a ajudar sempre. Preciso pensar como um dobrador de água, pensar na maneria como eu quero moldá-la, para realizar minha dobra. Estico meus braços e ergo-os suavemente. A água me obedece sem pestanejar. Sorrio com orgulho. A água se separa do mar, ondulando como uma serpente gorda e obedece meus movimentos. Mantenho meus pés firmes e começo os movimentos ondulantes com os braços. A água rodopia ao meu redor, rodopia ao redor de Kyle e quando já sei que a demonstração está boa o suficiente, faço com que a água fique acima de nossas cabeças; Desço veloz o braço direito e a água se congela numa grande estaca de gelo e finca na areia branca, de modo veloz e letal.

Reverencio a água e exalo o ar dos meus pulmões, fazendo um gesto de dobra final, no qual aponto as palmas de ambas as mãos contra o chão.

─ Generosa, mamãe. ─ diz Kyle, enquanto analisa a estaca de gelo. ─ Creio que você só precisa aperfeiçoar sua base. Seus pés ainda estão como os pés de um dobrador de terra. Eu lhe ensinarei a teoria da dobra de água e o que ela pode proporcionar. Verei se você pode ser um curandeiro, se sim, excelente. E ainda lhe darei dicas de dobras, como essa.

Kyle olhou para a lua. A luz prata incidiu sobre seus olhos, tornando-os num tom mais escuro. Ele se parecia tanto com Korra, que era inegável não vê-lo como sendo filho de sua mãe. E quando a luz da lua o banhava, ele não parecia ter a idade que tinha... Quase trinta e cinco. Ele abre os braços, como se pedisse um abraço da lua e só então, eu consigo ver as veias saltando, sendo abençoadas com o poder que a lua trazia aos dobradores de água. Ele suspira e por fim diz.

─ A lua é nossa maior aliada. Ela é a primeira dobradora de água que já existiu. Nós apenas aprendemos com ela, que a água é maleável, quando assistimos a influência dela nas marés. Ela empurra e puxa. Veja. ─ Kyle indicou a água.

O mar ia e vinha na nossa direção, constantemente, jogando água contra nós.

─ A lua nos agracia com sua fonte inesgotável energia e força. Por isso que os outros dobradores previnem batalhas contra nós na lua cheia. É provável que eles sempre percam. Medite sob o luar!

Movo meu punho e a areia da praia brota num morro firme, no qual eu sento. Kyle me olha por um instante.

─ Deixe a luz te banhar, ela vai te dar energia. Revitalizado, a dobra de água será mais fácil ainda. ─ os olhos dele cintilam me olhando. Olho para Saofu. Ele despeja madeira, que ele recolheu. Azsa começa a arrumá-las, para fazer a fogueira. ─ Depois quero que treine o chicote d’água. Comece.

Cerro meus olhos lentamente, sentindo o vento frio beijar minha pele com suavidade. A mente se esvazia com facilidade. O exercício da meditação, ultimamente, era facilmente realizado por mim e a mente era destra ao ponto se esvaziar com velocidade. Permiti que meu corpo fosse tomado pela sensação de leveza, como se eu estivesse a flutuar na superfíce calma de um lago. A leveza foi extrema. Os sons externos pareciam distantes, como se fossem produzidos dentro da água.

Posso sentir a luz da lua me tocando. Ela trabalha em mim, como se estivesse me enchendo com a energia revitalizadora. A energia fluí para dentro de mim, como pequenos peixes, que nadam vorazes atrás de algo que eles querem. Aperto meus olhos e os abro.

Meu mestre Saofu cochila apoiado no lombo de Sat, o bisão. Azsa está remexendo nas cinzas da fogueira, que já está somente em brasas. Kyle me olha, de braços cruzados, de cima. Ele sorri suavemente.

─ Posso sentir sua energia daqui... O poder está dentro de você, é visível. Ele se debate como uma fera enclausurada na jaula! ─ Kyle toca meu ombro. ─ Chicote d’água! Um chicote a cada vez que a água do mar tocar seu pé. Comece!

Quando o monte de areia ameaça regredir de volta para o chão, salto com os pés firmes e descalços. Corro na direção do mar. A água me toca com delicadeza. Ela vem e vai em ritmo constante. Tento sentir a energia do mar. Ela emana com poder, avassaladora e me toca também.

─ Isso que eu estou sentindo...

─ Sim. O poder da água. Muito bem. Todos os elementos emanam esse poder. Você o sente na terra, não o sente? Meditar lhe permite isso, lhe dá sensibilidade para sentir o poder dos elementos. É ai, que você consegue manipulá-los na essência! A não meditação lhe deixa dobrar o elemento de um modo bruto. Mas quando você medita, ah, ai você entende que a dobra é mais do que uma arma. Chega a ser arte. ─ Kyle falava com propriedade e discernimento. Ele era um excelente professor. ─ Chicote d'água!

Sorri.

Giro minha mão na frente de mim e a água espirala para cima. Uma mão serve de suporte para que a água continue firme, a outra faz os movimentos circulares, enquanto a água rodopia na minha fronte. Deixo uma mão atrás e a outra desliza para frente. O chicote explode na direção ordenada, com perfeição.

─ Corrija a postura da coluna, Yan! ─ diz Kyle, suave. ─ Respire.

Corrijo as imperfeições, antes mesmo do mar voltar. A água do mar vem. Um novo chicote. Como Kyle mantém silêncio, continuo a produzir os chicotes. Dezenas deles. A água fluí com suavidade e propriedade. Obedece sem pestanejar. Entendo a diferença da água e da terra. Sorrio, quando a primeira gota de suor brota da testa. Meus sentidos estão sensíveis. Sinto tudo ao redor.

─ Tem alguém nos espiando. ─ digo. Aponto para o mar de arbustos atrás de mim. ─ Bem ali.

Há silêncio, no qual Azsa cutuca Saofu. Ele resmunga, mas se levanta.

─ Quem está ai?

Azsa faz brotar da palma da mão uma chama, suficiente para iluminar ao redor.

Os arbustos se mexem. A mata parece tão estranha naquela ilha.

A primeira coisa que brilha, quando a mulher saí de trás da mata, são seus óculos. Dourados. Existe um detalhe nas laterais do objeto, que não identifico daquela distância. Ela traja roupas verdes tão escuras, que alguém poderia facilmente confundi-las com a cor preta. O terno e a saia de tecidos nobres, mexem devagar ao redor do corpo esguio e alto dela, conforme os saltos afundam na areia da praia. Seu rosto é sério, nada fora da proporção. Os cabelos castanhos, já com fios pratas provenientes da idade, rendem a ela um visual... de poder.

─ O Avatar retorna à nossa humilde ilha. ─ comenta ela, sua áspera e com um timbre gostoso. ─ Seja bem vindo, Avatar Yan. Sou Hora, chefe da Ilha Kyoshi.


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